quinta-feira, março 31, 2011

Do Processo de Estetização de São José dos Campos

O histórico do caráter técnico do planejamento urbano e de sua utilidade para o ordenamento do território, a racionalização do espaço está diretamente ligada à racionalização de produção, à serialização, à moradia mínima, ao zoneamento e ao excessivo parcelamento do solo urbano. A principal promessa modernista para a arquitetura e urbanismo, que tomava como premissa os parâmetros acima, se deu nos tempos áureos da cultura da República de Weimar com a Bauhaus.
Porém, também é importante colocar, como esta racionalidade técnica declara a obsolescência programada do urbano, preconizando o envelhecimento do novo, o modernismo, para dar espaço a autofagia das formas urbanas no pós-modernismo.
Harvey coloca que a estética estável do modernismo fordista acompanhando a fluidez da lógica cultural do capitalismo tardio, do padrão flexível de acumulação cede espaço para uma estetização urbana que celebra a efemeridade e o espetáculo, características encontradas no Município.
A estetização da urbe reduz os conflitos espaciais a dimensão da aparência. A excessiva estetizaçãofruto da lógica cultural do capitalismo tardio transforma espaços urbanos em cenários, em que atua uma vida pública atrofiada sem participação política, que só faz alimentar uma profusão de estilos, formas e outros cenários.
Tais cenários são compostos por uma frivolidade estética urbana, que está posta pelos critérios de uma cultura assumidamente soft, cool, a cidade do self service, disneylandizada, fake, sem critérios normativos contundentes que possam embasar tal estética.
Este esteticismo refere-se a questão da identidade em nossa contemporaneidade, sobretudo,  a sua dimensão narcísica. Todos têm a necessidade de se diferenciar, numa busca lancinante de si próprio, de um eu que se vê refletido em tudo e não obstante se mostra incapaz, dentro da cidade, se instituir em algo idêntico a si mesmo, assim é a urbanidade de SJC.
A modernidade se mostrou como uma saída as aspirações de controle do homem sobre seu meio e o urbanismo se balizou frente a racionalidade técnica (pilar dessa modernidade), para valer-se como ciência da cidade, o que trouxe um urbanismo voltado para o futuro, para a construção do novo, para a idealização de uma sociedade organizada. Porém essa necessidade de estetização da urbe reflete que, a crença modernista em uma sociedade organizada e sua visão de futuro trouxe como reflexo a falta de perspectiva histórica, de seu passado, comum a pós-modernidade.
Seria então a estetização um sintoma frente a necessidade de se preencher o vazio do presente utilizando como expediente uma ressureição de um passado, de formas, estilos, referências simbólicas, fruto de uma transparência história a que São José toma como opaca e translúcida? A dimensão histórica espacial da cidade de São José e sua relação dialética com a estetização de sua urbanidade é o foco deste artigo. SJC busca através dessa estetização sua identidade, uma identidade comum ao mundo globalizado, de aeroportos, fast food e Disneylândia, voltada para se vender em um mercado que se almeja global.

quinta-feira, março 24, 2011

Uma Arte

A arte de perder não é nenhum mistério
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subsequente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você (a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por muito que pareça (escreve) muito sério.

autor: Elizabeth Bishop

domingo, março 20, 2011

Ensaio nº1 - Bixiga

"Poderia falar quantos degraus são feitas as ruas em forma de escada, 
da circunferência dos arcos dos pórticos, de quais lâminas de zinco são recorbertos os tetos,
 mas sei que seria o mesmo que não dizer nada. 
A cidade não é feita disso, mas das relações entre as medidas 
do seu espaço e os acontecimentos do passado..."

Ítalo Calvino, em Cidades Invisíveis







Mais informações sobre o Bixiga aqui e aqui
Clique nas imagens para ampliá-las.

sexta-feira, março 18, 2011

Carlos Drummond de Andrade: Coração numeroso

Foi no Rio.
Eu passava na Avenida quase meia-noite.
Bicos de seio batiam nos bicos de luz estrelas inumeráveis.
Havia a promessa do mar
e bondes tilintavam,
abafando o calor
que soprava no vento
e o vento vinha de Minas.

