quarta-feira, dezembro 30, 2009

Ano Novo

Fico imaginando se não tivéssemos esse corte no tempo criado pelos homens, afinal ainda que os animais migrem de um lado para o outro em função das estações , eles o fazem em função de sua natureza.
O homem como ser cultural criou e datou o tempo para que pudesse de certa forma controlá-lo e isto parece tão natural como o ar que respiramos , mas não o é. O datar o tempo é humano , demasiadamente humano.
Entrentanto, é bem provável que todos os povos sempre criaram um cronograma do tempo , onde os anos nascem e morrem.
Imaginemos se o tempo fosse um ciclo sem fim,como de fato realmente o é quando tiramos o homem da jogada,não poderíamos trabalhar a idéia de renovação como fazemos não só anualmente , mas no dia-a-dia como ao acordar.
Há aqueles que fazem promessas diárias, outros semanais, entretanto, aquela esperança no ano que virá , ano novo, vida nova, faz o homem se renovar como passasse num ritual de batismo nas águas e realmente terá a partir dali uma nova vida.
Fato é que os cães talvez dariam tudo para que o dia de ano , como chamam a maioria da população, passasse em branco , sem aqueles malditos foguetórios , que faz os cães correrem para debaixo do sofá e lá permanecerem.
Feliz ano novo .

terça-feira, dezembro 29, 2009

Desabafo de final de ano

A beleza de entender a diversidade da vida é incrível.
Há um tempo atrás assisti ao filme Wall-E e saí do cinema chocada e feliz. Como que algo numa linguagem tão simples pode dizer tanto?
O filme, para os infelizes que não assistiram, não tem diálogos por mais de meia hora. O tema do filme é meio ambiente e a falta de resursos naturais. Um robo que compacta lixo esta sozinho no planeta Terra, onde só há lixo e os seres humanos estão numa nave espacial cruzeiro esperando a Terra ficar pronta para a volta deles. Só que muitos anos se passam, muitos mesmo e os humanos ainda estão lá, viajando pelo universo esperando, só esperando.
Copenhague que me ensinou que nós ainda estamos esperando. Fazemos comparativos e mais nada. Em 2002 na Rodovia dos Tamoios, depois de Paraibuna, tem um charco que estava completamente seco. Hoje o charco esta quase que lago, então por que a preocupação com a escassez da água?
As pessoas não entedem que só porque há água hoje, não haverá amanhã. Que diversidade é bom, mas picos de bom e ruim demonstram que algo está errado.
A população não para de crescer, as cidades ficam casa vez maiores, os produtos são cada vez mais descartáveis, as pessoas são casa vez mais volúveis e eu aqui, vendo tudo isso e não estou fazendo nada.
Uma doutora em Educação Ambiental me disse que essa lado da Biologia é como uma árvore de grande porte. Você irá jogar as sementes, não verá quase nenhuma árvore crescer e dificilmente colherá algum fruto. Frustrante e sem estrutura emocional fica difícil não abandonar o barco.
Mas aqui estamos nós, caros comunas, tentando fazer algo, mesmo que apenas filosofar infinitamente sobre esse tema. Mesmo que para dizer as coisas que todos já sabemos e não fazemos. As vezes me sinto como uma criança que faz as coisas porque é preciso e não porque realmente saca o que estou fazendo.
Cansei de discutir se desmatar esta certo ou errado, estou procurando entender a compensação de carbono e seus benefícios $$. Não argumento mais enfaticamente com quem joga latinha ou papel de bala pela janela do carro, eu não jogo e recolho de quem joda. Na faculdade nunca fui ecochata, minha amiga que era esta nesse momento num návio do Greenpeace perseguindo caçadores de baleias. Esse era o perfil dela e morro de orgulho de tê-la conhecido. Mas eu, eu sou só uma biologa procurando onde colocar em prática tanta teoria, misturado com serpemtes e alunos.
Mais um promessa para o próximo ano: me incomodar menos e fazer mais, por mim, pelo meio ambiente e por você.

PS: texto dedicado a Alê e ao Alê (não o Coronel). Os dois estão me ajudando a entender a diversidade humana. Lembrando que de todas as espécies, a descartável para mim era a humana.

sábado, dezembro 26, 2009

Conjunções, fractais e as possibilidades


Seu olhar uma sentença

As chaves no criado mudo ao lado da foto.

Na foto, uma recordação, no vaso reino da memória.

