quarta-feira, novembro 29, 2006

Certifico e dou fé que eu, oficial de justiça infra assinado, diligenciei ao endereço retro indicado a fim de dar cumprimento ao respeitável mandado junto, e aí sendo procedi à Penhora de 32 (trinta e dois) frascos de leite de pepino avaliados em R$3,00, total da penhora R96,00 (noventa e seis reais. Valinhos, 29 de novembro de 2006.

terça-feira, novembro 28, 2006

“O homem que virou suco”



No começa havia uma “harmonia”, entre os homens, ou seja, não existia propriedade privada, porém não existia ganância.
O homem foi modificando o meio, tornando-o mais confortável, automaticamente impondo sua força física, e posteriormente seu poder de influência. Assim criou o estado para legitimar o poder dos mais fortes e sucumbiu toda a vontade coletiva.
Surgiu então o chamado “umbigocentrismo”.
Os séculos se passaram. Das pequenas manufaturas medievais, das corporações de ofício, surgiu no séc. XVIII, a grande revolução industrial, com ela a divisão do trabalho. Com a divisão do trabalho, o trabalho alienado.
Enquanto na Inglaterra, mudavam as paisagens urbanas, com suas chaminés, no Brasil temos o negro na condição de escravos, agora na região das Minas Gerais, fugindo da taca de ouro, do tronco. Esta situação vai até 1888, ai cria-se outro problema, no dia 14 de maio entrar em vigor a lei da vadiagem.
Até 1930, o que sustentava a economia e a grande soma de circulação de dinheiro era o café. Pequenos mascates circulavam pelas ruas dos principais centros urbanos, de Recife a São Paulo, vendendo de tudo, aves, doces, peixes, etc...
Após a década de 1930, o foco econômico era as industrias, ainda que incipiente, e com ela uma também incipiente porém corajosa, classe média. Ora a conta é simples, mais máquinas, menos mão-de-obra, automaticamente menos emprego.
Já na década de 50, a indústria ganhou adeptos, o então presidente JK, trouxe as montadoras, criou estradas, criou Brasília, com as mãos de todos brasileiros, de todas as partes do Brasil, os chamados “Candangos”.
De 50 para cá, houve um surto na industrialização no mundo, o Estado correu para dentro da casa, e se refugiou no banheiro, os resto da casa ficou nas mãos dos estrangeiros, ou melhor, do capital estrangeiro, oriundo de lavagem, fraudes, corrupções... tudo isso dentro de uma ordem bipolar.
O mundo agora é dos espiões - 007 no Rio de janeiro, Capitão América atrás do Crânio Vermelho.
"Os EUA abrem as Asas sobre nós", devoram Allende, Jango, Lamarca. Os marines e a CIA tem o aval das elites locais para entrar e fazer o que bem entenderem.
“Quando sou um bom cão, às vezes me jogam um osso.”
Vinte e um anos de filhadaputice, do caroço do frango machucando a goela, do coito interrompido, dança na corda bamba de sombrinha? O sinal vai abrir?, a banda vai tocar? Vamos imprimir o futuro?, e até o irmão do Henfil já morreu.
“Anos 80 charrete que perdeu o condutor” (Raul Seixas).
Década perdida, a não ser pelo nosso rock nacional, legiões urbanas surgem para gritar a angústia e o descontentamento, Ribamar (Sarney) assume.Nossa economia vai pro saco.
Ano 90: Collor. Quem diria, batíamos bumbo na Rui Barbosa, tragando algum conhaque vagabundo, e entoávamos o Hino: “Collor, Collor, filho da puta, narigudo e cheirador”. Ainda acreditávamos.
Voltaremos a habitar cavernas? praticar canibalismo? Mandar flores pelo tel? Renunciaremos o jogo, o copo com álcool no bar? Trataremos as pessoas como mascotes?

Como diz o Poeta: “fizemos dos olhos uma espécie de espelhos virados para dentro, com o resultado, muitas vezes, de mostrarem eles sem reserva o que estávamos tratando de negar com a boca”. José Saramago

Abraços

Rei da Vela

segunda-feira, novembro 27, 2006

Fatos

Semana passada recebi duas notícias que me sacudiram...

Uma delas foi a gravidez de uma garota de dezenove anos, solteira e cheia de sonhos. Confesso que fiquei triste. Por que?

- Ah, quando eu fiz dezenove anos recebi o mundo de braços abertos. Senti o cheiro da liberdade e o poder de seduzir todos os meus desejos.
Era como se eu não tivesse fim e junto com essa sensação vinha o medo de perder todo esse sonho. Eu tinha consciência de que uma gravidez naquela fase da minha vida interromperia totalmente essa grandiosidade que eu enxerguei pela minha frente – o mundo completo e sem restrições – trabalho, estudos, amigos, viagens, festas, diversão, cuca fresca, lazer, prazer, enfim minha única preocupação era comigo mesma.
Caro leitor, eu sei que acidentes como esse acontecem mas você concorda que ganhar um filho “surpresa” aos dezenove anos é uma brincadeira sem graça?

A outra notícia foi a morte de uma conhecida. Atualmente morrer de câncer de mama no meu ponto de vista significa estupidez.
O avanço da medicina me incomoda, parece que ainda não alcançou a velocidade necessária nem a urgência esperada. Mulheres jovens demais estão tendo suas vidas roubadas enquanto os cientistas procuram a cura.
Ou a cura já foi encontrada e os laboratórios é que barram a divulgação em nome do lucro?
É sabido que já existem meios de acabar com essa doença mas qual o laboratório que se aliaria a cura de um mal que resulta em suas fortunas?

