quinta-feira, outubro 30, 2008

Tautologia

Ser transparente

Não significa

Ser transponível

Ou permitir invasões.

É enxergar do outro lado e não poder tocar.

Contente-se!

Charles Lima

quarta-feira, outubro 29, 2008

Tempo Rei



Estivemos com Carlos Nobre, autoridade em mudanças climáticas e podemos constatar o já inequívoco: mudanças climáticas e políticas de mitigação e adaptação poderão ser (serão) afetadas pela crise financeira global e o atual estado da arte sobre a produção científica do tema.
Dentro do estado da arte em ciências climáticas, podemos citar o super computador que o INPE está para receber para rodar modelos metrológicos e climáticos. O INPE, considerado um dos centros de maior excelência em previsão do mundo, com essa nova máquina reafirmará sua posição.
Os modelos serão calibrados para pesquisa de tempo e clima, coisas que são conceitualmente diferentes, e para seu estudo terão que ser modelos também diferentes. Do tempo, o modelo está ligado à resolução espacial e quanto menor a área mais dados serão gerados e mais robusta terá de ser a máquina para o tratamento dos dados. Já para o clima a resolução do modelo passa a ser temporal, pois os estudos darão conta de desenhar cenários de décadas a frente do nosso atual momento. A produção dos dados é menor que no primeiro caso, no entanto a acertabilidade da previsão é maior, pois esse modelo é mais genérico.
Referente à atual crise, existem duas conseqüências para o esforço de mitigação e adaptação a mudanças climáticas, a primeira é que com a retração dos mercados de capitais, a baixa liquidez global e o crescente empobrecimento da economias haverá menos capital para financiar pesquisas e implementar tecnologias mais limpas. Dessa maneira projetos de MDL poderão também sofrer diretamente os impactos desta crise, uma vez que transferir passivos ambientais para o capital, identificando dentro da racionalidade técnica do mercado ferramentas que promovam essas transferência de passivos, e ao mesmo tempo transferência de renda e tecnologia para o desenvolvimento sustentável em países em desenvolvimento, é criar uma estrutura inteiramente vulnerável a essas intempéries da economia global.
Essas vertigens também serão sentidas no campo do desenvolvimento econômico futuro, como por exemplo, na prospecção e conseqüente exploração das jazidas da camada do Pré-sal – este ao contrário do que se supõem, não deverá abastecer as refinarias para produção de combustíveis automotivos e sim sofrerá beneficiamento para abastecer o setor petroquímico, sendo por isso considerado fonte de energia limpa – que com a desaceleração econômica atrasará em pelo menos uma década devido as inviabilidades econômicas de extração.
A segunda conseqüência como bem exemplificou o pesquisador é a de que a retração do mercado consumidor em geral provocará também um desaquecimento da economia, o que por sua vez também fará com que a curva da demanda por energia na atividade industrial também caia diminuindo a pressão sobre o efeito estufa.

Bom, nas palavras do próprio pesquisador, o mundo terá que fazer um esforço conjunto de uma envergadura maior de qualquer outro feito desde a 2ª Guerra Mundial, para mudar a matriz energética, o consumo, a produção e a cultura em geral. E mesmo sabendo que tempo e clima são conceitos diferentes vale mote do tempo, o "Tempo rei, Transformai as velhas formas do viver".

Texto a quatro mãos de Alexandre e Nelinho 10.

terça-feira, outubro 28, 2008

Tristeza sem ponto final

Andava vazio, como aquela tristeza de fim de missa dominical, no instante em que o juiz apitava o fim do jogo no rádio, no fundo do quintal, chiando e pegando mal, diante da indiferença das galinhas sonolentas depois das seis, acomodadas em puleiros hipnotizadas pelo soar do sino da igreja matriz espalhando ave- marias pelos cantos, seguindo fiéis mergulhados no silêncio do calçamento do paralelepípedo reluzindo as primeiras luzes dos postes acendendo e anunciando a noite pela avenida afora temporariamente absorta, estática, sem vazão, nem destino a não ser o do retorno para o lar, de portas abertas e cozinhas aflitas com panelas ávidas por enquentar a macarronada, o arroz, o frango, o feijão, e a salada que restaram do almoço, daquela casa cheia de parentes, cunhados, primas, tios, tias, namoradas, noivas e mulheres que não existem mais, a não nas fotografias que a instante ainda guarda imparcial, ali na sala, e que mesmo estando no centro não diz nada, apenas ostenta a televisão desligada, escutando a conversa fiada dos que falam mal do vizinho, do prefeito, do patrão, e dos que falam somente por educação enquanto a cerveja géla, dispensando atenção de araque às bobeiras das crianças, às verdades dos anciãos, que reclamam da nova dor, da vida, de tudo que era para ser e não foi, de tudo que já foi, do remédio que não tem mais efeito, da dor do passar do tempo que só vai, que vai dar de encontro com uma tristeza tamanha de fim de missa dominical, uma tristeza sem ponto final.