Aqui estou,trouxe o melhor nesta noite: cacos da rua, vestígios de humanidades.

Trouxe multidões. Nas rosas, no vinho, na roupa.

No beijo, embora único neste dia.

Repleto de outra multidões

Afeto, amores, cumplicidade.

Vagueio


Sou único e nunca o mesmo.

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Promessas karma fim de ano

Todas as promessas devem ser cumpridas por quem as faz, uma vez que a pessoa que faz promessas acredita que algo ruim acontecerá com ela caso ela não cumpra a promessa. A maioria das promessas é feita inclusive quando algo ruim acontece, fato esse que me deixa um pouco confusa na minha infraestrutura biopsicosocial pouco católica.
Para aqueles pouco ortodoxos existe o karma, esse isenta um pouco a culpa de cada um, uma vez que é culpa do karma que você carrega as coisas que você faz ou das coisas que acontecem com você. Você realmente não tem culpa de nada. É karma!
Um amigo meu me confidenciou que ele tem uma religião de um mandamento só: não faça com os outros ou para os outros aquilo que você não quer para você.
Daí chega o fim do ano e de onze e cinquenta e nove para as doze horas (com horário de verão e tudo) pum, todos são outras pessoas. Pessoas melhores, pessoas boas, pessoas respeitadas e respeitadoras.
Não sei que promessa irei fazer, não sei que karma irei culpar ou me inocentar com, não sei se irei respeitar a religião de um mandamento só e não quero virar abóbora no ano novo, mas prometo aqui que no próximo ano escreverei mais e dormirei menos ou basicamente continuarei a mesma com alguns acrescimos (que não na balança) positivos e negativos. Até porque o bom de um é o ruim de outro, mas isso é outro conto.

(uma promessa só para minha pequena Alê: nada de estâncias. Minerais, naturais, rurais, aquiferas ou o raio que o parta..Se me buscarem com carrinho de golfe ou ponei, talvez....)

Véspera da véspera da véspera

A moda do pré-natal agora é pedir "boas-festas". O carteiro, o lixeiro, o guarda noturno, todas essas categorias que fazem da rua da nossa casa o seu local de trabalho, se alternam no portão apelando pela solidariedade natalina. Acho até justo. Mas me surpreendi com o cidadão que faz a leitura da energia elétrica. Senhor, as "boas-festas". Uai, mas que serviço esse cara me presta? Pede as boas festas lá pra CPFL (a Eletropaulo daqui), que já me estorquiu o ano inteiro com essa tarifa nada cristã. Bom, toma lá, estamos todos fodidos mesmo.
Cá pensei, já pensou se eu entrar na onda?
-Bom dia, aqui é o seu inestimável Oficial de Justiça, que lhe visitou o ano inteiro, citando-lhe, intimando-lhe, penhorando a sua televisão de LCD/carnê das casa Bahia, procurando-lhe incansavelmente mesmo quando tentava se esconder, ouvindo pacientemente todos os deus problemas econômicos/sociais/afetivos, mesmo que não tenham qualquer relação com o processo, esquivando das suas tentativas de burlar o cumprimento do mandado, inúmeras e repetitivas como as pegadinhas do Gugu, não gostaria o Senhor de prestigiar o trabalho desse zeloso servidor público com um donativo de qualquer quantia, a título de "boas-festas"?
Perigo ainda de levar uma vídeo-cassetada de 4 cabeças na cara.

***


Do ponto de vista do planeta, o aquecimento global não passará de uma ligeira febre, dessas que a gente tem pra se livrar de um parasita, alguma virose incômoda que ameace o equilíbrio do nosso organismo, e passada a febre, e expurgado o vírus, o equilíbrio se reestabelece.


Feliz Natal a todos!

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Todos os olhos, menos o da cara


Fulana, primeiramente quero me desculpar pela exaltação de minha parte, hoje de manhã no colégio. NUNCA achei que mulher fosse uma B..., ao contrário, quis dizer que esse lado de VOCÊS, dificulta a justiça em nosso País. Continuo pensando a mesma coisa em relação ao ALUNO. Esse aluno NUNCA levou um NÃO, e vocês estão ajudando-o a ser ( Deus não queira) um "fracassado" na vida. Pois a vida, como você sabe, não é feita só de SIM!