ISTO É INDIGNO, INJUSTO, DESUMANO, NOJENTO, TUDO DE RUIM QUE POSSA TRADUZIR A FALTA DE SENTIMENTO EM CABEÇAS CAPITALISTAS.

Analisando essas duas notícias, eu concluí que, ganhar um filho aos dezenove anos mesmo em situação difícil ainda se tem muito mais a comemorar e celebrar com pompas do que perder uma mulher com um pouco mais de trinta anos, no auge da sua vida para um câncer de mama. Essa última sim é que a brincadeira é totalmente sem graça!

Boa semana à todos!
Olhos Verdes.
P.S. Como constante aprendiz, apontem erros ortográficos e conjugações no texto pois só assim terei a oportunidade de aprender.

domingo, novembro 26, 2006

O silêncio e o vazio


O silêncio é presença universal nos homens. Muitas vezes estou a dormir, ele vem trazer a angustia da pergunta existencial que persegue o homem desde os primordios. Para mim o silencio é sonoro, ele está no espaço vazio da música que é som.
Ligo o rádio às vezes para que o barulho do silêncio não venha brincar comigo, ouço noticias sobre a economia mundial, futebol, novas tendências e outras coisas, até que o sono venha.
Duro é quando acordo a noite e o não existencial, o nada, a morte a brincar comigo e fazer companhia. Lembro do com Deus me deito com Deus me levanto na divina graça do espirito Santo que meu pai ensinava quando pequeno, e repetia para o silêncio não trazer o desconhecido.
O silêncio e o vazio parecem irmãos, enquanto o silêncio tem seu barulho o vazio tem seu espaço.
Brincar e viver com essas duas coisas não é tão simples.

O resto é c vc´s.

Hemerson.


sexta-feira, novembro 24, 2006

O Sorriso da Puruba

No último final de semana, para sair fora e fugir desta merda dessa cidade, fui em busca de refúgio com minha família até a praia de Puruba, em Ubatuba. Coisa de pequeno burguês mesmo, porém, eu a Joseane e meu pisque Heitor ficamos muito bem em minha Delta para 3 pessoas com chuva pela madrugada afora.
Quando nos dispomos a interferir em uma comunidade de convívios não urbanos devemos observar a sutileza com que as pessoas convivem. Os homens pouco são vistos, estão a trabalho. As mulheres e crianças autênticas, por todos os cantos estão misturadas aos animais dos mais diversos. Nunca mais esquecerei do sorriso de uma menina quando viu meu filho, tipo, seja bem vindo! Mas não uma saudação programada, foi sorriso de criança sem simulação, humildade e pobreza material traduzida em Felicidade, pelo menos para as crianças isso existe.
É lá que a gente conhece pessoas como Dona Ana, sêo Zé Roberto e São Jorge ( foi São mesmo) , que se diz proprietário da área onde acampávamos.
Enquanto arrumávamos as coisas que sempre estão uma zona nesses lugares, as pessoas na vila se preparavam para um casamento religioso. Mas não na capela, pois, estávamos na vila dos Crentes e lá também tem um templo da igreja Deus é Amor, ministério de sei lá quem. Era um tal de flor pra lá, mesas pra cá, chama não sei quem de acolá, que parecia até algo que não estava acontecendo conosco, tal a dose de realidade. No meio da vila ainda tinha o caminhão, que leva a feira livre até a vila, de cima do caminhão o matuto vende hortifrutigrangeiro para quem não produz no próprio quintal. Pensei no mascate do García Márquez, perambulando em Macondo. Mesmo após aquela dose, tomei outro baque, quando eu e os meus já estávamos descansando e observando a chuvinha, começou o casamento...foi aí que pensei nesta história....e para a entrada dos noivos iniciou-se uma série de música clássica européia tocadas somente com um trompete, deu vontade de observar as pessoas no templo, mais já estávamos interferindo demais e preferi esquecer e continuar a curtir a Puruba.
Samuel Farias

terça-feira, novembro 21, 2006

Muita poesia

Andou sumida
A poesia
Até parece que fugiu de casa
A culpa é minha.

É que nestes dias
A inspiração
Andava minguadinha
Nem sopro tinha.

E aqueles furacões
Sumiram,
Porque a paixão não rondou mais
Minhas cercanias.

Tenho sede de guerra
Sem sangue,
Daquela que se trava
Dia-a-dia.

Ainda preciso conquistar
Quanta coisa minha.

A cabeça se cansou
Das cabeçadas na vida.

E o tiro certo
Se tornou garantia
Do pão e o leite,
Do sorriso da filha.

E de muita,
Mas muita poesia...


(2006 - Nilson Ares)

segunda-feira, novembro 20, 2006

Momento Raro

Conflito instalado x crise profissional x de tudo um pouco x questionamento existencialista x paçoca com lingüiça e ovo frito

Momento raro

São momentos raros que oferecem oportunidades de auto-conhecimento. O bom é aproveitá-lo e explorar de todos os ângulos os nossos pontos de vista.
A raridade é que gera a necessidade: em momentos raros eu sou e a necessidade de ser sou eu que determino.

Sempre que temos de tomar um rumo somos tentados a largar mão de tudo. Toda atitude implica pisar em terreno desconhecido, seja no plano mental, espiritual, físico ou emocional.
Decidir o rumo a tomar normalmente dá trabalho e dói.