Nilson Ares
(para James Joyce, sem pretensão)

sábado, outubro 25, 2008

Acervo de São José dos Campos


Foto antiga da Tecelagem Parayba . Trata-se de um fim de turno de trabalho no início da década de 60 no seu auge produtivo. Foi achada pelo meu irmão Alexandre Magno Rozaboni em buscas por sites da história joseense. Material fantástico ao qual estarei disponibilizando mais fotos para os comunas decifrarem quais e como eram nossos antigos logradouros.

quarta-feira, outubro 22, 2008

Bares de São José


Em mais uma diligência noturna na busca da boa conversa, birita e quitutes, estive reunido com o nosso caro comodoro frei mainardi e deliberamos sobre vários assuntos, inclusive em executar um projeto – Bares de São José – não por acaso o lampejo ocorreu após 12 garrafas de cerveja, alguns empanados de salsicha, kibes e calabresa acebolada ( que o frei tira com dedos em pinça).
O projeto em si, teve nascedouro no famigerado assunto de como nossa querida cidade bucólica, tacanha, joselítica e tucana, precisa preservar o que ainda nos resta de joseense e que recebemos dos mineiros, tropeiros e outros.
Já tive a oportunidade de sentar em balcões e mesas em bares de oito estados brasileiros e outros além fronteira. A tradição da parada no bar é vital para o desenrolar cultural de uma sociedade desde o medievo, em si, não se tratando apenas do consumo de seus freqüentadores, mas sim, no que de mais importante que existe no homem de cro-magnon – desenvolvimento da linguagem – é no bar onde os entroncamentos da linguagem se misturam às mais notórias vivências e nos encontramos por vezes abrindo o coração para o estranho, o outro. A uma velocidade sem precedentes estamos trocando essa nossa linguagem mais simplória pelos enlatados culturais que nos empurram o tempo todo. Pensando nisso buscaremos uma linguagem única a quatro mãos em imagens, textos e sons.
Para a primeira parada escolheremos entre os abaixo:
Stelet do mercadão (sem comentários); bar do Fumaça (como sócio profissional); bar do Silvio (reduto dos cambaleantes piraquaras autênticos, em extinção); Bar do Paulão (dentista e dono do bar desde 1994, porém o estabelecimento está aberto há 63 anos e tem carteado rolando nos fundos); bar do Savema ( a salsicha empanada de lá é das melhores)
Levando em consideração os recentes ocorridos, o bar que nos apresentar pinga com cobra em seu portfólio será subitamente escolhido.
Se quiserem votar, sintam-se a vontade. Aceitaremos indicações no futuro.
Inté.
Samuel Farias
Imagem: Pintura "Boteco"de João Werner