Ausento minha responsabilidade sobre essa vida, e acho que vocês deveriam largar esse lado maternal e assumir uma postura ética, o que faltou por parte de vocês. Mal lhe conheço, porém respeito (tava) seu trabalho, mas voltar atrás em uma DECISÃO tomada por todos, registrado em Ata, é uma lastima, uma incoerência, uma falta de respeito para conosco. E o pior é que vai influenciar toda a vida do aluno, pois esse é o momento do NÃO, e vocês MULHERES, estão procrastinando isso.

Fiquei sim muito triste com essa decisão. Porém não é questão de marcar território - como nossa colega colocou, pois já marquei meu território a muito tempo, e não tenho mais 18 anos para correr atrás de cocotinhas - e sim ajudar esse ALUNO, a ver que a vida, não é o que ele pensa.

Muito ruim passar por isso, e volto a dizer que, VOCÊS estão equivocadas nessa atitude.

Que além de prejudicar o ALUNO, vai levantar toda uma polêmica em relação aos outros, pois o nome do aluno já saiu na lista de RETIDOS.


Cada dia mais me envergonho do ser humano (exceto alguns raros), pois esse não sabe agir com ética.

Que Pena para essa nova juventude, que já não tem família - e que apanha a cada seis meses da mão de um novo padrasto- muito mais coerência nos orgãos que tem por responsabilidade cumprir com seu papel, dentre eles, preparar jovens para o futuro.


Isso explica como caminha essa nação.


Não jogue seu filho numa cesta!


Bom fim de semana

Charles


Obs: O texto é um desafabo e se refere a um Aluno que foi reprovado pelo conselho, ( por notas), e que não tinha o menor respeito com professores, violento com colegas e o patrinômio escolar. E que usou de sentimentalismo e dramaticidade para com as professorinhas -que sem consultar o conselho (ridículo as duas coisas: não consultar o conselho; e voltar atrás nas notas e o pior rasusar a Ata) aprovou o COITADINHO do ALUNO.


Para o diabo que carregue!


Educação é Banho de sol na Fundação Casa! Rárarararararara

segunda-feira, dezembro 14, 2009

O discurso por trás da fala

Não há dúvida que todo discurso é ideológico.Mas principalmente o dissertativo. Se tomarmos das quatro causas em Aristóteles: material, formal, eficiente e final, ele dará importância a última como bem disse Marilena Chauí, porque está normalmente era executada pela camada de escravos da época.
Ora, é sabido que jamais algo se transforma se não tivermos uma mão-de-obra que a execute, entretanto, o ócio criativo na filosofia grega era mais importante e esta camada chamada democracia grega representava somente 10% da população.
Quando Hobbes cria o lema o homem como o lobo do homem para justificar a necessidade do estado como o grande Leviatã bíblico para legislar e não permitir que um engula o outro, também se justificará por fazer parte da classe dominante da época.
Todo discurso e teoria sempre é ideologica e carrega em si algo sobre sobre o seu autor o revelando, assim como recentemente eu coloquei um texto de Frei Betto, que atrás revela seu caráter de cristão-marxista, se é que isto possa existir.
Vejamos um caso concreto deste blog, o senhor Maia. Percebe-se um defensor aberto do sistema capitalista que está aí e defende por deve tirar grande propriedade dele e acredita piamente que a situação do povo melhora com sua evolução. Não citarei os outros, porque não preciso nem de seus discursos, assim como eles não precisam do meu para fazer um juízo.
Mas quem consegue se livrar disto tudo "desculpe, sei que caberia uma interrogação, mas meu computador tá sem esse danado", a bendita da literatura. Muitas vezes ela revela o autor, entretanto há autores que nos pregam uma peça.
Vejamos o caso de Fernando e seus heterônimos. Temos neles personagens diferentes, com visões de mundo diferente, mas que não revelam tão facilmente nosso Pessoa. Realmente o poeta é um grande fingidor.
No cinema , ou mesmo na novela, o personagem pode ser odiado a ponto de pessoas na rua hostilizar o sujeito que faz papel de vilão, mesmo que na vida real seja uma moça.
Desta forma, a literatura, assim como outras artes não permite uma revelação tal fácil do sujeito, entretanto, quando Boris em seu jornal diário, Lula em discurso, Dilma com seu jeitinho, Serra com sua fala, nos revela o seu ser e o que pensa do mundo.
PIK