O espaço que abre entre o “seguro” e o “inseguro” é que eu chamo de medo vazio e é esse buraco que desenvolve em nós o sentimento de solidão. É o momento de dar o pulo certo e torcer para não cair na fenda aberta entre um lado e outro. O medo é que nos freia. Por isso que aprendemos a falar e andar quando ainda não temos noções de perigo.

Amar as pessoas é muito bom. Entendê-las é melhor ainda. Compreendê-las é uma dádiva.
Respeitar seus limites é sublime. Conviver com as pessoas e descobri-las em sua essência é um exercício freqüente. Cada qual com o seu tempo e limite!

A vida é careta, nós é que somos a droga.

O sentido para nossa existência cabe a nós mesmos buscar e quando pensamos que a encontramos damos de cara com um cartaz escrito: “É por ali”. Bem lá na frente tem outro cartaz escrito assim: “É por aqui”. E assim vai pelo caminho afora. Eu diria que é para sempre assim.

Enquanto houver vida haverá ferida.

A racionalidade é um pozinho de cor cinza que mora dentro de um miolo mole. Podemos colorir da cor que melhor nos convier. Tudo depende do resultado que desejamos.

A alegria, o tesão e o riso são apenas fragmentos.

O conforto emocional podemos encontrar no que queremos ver com nossos próprios olhos e não com os dos outros.

Crescemos demais e a inocência do riso da criança não conforta mais. Descobrimos que o mundo dói, portanto, ao invés de conforto temos preocupação misturada a proteção (o que antes (quando éramos crianças) tinham conosco).

As lágrimas, o arrepio, a emoção são momentos escassos em todas as vidas humanas.

Outro dia me disseram assim:
- “Ontem a noite na minha oração, perguntei a Deus o que está acontecendo comigo?”
E eu assustada respondi com outra pergunta:
- “E você, se encontrou na resposta dele?”

Eu acredito que todas as respostas estão dentro de nós mesmos, pois a encruzilhada se apresenta na frente de cada um de forma diferente.
A intimidade é de cada um.
O pensamento é individual.
A responsabilidade de ser o que se é deve continuar como sempre foi: Conscientemente.

"A vida me ensinou a não esperar de ninguém o que nem eu mesma souber o que é.
Ser autêntico com a própria consciência é a garantia para não correr o risco de se trair”.

Caro leitor, se vc leu e não achou nenhum sentido, esquenta não, é apenas uma passagem por um tempo inconcluso...
Feliz segunda-feira!

domingo, novembro 19, 2006

Temos um símbolo de resistencia em São José: O Pinheirinho. Quando criança passeava por aquela mata a caçar passarinho e jamais imaginava que um dia aquilo seria habitado. Hoje, são 6 mil pessoas. O prefeito diz que precisa cumprir ordens e retirar aquele do povo de lá. Para onde irá não importa ,precisa ser feita a limpeza dos miseráveis.
Galera está chovendo prá caralho e lá não deve estar brincadeira e eu aqui no bem bom digitando as teclas deste computador que me coloca entre os privilegiados nesta cidade, desculpe pela viajada, é que tem coisas que não tem como não pensar.
Um grupo de pessoas de bem pretende fazer uma natal diferente, lampadas serão colocadas no Pinheirinho para simbolizar o natal deste ano.O Toninho meu amigo do PSTU, o ateu mais cristão que conheci até hoje, comentou no Antonio Leite.
Comenta-se que a cada hipermercado construído em São José será construído um banco de praça.
Outra boa, o córrego senhorinha agora ficará melhor, o cheiro horroroso não acabará, mais será feito uma área de lazer, terá recomendações para as crianças não brincarem por lá.
Bem diante de assuntos soltos, estou a ouvir a chuva e jazz ,burguesamente sentadinho como manda o figurino.
Samuel, parece que a questão do onibus está sendo alterada, ficará a mesma merda, entretanto, mudará o cheiro.
Fui.

sábado, novembro 18, 2006

Um dia chega

A cama espera o próximo sono,
A escada espera o próximo passo,
A árvore espera o próximo pássaro,
O amor cansado espera um amor novo,
O filtro espera água nova
O banco, o próximo passageiro.
A Amanda o próximo amado,
O Buda outra encarnação,
A Columbina outro Pierrô.

Você, eu espero
No banco do ônibus que cansou de esperar, e que hoje viaja sozinho.

Rei da Vela

sexta-feira, novembro 17, 2006

É difícil

Como se realmente o virtual pudesse ser a realidade, neste momento já é. Como é difícil escrever depois de nosso coronel. Ele surfa na onda virtual e num lampejo pode ou não publicar alguma coisa. E que coisa desta vez! Até esqueci do que me propus a escrever hoje.
Mas bem, como eu busco seguir alguma direção e sou o burocrata virtual de plantão, seguindo a risca meu dia na semana, a fila anda.
Acima eu devo ter atropelado algumas regras da língua escrita e realmente não consultei corretor ortográfico, até porque não estou no editor de texto do Bill Gates.
O pouco conhecimento que tenho de minha língua adquiri com leituras distintas, herdadas de meu saudoso pai (Desde O Príncipe de Maquiavel até Chico Anysio - É mentira Terta!). Após alguns anos de ensino público, procurei algumas coisas e com o passar dos anos a gente vai trocando influências com amigos e vai admirando outras coisas. Lembrando-me do prefácio e comentários de Urupês de Monteiro Lobato, uma série de contos, meio causos onde ele criou a figura do jeca tatu, entre outas coisas. Lá naquele prefácio Monteiro Lobato criticou alguns posicionamentos da ABL e a regra ortográfica colocada à época ( que sofre revisões de tempos em tempos). Ele dizia que línguas ocidentais menos rebuscadas como o inglês que não utiliza acentuações - somente 1 palavra de origem francesa - eram tão ricas quanto a nossa, cheia de acentos, simulando a língua francesa, onde um substantivo pode conter até 4 acentos.
A regra é mesmo clara e parafraseando nosso coronel, no ambiente do cyberespaço tudo é possível, até porque só estamos aqui virtualmente e passageiros de um trem que não tem trilhos e nem estações. Não que eu possa atropelar uma língua, criando uma "novilíngua" como vc, tc, naum e merdas como essas que são criadas aqui na internet. Mas eu posso errar e tenho licença poética, mesmo não sendo um poeta.