Tarde

Antes de virar a esquina já tinha o coração na garganta. Lembrar todo caminho não era difícil, o medo de errar o caminho é o que a deixava em pânico. Quando chegou, entrou e não prestou atenção em nada, nada viu, só sentia o cheiro dele e se concentrou para não tropeçar na própria vontade.
Não comecemos pensando errado imaginando que ela, cheia de tanto desejo, chegou e nada fez. Fez muito, sentia-se bem, confiante e sentou-se na cama, no pé da cama. Queria arder, mas sentou-se nos pés. Foi beijada, deitou-se. Conseguia prever tudo o que aconteceria ali, mas cada segundo demorava mais que uma vida. Mal conseguia segurar a roupa no corpo, queria sentir e ser sentida. O desejo não diminuía. Dane-se o mundo, a televisão, a janela, o pudor. Antes dali, quando ainda tinha alguma razão, colocou o sutiã bege, tentando afastar o inevitável, mas agora o mundo só tinha uma cor, a cor do amor.
Tempos depois, quando lembrava da tarde de outono ensolarada, o peito ainda apertava e uma falta de ar tomava conta.
O sutiã bege saiu, respirou fundo, queria tirar todo resto, mas não conseguiu sequer tirar os braços de frente do corpo. Ele sorriu, ela tirou os braços. Beijou, beijou com força, beijou com adoração, beijou porque de tanto desejo não sabia o que fazer. O toque da mão dele na sua pele fazia com que sua cabeça parasse. Sentou em cima dele, escutou um gemido e teve vontade de fugir. Tudo ali era irreal demais, feliz, natural. Tantas tristezas faziam com que ela quisesse estar em casa. Tantas tristezas. Queria estar em casa e não sentir, se alienar em frente a televisão. Não queria se envolver e queria ser amada, queria ficar sozinha e não sofrer. Mas já sofria, sofria em pensar que a noite chegaria e acabaria com a tarde. Sofria pela ausência futura do cheiro dele. Sofria porque o beijo acabaria. Sofria com medo que o tempo acabasse com tudo aquilo, se perguntava como teria vivido tanto tempo sem esse desejo e sem ser desejada como agora.
Tanto desejo, tanta carne, tanta vontade de descobrir e conhecer não podia terminar naquela tarde, tudo termina, mas não naquela tarde.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Não Aguentou o Tipo

E a cobra falou: e a Adalgisa? Que deixou o irmão da minha tratadora bêbado lá no boteco do Arlindo, aquele mesmo que virou drogaria, que curava gripe e azia e cobra coral para paralisia. Coitado do irmão dela, já tinha largado a neurastenia, junto com aquela sua mania que o perseguia, que sempre correu atrás daquela outra, essa sim, moça formosa e esguia mas que também não o queria. Acabou mesmo foi com o dono da outra drogaria, vi a foto do casamento deles que tinha o pano de fundo a paisagem da farmacologia. Veneno? Que nada, era só homeopatia! Doses certas e cavalares e tudo mais no que nela ia, lá dentro da garrafa em que jaz a minha tia, urutu cruzeiro de presença! Acabou que levou a falência a concordatária drogaria, não contaram com a panacéia da titia, tiro e queda para bicho de pé, endometriose, tristeza e taquicardia. Só sei que o da farmácia, acabou junto com o Mané Fogueteiro na mesma guia, foi explorado pela mulher e corneado noite e dia, e acabou numa vala comum só reclamando, o coitado, da injusta periculosidade e da mais-valia. Pois pensava que aquela da garrafa já não picava e nem mordia.

PINGA COM COBRA




Uma vez, Coronel me contou que uma boa pinga é feita da seguinte maneira: a primeira parte que sai do alambique é chamada de cabeça, a porção intermediária do destilado é o coração e a porção final é o rabo. A cabeça e o rabo são dispensados, por serem muito impuros, ou terem um a graduação alcoólica inadequada, não sei ao certo, e em uma garrafa de cachaça da boa encontramos o Coração da bicha. Pois a imagem que formou pra mim, ao imaginar o líquido precioso serpenteando pelos canos de cobre do alambique, com cabeça, coração e rabo, foi claro de uma cobra.



A serpente, cobra, víbora, é um dos animais mais simbólicos do imaginário humano, não é? Nos fascina, nos hipnotiza, nos aterroriza. Foi graças à serpente que fomos expulsos do paraíso, sendo condenados o homem a trabalhar e a mulher a ter sempre a serpente a morder-lhe o calcanhar. A cobra do Eden não encarna apenas o mal, a desobediência ao Pai. Ela é a Curiosidade, que incita o ser atrás do conhecimento, do fruto proibido da descoberta e da consciência. "Coma o fruto, e verás realmente o que és". Pau na cobra!



Animal Linha, quando em extenso, tem começo, meio e fim. Mas se o começo engole o fim? É o Infinito, imagem perfeita dos ciclos que se suscedem, do conhecimanto que nunca acaba, num processo em que quanto mais o sujeito conhece, mais tem consciência do quanto ainda não sabe.



