terça-feira, dezembro 28, 2010

Diálogo com nossos demônios ou intra subjetividade


Que eu ainda sou bem moço prá tanta tristeza
Deixemos de coisa, cuidemos da vida
Pois se não chega a morte ou coisa parecida
Que nos arrasta moço sem termos visto a vida
Ou coisa parecida, ou coisa parecida,
Ou coisa parecida


Belchior
Hora do Almoço

terça-feira, dezembro 21, 2010

"Sonhos de Uma Noite de Verão"


A barreira natural contra a regularidade da vida e sua banalidade é o sonho. Parece uma realidade aumentada que nos transporta de um lugar ao outro dentro da noite, até o momento em que não se sabe onde começa o tempo e termina o espaço, até que tudo ameaça a desabar num interior negro.
Alguns vêem o sonho como uma peça teatral, sendo a mente um teatro em que tentamos abrir a cortina da coxia do subconsciente inutilmente. Durante a noite somos dramaturgos de nossa alma, a psique atua com seu figurino de épocas passadas, quando não, ateia fogo às vestes como símbolo mágico de nossa dramaturgia, mas acaba consumida pela luz do dia e nos esquecemos fácil da dança da chama na pira da alma.
Há um saber no sonho que a razão não abarca, só mesmo a dramaturgia onírica revelada aos homens na treva é capaz de dar sentido, Borges dizia ser o sonho a atividade estética mais antiga. Na sombra, na noite os mistérios do espírito se revelam como figuras pálidas a nos dizer textos inauditos que só mesmo o espírito na treva do sonho parece saber, só ele parece compreender e imaginar delícias que sua fruição extrapola qualquer sentido possível.
Agora, deitado na cama, nesta noite quente de verão, espero sem sono o dia chegar e sua luz ofuscar a mise-en-scéne do espaço dormido e do tempo acordado, e inaugurar uma realidade litográfica, de árvores de calcário, rios magmáticos e uma paisagem petrificada no cotidiano - ter que ir trabalhar. Mesmo vivendo o sonho inútil de poder dormir, para fruir toda extensão do tempo e amplitude dos espaços. Que falta faz um ar condicionado!



quinta-feira, dezembro 16, 2010

O cão e o homem


Já era noite quando ele brincava com seu cão no parque.Tinha uma bicicleta velha com um bagageiro onde carregava seu cachorro e seu cobertor.Estava comendo um cachorro quente que divia com o cão e tomava coca-cola.

Começou a banhar-se na torneira que as pessoas costumam pegar água para levar para sua casa , pois naquele momento o tempo estava chuvoso, destas chuvas que pouco molham , mais ninguém se arriscava a correr no parque a não ser claro: eu que vos narro tal fato.

Conversa com seu cão como quem conversa com um filho , sim o cão era seu filho que provavelmente iria dormir mais tarde em algum canto abandonado pelo bairro.

Passei por ele várias vezes nas minhas voltas diárias que somavam-se em oito. Fiquei a imaginar o que se passava pela cabeça deste sujeito que possui uma maneira diversa de ver o mundo. Seria mais triste ou alegre por ter uma velha bicicleta, um cachorro e um cobertor....Não sei.

Mais que diferença isso faz para ele e para mim.

PIK

quarta-feira, dezembro 15, 2010

pitadas de filosofia - Cogito

Quando o grande filósofo matemático Descartes completou seu 40 anos recebeu uma graninha boa e ficou com vontade de viajar e conhecer o mundo. Alistou-se no exército e segundo consta teve contato com culturas totalmente diferentes da tua.

Tais culturas provavelmente geraram profunda crise no pensamento deste homem que até então enraizado dentro da cultura européia sempre tomara toda verdade que lhe fora ensinado dentro do colégio jesuíta de La Fleche. Ora, diante disso, este grande pensador talvez tenha pensado assim: vejo que dentro de cabeças honestas de outras culturas possuem verdades que vão contra a lógica daquilo que até hoje eu as tenho tomado como verdades universais e absolutas.

Eis aqui um grande problema. Como confiar nos sentidos se eles nos dão testemunhos relativos diante das coisas? Diante disso, Descartes resolve colocar todas as possibilidades de conhecimento em dúvida, pois para que algo seja realmente verdadeiro deve possuir propriedade de validade universal.

Diante da dúvida em relação a sua própria existência ele cogita (eis o cogito): penso = existo, como seria a mim possível cogitar sem pensar, mesmo que tivesse sonhando não poderia negar tal fato.