Samuel Farias

ps: foi aqui mesmo, sem ctrl c e ctrl v.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Second Life

By Coronel.

Semana passada, vi uma reportagem a respeito de um jogo que, não é bem um jogo mas, sim uma plataforma de relacionamento chamado Second Life utilizando tecnologia de animação gráfica 3D muito parecida com esses da Sony e tantos outros que se vê por aí.
Bom, como já disse não trata-se tão somente de um jogo para se divertir, muito embora exista um componente lúdico em sua manipulação, o fato é que esse softwaer em rede possibilita que o usuário crie uma personalidade virtual o chamados "avatar´s, até aí tudo bem, avatars são criados a todo momento na web, mas esse softwaer possibilita o relacionamento entre eles em rede.
O Second Life é um programa de relacionamento assim como o Orkut mas numa versão melhorada, ou piorada dependendo angulo que se vê, pois com o Orkut a interface que se tem é apenas através do teclado e da tela, no Second Life você pode manipular o seu boneco em 3D com um joystic aumentando ainda mais a interatividade, e o melhor, não existe regras nesse jogo, ninguém ganha e nem perde e também é de graça!
A única coisa que se paga no Second Life é se você quiser adquirir um território, ou melhor, divulgar sua marca. Uma vez que todos estão se relacionando virtualmente nesse ciberespaço, o Cine Mark pode oraganizar uma sessão de cinema francês hoje a meia noite, somente no Second Life, e eu encontrar com meus amigos diletos lá no território do Cine Mark ou poder fazer outros da mesma forma. Para termos uma idéia, a banda irlandesa U 2, segundo dados da reportagem, estaria organizando uma turnê global somente no Second Life.
Com perdão da digressão nesse texto, gostaria de citar para ilustrar melhor minha idéia, um autor que gosto muito, Jorge Luís Borges, existe um conto muito curioso desse autor que abarca a totalidade da representação ciberespacial. Pois assim como o Realismo Fantástico a principal característica do ciberespaço é não ter nenhum referencial temporal e espacial. O conto o qual me refiro é Biblioteca de Babel.
Biblioteca de Babel trata-se de uma biblioteca sem fim, onde existiriam lá todos os livros já escritos no mundo e também todos os livros que ainda seriam escritos, todas as línguas existentes, as já mortas e as que ainda haveriam de surgir, a biblioteca era em um formato exagonal e havia um fosso no meio, de maneira que se alguém descuidasse no beiral e caísse no fosso demoraria-se tanto para chegar ao fim que a carne do corpo se decomporia com o vento da queda.
A biblioteca era de maneira tão infinita, que as pessoas se lançavam dentro dela numa exploração sem fim atrás de livros e conhecimentos inauditos. Alguns chegavam a passar anos explorando-a, de modo que começou a haver a oportunidade de relacionamentos interpessoais dentro da biblioteca, amigos que não se viam há anos se encontravam dentro dela, poderia-se casar ou até ter filhos dentro dela, bem como cometer algum crime.
Borges escreveu esse conto se não me engano na década de quarenta. Quando se alguém ousasse a dizer que por volta de nosso novo século existiria uma rede virtual e infinita assim como a biblioteca de Borges, onde muitos poderiam se encontrar, compra vinhos, fazer sexo e cometer crimes, seria no mínimo, taxa do de louco. E o que é a Internet se não a Biblioteca de Babel, obviamente que não foi intenção de Borges fazer um relato premonitório, mas seu realismo fantástico migrou para a realidade objetiva dos nossos dias.
Porém, o que precisamos compreender em nossos dias, é que o virtual não se opõem ao real mas sim ao atual. O virtual é o real, porém não é o real presente, o virtual é o real latente, a virtualidade é a latência da realidade. Segundo um cablôco chamado Pierre Lévy, " É virtual toda entidade desterritorializada, capaz de gerar diversas manifestações concretas em diferentes locais determinados, sem contudo estar ela mesma presa a um lugar ou tempo em particular".
O virtual é uma fonte indefinida de atualizações de uma realidade, atualizações essas que não se encontram referenciadas num eixo espaço temporal, o virtual e o dito real, são dois tipos de realidades distintas porém convergentes.
O virtual é uma realidade não atualizada, é como se a semente guardasse a forma final de uma grande arvore em potência, é como se fosse uma metafísica da realidade, o virtual está em potência assim como o real está em ato, mas vamos deixar a metafísica de lado, pois como Fernando Pessoa mesmo disse, já existe metafísica demais nas arvores, na pedra e no vento...
O que quero dizer é que todo o conteúdo no ciberespaço necessita de uma interface para que se atualize. Pois quando virtual se atualiza num contexto conveniente e particular de uso e que possa ser manipulado pelo o individuo, a realidade deixa a sua latência, as informações trasladam de uma realidae a outra, do virtual ao real. Porém só seria real nesse momento, pois as fontes dessa informação sempre serão virtual por nunca estar presa a um lugar ou tempo determinado, sendo uma fonte inesgotável de novas atualizações.
A oposição do virtual ao atual, ocorre por que, para que algo seja atual presumi-se que necessariamente haja uma coordenada espaço-temporal que o qualifique de atual, o atual é o que acontece aqui ou em outro lugar mas, agora.
Para confirmar, a característica do virtual é a desterritorialidade e atemporalidade, parece que vivemos em Macondo assim como em Cem Anos de Solidão, do Gabriel Garcia Marquez, um lugar sem onde e nem quando. O realismo fantástico e o ciberespaço guardam semelhanças interessantes.
Mas a inferência no ciberespaço só é possível, e cada vez mais o será, com o desenvolvimento de formas mais amistosas da interface homem-maquina. As interfaces visam a inferência do corpo e do sistema cognitivo humano no ciberespaço. Como sensação de lisura, rugosidade, luz, calor e outros parâmetros físicos da realidade, o humano passa-se a relacionar de maneira sensório motora com modelos digitais, ou seja atualizando a latência de uma realidade passando para o outro lado da tela. É com o desenvolvimento das interfaces que veremos a inferência dos sentidos e da cognicibilidade humana no ciberespaço.
Certos processos físicos, industriais, e econômicos que há tempo eram estanques passarão através desses modelos digitais a se ligarem a um ciclo de retroalimentação, e quando boa parte da congnicibilidade humana estiver aparelhada nesses modelos, teremos que reavaliar suas implicações culturais, políticas e sociais em algum desses mundos que vivemos.
Sob condições normais de temperatura e pressão, e desprezando a resistência do ar, é tudo isso aí mesmo.
Falou!