Meus paralíticos sonhos desgosto de viver
(a vida para mim é vontade de morrer)
faziam de mim homem-realejo imperturbavelmente
na Galeria Cruzeiro quente quente
e como não conhecia ninguém a não ser o doce vento mineiro,
nenhuma vontade de beber, eu disse: Acabemos com isso.

Mas tremia na cidade uma fascinação casas compridas
autos abertos correndo caminho do mar
voluptuosidade errante do calor
mil presentes da vida aos homens indiferentes,
que meu coração bateu forte, meus olhos inúteis choraram.

O mar batia em meu peito, já não batia no cais.
A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu
a cidade sou eu
sou eu a cidade
meu amor.



De: “Alguma poesia”. In: Poesia completa. Org. de Gilberto Mendonça Teles. Introdução de Silviano Santiago. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p.20-12.

quarta-feira, março 16, 2011

A situação mundial

Milie sivert, que isso? Penso, penso, e não encontro resposta, paremos, paremos, eu não sou o mundo que droga, quem disse que o Kadafi era ruim, sei lá, gente estranha, mora longe, fala estranho, não entendo, e os capitalistas, e os desgraçados que dominam a vida econômica do mundo através do dinheiro. Ah, paremos de bobagens, de tragédias longínquas, 1000 mortos, oh, mas morre mais gente hoje, agora no Brasil do que em qualquer lugar, enchentes, desmoronamentos, esquecemos os cariocas? Esquecemos que o professor do estado ganham 7 e 50 por hora, que merda, meu deus, dou um tempo na arte, porque precisamos parar, parar, parar...sinto-me revoltado porque parece que o consumo, o que nos torna cidadãos medíocres e copistas é o que interessa, o que importa é o apartamento, o jip pajero, o caralho a quatro, mais que porra! é mês das mulheres, elas ganham menos, tem menos respeito, são assediada sexualmente, moralmente, e tudo mais, mais que tragédia! pensemos nos judeus do holocausto, e os milhões de russos mortos? muito mais do que judeus, pensemos nesse tucanato escroto ao qual somos submetidos há dezenas de anos no vale do paraiba, mas não, eu estou bem, pago minha parcela do palio, estou bem, meu filho tem educação bem paga e decente, vai se fuder! Estou revoltado, quero morrer de radiação na praia como herói do idiotismo do consumo exacerbado de energia, não quero palavras que eu não encontro no dicionário, quero guerra, a verdadeira luta, não a dos sindicatos arregados, dos comícios, das falácias, não falemos mais em nada, façamos de uma vez a realização da felicidade humana que perpassa os centros urbanos medíocres de falsas relações sociais, de falsas alegrias, ah, valha-me Deus, quer sua cervejinha na beira da praia? Como diz Ojuara, herói do sertão, é hora de enfiar, enfiar o pé na estrada, enfiar a mão na cara, e enfiar o mangará no chibil. Eu loco? Loco é o corno feladaputa que cumeu a rapariga que te botou no mundo. Eu quero mais mulheres se manifestanto neste blog, pois sou professor, quer dizer, a maioria é de mulheres, fico lá, por sete e cinqüenta a hora eu não vou fazer muito não, apenas mostra que isso tudo é uma patifaria, uma merda, uma falsa meritocracia, ah então que é bom é bom, num me venha com essa papagaiada, eu quero o chero cheroso de mar mavioso que vem da grota serena do ventre de Venus, da concha da bendita amém.

segunda-feira, março 14, 2011

Sobre a Propaganda

A poesia contida na propaganda na maioria da vezes nos vende o impossível, o inalcançavel, mas as imagens amalgamadas às palavras e aos sons, fazem o nosso imaginário ir longe, tornando o desejo real e provável apenas lá... bem lá no nosso âmago, aonde ressignificamos a realidade, brincamos e fingimos que somos donos, sujeitos e não apenas coadjuvantes, predicados dela.