Por Uma Epistemologia da Natureza

Segundo Claude Lévi-Strauss para os ameríndios e para boa parte dos povos que permaneceram sem escrita, não havia uma distinção muito clara entre o homem e os outros animais da natureza. Primeiro por que não havia essa cisão homem e natureza, homem era própria natureza e vice-versa, e segundo, pela organização mítica das sociedades tribais, que pressupunha dentro da interação entre o ser humano e outros animais, a possibilidade de se comunicarem.
Do rompimento dessa unidade homem/natureza, nos restou a possibilidade através de nossas infindáveis formas de representação, a criação de simulacros desses animais e também da possibilidade de nos comunicarmos com eles. Desde criança cercamos nossos filhos com as mais variadas formas de representações e simulacros de animais sejam eles de borracha, pelúcia, plásticos, animados, que pulam, que miam, latem, correm etc. Tomando exemplo de meu filho, ele é capaz de reconhecer qualquer representação de sapo, em qualquer formato, cor, tamanho, mesmo sem nunca ter visto um de fato. O que ele conhece é apenas o simulacro do animal, é apenas a representação e não a coisa representada em si, o sapo é mediado para ele sempre por um suporte, sem o qual, não sei se faria sentido se ele o visse.
O que media o homem e a natureza é a técnica, essa é a história do homem para o materialismo histórico, a evolução técnica que possibilita novas formas de inferência do homem na natureza. Esta idéia também encontra guarida em outro lingüista signatário do materialismo, Mikhail Bakhtin, para quem a base do signo também é material e técnica. No caso o suporte técnico que serve de base para representação do sapo, segue as mesmas relações dialéticas, materiais e históricas que faz o homem interferir no espaço modificando o meio(Milton Santos), e também, iterpretar a natureza através da representação da mesma.
Dessa maneira o que se apresenta é uma questão de linguagem e discurso na natureza, existe uma mediatização do mundo natural, uma ecologia sintática ou do signo. O que o pensamento moderno sempre tratou de fazer foi separar cultura e natureza, o que hoje sabemos, ser mais um erro crasso da modernidade para justificar, que com a racionalidade técnica, o homem se sobrepõe a natureza, cabendo ao primeiro o dever e o direito de explorá-la em benefício próprio.
Diferentemente das sociedades tribais, ao qual se refere Lévi-Strauss, as sociedades complexas de nossa pos modernidade apresentam problemas ambientais preocupantes que exigem um paradigma de pensamento complexo como diria Morin. Paradigmas que fundam definitivamente as ciências da natureza às ciências humanas, abarcando questões amplas e aparentemente desconexas entre si, tais como: história e realidade física; simbolismo e economia; ciência e religião, estética natureza e cultura, tecnologia e política, dentre outras. Precisamos dar um salto para fora do pensamento positivista, que nos faz redundar no determinismo e no reducionismo, criando formas de manipulação social pela ciência, através do darwinismo social e etc.. a realidade do homem e sua natureza é muito mais complexa.
A visão de natureza para os gregos a Physis, não encontra em nossa modernidade um lugar, justamente por não haver mais uma interpretação do mundo pré socrático sobre a natureza, em que a explicação para realidade humana estava intimamente relacionada a primeira, somando a isso, o desencantamento do mundo pelo racionalismo que atribui a natureza um valor meramente utilitário, como bem teoriza os frankfurtianos, nos faz a remeter uma outra base epistemológica da mesma.
Hoje falamos mais de geociências, ciências ambientais do que propriamente em ramos específicos da ciência voltados para o meio ambiente (como biologia, geografia etc..). Quem sabe, quando decodificarmos a relação sintática do nosso mundo poderemos alterar muito mais do que sua interpretação e discurso, mas a sua inferência.

A história do homem sobre a Terra é a história de uma ruptura progressiva entre o homem e o entorno. Esse processo se acelera quando, praticamente ao mesmo tempo, o homem se descobre como indivíduo e inicia a mecanização do planeta, armando-se de novos instrumentos para tentar dominá-lo. A natureza artificializada marca uma grande mudança na história humana da natureza. Agora, com uma tecnociência, alcançamos o estágio supremo dessa evolução (SANTOS, 1994, p. 16).



quinta-feira, dezembro 10, 2009

Por esses dias

Hoje no horário político curto(durante os intervalos) vi um canditado evangélico delineando a vida. Para ele, a vida começa com a junção do espermatozoide com o óvulo.
O fim é quando o sujeito perde a consciência, por exemplo na morte cerebral, deixando de existir.
Primeiro, por que um canditado delimita vida? E na televisão? Fiquei uns minutos sentada na cama pensando sobre isso.
Segundo: delimitação pobre, uma vez que, no embrião que aconchega-se no útero não há consciência também, já que não há formação nem ainda da cavidade onde futuramente irá crescer a notocorda, ou Sistema Nervoso, dividido em Central e Periférico. Ou seja, do ponto de vista exposto por ele, o canditado, se o fim é o fim da consciência, o começo então deveria ser o começo da consciência. Não?

