terça-feira, agosto 31, 2010

Pós-leitura


Tenho gastado um pouco de energia sentado tomando cerveja e em um dos meus devaneios foi pensar porque temos uma crise no consumo da leitura, principalmente dos clássicos na escola. Se retomarmos o período da Idade Média veremos que eram poucas pessoas que tinham acesso à leitura e mesmo pessoas que conhecemos que narraram algumas coisas, o escriba era o meio para transmitir sua idéia. Assim, a escrita era para uma classe limitada. Com a reprodução das obras e não precisando mais dos manuscritos dos escribas o homem pode tomar contato maior com a leitura e sem dúvida com seu poder transformador e alienante, não que ela o seja, mais o que possa significar como meio a ser usado para alienação.
É sabido que o primeiro grande livro de reprodução em massa é a bíblia que traz melhorias quando criaram além dos capítulos , os versículos para que se permitissem que em qualquer edição poderia ser lido por qualquer pessoa. Veja que isso é traz em si uma inovação.
Tem-se uma coisa que as classes mais abastadas tinham e que a população em geral desejava com ardor era conhecer a leitura, pois ela desvendava (tirava o véu) de tudo aquilo que muitos falaram e realmente não estava escrito. Talvez esse era o grande medo do catolicismo medieval em relação da população tomar contato com a leitura.
Com a modernidade e a preocupação de ter um homem mais “culto” nos moldes da exigência da mão-de-obra a educação passa ser algo fundamental e as cidades, principalmente as maiores, vão permitindo que a população tome contato com a leitura e o conhecimento em geral.
O que ocorre é que há pessoas que estão muitos à frente e irão através do conhecimento acumulado criar novos meios de conhecer que irão além da leitura e serão muito mais atraentes do que ela: a imagem e a palavra acoplada a ela: o cinema. Mais saltarei do cinema para ir direto a televisão, essa sim será superará e trará um novo paradigma que remove do homem a busca que era seu maior sonho, a leitura, para receber o conhecimento enlatado para seu paladar de vontades de conhecer.
Quem foi criança um dia sabe do que estou falando. O imaginário da criança em vez de ter como personagem a figura do herói do livresco passa a tê-lo nos heróis dos desenhos americanos que tornaram nossas referências infantis.
Alguns falaram: “e o rádio?” Este também foi importante, inclusive substituiu o leitor da família que fazia as mulheres chorar, pelo locutor de voz poderosa, narrador de novelas e jogos futebolísticos, mas a tv, sem dúvida, mudou o paradigma de maneira mais poderosa.
Mais se alguns ainda mantinha o contato forte com o livro, virá a devastação com a Internet e sua maneira de tratar as noticias e informações e suas interações. Ela permitirá unir leitura, rádio, telefone, tv e o que há por vir.
Creio que a leitura como conhecemos através dos livros com cheiro de pó da estante está com seus dias contados e caberá em um Ipad principalmente para novas gerações. E as obras clássicas terão seu número de leitura reduzido a resumos e a números de pessoas restritas que o lerão por inteiro. O homem moderno é apressado a comer e consumir fast food até mesmo nas informações.
As pessoas continuaram a ler? Creio que sim, mais lerão o mundo de uma maneira mais ampla com imagens em 3D, com poesias narradas com flores passando por trás das imagens, com contos narrados por atores, com audiobooks em Ipod´s.

segunda-feira, agosto 23, 2010

Lula ,Lula.....




O estado é um monstro frio e insensível que tem como caracteristica tratar o ser humano como número e quando destes nasce um que vem lhe tirar o sono o tratam com desdem pois afinal para que serve tal escória.
Poderam dizer-me : o garoto é pau mandado,mais e daí?


Hemerson

quarta-feira, agosto 18, 2010

A morte lhe pedirá passagem


Tenho vivido como se um câncer tivesse atingido minha alma. Não que o tenha, mas para que a partir disso pare de preocupar com coisas vãs. Recentemente um amigo disse-me que em plena manhã de uma segunda-feira que ficará por demais chateado, pois tinha lavado seu carro e uma chuva torrencial tirou-lhe o trabalho do dia. Passado alguns dias esta mesma pessoa saindo em urgência para atender a irmã da namorada entrou debaixo de um caminhão e ficou inválido. Recente ele esteve próximo a mim e me cumprimentou, neste meio tempo foi à mesa de outras pessoas e cumprimentou-me novamente ao retornar como se não o tivesse feito há poucos segundos. O menino está como criança sendo cuidado pelos pais e a chuva do final de semana não faz diferença alguma agora.
Uma das máximas da filosofia existencial de Heidegger, termo que ele não gostava muito, era que o homem é um ser para a morte. De todos os projetos que miramos para o nosso futuro a morte é aquela que pode anular todos desejos futuros. Este filósofo era ateu, entretanto na teologia cristã tal idéia é trazida também quando Cristo diz que o homem não deveria preocupar com o dia de amanhã porque dele não temos certeza alguma e desta forma acabamos por demais gastando uma energia desnecessária.
Ora, então não devemos ter projetos para o futuro? É certo que sim, mais com passos no presente e sem pretensões tão malucas como nos é cobrado por nós e pelo que os outros esperam de nós.
Recordo-me quando éramos crianças e parecia que os dias nos eram mais longos, pois aproveitávamos ao máximo esse tempo. Não preocupávamos com paredes riscadas, com mesas sujas, com o que íamos comer, vestir entre outras coisas. Bastava-nos o básico e alegria de viver o momento presente. Talvez daí nos vem o saudosismo infantil na vida adulta que gastamos o tempo presente preocupado com algo que ainda não nos pertence: o futuro.
Desta forma, tanto a idéia de Heidegger, bem como a idéia cristã de não podermos controlar o futuro só nos faz sentido realmente a valorização do presente que neste momento que vos falo e depois é também um passado que não retorna mais.
O que é a vida humana se não um constante devir, um movimento sem pressa, que nos leva ao nada, sem sentido, que somente nós podemos dar sentido a ele.

