segunda-feira, junho 16, 2008

Aterro Sanitário em São José dos Campos – Uma decisão a ser contestada – Primeira Parte




Sei que já é batido mas quase que não consigo pensar em outra coisa nos últimos tempos. Toda unanimidade é burra! Essa paráfrase(sei lá se isso é válido) está bem atual em nossa piraquara e bucólica São José dos Campos. Aproveitando a “vibe”deixada aqui por nobre companheiro, vejo que somente podemos fazer do blog algo realmente válido se fluirmos entre os hiperlinks de nossos escritos com as coisas que nos circundam aqui por estas terras. E aqui está rolando uma unanimidade que já superou o partidarismo e está caindo para o absurdo. Em terra de cego quem tem um olho é caolho mesmo...na busca de elucidar um pouco mais sobre um dos principais assuntos daqui, decidi fazer um texto quase que jornalístico, coisa que não havia tentado até então. Pretensão esta vem de correr em meu sangue um pouco de jornalista. Levo meu nome Samuel, pois meu pai gostava muito de um jornalista gaúcho de sobrenome Wainer e minha carríssima hermana já está nessa profissionalmente há um bom tempo.

Nossos restos, nossos restos mortais estão bem embaladinhos em sacos plásticos de supermercado, assim como presentes bem guardados às gerações futuras aterrados abaixo de nossos olhos. Proceder com esta destinação tem sido a principal solução para os resíduos orgânicos em São José dos Campos e em outras cidades brasileiras. Como a vida útil do aterro sanitário joselito no bairro do Torrão de Ouro na divisa entre zona leste e sul vai até meados de Dezembro deste ano, uma nova concepção para nossos resíduos orgânicos é premente. Qual a estratégia e solução até então? Para eles a solução mais viável e que demandou menos esforços é a ampliação do aterro no Torrão, alegando que é a única desapropriação possível, tendo em vista que na cidade de São José não há áreas para desapropriação e que outro aterro sanitário fosse concebido, mesmo que hoje possa se lançar mão de soluções técnicas que mitigariam consideravelmente o impacto desses resíduos em nosso ambiente. É claro que existe local passível de desapropriação, mas o que não existe é vontade política para o desenvolvimento de alternativas sustentáveis defendidas por este aqui atrás da tela.
As alternativas tecnológicas para a destinação dos resíduos orgânicos são relativamente simples e deveriam ser analisadas com mais afinco e não com o desdém percebido, este típico dos soberbos que não discutem o que “podem” decidir entre eles mesmos. Somente como lembrança, o empreendedor que pleiteou ampliação neste caso do aterro é a Urbam, autarquia presidida pelo primo do prefeito. Até imagino a conversa se houvessem grampeado o telefone ou se eu fosse uma mosca (no kibe) : Está tudo em casa brima, vamos resolver ao nosso modo, dá um jeitinho naquela ralézinha lá, não tem mais lugar no Mariana? E o santa inês 3? Coloca eles numa fila de casa qualquer aí.... Aí a gente licita aquele outro amigão nosso para o EIA-RIMA, começa a ampliação e larga a bomba para quem for prefeito daqui há uns 18 anos....o único problema pode ser a audiência pública, essa aí pode melar o esquema e aí a gente vai ter que pensar e carregar o ônus para o nosso próximo mandato que já está arranjado...Entenderam? Não. Estive na audiência pública no dia 19 de maio e posso esclarecer o que significa melar neste caso.
No caso de obras com considerável impacto sobre nosso ambiente é necessário um prévio estudo das interrelações do empreedimento preterido com o ambiente sócio-político-espacial-cultural-ambiental, estudo esse contratado pelo empreendedor e que dá origem ao RIMA - relatório de impacto no meio ambiente. A parte mais delicada para a aprovação do projeto é a audiência pública, onde a participação da sociedade organizada e dos interessados é fundamental e pode inviabillizar a continuidade do projeto (melar) se houver alguma incompatibilidade e desconfiança no RIMA e nas discussões na audiência. Geralmente o ministério público ou o próprio representante do orgão licitador ( neste caso o estado) promove a interdição da audiência quando percebe a maracutaia privatista e cumpridora de tabela. Não saí de lá há tempo de acompanhar o desfecho, pois, lá se foi 4 horas e ainda parecia longe de se acabar a audiência. Aparentemente o promotor e o membro do Consema não proferiram que seria necessário outro estudo, porém, muitas coisas ficaram mal esclarecidas e foram empurradas goela abaixo pela tucanada presente. Quando falam de meio ambiente no censo comum, geralmente se esquecem de inserir as pessoas no contexto, o fator antrópico é decisivo para os recentes impactos e mudanças ambientais assistidos pelo mundo todo, assim como também as soluções e alternativas para driblarmos o problema.
As comunidades do Torrão de Ouro, Bosque, Portugal, Estoril que estavam presentes não engoliram. Era o povo que sente o fedor dos gases gerados do pulular das bactérias anaeróbias na deterioração da matéria orgânica e relegam a estes gases parte de seus problemas de saúde e o povo que será jogado em qualquer canto da zona leste ou norte longe dos olhos claros da classe favorecida pela unanimidade presente no poder de nossa cidade. Havia também docentes de renome, ongs, pelegos da urbam que ganharam hora extra para lotar a tribuna, líderes religiosos e comunitários, burgueses imobiliários, partidos e associações, políticos de várias frentes e eu.