Com esse comercial, o texto do meu querido amigo Prata e já nesse final de ano, lembrei-me de meu melhor amigo que faleceu há quase um ano, completará um ano no dia ... bom, esse é o problema.
Dia 28 de Dezembro pela manhã, em Ubatuba, ele caiu sozinho na cozinha. Escutou-se um barulho, quando chegaram na cozinha lá estava ele convulsionando no chão. Correram para São José. Diagnóstico: morte cerebral, só confirmada num exame feito dia 29 de Dezembro. Durante todo esse dia, até o dia seguinte, os órgãos que poderiam ser removidos foram encaminhados para transplantes. Infelizmente o coração não pode ser usada devido aos procedimentos médicos.
Dia 30 velei meu amigo. Disse tchau para ele ali deitado no caixão. Ele estava sorrindo.
Dia 31 vi fecharem o caixão.
Mas para mim, biologa cética, ainda é difícil aceitar a morte dele. Os olhos dele ainda veem, o fígado ainda funciona. Sem o funcionamento dele, morremos em três dias. Como então ele morreu?
Escrevo esse texto para lembrar a mim mesma que os limites existem para quem os cria. O fim da pessoa que eu amei muito e amo, não por parentesco, mas por convivência, por todas as coisas boas e ruins que passamos juntos, me deixou carente de amigo, sozinha. Tenho muitos amigos que irão ler esse texto e me chamar de mal agradecida, mas o lugar do Marcelo sempre será dele e nesse momento que escrevo esse texto choro de saudade da risada dele, que ainda consigo escutar, então será que ele se foi mesmo? O lugar dele está vazio.
Já pensei em ligar para ele. Já o coloquei em listas de festas.
Já imaginei tudo que ele não foi e poderia ser e penso nos limites, dele e meus.
O vazio fica e não importa quão longe ele esteja, eu sempre vou ama-lo e vou morrer de saudade de quando ele falava bravo comigo, no fundo ele meu único amigo que podia brigar comigo de verdade. Ele era o único que conseguia impor limites em mim.




(Segue a letra de uma das músicas prediletas dele:
Yesterday I got so old
I felt like I could die
Yesterday I got so old
It made me want to cry
Go on just walk away
Go on
Your choice is made
Go on and disappear
Go on away from here

And I know I was wrong
When I said It was true
That it couldn't be me and be her
Inbetween without you
Without you

Yesterday I got so scared
I shivered like a child
Yesterday away from you
It froze me deep inside
Come back don't walk away
Come back today
Come back
Why can't you see?
Come back to me)

terça-feira, dezembro 08, 2009

Água de Beber, Camarada


Hoje, antes mesmo de chegar à via expressa do Tietê a caminho de São Paulo tive que voltar. Ouvindo o rádio (este fundamental veículo de informação, que faz parecer que aqui em SJK não existe nenhuma emissora capaz de prestar informação de interesse público, e não do público), recebi a precisa e fundamental informação que vários pontos da marginal Tietê e Pinheiros estavam alagados. Tietê e Pinheiros, exatamente o itinerário programado para este dia.

Ironicamente o motivo pelo qual me levava a este lugar também era a água, exatamente a mesma que me fez voltar do meio do caminho frustrando a expectativa de uma reunião a respeito da mesma, na secretaria Estadual do Meio Ambiente, que fica em Pinheiros. Uma área, assim como a totalidade da cidade de São Paulo, extremamente adensada e com declividades também muito acentuadas.

Pelo pouco que conhecemos, desde criança do ensino fundamental, a água na natureza perfaz um ciclo, o chamado ciclo hidrológico, não precisa ser nenhum especialista em hidrologia urbana para intuir como a água veio parar naquele lugar. Contraditoriamente, a metrópole que necessita de cada vez mais de água, a ponto de ter em seus planos a transposição de água de nossa bacia hidrografica, estava hoje debaixo d’água.

