terça-feira, maio 25, 2010

Há outras moradas na casa de meu Pai

Muito se diz das cidades globais, criadas e alimentadas a partir da racionalidade técnica nas construções dos espaços, que acabam pasteurizando lugares e culturas.
O que dizer de espaços que de alguma forma ainda carregam certas rugosidades, como se fosse fruto de camadas geológicas.
Num primeiro momento parece até o sobrenatural exercendo sua função. Mas o que dizer da sensação de quando entramos nas grutas ou minas de extração de Ouro em Mariana – MG, ou mesmo de estar diante das pirâmides da antiga capital Maia.
Será que todas as cidades seguirão um padrão na construção dos espaços dentro dessa ordem Global?
O desenvolvimento de uma cidade histórica não obedece necessariamente o desenvolvimento de uma cidade global.
Isso parece óbvio!
Não imagino no lugar da Igreja da 3ª Ordem de Salvador, um edifício à la Empire States.
Há um tempo-espaço global que não consegue se inserir no tempo de algumas cidades que ainda carregam um tempo local. Não que esses espaços-tempos não sofram intervenções externas, mas suas mudanças não precisam de uma quantidade elevada de instrumentos e técnicas, o que faz com que esses espaços-tempos, mude muito lentamente, quase imperceptíveis, e que para muitos esse tempo, significa o estancamento, o atrasado, o tempo irreal.

sexta-feira, maio 21, 2010

Vade Mecum


Faço idéia daqueles que por algum motivo se lançam na pesquisa de alguma fonte primária em arquivos públicos. Arquivo público do Estado ou mesmo daqui do Município, que diga-se de passagem, é um lugar interessante de se visitar, como o fiz após o almoço de hoje.
Quem assim o puder fazer, terá contato com uma série de publicações do início do século passado, documentos, atas, leis, até anúncios de revistas e jornais. Tive a oportunidade de ver anúncios de revistas, de “campanhas publicitárias” da chegada da energia elétrica em São José. Pelos anúncios dava pra se ver o imaginário que a eletrificação da cidade suscitava, o ideal de desenvolvimento, a emancipação, o fim das trevas, o aumento das condições de salubridade. Acho que deva ter sido a partir daí (não sou historiador), que a cidade passou a ter visibilidade da para mundo moderno, para os anseios da modernidade.
Incrível saber que existe um espaço físico onde ficam guardados registros materiais de nossa história e cultura, onde se tenta conservar esses documentos pelo maior período de tempo possível, como se pudessem ser eternos e infinitos. Qualidades que remetem a um universo que me persegue, o da Biblioteca de Babel, de Borges.
Se o Comuna Piraquara fosse publicado em algum periódico impresso na época, com certeza estaria disponível alguns exemplares no arquivo público para consulta. Hoje poderíamos saber como um grupo de pessoas há cem anos interpretavam o seu mundo, poderíamos dissecar o imaginário inerente a sua época, assim como o da eletrificação, os seus signos, suas trocas simbólicas. Seria fonte primária de pesquisa, manancial documental em que historiadores poderiam se debruçar e interpretar o nosso momento histórico.
Mas daqui a cem anos que “escafandrista” explorará estes escritos, os nossos de hoje? Em que prateleira ostentará o Comuna, este Vade Mecum de nossa pós-modernidade joseense? Existirá algum espaço que abrigará o que escrevemos aqui?
Sim, existirá! Daqui a cem anos estes escritos estarão todos na Biblioteca de Babel, onde se encontra todos os livros do mundo, de todas as línguas, inclusive das extintas e daquelas que ainda surgirão, toda alegoria, toda criptografia de documentos secretos ou de pensamentos insondáveis, onde estão todas as histórias, todos documentos, todos os sons, todas as imagens, e quem sabe..o nosso imaginário e nossa época.