Nilson Ares



sábado, março 12, 2011

O objetivo da arte de escrever: O amor

Quero compartilhar com vocês trechos de poemas que considero tirados de dentro da alma. Drumond diz: escrever sobe o batimento as alturas, por isso escrevo. Recriar a realidade? Ah, como não, quero o sonho mais inatingível.Obs. Existe um costume numa tribo indígena, na qual, você, tem o direito de enlouquecer uma vez na vida, apenas uma vez, pode tocar fogo na casa de todo mundo, gritar, chorar, bater, o que quiser, apenas uma vez na vida. Desde que o motivo seja válido, morte, perda, guerra, enfim. Eu já enlouqueci. Já tive minha vez. Por amor. Este poema me lembrava à loucura sem pesares do amor partido. Continuando com o tema do porquê escrever. Este primeiro poema (na integra) de Maiakowisk retrata o sentimento desesperante de perder o objeto amado (perda consiste em posse, eis ai o erro). Não conheço motivo maior para escrever. O segundo é um trecho de um poema de T.S.Eliot que versa sobre o mesmo tema, seguido da versão original, que, pois, é a versão autêntica. Lilitchka é o grande amor de Maiakowisk, quando leio isso não me sinto capaz de fazer melhor.

LÍLITCHKA!
Em lugar de uma carta

Fumo de tabaco rói o ar.
O quarto –
um capítulo do inferno de Krutchônikh.
Recorda –
atrás desta janela
pela primeira vez
apertei tuas mãos, atônito.
Hoje te sentas,
no coração – aço.
Um dia mais
e me expulsarás,
talvez, com zanga.
No teu hall escuro longamente o braço,
trêmulo, se recusa a entrar na manga.

Sairei correndo,
lançarei meu corpo à rua.
Transtornado,
tornado
louco pelo desespero.
Não o consintas,
meu amor, meu bem,
digamos até logo agora.
De qualquer forma
o meu amor
– duro fardo por certo –
pesará sobre ti
onde quer que te encontres.
Deixa que o fel da mágoa ressentida
num último grito estronde.

Quando um boi está morto de trabalho
ele se vai
e se deita na água fria.
Afora o teu amor
para mim
não há mar,
e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.
Quando o elefante cansado quer repouso
ele jaz como um rei na areia ardente.
Afora o teu amor
para mim
não há sol,
e eu não sei onde estás e com quem.
Se ela assim torturasse um poeta,
ele trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.
Amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos – rodopiante carnaval –
dispersarão as folhas dos meus livros…
Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?
Deixa-me ao menos
arrelvar numa última carícia
teu passo que se apressa.

(Tradução de Augusto de Campos)

Trecho de Quarta feira de cinzas de T.S.Eliot

Senhora dos silêncios
Serena e aflita
Lacerada e indivisa
Rosa da memória
Rosa do oblívio
Exânime e instigante
Atormentada tranqüila
A única Rosa em que
Consiste agora o jardim
Onde todo amor termina
Extinto o tormento
Do amor insatisfeito
Da aflição maior ainda
Do amor já satisfeito
Fim da infinita jornada sem termo
Conclusão de tudo
O que não finda
Fala sem palavra
E palavra sem fala
Louvemos a Mãe
Pelo Jardim
Onde todo amor termina.

Versão original (todo tradutor é um traidor)
Lady of silences
Calm and distressed
Torn and most whole
Rose of memory
Rose of forgetfulness
Exhausted and life-giving
Worried reposeful
The single Rose
Is now the Garden
Where all loves end
Terminate torment
Of love unsatisfied
The greater torment
Of love satisfied
End of the endless
Journey to no end
Conclusion of all that
Is inconclusible
Speech without word and
Word of no speech
Grace to the Mother
For the Garden
Where all love ends.