terça-feira, novembro 14, 2006

Obras de São Bayardo

Viu o chupa cabra em pessoa no Casablanca, num sábado de madrugada;
Encontrou a loira com algodão no nariz, no banheiro da escola Maria Luiza em Santana;
Com Bob Marley experimentou a primeira Cannabis hidropônica- skankiada;
Foi a Jacareí estudar a Santa que chorava sangue;
Foi o cachorro no filme “A Profecia”;
Participou do júri popular no julgamento do Gustavo Pisardo, acusado de matar a família toda, em São José , no final da década de 90.
Ajudou a escrever com Içami Tiba, um manual como tratar de adolescentes que acreditam ser o todo-poderoso, ao mesmo tempo sendo carentes e indecisos,e que na escuridão choram pelas mães;
Criou junto com Edson Ferracini, um manual para curar os alcoólatras, que pensam que não são alcoólatras;
Esteve junto com a perícia em Osasco para estudar a explosão no Shopping;
Ajudou a construir o muro de Berlim em 1961;
Lutou ao lado dos Croatas, na Guerra de Kosovo;
Gravou junto com Raul Seixas, a música “moleque maravilhoso”;
Foi em carne e osso, o soldado que achou Sadan Hussein num buraco;
Promoveu a 1ª reunião da OLP, junto com Yasser Arafat;
Foi um dos sobreviventes do acidente nuclear em Chernobyl;
Compôs junto com Robert Johnson , a música “evil and Angel”
Foi personagem do filme as “12 muralhas”, junto com Bruce Lee ;
Participou do bloco carnavalesco “vai quem quer”, tocando surdo junto com o Bisqui, Joaquim Preto (saudoso) chefe da bateria e evolução;
Foi em carne e osso a Mãe – de – Santo que fez o trabalho a pedido de Elza Soares, para que o Garrincha largasse o álcool ;
Lutou nas Malvinas, contra a presença Inglesa;
Participou do Conclave para a escolha do novo Papa;


Abraços


Rei da Vela

segunda-feira, novembro 13, 2006

Assuntos da Alma

O telefonema que não vem
P/ Olhos Verdes


A dor da espera do telefonema que não vem
É a mesma dor que vai nos trilhos do trem.
É passagem que vai da alma ao coração.
É companheira que sofre junto com a emoção.

São tantos os malefícios dessa dor que
não afeta um músculo da minha face mas,
corrói a tampa de aço que sustenta meu cérebro
ordenando as juras de amor correrem para o esgoto
deixando no lugar o fel das promessas interrompidas.



Dor

Ferida inflamada
No peito uma dor
Nos olhos um sonho
Na feição uma cor.

Profunda é a lágrima
Que molha meu rosto.
Salgada como o mar
Alivia minha dor.

Arruinada estou
Com frio e fome
Molhada por dentro
E derretida por fora.

Vejo uma flor
Não tem espinho
Mas é perfumada,
Não é uma flor
e sim minha dor.
............................................


O golpe da vida é como um violento acidente de carro.
A gente nunca espera.

............................................


A tortura da própria mente é a maior punição
que um homem pode sofrer.

sábado, novembro 11, 2006

Nós vos pedimos com insistência:
Não digam nunca isso é natural.
Sob o familiar, descubram o insólito.
Sobre o cotidiano, desvelem o inexplicável.
Que tudo o que é considerado habitual provoque a inquietação.
Na regra, descubram o abuso.
E sempre que o abuso for encontrado, encontrem o remédio.