sexta-feira, maio 14, 2010

Nós da Urbe


Sempre que passo pela cidade de Campinas dá vontade de pedir pro ônibus parar só pra observar mais de perto o viaduto acima. Trata-se de um viaduto anti-indigente, de uma arquitetura voltada à expulsão dos indesejáveis com pedras pontiagudas sob suas cabeceiras, achei isso incrível. Acho que todo mundo que sai de Campinas via ônibus inter-urbano deve ter visto, fica no trajeto de saída da cidade, perto de um McDonald´s lindo e imponente!
É poder publico exercendo sua ação no espaço urbano. É importante a racionalidade técnica no planejamento urbano, o planejamento das cidades pode ser entendido como um sinal de desenvolvimento e progresso, pois carrega as idéias de valorização do ambiente público, preocupação com o bem-estar humano, respeito ambiental e integração de espaços e habitantes. A ênfase dessa racionalidade técnica no urbanismo dotou-o de método e o transformou em ciência da cidade. Ciência, progresso e desenvolvimento tudo coisa boa e inquestionável.
Nossas grandes e médias cidades se ergueram assim, com alto conteúdo técnico e cientifico, obviamente umas muito mais que outras. No caso de São José, nota-se que a instalação de centros de comandos dos grandes grupos transnacionais nessa cidade, de modo que esses grupos aí instalados passaram a exercer o controle das suas plantas industriais, produção e comerciais.
Temos um setor secundário voltado a exportação e um setor terciário altamente especializados, o que confere um alto valor técnico agregado ao territótio. O que torna SJC uma cidade global, e ela o é não só pelos fatos acima mencionados, mas por um motivo particular importante:
O fato de SJC ter se tornado uma cidade global está ligado ao fato de a racionalidade técnica que formaliza a arquitetura do espaço urbano segue os mesmo critérios de eficiência e comando do capital global. A cidade é a racionalidade do capital global espacializada, o espaço urbano é a representação da eficiência, comando e controle do que se convencionou chamar de globalização.
As cidades se parecem cada vez mais entre si, como já ocorre com os espaços padronizados das cadeias dos grandes hotéis internacionais ou, ainda, dos aeroportos, das redes de fast food, dos shopping centers, dos parques temáticos, dos condomínios fechados e demais espaços privatizados. As intervenções contemporâneas sobre os territórios ditos históricos ou culturais também obedecem a este ritmo de produção, o que cria uma superabundância mundial de cenários e simulacros para turistas.
Também ocorre hoje um tipo de mimetismo às avessas nos espaços públicos: não é raro encontrarmos recentes projetos ditos de “revitalização” desses espaços, como praças públicas por exemplo, que imitam as ditas “praças” dos shoppings (em particular, os materiais usados, a paginação do piso e o cercamento), exatamente o contrário do ocorrido nas galerias e primeiros centros comerciais que mimetizavam os espaços públicos urbanos, as suas ruas e praças tradicionais. Hoje, paradoxalmente, a referência de espaço público dito “de qualidade” passa a ser um espaço privado, na maior parte das vezes, um espaço interno, cercado e com segurança privada.
Para que tudo isso ocorra existe uma excessiva racionalização do espaço, por tanto um controle total, não só no que tange ao policiamento mas sobre tudo, controle do espaço, controle de temperatura, luz, volume que criam verdadeiros simulacros, uma disneylandização da urbe! E o que esta fora dessa Disneylândia também sofre ação dessa urbanização, é o caso da arquitetura anti-indigentes.
Não há indigentes na Disney.

quinta-feira, maio 13, 2010

Fio de Ariadne e o Ego


Dificil é não matar o presente com você distante.



Procurar extrair perfume, de uma flor ausente.



Enxergar belezas num mundo incompleto.



A nossa distância, é a única certeza que um dia terei você ao meu lado.



E se porventura, sua futura presença acabar com o meu desejo de tê-la.



Perdoe-me.



Mas fique longe!




terça-feira, maio 11, 2010

A Doutrina das Cores de Goethe


Estudo para Doutrina das Cores de Johan Wolfgang Von Goethe.
Para quem depois de anos de experiência com lentes e prismas, a luz e a cor não são só um fenômeno físico newtoniano, mas também de experiência, percepção e poesia.

quinta-feira, maio 06, 2010

Cosmos Alvinegro

Não. Nós não somos heróis. Não somos guerreiros sem medo do deus Imponderável. Somos o espírito dos operários que iluminaram nossos corações a luz de lampião e brindaram-nos com nossa existência, entre tudo e nada, em branco e preto.

