domingo, março 28, 2010

Moral e ética

Normalmente há uma confusão entre essas palavras,entretanto, não são sinônimas. A palavra ética, vem do grego ethos que significaria modo de ser.Já a palavra moral, mores do latim, está relacionado a seguir o costume de uma determinada sociedade , baseado num paradigma cultural.
Na cultura grega o ethos seria aquilo que é bom para o indivíduo e para a sociedade onde ele está inserido.Desta forma, o ethos purifica e questiona a mores, quando está de certa forma leva a uma deformação da sociedade.
Vejamos o caso da escravidão no Brasil. Durante o regime de escravatura no Brasil do ponto de vista moral era aceitável ter escravos negros para que brancos pudessem gozar do ócio e tal fato era aceito com certa naturalidade.
Quando começa haver um movimento contrário a escravidão,ocorre porque pessoas contrárias vê um problema ético, afinal, há uma (i)moralidade.Desta forma , a ética busca priorização da felicidade do homem de um ponto de vista social, fraterno.
Vejamos a aceitabilidade da questão do latifúndio. É moralmente aceito em nossa sociedade o fator latifundiário, entretanto, uma parte da sociedade vê uma imoralidade pois permite que uma parcela da sociedade não tenha o direito ao mínimo necessário, previsto inclusive nas leis do estado, que valida o latifundio.Temos aqui um dilema ético.Um fator moralmente aceito,é questionado por conter em si um problema , uma contrariedade em sua raiz.
Desta forma, podemos ver a importância de trazer a discussão ética para os mais variados temas. Não de uma forma banal como é usada pelos meios de comunicação, mas de colocá-la nas discussões de temas variados , principalmente no âmbito da educação onde se trabalha com crianças, jovens e comunidade.
Agora pergunto, qual disciplinara fará isto melhor que a filosofia que desde as raízes gregas trazia esta discussão, creio que nenhuma outra.
PIK

quarta-feira, março 24, 2010

A solidão da leitura


Na sociedade moderna tudo o que se faz deve se ter função de necessidade.Dessa forma passa a obrigatoriedade da leitura como função final : vestibular, concurso e as leituras que os amigos esperam que façamos para uma discussão.
Mas se lermos o que ninguém tem lido, não será incomum que alguém pergunte quando estiver carregando um Machado de Assis, Agostinho,Platão e aí vai.
Fato é que a leitura nos traz o prazer existencial do momento presente , o que contamos para o outro não é o que sentimos no momento da leitura , ele é puro momento presente e solitário e nem todos estão para prazeres solitários.
Isto ocorre também na mesma proporção com o escritor , entretanto, este espera que exista o sujeito leitor para lhe escutar , pois ninguém no fundo escreve para si.Alguns até arriscam-se a dialogar literalmente com o leitor como bem faz Machado de Assis em seus textos.
Desta forma, ponho-me a dialogar contigo o caro leitor sobre tal fato que veio a cabeça desse pobre mortal que em vez de estudar para concurso , acaba navegando em leituras que não coloca pão na mesa , mas enche o coração de alegria e tristeza, afinal nem só de pão viverá o homem.
PIK

sexta-feira, março 19, 2010

O Mestre Sala dos Mares


Já era noite quando a belonave havia fundiado na baía de águas calmas e até então limpas, e o presidente recém empossado usufruía do rapapé promovido pelos correligionários e aduladores de plantão, ouviu um estrondo vindo do navio ancorado na baía que já não se apresentava mais tão calma.
Os marinheiros se amotinaram e resolveram voltar os canhões contra a cidade, parecia inverossímil que parte da armada tivesse se rebelado e colocasse a força naval sob o controle de algum lunático ou saqueador. Mas não era bem isso que ocorrera.
A tripulação do navio, recrutada pela Marinha de Guerra, era essencialmente de pessoas desvalidas, tiradas de seu lugar de origem de forma impositiva, na maioria jovens e adolescente de 14 a 20 anos, quando não homens que tiveram que deixar sua família a força para servir a armada por um tempo nunca inferior a quinze anos. E como se não bastasse tais condições, as faltas disciplinares graves eram punidas exemplarmente com um numero de chibatadas que podiam variar entre vinte e cinco a duzentos e cinqüenta.
Dentre a tripulação havia um praça negro, chamado João Candido, que apresentava uma folha de serviço impecável e que ao presenciar tal castigo promoveu um motim no navio, assumindo o comando do Minas Gerais, se revelando um dragão do mar.
Dessa revolta, hoje faz cem anos. Cem anos da Revolta da Chibata que deixou atônita a Marinha e a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Um salve a João Cândido em comemoração aos cem anos do feito, o nosso primeiro e único Almirante Negro, “Salve o Navegante Negro,/ Que tem por monumento/ As pedras pisadas do cais”.
Mas faz muito tempo.