Bertolt Brechet
na ausência do Coronel, postei o Brechet

abraços


Rei da Vela
Nós vos pedimos com insistência:
Não digam nunca isso é natural.
Sob o familiar, descubram o insólito.
Sobre o cotidiano, desvelem o inexplicável.
Que tudo o que é considerado habitual provoque a inquietação.
Na regra, descubram o abuso.
E sempre que o abuso for encontrado, encontrem o remédio.

Bertolt Brechet
na ausência do Coronel, postei o Brechet

abraços


Rei da Vela

sexta-feira, novembro 10, 2006

E o ônibus lotado...

Estamos diante de uma situação que não condiz com a realidade econômica de cidades do porte de São José dos Campos. Fazem 21 anos que o transporte público corre solto em sanja sem licitação e contratado por meia dúzia de “amigos dos amigos”.
Do outro lado estão as pessoas que utilizam o busão e não tem voz nem vez, a não ser as SAB’s que esboçam alguma tentativa mais são blocos divididos internamente por partidos mandatários da região. A quantidade da oferta de ônibus, além de não atender a demanda é de má qualidade.... e o preço tende a subir. E a galera continua voltando para casa, balançando sacola de supermercado da bunda alheia...
O pior é que a maioria das pessoas que estão lá, enlatadas, calculando qual a melhor hora para seguir em frente para descer no ponto, também querem ter carro particular. É claro...com aqueles carros reluzentes passando a toda ao lado enquanto estamos lá parados esperando o da frente andar. O transporte público é para todos. Só estamos com essa cidade mais suja, fedida e feia, cheia de asfalto, por quê os “bem sucedidos” tem na mentalidade de que o importante é não pegar o busão e cambalear entre as pessoas.
Samuel

quarta-feira, novembro 08, 2006

COMUNAPIRAQUARA

Um mero conceito sugerido de cidadania


Cidadania é a consciência que o indivíduo tem sobre o modo como deve se relacionar com o grupo social em que atua, e em relação à valorização e a preservação do meio em que vive.
Num mundo como o de hoje, sem cidadania não haveriam manifestações de todo tipo em defesa da condição humana, como os protestos contra a invasão anglo-americana no Iraque, que eclodiram em vários países pelo globo; contra o pseudo-estado gerido pelo narcotráfico e a sua violência aterrorizando moradores e turistas do Rio de Janeiro ou quando ativistas de organizações não governamentais saem às ruas em protesto contra a destruição do meio ambiente, forçando os países desenvolvidos se reunirem com o objetivo de estudar propostas de preservação ou de controle do avanço industrial.
Quando temos noção da nossa importância, do nosso compromisso, da nossa participação, da responsabilidade do que seja “ser” no mundo, transcendendo a mera condição de existir somente em torno das nossas próprias necessidades, do nosso umbigo, conseguimos atuar como cidadãos exercendo esta condição de fato, visando unicamente proporcionar melhoria de condição de vida para o próximo - o que consequentemente teremos também.
Cidadania é ir além do que se lê nos jornais, se ouve no rádio, ou na televisão. É ver de perto o problema alheio: Já pensou em sair da poltrona e prestar algum tipo de ajuda, seja qual for, para algum tipo de entidade que se preocupa com a condição humana?
Talvez quem escreve este artigo agora, ainda não se deu conta da “nossa” responsabilidade social, já que é cômodo se indignar confortavelmente diante da TV.
Difícil é tomar uma atitude, mas se indignar já é o começo.

Nilson Ares

P.S.: Caros colunistas e leitores: Ontém foi meu dia, ontém não deu. Hoje só desta vez! Estarei revezando com o Reidavela as terças.
Então, até a próxima!

Imagem pública

Santo Expedito deixou os tradicionais "santinhos" de lado, muito pela apropriação eleitoral dessa forma de propaganda, para investir numa campanha mais arrojada de marketing pessoal. Aqui na minha cidade há um outdoor, desses enormes, com o ex-voto do santo, o tradicional slogan "agradeço a graça alcançada". Ao ver a enorme figura do santo estampada, heróicamente colorida, achei graça, meio constrangido pelo exagerado modo de publicar um agradecimento, pensando como essas coisas da esfera íntima religiosa acabam transbordando para o público, sem pedir licença. Já não bastasse a placa "Valinhos é do Senhor Jesus" na entrada, como quem diz, se você não é, meia-volta. Mas enfim me lembrei de alguns ex-votos que vi em Ouro Preto e Mariana, em museus e igrejas. São pequenos quadros, pintados toscamente, encomendados pelos agraciados por volta do séculos XVII ou XVIII, e que retratam cenas referentes à graça alcançada, pessoas enfermas, acamadas, mutiladas, transtornadas, etc. Então não seria o outdoor do Santo Expedito (que deveria ser o padroeiro da propaganda e marketing) apenas uma atualização desses ex-votos ao espaço público?
Marcio

QUE ABANDONO É ESSE AQUI?

segunda-feira, novembro 06, 2006

CORRUPÇÃO

Caro leitor,
Depois de um feriadão como esse, falar da coleção de vestidos da Barbie ou da coleção de carros importados que desfilaram no litoral e na serra não seria possível pq. não fizeram parte da minha realidade.

Peço desculpas mais uma vez por não ter preparado um texto melhor porém escolhi esse que escrevi há um certo tempo e o vejo sempre como atual.