Veja que tal pensamento está contido uma verdade que podemos afirmar como universal (válida para qualquer ser humano) e que tal verdade provem das idéias (não dependem da experiência) e por isso idealista.

Diante disso, conclui-se que o pensamento cartesiano tem sua fundamentação dentro de um profundo idealismo com desconfiança profunda em nossos sentidos.

Mais o que gostaria de salientar é que acreditarmos piamente em nossas verdades particulares como teor de validade universal e não sermos capazes de ser honestos intelectualmente pode nos transformar em pessoas intolerantes. Neste ponto há um salto profundo no pensamento deste gênio matemático, aliás, área que ajudou a fundamentar sua tese idealista.

Como diante da relativade entre parâmetros de valores tão diversos entre as culturas termos uma convivência harmoniosa : eis um problema filosófico ainda aberto.

Hemerson

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Âmago, onde?


Procuro o copo d’água no criado mudo

Para os lábios secos ansiosos

Meus ouvidos captam um ruído ao fundo

Algo me lembra minha infância

Será o guarda noturno?

Sinto o ofegar da minha respiração

O suporte da alma, agora inerte sobre a cama.

Quem é este?

A pestanejar por entre confusões mentais e delírios

Serei útil a alguém?

A dor do próximo não me afaga o rosto, nem acaricia minhas mãos.

Quanto à palavra, seu som não reverbera.

Quanto à luz, sua explosão é branca e pálida.

Do outro lado, dizem, é um breu total.

Extremos, ou melhor, intensidades.

Um vazio que é preenchido com impossibilidades

De sorrisos, de caminhos, de amores.

Porque é assim?

Ao Fúlvio Fernandes.

terça-feira, dezembro 07, 2010

O Amargo da Língua

Outro dia vi um pequeno escrito meu em outra língua, pareceu-me um outro eu que escrevera, a grafia muda, letras e fonemas quando escritos a mão em outro código apresentam um outro desenho, uma outra grafia, uma forma diversa de nossa grafia corrente.
Mas a principal constatação foi a de que língua tem uma história própria que lhe confere certa autonomia, seus códigos, sua sintaxe, seu sentido, todo seu universo semântico se constitui em sua próppria estrutura, de modo que se quisermos inferir em outros sentidos temos que subverter a estrutura da mesma ou utilizar-se de uma outra linguagem.
Pode parecer óbvio, mas as vezes passa desapercebido. O fato é que a língua fala, existe um sentido na linguagem que precede o sentido de qualquer conteúdo que veiculamos através dela. A própria língua já é a mensagem, já é um sentido que reveste os conteúdos, os conjuntos sintáticos e semânticos dotam a linguagem de certa autonomia. De maneira que toda obra, elaborada numa dada linguagem é antes de mais nada a fala desta linguagem.
A prosa e a poesia seguem a fala da língua escrita, o mapa é a fala da linguagem cartográfica, o vídeo é a fala do áudio visual e por aí vai. Quando escolhemos uma linguagem para dar existência a alguma informação estamos escolhendo a fala que mais se aproxima do sentido que esperamos dar. Porém, também podemos representar um sentido bastante interessante quanto tencionamos e/ou forçamos a linguagem a dizer aquilo que ela se nega a dizer.
Roland Barthes dizia que o maior risco em relação às línguas é o que elas nos obrigam a dizer, isso não que dizer que o risco é o que ela nos impede de dizer, o que é muito natural e compreensível, todos sabem da dificuldade de se traduzir alguns termos de uma língua para outra, mas o que Barthes chama a atenção é sobre o que a língua nos obriga a dizer devido ao seu caráter autônomo.
A linguagem é a base da representação, porém a representação não é apenas uma mímese do real, uma cópia perfeita da realidade ela é uma recriação da mesma, talvez seja mesmo por isso que a língua recria o mundo e não apenas o copia.
Mas o mais importante é subvertemos o que cada linguagem nos obriga a dizer, criarmos uma resistência na linguagem para recriarmos mundos ainda mais diversos, para tornar nossa representação ainda mais prenhe de poesia, para criarmos o real injetado de ficcção, o real como política da ficção.
Isso acontece com grupos, de minorias éticas, culturais e territoriais, como coletivos urbanos (haja vista o Estival aqui em São José) que se utilizam do imbricamento de várias linguagens para veicular seu conteúdo. A Língua segundo Bakhtin também apresenta um caráter material histórico e dialético, e precisamos sermos subversivos para nos apropriarmos de seus sentidos e criarmos outros que nos represente.
Sejamos o grupo de resistência da linguagem para subverter o sentido amargo daquilo que ela nos obriga dizer.