A região metropolitana de São Paulo tem uma perda no sistema de distribuição de 40%, como se não bastasse tem um indice percapita de tratamento de efluente doméstico bem aquem do desejado. Ou seja tem pouca água, perde-se muito na distribuição e o que sobra está poluido. Mas hoje presenciei uma outra forma de desperdício, a interferência antrópica no ciclo hidrológico.

A região apresenta declividade e uma grande área impermeabilizada, esses dois componentes do alagamento, são grandezas exponênciais. Toda vez que aumentamos um dos dois dá problema, os dois ao mesmo tempo dá a maior merda. Com isso a energia sinética da água(m/s2) aumenta a quantidade de água, chegando cada vez mais em menos tempo em uma dada área(A2).

Se recordarmos nossas aulas do fundamental, vemos que o homem com isso interferiu drásticamente no ciclo hidrológico, evitando que a água percole no solo fazendo a recerga do lençol freático, alimentando os rios e restabelecendo o ciclo. Dessa maneira temos um cenário esquizofênico, nos períodos de seca faltará água, e no verão teremos alagamentos. O problema da água na região metropolitana de São Paulo são basicamente, tratamento de efluente e a lógica de uso e ocupação do solo.

Teria que se inverter pelo menos um dos dois, mas é mais barato transpor água e adiar o problema. Para o tratamento e distribuição deste bem, uma das saídas era quantificar o quociente de assimilação e de auto depuração do corpo d'água, emitir títulos ou Certificado de Lançamento Reduzido(CLR) no valor da capacidade dde auto depuração e cormecializa-los para os individuos que exercem atividades econômicas na bacia hidrográfica. Criando um vetor dentro da racionalidade técnica do mercado de Serviço Ambiental, de igual direção, intencidade mas de sentido contrário ao vetor degradador. Uma vez que forçará dentro do mercado de serviços ambientais uma queda do lançamento de efluentes in nautura, já que ficará mais caro poluir, e em contra partida poderá se criar ativos para o não poluidor.

A água que se vê nos alagamentos poderia estar nas torneiras das casas da região metropolitana de São Paulo, se não fosse os erros históricos, e a falta de planejamento tendo como base a hidrologia urbana local.

Ausência presente


Naquela terça como de praxe, aproximadamente 12h, sentou ele na sua moto rumo ao centro.

Eram 58 anos de vida (alma e matéria) sobre duas rodas.

Não sabemos ao certo se foi imprudência dele ou da vida

O fato é que faz um (1) ano que aqules olhos verdes não olham mais para mim nem para o mundo.



Só Deus, eu e meus irmão sabemos a falta que seu corpo, sua presença física, seus conselhos, seus sorrisos, suas atitudes fazem falta.



Mas graças a Deus, ainda sinto sua presença em mim e entre nós.



Valeu Pai.




quinta-feira, dezembro 03, 2009

PEDRINHA, a Saga. parte 3 de 3.