Daqui a 100 anos - H.G.Wells

Após uma devastação causada primeiro por uma grande guerra e em seguida por uma praga mortal, a humanidade inicia, pelos poucos sobreviventes um progresso desenfreado transformando o mundo em algo muito maior e mais avançado. Porém seria esse mesmo progresso que teria iniciado a grande guerra...











sexta-feira, março 11, 2011

Aos porcos de Emma

Há tempos mesmo que não apareço por aqui, mas assistindo agora a mostra de cinema internacional ( A Alegria de Emma - Emmas Glück - Alemanha,2006) vejo que perdemos ótimas exibições de cinema vomitando baboseiras e arriscando a pele e carne no escritório em viernes e outros dias.
Emma (Jördis Triebel, ótima!), uma campesina alemã de uns 27 anos cria porcos. Se masturba andando de moto com algo entre as pernas que a faz delirar com as imperfeições de solo. Sacrifica os porcos com uma delicadeza cirúrgica, que impressiona desde o início e me fez pensar ainda mais sobre a morte, companheira da vida. Os porcos não tem sentimento e seu instinto os prepara para encarar o fim, Emma não demonstra opressão e sim muito carinho na derradeira hora, tratando-os como animais de estimação até o momento da punhalada fatal e quando eles caem, ela diz - Não disse que não ia doer? É lindo assistir à cena.
Ao mesmo tempo que a morte é parte da doce vida de Emma, ela encontra um cara, Max, após um acidente de carro em sua fazenda e o adota, este relez está em estado terminal de câncer, vomita suas entranhas até quando está trepando e ela adora trepar!!
E ela faz com ele como faz com os porcos a pedido dele, aliviando-o da dor da doença nefasta (mas antes eles trepam sutilmente) de seu amado Max, com o mesmo punhal.
Eu não tinha nada a dizer, mas com a chegada de Buk e a insistência religiosa do Pik em continuar o que começamos há tempos, vou procurar mais tempo ( aquele que o M.Douglas quer comprar no filme do O.Stone) e publicar algumas asneiras...

quinta-feira, março 03, 2011

Fragmentos de Um Discurso Amoroso

Parece às vezes ao sujeito amoroso estar possuído por um demônio de linguagem que o obriga a ferir a si próprio e a se expulsar -- segundo a proposição de Goethe -- do paraíso que, em outros momentos, a relação amorosa constitui para ele.

1. Uma força precisa arrasta minha linguagem em direção ao mal que posso fazer a mim mesmo: o regime motor de meu discurso é a roda livre: a linguagem vai girando, sem nenhum pensamento tático da realidade. Procuro fazer mal, expulso-me a mim mesmo de meu paraíso, empenhamdo-me em suscitar em mim as imagens (de ciúmes, de abandono, de humilhação) que podem me ferir; e aberta a ferida, mantenho-a, alimento-a com outras imagens, até que um outro ferimento venha provocar a diversão.

2. O demônio é plural ("Meu nome é Legião", Lucas, 7,30). Quando um demônio é repelido, quando finalmente impus-lhe silêncio (por acaso ou luta), um outro levanta a cabeça ao lado e se põe a falar. A vida demoníaca de um amante assemelha-se à superfície de uma solfatara*: grandes bolhas (ardentes e lamacentas) eclodem uma após a outra; quando uma baixa e apazigua-se, retorna à massa, uma outra, mais adiante, se forma, infla. As bolhas "Desespero", "Ciúme", "Exclusão", "Desejo", Incerteza de conduta", "Pavor de perder a dignidade" (o mais perverso de todos os demônios) fazem "ploc" uma após a outra, numa ordem indeterminada: a desordem mesma da Natureza.

3. Como repelir um demônio (velho problema)? Os demônios, principalmente se são de linguagem (e que mais poderiam ser?), se combatem pela linguagem. Posso pois ter a esperança de exorcizar a palavra demoníaco que me é soprada (por mim mesmo) substituindo-a (se acaso eu tiver tal talento linguageiro) por uma outra palavra, mais pacífico (caminho para a eufemia). Assim: eu acreditava ter finalmente saído da crise, quando repentinamente -- incitada por uma longa viagem de carro -- uma verborragia me possui, não paro de me agitar no pensamento, no desejo, na nostalgia, na agressão do outro; e acrescentoo que sofro uma recaída; mas o vocabulário francês é uma verdadeira farmacopeia (veneno de um lado, remédio do outro): não, não se trata de uma recaía, trata-se apenas do último sobressalto do demônio interior.

* Cratera de vulcão extinto de onde se exalam vapores de enxofre ou gás sulfídrico; sulfureira.