Enrola-se na taça medicinal, e expele ali o veneno, fornece a cura ao próprio mal que causa. "A diferença entre o veneno e o remédio e a dose" pois "o que não te mata te deixa mais forte".



Fantástico ser, pena não ter asas...




(IMAGEM: "Laocoonte", grupo escultórico grego, encontrado no século XV e que influeeciou os renascentistas, Michelangelo entre eles)

domingo, outubro 19, 2008

Missa de sétimo dia da cobra da Maria


Estavam todos lá. Os correligionários, comomodoros e demais integrantes da "inflãme" sociedade ComunaPiraquara.
Eram 19:00 naquela igreja bonitinha do jardim esplanada que todos joseenses querem casar lá, porém que ninguem sabe o nome. Aos poucos iam se aglomerando populares cochichando aqueles comentários comuns dessa ocasião:

-Ela estava velha..
-Descansou!
-Também...fumava e bebia(?)

Companheiro Chaves conversava no lado de fora da igreja(ele não quis entrar na igreja por diferenças religiosas)sobre sua metamorfose com outros colegas. Dizia que havia avisado a
falecida:

-Pare de beber!
-Pare de fumar!
-Cai no futibórzinho do parque no sabádo de manhã!
-Beba Ades, ou de uma subidinha no mirante...mas sem exito.

Eu cheguei logo atrás do Venetur modelo 1984 que trouxe convidados de Santana e logo recebi a todos menos um....cadê Nassif, grande amigo de todos? Sabia da dificuldades legais que ele tinha de se dirigir a tal região, porém tinha certeza de sua presença após ver esposa e seu herdeiro ali. Logo após anda pá cacete achei-o em um boteco na Humaitá , ja com a gravata arriada , dois botões da camisa aberta e bebendo algo de cor uva em um copo plástico de 200ml. Óbvio que também não entrou na igreja.

Ai chega uma Harley-Davidson chamando a atenção de todos com suas reduzidas musicais;;;Em seguida sua bota(daquelas que se compra ali no mercadão nas lojas de fumo)toca o chão e ele desce calmamente, era o Homem-Aranha, de fantasia e tudo que como grande amigo da garotada da "oi" para todo mundo e logo se enturma, mas com aquela roupa não podia entrar também.

O próximo seria Felipe Massa vindo de sua casa nos altos na zona sul com sua esposa e filho. Chegaria atrasado. Estava no bar do Fumaça vendo como o jornal regional descrevia mau todas as suas façanhas;;;ao morder o primeiro "teco" do Famoso McFumaçaFeliz(iguaria servida no estabelecimento)seus entes entraram em contato e o avisaram do evento, mas sua maquina vermelha cheia de problemas mecanicôs prolongava a romaria até o local;;;

Mas quando começou estavam todos lá. Eu mesmo confeccionei uma camisa com a estampa do Chico especial para a ocasião.

Maria de vestido preto ao luto tradicional, chorava muito, era a cobra que ela tanto gostava que não estava mais entre nós. Seu esposo com a mistura embrulhada abaixo do braço(1,5 kg de linguiça mista que havia acabado de comprar no mercado), mau via a hora daquela porra acabar e ir embora. Havia sido picado duas vezes pela falecida e era desafeto da mesma. Fora que mau via a hora de deitar no chão gelado de sua casa e degustar o aperitivo frito com limão e uma garrafa de Perrier assistindo o Cúrintia jogar.

Massa não lembrava se tinha deixado as garrafas de cerveja no Frezeer e estava impaciente, com a testa suada e fumando compulsivamente na porta, mas fui acalma-lo ao falar sobre "cortes finos bovinos" que haviam por perto. O que deu certo logo.

O Nassif via seu green-card joseense se esgotando e acarretava tradicional ansiedade de ir embora logo para Santana, mas que passou após seu colega Chassi, ali presente também e responsavél legal por reencaminha-lo de volta, lhe dar uma certa "gordura" para permancer no local.

Uma pena que o mesmo Chassi munido de protocólo em 3 vias, não localizou com sua Veraneio da DIG o dono desse Blog para intima-lo a comparecer.