Livro na janela


Prometi que não ia mais escrever, principalmente por causa da insignificancia dos meus textos(?) perto de tão ilustres comunas.
Mas na continuação do meu querido diário, aqui a vida continua boa.
Sinto que isso não é um texto, mas uma carta de uma exilada.
Ontem fomos obrigados a comer churrasco depois da sauna, já que a geladeira do vizinho quebrou. Como o carro também não queria ligar, tivemos que usar o que tinhamos: uma picanha, dois vinhos, um queijo, alho, cebola, batata, pão integral, azeite e pimenta. Coisa pouca. Meu vizinho, que é caixeiro viajante da educação, fez tudo com muito cuidado e sem muito sal. Geladeira e carro estão funcionando bem hoje de manhã.
Dormi cedo, depois de ler o post de tão ilustre Coronel Alexandre, escutando da janela papo de bola.
Acordei cedo, fiz minhas unhas, pintei de pink, conversei coisas da cidade, das pessoas e novos moradores. Desci caminhando, comprimentando alguns pais e mães de alunos, achei uma casa para alugar na feira literária de São Xico em Maio, quinhentos reais o fim de semana, três quartos, o preço é independente do número de pessoas e tem lugar para cozinhar.
Em casa tomei café com o Emílio, quem conhece pode imaginar o gosto desse café. O almoço aqui hoje é linguiça de ontem. E assim começa o útimo dia da semana, comigo escutando Chico (Bárbara), vendo moço dançar com um dos seis cães (Lola, corra) e me despedindo.

Los Hermanos

Yo tengo tantos hermanos
que nos los puedo contar;
en el valle, en la montaña,
en la pampa y en el mar.

Cada cual con sus trabajos,
con sus sueños cada cual,
con la esperanza delante,
con los recuerdos detrás.

Yo tengo tantos hermanos
que no los puedo contar.

Gente de mano caliente
por eso de la amistad;
con un lloro pa' llorarlo,
con un rezo, pa' rezar.

Con un horizonte abierto
que siempre está más allá
y esa fuerza pa' buscarlo
con tesón y voluntad.

Cuando parece más cerca
es cuando se aleja más,
yo tengo tantos hermanos
que no los puedo contar.

Y así seguimos andando
curtidos de soledad;
nos perdemos por el mundo
nos volvemos a encontrar

Y así nos reconocemos,
por el lejano mirar;
por las coplas que mordemos
semillas de inmensidad

Y así seguimos andando
curtidos de soledad;
y en nosotros nuestros muertos
pa' que nadie quede atrás.

Yo tengo hermanos
que no los puedo contar,
y una hermana muy hermosa
que se llama Libertad.


