terça-feira, abril 26, 2011

Visita da morte

A morte veio lenta e silenciosa

Tocou-lhe o rosto de barbas falhas

Veio à noitinha, sorrateiramente

Uma ladra à meia-noite

Afagou-lhe a cabeça

Na proximidade do tumor fétido

E como uma mãe carinhosa

Beijou fortemente a face

Parada ali ao seu lado

Feito vela a clarear o quarto

Mantinha seus olhos fixos

Por toda extensão do teu corpo

Perante o sofrimento

Por piedade fraternal

Tragou-lhe o ar que ainda restava

E partiu deixando a porta aberta

PIK

terça-feira, abril 19, 2011

Minha dúvidas teológicas

Meu Deus me perdoe mais está noite não tive como suplantar a dúvida do juízo. Fiquei a pensar na minha morte e qual sorte teria após meu inevitável fim. Pensei: como não faço parte dos eleitos, acabarei entrando na segunda fase donde ocorrerá o juízo final como é contado nas sagradas escrituras. Aqui é que minha cabeça oca entrou em parafusos.

Imaginei o velho tempo que tem nosso planeta e onde encontra a raça humana que deverá prestar suas contas. Como cada um presta a sua conforme sua cultura e tempo vivido pus a imaginar se o senhor gastasse uns quinze minutos comigo, isto para ser rapidinho, e me perdi nas contas matemáticas a multiplicar tudo isto pelo tempo gasto com está pobre criatura que toma a liberdade que me destes para refletir. É tempo demais.

Mesmo imaginando que o senhor delegasse para o povo bom: Pedro, Paulo e João e outros tantos...Não seria nada fácil. Etâ juízo final difícil de entrar nessa minha cachola de mineiro desconfiado. Perdoe-me bom Jesus mais não é fácil não.Eu que sempre exijo que registrem em cartório em função da natureza enganadora desse povo.

Novamente me perdoe, mais fiquei a imaginar a eternidade do céu. Aliás, tamanha burrice a minha querer pensar na atemporalidade do tempo, mais é típico da raça humana querer entender o ininteligível. O que ficarei fazendo num tempo tão longo eu que ando tão sem saco para vida, não porque desgoste dela, mais é que tudo vai ficando tão repetível que a morte na velhice soa-me até como presente justo.

O Senhor conheceu Maria Louca, desculpe meu esquecimento, o senhor conhece a todos, desde muito criança tinha um medo absurdo da morte. Causava-lhe arrepios à noite quando acordava e todos dormiam. O escuro trazia-lhe imagens inimagináveis a sua pobre razão até que enlouquecerá e fora parar no Chuí. Recentemente fiz uma visita a ela a pedido de seu filho que é muito meu amigo e a encontrei sorridente e descontraída a blasfemar contra o tempo, pois muitos já tinham morrido e a morte não vinha buscá-la.

A sorte desta pobre mulher fez me ver que a loucura causa sofrimento para os viventes que não foram presenteados com a mesma sorte.

Mais no fundo você é um grande brincalhão, uma criança milenar, atemporal que sabe se esconder como ninguém e deixa rastros tão intangíveis que chega a pertubar a mente deste pobre mortal que vos fala.

PIK


segunda-feira, abril 18, 2011

Lasar Segall

Lasar Segall em Dresden, Alemanha 1911, com sua turma da Academia de Belas Artes.
Fonte: Museu Lasar Segall

sexta-feira, abril 15, 2011

A insanidade do tempo

Os objetos sobre a estante causam-me repugnância

A ferrugem do portão revela que o tempo corroi a vida (a memória)

Os telhados velhos e encardidos mostram a poluição deixada pelo tempo

A casa só será novidade aos novos moradores

Eles entrarão alegres com sua juventude

Recém-casados ouvirão o arrulhar dos pombos nos telhados

Acharão graça neste detestável ruído sonoro todas as manhãs

Pobres pombinhos humanos

Mais tarde suas crianças nascidas do prazer imensurável do sexo

Brincarão no subir e descer das escadas

Achando a casa uma grande novidade

Pobres pirralhos, não vêem ainda o envelhecer

A casa de fato não envelhece

São homens, José, a humanidade

A estante, o portão , os telhados

São atemporais por natureza

PIK

segunda-feira, abril 11, 2011

A crise da cana

O canavial reproduz um cheiro forte do bagaço da cana
Há uma mistura entre o doce cheiro com o fedor humano
A paz reina entre as moscas e abelhas
As primeiras em busca do suor humano
As outras em busca do mel do corte do facão

Mais tarde quando for as 7:00 (estamos em horário de verão)
Eles deixarão a mata e se amontoarão sobre os caminhões
Chegarão em suas residências, pobres casebres, tomaram um gole de cana ardente
Comerão, dormiram e sonharão com paraíso

Homens na cidade reclamam que o álcool já não compensa
A produção é baixa para tanto consumo alcoólico
Os carros estão brutamente ébrios
E se cruzam no barulho insano da cidade

E lá no campo: homens, mulheres e crianças
Pulam sonolentos sobre caminhões
Que levarão para um novo dia
Onde a tecnologia do corte ainda não pode dar conta

PIK


quarta-feira, abril 06, 2011