sexta-feira, novembro 18, 2011

Valei-me Meu Rosário

O agenciamento dos sentimentos pelos psicotrópicos tem nos feitos, no mínimo, estáveis, para uma realidade liquida, como um barco que não se debate no mar revolto, de uma maresia paralisada no ar, acompanhada, no máximo, de uma náusea doce.

Lembro-me de um slogan de uma empresa farmacêutica: Hoechst, química a serviço da vida. Sempre achei isso o máximo! Hoje, contrariamente à estabilidade propiciada pela ciência, encontrei um livro do Baudelaire, Paraísos Artificiais. Que mesmo apresentando uma natureza caótica, de espaços abissais, de realidades dessemelhantes propiciada pelo o Haxixe, também presta serviço à vida.

Pois é o inverossímil, que algumas vezes, é quem empresta sentido e socorre a realidade, já que a consciência não é uma coisa, o existente não é um utensílio, a objetividade não abarca a totalidade da natureza, as vezes, é fictício dotado de potência pelo imaginário que transgride o factível. Será que era isso que Arthur Bispo do Rosário fazia? Foi o que pensei depois do primeiro capitulo de Paraísos Artificiais e de matar aquela Ponta que sobrou do feriado.

Parece haver uma fronteira tênue entre arte e loucura, assim como Baudelaire e Arthur Bispo do Rosário. A arte pautada pela representação não é uma mimese da realidade ordinária, ela é uma recriação da realidade o que importa na arte não é a verossimilhança, mas sim o que é dessemelhante, o que contrasta, o inverossímil. Possíveis principalmente pela percepção e pela imaginação, binômio este, que sofre alterações significativas com ação de substancias químicas em nosso cérebro.

“Parece extremamente improvável que a humanidade, de um modo geral, jamais seja capaz de passar sem Paraísos Artificiais. A maioria dos homens e mulheres leva uma vida tão sofredora em seus pontos baixos e tão monótona em suas eminências, tão pobre e limitada, que os desejos de fuga, os anseios para superar-se, ainda por uns breves momentos, estão e têm estado sempre entre os principais apetites da alma.”

A realidade pode também ser narcotizante quando a existência não passa de um protocolo.