CORRUPÇÃO: É uma pena esse substantivo ser feminino! rsrs

No sentido figurado cf. explica o dicionário Houaiss, corrupção é a depravação de hábitos, costumes etc.; devassidão.
Ato ou efeito de subornar uma ou mais pessoas em causa própria ou alheia, geralmente com oferecimento de dinheiro; suborno, emprego, por parte de grupo de pessoas de serviço público e/ou particular, de meios ilegais para, em benefício próprio, apropriar-se de informações privilegiadas, geralmente acarretando crime de lesa-pátria

Termo jurídico: disposição apresentada por funcionário público de agir em interesse próprio ou de outrem, não cumprindo com suas funções, prejudicando o andamento do trabalho etc.; prevaricação.

Mas independente do sexo da coisa aí, o fato é que a corrupção é um fascínio para muitos. O hábito ficou tão comum excepcionalmente nesse país, que não se consegue trabalhar direito sem que haja uma merda dessa no meio e claro que só é descoberta e jogada no ventilador depois que alguém ficou sem ganhar uma fatia do bolo.

Minha indignação me leva a essas e muitas outras questões:
1. Por que o roubo é fascinante?
2. Por que o proibido é melhor?
3. Por que o feio é mais atraente?
4. Por que o indigno chama mais atenção?
5. Por que o politicamente incorreto funciona?
6. Por que a justiça torta prevalece?
7. Por que o mal ocupa sempre o lugar que não é dele?
8. Por que o poder fascina os mais fortes (na filha da putice)?
9. Por que chantagear ainda é uma arma invencível?
10. Por que a coação leva muitas notícias ao suicídio?
11. Por que a extorsão suga o sangue alheio?

Enfim, nenhuma das respostas para essas perguntas justificaria o caminho que leva uma pessoa a corromper seja um sistema, um filho, um pai, uma família, uma vila, um bairro, uma cidade, um estado, um país.

Corrupção é sempre assunto porém nunca vi um ponto final decente e satisfatório em nenhuma das situações.

1 minuto de silêncio por favor.
Ponha sua “caixinha” para funcionar e tente se lembrar se já corrompeu (generalizando o sentido) alguém...

Ficou com vergonha? Então faça hoje três ações boas para minimizar o estrago!

Olhos Verdes.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Nós, Esses Vagabundos Iluminados

Nós, Esses Vagabundos Iluminados

Gostaria de começar dizendo, que entendo o que o nosso paroquiano Farias disse em seu ultimo texto, até por que eu também estava no mesmo local, na mesma hora e sendo sujeito da mesma afronta. Só não tive o mesmo insight que ele, e não sei se foi para o bem ou para o mal ou se foi por cagaço mesmo.
O fato é que vivemos em uma cidade que presa por um desenvolvimento desigual e combinado, priorizando as grandes vias de acesso que interligam condomínios fechados que buscam auto suficiência como feudos, em detrimento dos lugares públicos, ao convívio social em espaços comuns.
Esse é fim do homem público, digo homem público não aquele que exerce alguma atividade oficial na política ou no Estado, mas sim do homem que tem uma relação identitária com o meio e o espaço (cada vez menor) público que o cerca.
Isso vem ocorrendo, devido ao que se convencionou chamar de “Não Lugar”, um sociólogo/antropólogo francês chamado Marc Augé foi o primeiro a cunhar tal termo que designa lugares que não retém nenhuma identidade, não está relacionado historicamente ao individuo que o utiliza e não transfere qualquer carga de significação, representação, e unidade simbólica para o cidadão.
Perece que vivemos em um campo de refugiados, não há mais a mínima relação identitária com alguns lugares de nossa cidade, veja por exemplo o anel viário, é apenas um local de transito, de passantes encapsulados em seus carros, não pode e nem é interessante que vejam lá as pessoas andando a pé e se relacionando umas com as outras, como um pastor pregando, ambulantes vendendo agulhas de desentupir fogão, e toda sorte de produtos que o meu amigo Rei da Vela soube reproduzir bem em sua música, que trata, contrariamente, da dimensão simbólica da rua sete de setembro.
O espaço público está sendo engolido pelo privado, o que não está sob a posse de alguém ou de um grupo não pode estar em posse do público. Em nosso país é tênue a fronteira entre o público e privado, há uma distorção histórica em que o segundo subverte o primeiro, vale a pena citar a obra seminal de Raimundo Faoro – Os Donos do Poder - em que traça a dimensão histórica dessa distorção desde a capitanias heditárias que resultou na acumulação primitiva latifundiária nas mãos de poucos( na intenção da coroa portuguesa de privatizar a colonização do Brasil), até a organização patriarcal canavieira chegando a oligarquia cafeeira todas essas organizações foram pautadas pela distorção entre o público e privado.
E nossa cidade ainda está ancorada nesse legado, as pessoas saem de seus condomínios em seus carros vão para seus trabalhos, faculdades, shoppings e o que existe ou acontece no trajeto não lhes interessa, os espaços públicos tornam-se não lugares.
Os não lugares são espaços descontextualizados no tempo, não faz sentido sua constituição física relacionado no tempo, é possível vermos o anel viário numa foto de satélite mas o fim único a que se presta é para o transito de carros, e para os citadinos que não dispõem de um automóvel, transitar por esses lugares sem um carro não faz sentido nenhum.
Ao contrário do que se pensa, a política de uso e ocupação do solo, que privilegia a construção de condomínios que são verdadeiros feudos em nossa cidade em busca da segurança de uma classe abastada, gera desigualdade espacial, e da desigualdade a segregação espacial, e o aumento dos não lugares.
É usual um culto à imagem lustrosa de nossa cidade por parte daqueles que não enxergam essa desigualdade espacial, uma beleza que me parece obscena, quando em detrimento do espaço natural, tenta-se fazer um embrulho definitivo do espaço construído num celofane, do tipo que é ostentado em vitrines de lojas de luxo. É preciso que se diga que a conquista da beleza pode também ser um violento ato político.
E esse violento ato político é a super valorização do indivíduo e sua intimidade gerando a incapacidade de produzir sentido na relação em espaços comuns, isso se dá por que super valorização da vida privada e da intimidade é uma tentativa de resolver o problema público negando o problema público, esses condomínios que são verdadeiros bunkers é a forma evidente que a classe média encontrou de negar, por exemplo, o problema da violência em nossa sociedade, exteriorizando o problema público como se ela não fizesse parte dessa sociedade.
E isso se torna premente quando se caminha à noite pela rua de São José e sentimos na pele a sensação de refugiados em campo aberto, de expropriados do espaço público, de vigiados e passiveis de punição quando se tenta inferir no público e polarizar a alteridade, o outro o mundo.
E essa consternação Farias, foi a dos beats e ainda continua sendo a nossa, vagabundos iluminados.
Falou!!