Somos aqueles que perambulavam pelas ruas sentindo falta de não sabemos o quê. Sabíamos apenas do vazio que existia em nossos corações, que havia sido transmitido por todos os nossos antepassados antes do grande dia, dia da glória, da revelação. Dia 1º de setembro de 1910.
Num relance nossos pulmões souberam diferenciar o ar da aura alvinegra. Ela sempre esteve presente, em todos os cantos, em todos os lugares, mas foi preciso evocar um nome para que nossos corpos se permitissem a tal sensação de amor. Algo muito além do que essas poucas palavras podem explicar aos que não foram escolhidos pela mística, mas de muito fácil entendimento ao nosso cosmos particular: Corinthians, senhores!

Somos um povo sofrido? Somos sim. Mas isso não faz de nós menores, pelo contrário. Somos altivos por entendermos que nem só de glórias vive o homem. É nossa obrigação – prazerosa – transmitirmos aos nossos que formamos nosso caráter é nas derrotas. São elas que nos forjam. E caímos com garra no olhar e com o sangue correndo quente em nossas veias.
É com esse entendimento da vida que construímos uma das mais lindas histórias, que rompemos a ordem da paixão por recompensa. Somos fiéis. Perdemos juntos, e tocamos o céu juntos nas conquistas. Assim, não associamos nosso amor às vitórias, seria diminuir o que somos.
Salve, Corinthians!

Sebastião Maia

terça-feira, maio 04, 2010

A Heterotopia

"Acredito que entre as utopias e estes posicionamentos absolutamente outros, as heterotopias, haveria, sem dúvida, uma espécie de experiência mista, mediana, que seria o espelho. O espelho, afinal, é uma utopia, pois é um lugar sem lugar. No espelho, eu me vejo lá onde não estou, em um espaço irreal que se abre virtualmente atrás da superfície, eu estou lá longe, lá onde não estou, uma espécie de sombra que me dá a mim mesmo minha própria visibilidade, que me permite me olhar lá onde estou ausente: utopia do espelho. Mas é igualmente uma heterotopia, na medida em que o espelho existe realmente, e que tem, no lugar que ocupo, uma espécie de efeito retroativo; é a partir do espelho que me descubro ausente no lugar em que estou porque eu me vejo lá longe. A partir desse olhar que de qualquer forma se dirige para mim, do fundo desse espaço virtual que está do outro lado do espelho, eu retorno a mim mesmo e a me constituir ali onde estou; o espelho funciona como uma heterotopia no sentido que ele torna esse lugar que ocupo, no momento em que me olho no espelho, ao mesmo tempo absolutamente real, em relação com todo o espaço que o envolve, e absolutamente irreal, já que ela é obrigada, para ser percebida, a passar por aquele ponto virtual que está lá longe."

FOUCAULT, Michel. "Outros espaços", in: Ditos e escritos III - Estética: Literatura e pintura, música e cinema. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003, p. 415.

segunda-feira, maio 03, 2010

“Dispositivos da Arte Moderna e Contemporânea”

A Oficina Cultural Altino Bondesan informa que ainda estão abertas as inscrições para o Workshop Aprofundamento em Arte “Dispositivos da Arte Moderna e Contemporânea”.
Os interessados devem fazer sua inscrição pelo telefone (12) 3923-4860 ou irem pessoalmente à sede da oficina cultural.

Artes Plásticas

Workshop Aprofundamento em Arte “Dispositivos da Arte Moderna e Contemporânea”
8/5 - sábado - 9h às 12h e 13h às 18h
Público: com conhecimento intermediário
Faixa Etária: adultos
Seleção: carta de Interesse
Inscrições: 5/4 a 30/4
Vagas: 30
Local: Câmara Municipal de São José dos CamposRua Desembargador Francisco Murilo Pinto, 33 - Vila Sta. Luzia

Este workshop trata dos elementos caracterizadores do universo artístico de nossa atualidade. Burila a construção do objeto da arte por meio da análise do discurso e demais elementos constituintes do sistema no qual se apresentam o artista e seu trabalho nos últimos séculos XX e XXI.

Sylvia Furegatti é docente do Depto. de Artes Visuais do Instituto de Artes da Unicamp. Artista visual que trabalha com projetos de intervenções artísticas, instalações e objetos.

Oficina Cultural Altino Bondesan
ASSAOC - Associação Amigos das Oficinas Culturais do Estado de São Paulo
Avenida Olivo Gomes, 100 Santana
São José dos Campos/SP
Tel: (12) 3923 4860
http://www.oficinasculturais.org.br/