Roland Barthes. Fragmentos de um discurso amoroso.
(São Paulo, Martins Fontes, 2007, p. 111-113).

Meu Nome Não é Johnny, e nem Bukowisky

Well come to the machine, Bukowisky! Sempre fui enfático ao administrador deste blog para que abrisse as portas deste para que outras pessoas escrevessem, ou para pessoas que, pelo menos, escreve. Qualquer coisa, principalmente.
Tenho-o na mais alta conta da palavra, essa matéria prima da literatura, da letra, unidade básica da linguagem escrita, essa mesma que perdura pelos tempos, desde os pré-socráticos e sua relação intrínseca com a natureza e o mito, até Aristóteles, e a razão incorporada à sua metafisica e a literatura. Tomando essa analogia, sinto que é esta a substancia a qual estamos imersos, a linguagem, a representação. Barthes chegou a nos recomendar, que trapaceássemos com essa substância fazendo literatura.
Não há na literatura uma razão em si, seja política, ideológica ou mesmo estética, é sim tudo isso ao mesmo tempo, na realidade para mim, a literatura é a nossa cota de humanidade, a ação que humaniza o mundo e naturaliza o homem, a literatura em si demanda mais vida, é isso.
Desde que a razão cindiu homem e natureza, nos afastou da representação mítica da realidade trazendo-nos o desencanto e a não poesia, vejo a necessidade imperativa de trapacearmos dentro da representação escrita e criarmos a literatura, é ela que nos religará com a nossa natureza, em sua etimologia, religare, a literatura é a minha religião. Não escrevemos só para alguém, escrevemos antes de tudo para recriarmos a realidade.
Sede bem vindos!
Quando acordo não sinto vontade de acordar
Quero me esgueirar no colchão mal cheiroso e mofado
Me enfiar nele como quando era adolescente
Sinto o sol ardente dos trópicos ao qual fui confinado
Ouço os palavrões da vizinhança
Cheiro o alho e a cebola que me ressuscitam

Apresentação

Queria agradecer ao pik, multiastuto, ao coronel, erutitíssimus est, ao gigante André, mestre do pathos da filia, e especialmente, ao meu primo Samuel, mega-entusiasta, pela opurtunidade de escrever pela primeira vez no comunapiraquara, depois de anos de cadeira, de mesa e de bar. Não que escrever seja difícil ou inacessível, Walter Benjamim já previa esta democracia literária, na qual ídolos não existem. Escrevo, pela prima nocte, com um nome em homenagem a Bukowisky, porém sem tantos anos entregando carta. (Gosto de pensar nos meus amigos como super-heróis, na qual, liga da justiça, cada um tem um poder, um talento único e necessário).
Comuna, comunidade, comum, koinonia, koinonia politiké, intercomunicação, non sense. É o que é comum, fumar no portão, brigar na rua, regar as plantas, o que você disse? Ah, passar café.
“Hoje percebi que venho me apegando as coisas, materiais, que me dão prazer...” O que é isso baby? você é o que você ganha? Quem ganha pouco perde muito. Agora babe, troque de faixa, rápido! que se foda.
Sartre escreveu um livro que se chama “que é a literatura” na qual se questiona o porquê de escrever e porquê, enfim, de toda arte literária. Escrever pra quê? Aristóteles disse que o ser humano é um animal político. A sua finalidade é o pleno exercício da razão, sua máxima potencialidade. Ser feliz é exercer seu devir, aquilo que deves ser, se não se perderes nos caminhos da desmesura. Escrever é então o ato político intencional de passar mensagens para outrem. Não concordo plenamente com Brecht ou Sartre, que submetem a arte a uma ideologia marxista. Não acho que minha escrita tenha que simplesmente ser um instrumento da luta de classe. Sou neto de pedreiro e filho de operário. Minha arte pode ser chamada de elitista? Uma coisa é clara, escrevemos para alguém, mesmo que seja para nós mesmos, quer dizer, quem escreve diário, sempre pensa na possibilidade de alguém poder Le-lo. Então há a preocupação com a estética e a glória. “sorvo rápido a vida”.