PS.: Achei dignificante e espirituoso o “bla,bla,bla”, acho que estou incomodando alguém aqui nesse blog. Não sei que é, mas pelo visto a carapuça dessa classe média abjeta serviu, por que com certeza nunca pegou dois “busão” pro Santa Inês e não faz nem idéia a onde fica a UBS mais próxima de sua casa. E ainda por cima deve ser são Paulino essa porra... A torcida do São Paulo é o curral eleitoral do PSDB... São os garrotes de engorda que ruminam o pasto verde do pensamento único da classe média!

Roman Opalka e o tempo

Apesar de ter nascido na França, Roman Opalka é de origem polonesa, e esteve durante a infância vivida em plena 2ª guerra mundial em Auschwitz. Tornou-se internacionalmente conhecido pelo trabalho "Do um ao Infinito", que realiza desde meados da década de 60. A primeira tela desta série tem o fundo totalmente negro. Sobre esta tela, no canto superior esquerdo, iniciou a partir do número 1 a seqüência dos números naturais, em tinta branca, e com o pincel nº zero. terminando de preencher toda a tela com a seqüência numérica, fotografava seu rosto e gravava sua voz lendo os números que tinha pintado. então passa para uma nova tela, na qual adiciona 1% de tinta branca ao fundo da tela primeiramente negro (vocês se lembram, na escola, quando tentávamos fazer um cinza com guache, e colocávamos a mesma quantidade de branco e preto, e ficava preto?). Então reinicia a seqüência numérica de onde havia parado, novamente fotografando seu rosto na mesma posição da primeira foto, com a mesma máquina, e gravando sua voz. Cada tela tem o mesmo nome "Do um ao infinito: detalhe", pois é apenas um fragmento do trabalho.
Opalka continua fazendo essa série até hoje. Quando vi alguns desses trabalhos, expostos juntamente com as respectivas fotografias (sempre de camisa branca, a mesma expressão do rosto) e a gravação de sua voz lendo, acho que em polonês, os números, fiquei impressionado. Pois o que ele quer apreender em seu trabalho é nada menos que o tempo, sua inexorável passagem alheia à nossa vontade. Para isso, tem que abdicar de qualquer outra perturbação, para dedicar-se exclusivamente a esta tarefa, dia após dia. essa dedicação a um único trabalho causou-me um forte impacto, pois parecia uma tarefa quase religiosa, como um monge que se retira enclausurado para rezar por nossas almas, um mártir. Só que Opalka faz isso através do trabalho. As telas totalmente preenchidas por números, sua caligrafia constante, (à medida que atinta do pincel vai acabando, e ele molha-o na tinta branca para continuar escrevendo, o que segue um padrão repetitivo, a variação do branco dos números formam rajadas, ondas pela tela) são apenas um mero fragmento de um todo que tende, teoricamente, a nunca acabar.
Depois de três décadas, opalka já pintou centenas de telas e a contagem está na casa dos cinco milhões. O fundo da tela inicialmente negro foi tornando-se cinza, cada vez mais branco, o contraste dos números foi diminuindo, cada vez é mais difícil lê-los. Seu rosto nas fotografias tomou-se de rugas, e seu procedimento sistemático ao fotografar-se da mesma maneira torna isso irrevogavelmente evidente. sua voz envelheceu.
hoje, ao me deparar novamente com este trabalho, tive uma impressão bem diferente sobre ele. O fundo da tela está completamente branco. Segundo uma biógrafa do artista, os números são visíveis por apenas segundos, pelo brilho da tinta molhada, e desaparecem ao secar para sempre (uma metáfora nada otimista da vida). Aquela impressão que tive sobre a entrega do artista a um trabalho único, a uma tarefa sem fim, de certa maneira grandiosa, inverteu-se. Pareceu-me que Opalka apenas se resignou perante ao que há de mais certo na vida, e avaliando qualquer outra atitude como inútil, limita-se a registrar a passagem do tempo até que o fim chegue. Registro da espera, pois não há outra posição possível, confortável. Como ele mesmo disse, quando escreveu o número um na tela, seu trabalho já estava pronto.
Não há como julgá-lo, pois, também palavras dele, depois de Auschwitz, não há nada a dizer. Seu trabalho é sem dúvida um dos mais impressionantes do século. Mas essa postura, que posso muito bem estar enganado sobre ela, não me deixa muito confortável.