ATAHUALPA

quarta-feira, março 17, 2010

Do Racionalismo


Há razões demais na filosofia do conhecimento (a episteme), com o perdão da paráfrase e do trocadilho infame, conhecer a natureza e o real do homem durante toda a história do pensamento, e sobre tudo na idade moderna, dividiu a origem do conhecimento entre aqueles que o consideravam fruto de uma experiência e aqueles que o consideravam um ente de razão.
Em outras palavras, ou o conhecimento se dá através do objeto a ser experenciado, ou se dá através do sujeito que pela razão conhece o objeto. O racionalismo polarizou com o empirismo durante um bom tempo, porém, hoje sabemos que a razão é capaz de alcançar formulações sobre fenômenos que estão fora do alcance da experiência humana como, por exemplo, questões da astrofísica, que muitas delas andam as voltas com experimentos que visam a comprovação destas formulações, vide a física quântica e a relatividade.
O problema consiste em se assegurar da validade da construção epistemológica do conhecimento. Vários fenômenos podem ser destorcidos ou não percebidos durante a experiência do objeto, o mesmo acontece com o sujeito que se vale da razão, razão esta que revelou a existência do próprio sujeito, como diria Descartes “Penso, logo existo” – O Cogito.
Esta dualidade tentou ser superada por Kant em sua obra: Crítica a Razão Pura. Mas a superação só veio mesmo com a fenomenologia de Hurssel e Heiddeger que misturam o sujeito e objeto em um só fenômeno. Nós fazemos parte do fenômeno que observamos, através da consciência que tende para o mundo.
A partir deste momento a razão também passa a ser contestada com mais propriedade. É deste momento que Nietzsche quer destruir a razão incorporada na metafísica, que Freud descobre que a razão não acessa a maior parte da psique humana e o homem não é o senhor em sua própria casa, que Weber descobre a razão que pensa fins e valores e uma outra, instrumental, que se esgota no ajustamento dos meios e fins, Adorno descobre o caráter repressivo da razão e seu afã de domínio e controle da natureza, e que Foucault descobre a relação promiscua entre razão e poder.
Porém não há como negar que a razão representa para a modernidade a proposta mais generosa de emancipação jamais oferecida ao gênero humano, prometeu libertar o homem da tirania e da superstição, construir racionalmente seu destino, emancipou o homem politicamente legando a formulação racional da estrutura política e jurídica do Estado moderno. Para se ver como ainda estamos filiados a luz da razão.

terça-feira, março 16, 2010

Do empirismo

Segundo os empiristas todo conhecimento é formado pela experiência através do que fazemos através dos sentidos.As idéias não seriam mais do que combinações complexas que fazemos das experiências externas. O que parece uma simples afirmação é o começo para a valorização da ciência e o fim da metafísica e tem ainda como pano de fundo um indício do ateismo que conhecemos na modernidade.
Se todo conhecimento que formamos é construído através da experiência,como poderíamos conhecer algo que está no mundo meta-físico. Este é um problema que talvez nem os empiristas imaginavam que poderiam trazer e nem fizeram tanta reflexão na época, mas colocaram uma semente que a modernidade positivista iria usar muito bem, inclusive na filosofia da linguagem que diria que só poderíamos falar sobre coisas que realmente pudéssemos comprovar.
Vejamos, quando perguntamos , Deus substantivo concreto ou abstrato. Temos aqui um grande problema, afinal ou ele é concreto dentro da fé de quem crê ou é um grande absurdo, pois há erro em falar de algo que não se encontra na realidade.
Talvez Vinicius tinha razão, se é que há razão em alguma coisa neste mundão, quando falava que acreditaria quando Deus registra-se sua existência em cartório. Mais aí é querer de mais.
Haja hiperlink.
PIK

quinta-feira, março 11, 2010

Documento em Branco ou a Tarde em que o Tempo Parou





Já era tarde quando ele me pediu fósforo.

Não que naquela hora não pudesse fumar, mas estendi a mão e ofereci a caixa.

Tinha olhos cerrados, era andrajoso, mas falava muito bem a língua.

Observei que nas suas botas havia sangue, e estava fresco.

Logo a fumaça dispersou o cheiro, e o assunto mudou quando disse:

Freqüenta aqui sempre?

Não! - rapidamente respondi.

De fato, aqui não é lugar para pessoas como você.

Eu, como eu sou que nem mesmo reconheço.

Você sabe do que estou falando.

Dali mesmo ele levantou usando a parede de apoio, iniciou os primeiros passos.

Caminhando lentamente, não aceitou ajuda. Virou e disse:

Um dia vou retribuir o que fez a mim.

Levava minha caixa de fósforos no bolso.

E eu fiquei com um gosto meio travoso na boca.

Resmungando como se alguém estivesse do meu lado, de prontidão a me ouvir.

Quem sabe aquele seria a voz que meu silêncio sempre pediu para ouvi-la.

E que no momento só alimentou com minha chama, que agora já nem carrego mais.

São 5h40m.

E a primeira coisa que minha mão busca... em cima do criado.

Alguém tem fósforo?