Num dos fliperamas da cidade Pedrinha pipa o craque e brinca de apertar botões e viajar em explosões AZUIS/VERMELHAS. No auge do GAME às três da tarde, duplamente alucinado num blend de craque e VIDEO-GAME, Pedrinha sequestra uma nave do fliperama e ganha os céus tenebrosos e cinzas do local.
Ao sair da loja, segue pela avenida principal e aí sim, começa a surpreender a todos com cenas de barbárie e violência urbana que jamais seriam esquecidas.
Logo na primeira esquina Pedrinha avista o reformatório que cuidou tão mal de sua educação moral e cívica. Não pensou duas vezes: EXPLOSÕES AZUIS/VERMELHAS.
Pedrinha segue seu caminho sem participar do trânsito que não flui e se recorda de tantas e tantas vezes que o vidro automático lhe subiu à cara enquanto tentava revender a preço exorbitantemente inflacionado as balas, chicletes e paçoquinhas “AMOR®” aos transeuntes motorizados. Mais EXPLOSÕES AZUIS/VERMELHAS.
O cinema do centro antigo, o prédio das finanças municipais, a Câmara dos Vereadores, o Paço Municipal, o prédio do Herbalife®... EXPLOSÕES AZUIS/VERMELHAS. Nem mesmo o novo shopping do R$ 1,99 escapou.
Pedrinha continua a apertar os botões e a viajar em EXPLOSÕES AZUIS/VERMELHAS enquanto uma japonesa do foto cubo esconde fitas de filme pornô nas mangas do seu quimono de seda; o bicheiro recolhe sua mesa dobrável enroscando-se em tantas correntes de ouro 18 quilates e tropeça ao descer da guia; o garoto com a cestinha na bicicleta da irmã pedala mais rápido no intento de salvar os pães de sal do café da tarde; o torcedor tricolor, agora sem chances de título, arranca a camisa do time e disfarça, tentando se esquivar de mais uma saraivada elétrica; policiais soltam as cochinhas nas padarias em chamas e apelam por reforços.
De repente Pedrinha se depara com um sinal de alerta. Está ficando sem combustível, então se dirige para a torre da Rede Globo, onde abastece sua nave e pode seguir apertando botões e viajando em EXPLOSÕES AZUIS/VERMELHAS.
Pedrinha aciona o seu detector de Rocans e avista dois camburões que passeiam tranquilamente há duas quadras do local da destruição. Subitamente os camburões são envolvidos por uma estranha massa alaranjada e flutuam no ar ganhando velocidade e um pouco de altitude. Segundos depois os camburões são arremessados metros dali ao encontro de mais um equipamento urbano sem utilidade e explodem maravilhosamente em chamas.
Ao chegar no nível máximo, na última fase do fliperama citadino, Pedrinha encontra seu mais temido adversário: O Àguia, helicóptero da polícia. A perseguição é alucinógena e também alucinante. Pela primeira vez Pedrinha se vê vulnerável a um ataque, e então num súbito momento sente uma forte pressão em sua nave. Alvejado segue, perdendo altitude. Ele luta para se manter no ar e tentar um pouso forçado. Com sorte conseguirá fugir a pé, se esconder pelos becos e ruas tortas da cidade. Talvez se entrincheirar em algum bar, mercadinho ou algo do tipo.
São quatro e trinta e três da mesma tarde.
Pedrinha sente uma forte dor no corpo que trava quase todos os seus músculos.
Ele não pode mais mover o manche da nave com proficiência e já está sem fichas pra continuar o jogo.
Um último apertar de botões.
EXPLOSÕES...

GAME OVERdose!

quarta-feira, dezembro 02, 2009

PEDRINHA, a Saga. parte 2 de 3


A escola foi a verdadeira mãe que Pedrinha não teve, onde ele ainda atendia pelo nome de batismo: Woshiton. Uma instituição onde tudo o que fizesse seria perdoado, sem punições, apenas orientações (pedagógicas ou não), além de merenda e cafezinho na sala da diretora – seu local predileto no prédio escolar.
Entre seus feitos estudantis mais notáveis estão: sua primeira ocorrência que foi escrever com um prego a frase “filha-da-puta” no carro da professora primária – e ele nunca foi pego por isso; arrombar a sala do dentista e roubar três alicates, uma micro serra e dois bisturis – nesse caso ele foi pego, mas como era menor e a escola construtivista ele foi perdoado ; quebrar três dentes do coleguinha Romário na educação física numa cotovelada maldosa, sem bola – a professora fez de conta que não viu e nem falta foi marcada – e nesse segue o jogo foi que Pedrinha ainda na quarta série, quando tinha recém completos dez anos, conheceu sua melhor amiginha primária, a Maria Juana, filha de imigrantes latinos que tinha por costume burlar as aulas pra “ficar de boa”, sem fazer nada mesmo. Então todo o dia antes da aula Pedrinha passava lá na casa dela pra chamá-la pra ir ao colégio.
Woshiton se apaixonou por Maria Juana e manteve com ela um relacionamento duradouro. Ela o acompanhou até o fim de sua vida. Ora sanando problemas de ansiedade precoce, ora sendo sua única fonte de alegria diante de um mundo sem muitas oportunidades reais de felicidade. Ela, sempre que podia, lhe dava uma força.
Num plano de tentar salvar Woshiton, um professor de educação física do colégio, ligado a projetos sociais de reabilitação de menores, foi obrigado pelo Projeto Político Pedagógico a dar uma chance ao menino e o inscreveu no time de futsal da escola, afinal, apesar de ser um menor delinquente para a escola, o papel do professor era ressaltar as habilidades que o menino tinha, seguindo piamente a cartilha construtivista de ressaltar as inteligências múltiplas, dando vazão ao lado não tradicional da educação do menino. O desenvolvimento do menino, segundo essa teoria, dependia de práticas educacionais não convencionais e talvez, inseri-lo no time de futsal da escola, mesmo que a contra gosto do professor, poderia ser a salvação da lavoura para Woshiton.
Acontece que Maria Juana, que nessa época não largava do pé de Woshiton o estava deixava muito cansado, sem ânimo e às vezes lesado mesmo. O professor o advertia nos treinos e Woshiton, que gostava de participar desse tipo de aula, pensou que precisava arranjar um jeito de render mais nos treinos, e foi nessa busca que ele conheceu a cocaína, excelente para a prática esportiva, mas como era um artigo muito caro e o fez ser pego no exame anti doping dos jogos inter-classe ele teve que optar por uma alternativa mais barata. E foi assim, que atrelado ao desenvolvimento esportivo Woshiton tomou uma atitude: se ligou numa droga que o levaria bem perto do sucesso futebolístico. E ele, querendo ser craque começou a fumar a pedra. Foi assim que começou a ser chamado de Pedrinha, o craque.
Seis meses depois, ao completar treze anos Pedrinha não ia mais a escola e fazia fitas pra se manter malaco na sociedade e não levava mais o sobrenome, o craque, que o acompanhou em sua catastrófica e curta carreira dentro das quatro linhas. Passou a ser apenas o Pedrinha mesmo. E assim, sem motivação. Sem time pra se firmar, sem escola pra fequentar Pedrinha conheceu seu terceiro e maior vício: o FLIPERAMA.