Ai, de repente se descobre que a missa seria de corpo presente. Os colaboradores trazem a coitadinha. Maria desaba, alguns correm, rezam, choram, Padre fazendo sinal da cruz para cobra, valeu de tudo, parecia o auto-da-compadecida só trocando cadela por cobra.
No fim, o único que se saiu bem mesmo foi o olhador de carro da rua. Ele estudou com o Chassi na Etep e não teve sorte nenhuma na vida , talvez apenas naquele dia. Faturou 31 reais e mais alguns cigarros na faixa. A cobra não tinha Aussel e por mais 5 contos, ele a encaminhou para o seu ultimo lar, um cantinho de terra na praça ao lado dentro de uma caixa de papelão da Azaléia.

Mas para bem de todos, Maria ofereceu uma bebiricada gratuita a todos na faixa no Savema e em uma mesa recheada de cervejas, coca, aguá, cigarros, cybershots, celulares e até uma Veja! da semana atual, as risadas, alegrias e comemorações libertaram Maria de qualquer remórcio passado e lhe deram liberdade para procurar uma nova cobra de estimação e ser feliz com o novo futuro bichinho.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Mais um dia que se passou em minha vida

Minha cobra cega morreu. Dois dias antes do meu aniverário. Hoje fui dar bom dia, como faço toda manhã e lá estava ela, sem vida. Mordeu um pedaço de folha e morreu. Quase todo dia recolho as cobras que morrem e morrem muitas, estress do cativeiro, manejo inadequado, porém nenhuma delas me causa nada, mas minha cobra parecia ter uma dor indescritível estampada na face.
Ossos do ofício, lição de vida, fatos para serem escritos e descritos, apego a uma cobra. Não sei explicar, só sei que doi.

terça-feira, outubro 14, 2008

Jesus errou o pênalti





É a finalíssima do campeonato brasileiro de futebol cristão. Igreja Católica Apostólica Romana Nazista contra Assembléia do Reino Podre do Dinheiro Sujo.


Sucesso de público, arquibancadas lotadas, arrecadação máxima. Edir Macedo e Bento XVI com o sorriso de orelha a orelha.

O jogo começa sem graça, pouco esforço dos dois elencos, nenhuma dividida pra animar. Os arqueiros sequer são citados na narração. Parece que os atletas de Cristo queriam mesmo é que o clássico ficasse assim, sem gols, porém com casa cheia.

Finda a primeira etapa e pouquíssimos chutes a meta e no intervalo show da Shakira mesmo, que a essa altura do campeonato já podia ser considerado ecumênico.

Começa a segunda etapa. Os times voltam com um pouco mais de iniciativa. Os pontas até que tentavam, mas as bola na chegava, ficava presa no meio do gramado, ou era alvo de chutões dos zagueiros.

Zero a zero, o tempo passa, o clima é tenso, a torcida já está de saco cheio, o bate cabeça das zagas irrita até os pagãos.

Chutes pra fora, falta de habilidade e entrosamento, porém a fé impera até o último minuto.

Jogados redondos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, quando não se esperava mais nada, o Padre Marcelo arranca com a pelota pelo flanco direito, ganha a grande área e é derrubado pelo Inri Cristo. O juiz apita penalidade máxima. Após comemorar o lance como um gol de placa a torcida pede freneticamente: JESUS!!! JESUS!!! JESUS!!!

O enviado pega a bola com toda a propriedade e ajeita pra cobrança.

A torcida adversária em silêncio.

O arqueiro Judas catimbando... Se o Jesus errar o pênalti a arrecadação vai pro inferno!

Preparou, bateu, disparou o pombo sem asas...

...PRA FÓÓÓÓÓRAAAA!!!!!

A torcida alucinada não se agüenta e invade o campo. Cantava em coro: MATA ELE! CÊ VAI MORRER MEU! MATA ELE!

Crucificado em pleno Maracanã das almas.