segunda-feira, dezembro 06, 2010

Podcast - Siri

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Meus amigos e amigas, depois de tempo distante estamos nós aqui outra vez trazendo a novidade agora do podcast inserido . Neste primeiro experimental estou colocando uma poesia de Aldir Blanc que foi musicada por João Bosco e aqui declamada pelo meu amigo Alexandre.

Abraços

PIK


domingo, dezembro 05, 2010

Como nossos pais





A alguns anos tive uma sadio debate com o comuna Piquitito sobre o verdadeiro referencial dos Beatles desde o fim da banda até hoje.


Pelo curto tempo de duração da banda comparada a outras da época, tinha muita dificuldade em me aprofundar e de concordar com ele nos termos dele a qual hoje lhe dou toda razão.


Sempre gostei muito de ouvir o som de John e Paul no pós-banda mas tinha dificuldade(tanto financeira quanto de disponibilidade)de ter o material da época em vinil, tape ou mesmo em CD de forma a qual ficava limitado a coletaneas comerciais.


Hoje no entanto ja se disponibiliza todas as versões totalmente remasterizadas tanto stéreo quanto mono, além de discos em vinil para os saudosos da vitrola em sebos.


O resultado em versão stéreo é no minimo magnifico! Eu adquiri e ouvi o Sgt. Pepper's e nada, absolutamente nada se descaracteriza do som original. Como diz Piquitito, realmente não existem músicas ruins. Se descarta a idéia de se ter conhecimento total do som dos caras por via de coletaneas. Nesse caso a tecnologia trabalhou somente a serviço do bem.


Você estava certo Piquitito.




Mas o que mais tenha mudado minha opinião de agora nem seja sua influência nos grandes artistas nacionais, mas a amostragem das pessoas presentes no último show do Paul no Morumbi.




Existiam exatamente divididas em 3 partes a geração do avô, pai e filho nas arquibancadas com o detalhe dos meninos(as) com não mais que treze anos de idade curtindo emocionados e cantando em inglês perfeito cada canção tocada por McCartney da antiga banda. Conversando com um desses pais, ele tinha a real preocupação de passar ao filho uma musicalidade o mais bonita, expressiva e saudavél possivél em épocas de terrorismo comercial vindo de todos canais de TV e estações de radio mais populares.


Pessoas que conheço fazem exatamente o mesmo com seus filhos. A maioria tem sucesso. Outros não tem a mesma preocupação e deixam a cargo dos jovens decidir do que gosta. Muito bonito ou perigoso em uma sociedade atual totalmente alienada e vulneravél a chats on-line, vicíos precoces e o péssimo uso do livre arbitrio, totalmente o oposto da época de nossos antepassados. Isso tende a pender diretamente no comportamento desses jovens em sua formação intelectual, social e profissional na sociedade e nas ruas.


Não achava que isso existia ou seria possivél nos dias de hoje.


Salve os Beatles, Salve Chico, Salve Farias(que não deixa o pequeno Heitor se contaminar) e salve nossos pais que nos ensinam as boas coisas da vida!




Foto: André L Rozaboni

sexta-feira, dezembro 03, 2010

Do Diálogo

"Uns quinhentos anos antes da era cristã aconteceu na Magna Grécia a melhor coisa registrada na história universal: a descoberta do diálogo. A fé, a certeza, os dogmas, os anátemas, as preces, as proibições, as ordens, os tabus, as tiranias, as guerras e as glórias assediavam o orbe; alguns gregos contraíram, nunca saberemos como, o singular costume de conversar. Duvidaram, persuadiram, discordaram, mudaram de opinião, adiaram. Quiçá foram ajudados por uma mitologia, que era, como o Shinto, um conjunto de fábulas imprecisas e de cosmogonias variáveis. Essas dispersas conjecturas foram a primeira raíz do que hoje chamamos, não sem pompa, de metafísica. Sem esses poucos gregos conversadores, a cultura ocidental é inconcebível".

Jorge Luis Borges e Osvaldo Ferrari. Sobre a amizade e outros diálogos.
(São Paulo, Hedra, 2009, p. 21).