Continua...

terça-feira, dezembro 01, 2009

PEDRINHA, a Saga. parte 1 de 3


Esta é a estória do menino Pedrinha, que sucumbiu aos tenros catorze anos de idade em plena juventude e nem tanto vigor físico assim, após ter sido virtualmente alvejado pela polícia local numa perseguição que jamais será esquecida nos arredores e cercanias daquele lugar.
Mas tudo começou mesmo alguns anos atrás, mesmo antes dele ser escarrado ao mundo pela genitália de sua progenitora.
Contextualização Familiar
A mãe: Lourdes Medeiros Silva, dezesseis anos completos, viciada em craque desde os doze, evadida escolar e grávida.
O pai – possibilidade número um – José Carlos Fonseca, dezenove anos, segurança de boate, primeiro grau completo na Escola Estadual Dr. Oswaldo Cruz, mora com a mãe num barraco na zona periférica da cidade.
O pai – possibilidade número dois – Marcelo (sobrenome desconhecido), atende pelo pseudônimo de Chamburcí, vinte e dois anos, atua na profissão de avião da boca de tráfico do Zelão, domina os rincões da Zona Sul abastecendo garotos de classe média alta com a melhor cocaína da região. Escolaridade: nenhuma.
Lourdes saia com os dois ao mesmo tempo , pois viva duvidosa entre a possibilidade de um relacionamento fixo com um homem de bem, trabalhador e honesto – caso da possibilidade paterna número um – e o fornecimento de droga gratuito, além do reconhecimento popular e uma pseudo segurança no lar – possibilidade paterna número dois . Acabou engravidando e nem ela, nem os pretendentes ao título de “pai do ano” sabiam a quem pertenceria a criança que estaria por vir.
Desesperada, Lourdes procurou Zelão e pediu que lhe fornecesse toda droga que o dinheiro que ela tinha no bolso de traz da calça jeans Lee – presente da possibilidade paterna número dois – pudesse comprar. Tomou o caminho de casa com a maior quantia de craque já tinha visto um dia. Pipou tudo sozinha. Ao terminar, já alucinada, provocou uma discussão com um mendigo, ofertando-lhe sexo gratuito e negando-o em seguida.
Ao enfurecer o rapaz veio o pedido: – Esmurre essa barriga! A criança que vive aqui precisa morrer antes de sair! E a cada soco que levava, Pedrinha revidava lá de dentro. Assim foi germinando sua tendência aos comportamentos violentos que seriam observados ainda na creche, quando não pedia lanche aos colegas, mas furtava lancheiras e agredia com voracidade aqueles que tentassem ou mesmo pensassem em delatá-lo a tia responsável pelo maternal II.
Ao nascer, Lourdes teve de cuidar dele, pois apesar de não desejá-lo não teve coragem de matá-lo, jogá-lo no lixo ou simplesmente abandoná-lo em qualquer greta ou sarjeta das alças brancas da cidade.

Continua...

créditos da imagem: O Ilustrador: oilustrador.blogspot.com


P.S.: Gostaria de pedir a colaboração dos comunas para NÃO PUBLICAREM textos entre hoje, amanhã e quinta, pois pretendo postar no blog a continuação da estória.