Não lembro bem pra quem ficou o título, mas a arrecadação foi divida ao meio, certinha, afinal, constatou a justiça desportiva que o Jesus tava jogando pros dois times.

domingo, outubro 12, 2008

A esquerda que cega

Meu professor de história na época do curso de filosofia falava que quando estívessemos mais velhos entederíamos algumas coisas que agora não estava bem claro. Tenho que confessar que ele tinha razão.
Me lembro nos idos dos anos 80 eu carregava uma bandeira imensa vermelha com meu amigo Nei Lambido , alguns que lerão este texto sabe de quem estou falando, e orgulhosamente disparávamos discursos socialistas baseado nos princípios religiosos do segmento chamado convergência socialista e alegremente enfretávamos a polícia, a bem da verdade nunca enfrentamos porra nenhuma, mas corriámos bem.
Hoje fico a pensar nesta porra de esquerda que tanto defendi que não divergi da direita que temos do país em nada. O candidato Toninho tinha razão no seu discurso ao dizer que ambos são farinha do mesmo saco, não que concorde com PSTU.
O perigo quando se crê cegamente nessa gente é o mesmo que ocorre quando estamos numa religião que nos aliena , o discurso contrário não deve ser ouvido e se matamos para chegarmos a um fim é sempre justificável.
Se enterdermos esquerda como aquele que realmente quer o bem do próximo utilizando de meios políticos para se chegar a tal lugar , não devemos esperar nem do PT , nem do PSDB, pois ambos são uma merda só.
O grande problema dessa juventude , e de nos em geral é vivermos num achismo desgraçado e estudarmos pouco, mais muito pouco mesmo para saírmos falando tanta besteira , aos menos no que tange à política.
Tomarei o exemplo relacionado a mim para que valha como melhor exemplo. Todos esses atos corruptivos denunciados pela mídia contra o PT soava para mim como inaceitável, não o que eles fizeram, pois nunca aceitará acreditar nesta possibilidade dita pela mídia, entretanto, amigos isto é possível e tenho certeza que essa cambada tirou proveito "SIM" do poder . Mas vocês sabem, fanatismo é fanatismo e para se livrar dele não é fácil.
Não me recordo totalmente , mas lembro quando li que Bakunim , que escreveu Deus e o Estado, colocou a Marx que sua proposta de ditadura do proletáriado viraria um governo de meia dúzia de aproveitadores e por esse motivo foi expulso de uma das internacionais, aliás, como cantei esse hino na igreja " Convergência Socialista ".
Hoje, dou como decretado que não lerei a biblía Marxista como um fanático, não acho que o socialismo é a solução para o mundo, nem o capitalismo , nem porra nenhuma.
Precisamos antes de tudo sermos bom de verdade com quem está perto antes de querermos melhor o mundo como um todo, o resto de discurso babaca. Precisamos pensar por nós próprios e ouvirmos e estudarmos solitariamente sem ficar com meia dúzia de pessoas que ditarão o que devemos acreditar.
Assim como era inaceitável a ditadura militar expulsar pessoas que não aceitavam o seu regime, que era uma bosta de verdade, não podemos nos orgulhar das merdas feitas pelo Fidel e pelo Hugo Chaves, vamos pensar por nós mesmos e acharmos pelo fato dos caras baterem de frente com os Americanos os fazem "santos" e dão direito de não permitir que uma pessoa saia do seu país a hora que bem entender.
Me desculpem meus caros, mas se a esquerda é essa merda : tô fora !!!!

Hemerson

sexta-feira, outubro 10, 2008

Consternações Ontológicas Pueris

Hoje me lembrei de um poema do Drummond, “A Suposta Existência”. Há muito já havia lido esse poema, acho que eu deveria ter uns dezesseis e me intrigou demais. Foi mais ou menos por essa época que minhas consternações ontológicas tomaram uma agudeza que carrego até hoje!

Desde muito antes dos meus dezesseis, ainda bem criança, aguçava em mim umas elucubrações metafísicas que só começaram a fazer algo sentido quando li esse poema do Drummond. Não sei se com vocês era assim, mas eu sempre ficava pensando como ficavam as coisas no interior do quarto depois que se fechava as portas e apagasse a luz. Como elas se comportavam sozinhas ali sem ninguém ter por elas, ou lhe emprestar algum sentido de existência. A duvida era: será que quando não estamos olhando ou em sua presença, as coisas existem mesmo? Uma chave esquecida há anos numa gaveta, a mobília da casa quando estamos fora, o defunto horas depois do enterro, ou nós mesmos, como diria Drummond, num quarto vazio sem espelhos, existiríamos nele? Existem coisas sem ser vistas? Ou elas assumem uma outra forma a qual não temos acesso ?