Hemerson

Galáxia de Gutenberg


Hoje, pela manhã, depois de um pão na chapa e um prensado do Gutenberg na cabeça, passei o olho no jornal, e li nas “Rápidas”, que uma empresa que opera trens de alta velocidade na Europa, a Eurostar, contabilizou a soma de mais de 1000 exemplares do livro de Dan Brown, O Código Da Vinci, deixados na estação de Londres no período de um ano.
Muitos, como eu, poderiam atribuir o fato a qualidade literária da obra. Marcelo Nova e Raul Seixas que tinham razão: “ o best seller do momento é um livro agourento”. E pensar que entre o século V a. c. até o século XV o “livro” era algo de acesso restrito, produto de escribas e copistas, praticamente uma obra de arte.
Em a Galáxia de Gutenberg, McLuhan disseca o salto qualitativo que o mundo ocidental deu com os tipos móveis e sua representação para a era moderna. Foi aí que começou a primeira produção em série, a primeira linha de montagem, uma linha de montagem da representação material do som, do fonema, através da letra impressa, que tirou o mundo da oralidade e o tornou muito mais visual.
A própria formação do Estado Nacional está ligada a experiência da língua na forma impressa, a palavra impressa possibilitou a uniformização de conceitos da modernidade como o de cidadão, de política, da educação que se orientou aos homens de letras e estes puderam levar a cabo um projeto político-nacional para construção do Estado Moderno.
Por mais que tenha havido a democratização do conteúdo escrito e a difusão do conhecimento a leitura não se emancipou na mesma proporção, o ato de ler, no senso comum, parece se redundar numa ação canhestra ou massificada. A evidência da conquista do conteúdo se traduziu na ausência da conquista de emancipação e autônima estética.
Não haveria escritores de Best Sellers e nem seus leitores sem a tipografia, a linha de montagem é quem deu a dimensão de escala para que fossem os mais vendidos e depois abandonados nos metrôs, ou esquecidos propositadamente em algum balcão de padaria.
As editoras européias não estão aceitando mais a devolução dos encalhes, elas pedem as livrarias que rasguem a capa e os catálogos e os enviem de volta, o resto do livro podem mandar para reciclagem, como se deletasse uma biblioteca inteira de um e-book. E, segundo renomados pesquisadores do Instituto Raul Seixas, o e-book é a anti-matéria da Galáxia de Gutenberg!

segunda-feira, agosto 16, 2010

Vamos celebrar nossa saudade...


Hoje já passei dos trinta

E de vez em quando me dá saudade da “Legião”

Do “Tempo Perdido” a “Perfeição”

Saudade da oitava série

Do colégio

Da turma, do violão

Prenhes de filosofia e amores vãos...

Saudade dela que nunca quis saber

Da poesia

Que eu escrevia

Na contracapa do coração

Na contramão do tempo

Que nos levou a juventude

Os amores

Os amigos

E que deixou saudade de tudo isso

Saudade da “Legião”...


"...Qual foi a semente
Que você plantou?
Tudo acontece ao mesmo tempo
Nem eu mesmo sei direito
O que está acontecendo
E daí, de hoje em diante
Todo dia vai ser
O dia mais importante..."

(Renato Russo / Eu era um lobisomem juvenil)

(Crédito / Imagem: legiaourbana.com.br)





areia da praia

cartas de baralho

blocos de pedra

empilhe e tens um castelo.













terça-feira, agosto 10, 2010

Hoje

Uma abelha ferrou minha cabeça. Mas talvez fosse uma vespa, não tenho certeza.

Esqueci meu cão no mercado.

Comprei meias femininas na Marisa. Na dúvida entre uma sapatilha meia e uma meia sapatilha, levei as duas.

Dei umas moedas para um sanfoneiro cego.

Fiquei devendo vinte centavos na banca de jornal.

Todos os ipês da cidade estão floridos; este, em frente a minha casa, não.

O escriturário não reconheceu a minha assinatura.

A impressora cuspiu uma folha impressa inútil, e morreu.

Pelas tantas, dirigindo na estrada, tive uma alucinação. Achando que estava em um local, dei-me conta que estava em outro completamente diferente. Por alguns minutos não sabia se estava indo ou voltando, se já havia ultrapassado meu destino. Isso me provocou terror e a nítida sensação que tinha atravessado um portal espaço-tempo, um "buraco de minhoca" e sido carregado para outro lugar num átimo, sem perceber nada. Assim como se acorda de repente em um local estranho, não sabia como tinha parado ali, mesmo sendo o condutor do veículo.

Hoje não foi um dia, foi um enigma.