Na contra-mão deste processo, uma das alternativas seria desapropriar outra área para análise de viabilidade do empreendimento em alguma das outras regiões de nossa cidade. Para esta nova área deveria ser repensado o fato de apenas enterrar os resíduos orgânicos e voltarem a utilizar a compostagem como método de deterioração da matéria orgânica. Além do mais, a área poderia ser destinada inteiramente para isso, de modo a se fazer captação direta dos gases gerados no processo (podendo ser direcionado para fins energéticos) alocaríamos mais recursos obtidos através da adicionalidade comprovada na mitigação de gases do efeito estufa através de projeto de MDL.
É claro que há pormenores para se escolher estas áreas. A zona norte, notória pelos mananciais que abastecem a cidade seria a alternativa mais trabalhosa, demandando estudos ambientais mais aprofundados, tendo em vista o risco em contaminar nossos lençóis freáticos, as várzeas do Paraíba e de seus principais afluentes, o acesso (sem ainda poder contar com a via norte) e sua localização longínqua com relação aos maiores fluxos de resíduos pela cidade. A outra parte da leste, está dedicada à esconder dos olhos as mazelas da população menos favorecida, que se amontoa nas adjacências da linha 204 – Novo Horizonte quando quer vir à “Cidade”. Na zona sul que se expandiu muito aquém do imaginado, praticamente sem planejamento urbano (como a leste) não há onde se pensar aterro sanitário longe das pessoas e na região das colinas/centro-oeste é impensável um empreendimento deste porte, sendo que eles, os amigos e os amigos dos amigos estão morando lá e em suas adjacências. Termino aqui a primeira parte...
Saudações.
Samuel Farias






9 comentários:

Anônimo disse...

It could widen my imagination towards the things that you are posting.

Anônimo disse...

Olha o absurdo desse Étnocentrista dos pés sujos;;

"não há onde se pensar aterro sanitário longe das pessoas e na região das colinas/centro-oeste é impensável um empreendimento deste porte, sendo que eles, os amigos e os amigos dos amigos estão morando lá e em suas adjacências. Termino aqui a primeira parte..."

Não sou fã dos bundas de veludo, mas Rico também tem direito de ser rico!!

São regiões centrais do municipio,onde não se sugerem a colocação de tal,
Se a porra do prefeito da época congela-se o bosque dos eucaliptos ali no Sesi(onde ja é longa pra cacete!!), teriamos uma periferia inteira de zona sul para formar-se industrias do tratamento do lixo;;;e não bairros marginalizados(campo, D.pedro, imperial,) e de maior frequencia de criminalidade.mas isso é outro assunto..

Frei

Anônimo disse...

André, por acaso vc sabe o que é etnocentrico??

Alê Marques disse...

Fala Piriguéti!!
Tá cada vez mais afiado hein!
Foi ótima essa, vc simplismente dixavou a parada do lixão do Cury.

Anônimo disse...

pirigueti? que porra é essa?
Valeu o apoio, ainda tem mais. Creio que tenha me estendito, mas tinha que ser assim...
S.S.F.

Anônimo disse...

Samuel,

para mim foi muito esclarecedor, mas gostaria que você falasse sobre as possíveis saídas para enfiar essas toneladas de lixo. Há local em São José dos Campos, ou precisáriamos levar para uma cidade vizinha? Sei que precisamos da reciclagem, mas mesmo assim um lixo considerável ainda precisará ser jogado em algum lugar.

Maria Angélica Davi Costa disse...

Samuel, impacto ambiental já é uma palavra bonita, não?

Falar a verdade, sou a favor de aterrar o banhado. Pra que aquele buraco no meio da cidade? Enche de lixo aquilo lá e fica tudo plano.

Muito bom o texto, mas essa reflexão adianta de que quando falamos com pessoas que jogam papelzinhos pelo vidro do carro e falam ups? Adiantam de que se o condomínio onde mora o nosso prefeito JAMAIS ficará perto de lixão ou de lixeira?

Vamos refletir sim, mas pensando que antes do final do mundo em 2012 estaremos sentados todos em nossas pilhas de lixo em casa.
Sempre amei saber que quando uma pessoa joga o lixo na lixeira, ela se desapega dele, não é mais um problema dela. Não é lindo? Portanto, pensar no lixão é bom, mas reciclar lixo e consumir menos é necessário. Não quero problemas, quero soluções.

Esperando parte 2.

Frei, rico tem direito de ser rico sim, mas por favor, o rico tem o triplo de responsabilidade social-ambiental-cultural, etc, etc....mas isso é outra discussão.

Marcio disse...

é, é outra discussão mesmo, com certeza.
e com certeza, uma das saídas inadiáveis do lixo é gerar menos lixo.

mas não consigo ver como, se o inadiável crescimento econômico vai exatamente pro lado oposto...

só aqui em casa, em 4 pessoas, separamos cerca de usn 500kg de material reciclável por ano. mas só uma parte desse material é viável economicamente para ser aproveitado. o resto vai pro aterro , será que um dia vira petróleo?

Maria Angélica Davi Costa disse...

Viva o petroleo. Não terá mais ninguém aqui pra usar, só ele vai sobreviver!!!!!!!!