Esse tipo de indagação me surpreendia na escola, no meio da aula da 1ª série, será que meus irmãos, meus pais e colegas da rua estão todos lá, em suas atividades de praxe, enquanto estou aqui estudando? Ou eles e transformam em alguma outra coisa, ou será mesmo que nem existem? Eu até tinha vontade de falar sobre isso com alguém, mas na época, eu tinha medo que caçoassem de mim, motivo de pilhéria, chacota ou sei lá! Mas o fato é que as coisas sempre arrumavam um jeito de me enganar; a tesoura, o balde, a mesa, todos eles estavam sempre a me pregar peças, e eu precisava estar atento a sua substância e os possíveis acidentes.

Obviamente que naquela época eu não tinha noção dos estudos da metafísica, é claro! Mas depois do Drummond vi que era tudo isso mesmo, as coisas podiam enganar a todos, mas à mim não, eu sei que era tudo cenário. Haja vista que hoje sou uma “ficção rebelada”!

terça-feira, outubro 07, 2008

Make up

As aparências enganam? Não, talvez as aparências não enganam tanto assim; elas são, no máximo, um corta luz, uma jogada ensaiada a exaustão e que muitos já se cansaram de ver, elas são um desvio de Paralax, estofo do repouso da sombra no fundo da caverna platônica, a antítese do divórcio, camas separadas, todos os princípios, o aparente estado da arte do desencanto do mundo provocado pela razão, ou o próprio Estado Moderno que pensa ser de direito para todo mundo. A democracia legada da Polis e que hoje é liberal também vive delas, assim como liberalismo econômico cambaleante vive de aparente ajuda do mesmo Estado do direito difuso dos especuladores; e as escolas e suas disciplinas com sua relação, também aparente, com os presídios e manicômios, que é tão aparente quanto às linhas imaginárias que cortam o globo ocular e revelam os “Paraísos Artificiais”, de onde vem o haxixe pra lá da linha Greenwich, do tesouro de nossa juventude; e delas, das aparências, que são o simulacro delas mesmas, simulam sempre estarem bem, mesmo sob a suspeita segurança do seu espaço privado, da amplidão isolada e hostil dos não-lugares e também, é claro, do lugar-comum, do copo de cana, das lascivas que a noite acordam sozinhas em suas camas e se deixa esvair suas aparências nessas comas, assim como o coma dos etílicos e dos que se vão nas ondas de calor, dos mártires, da minha incumbência taleban, da fé inabalável, do excesso de certeza, do silêncio obsequioso dos religiosos frente aos seus crimes, do sentido voluntarioso que se dá a vida, e do ego moribundo que pensa ser o senhor em sua própria casa; não, as aparências elas...

Doador hematófagofobíaco




O cidadão, aparentemente saudável, jovem, bem arrumadinho, mesmo contrariando sua natureza se colocou a disposição para atender ao apelo do patrão e se encaminhar até o banco hemofílico do centro da cidade para doar sangue pra uma tia do chefe, dessas grandes e de varizes de bom calibre, ou seja, carentes de muito sangue.
Ao entrar na sala de espera buscou coragem noutro paciente – e aqui se leia paciente mesmo, pois já havia mais de quarenta minutos que esse segundo esperava o atendimento. O moço indagado não aparentava tanto asseio assim, contudo a inquieta vontade de ajudar o próximo sendo um doador o incluía num seleto e pequeno grupo de pessoas que coincidentemente doam sangue as vésperas de feriados prolongados, e talvez naquela manhã todos tivessem sido contemplados com a mesma idéia, e a superlotação do recinto era notável logo as primeira horas do fim do ponto de orvalho.
Foi direto, perguntou logo se havia problema em doar sangue, ou se havia tal ato antes, ou mesmo ainda se já havia acontecido alguma situação onde o doador fosse levado as pressas ao ambulatório adjacente ao prédio.
O outro, não respondeu com muita firmeza. Havia um explícito retardo de reflexos que a mistura do chá de cadeira, a falta de desjejum e o cedo da hora haviam proporcionado. Tal fato preocupou demasiadamente o fiel funcionário doador.
Alguns minutos depois entraram juntos na sala de doação. O outro sentou-se tranqüilo à poltrona reclinada e se pôs a ver o que passa na TV a cabo coletiva. Ao saudável restou o consolo e a atenção da enfermeira, um pouco feia, mas que o tentou acalmar, argumentado que nada de mal lhe aconteceria, que essa atividade a ela já se tornara corriqueira e que acima de tudo, o calibre avantajado da agulha lhe garantiria maior conforto na hora da extração do sangue.
Agora mais calmo, o sadio reclinou-se, teve a veia encontrado e de última hora foi orientado que não olhasse diretamente o bombear do sangue, que de preferência tentasse prestar atenção no programa sobre animais que era exibido naquele momento.
Inacreditavelmente o tema daquela manhã era morcegos hematófagos – e aos que não estão habituados ao termo, morcegos hematófagos são aqueles que se alimentam preponderantemente de sangue de mamíferos, quase sempre preferindo os de médio e grande porte e normalmente não gostam de abrir novas fendas para sugar o sangue, pois o gasto de energia nessa atividade é muito grande o que torna o morcego fiel a sua vítima, vale lembrar que o morcego faz o buraco no pescoço do animal e fica lambendo o sangue que escorre... já que a saliva do morcego é anticoagulante.
Aos três minutos e meio de programa a sudorese fazia sua parte com louvor, o rapaz de aparência saudável suava em bicas, pálido como branca de neve.
A enfermeira foi logo acionada pelo outro, indagando que o rapaz estava a delirar, pronto a um desmaio repentino. Dito e feito, logo após a chegada da enfermeira o rapaz esmoeceu.
Segundos depois foi acordado com leves tapas no rosto e um algodão embebido em uma substância desconhecida de cheiro forte, sendo levemente passado no nariz e na TV já passava o Bom Dia & Cia.
Não me lembro bem se ouvi de alguém ou se de alguém que ouviu e contou, mas creio deva essa estória ser verídica, no entanto não dou fé reconhecida em cartório, mesmo porque estórias de sábado a tarde de sol antes de eleição com cerveja nunca hão de ser legitimadas.

quarta-feira, outubro 01, 2008

Romildo Cézar de Jesus, o Dromedário


Há dois anos conheci Romildo Cézar de Jesus. Esse era o nome verdadeiro do Dromedário, apelido carinhoso conferido a ele graças a saliência lombar adquirida por locomover-se de forma arcada pelos pátios da escola. Também pudera, com dois metros e cinco centímetros de altura, sustentando nada mais, nada menos, que cento e sessenta e cinco quilos, que outro apelido lhe caberia tão bem?
Mas a estória não é sobre o pseudônimo Dromedário, mas sim sobre sua peregrinação, do pátio pra sala, da sala pro corredor, do corredor pro portão da quadra e assim por diante. Acho que se colocar em linha reta o tanto que esse cara já andou dava pra atravessar o Saara, ida e volta.
E como já se deve imaginar, a lei da compensação – vide conversas socráticas com Maria, simplesmente – foi um tanto quanto legítima com o Romildo. Já que tinha tanta massa bruta, a cinza não era tão desenvolvida, acho que as sinapses não eram lá muito católicas, aliás, o Dromedário era filho de Oxum, mas isso não é determinante para essa estória. Recordo-me inclusive que uma vez lhe perguntaram por que é que o nome era corredor se ele sempre mandava que ninguém corresse ali. Simplesmente não respondeu a tal questão...
Noutro dia, mesmo sem arquitetar isso seguindo normas e parâmetros internacionais de fomento, a criançada da escola inventou um jogo de pontos com o intuito único de desenvolver sua popularidade. O jogo consistia hein conseguir irritar o Dromedário até ele partir pra ignorância, o que não era raro. Aliás, quando se irritava muito o Romildo se transformava numa criatura mais grotesca ainda, digo até monstruosa, com olhos esbugalhados e um pouco de baba espumante nos cantos do beiço, afinal aquilo não eram lábios ou cavidade bucal. O cara era só beiço. Vale lembrar que esse jogo era apenas pros mais velhos e corajosos da escola e apesar de ser uma tremenda idiotice, acabava, não se sabe como, atraindo as pequenas virgenzinhas das cercanias estudantis.
Acontece que numa manhã não muito cinza o Uésly, (acho que é Wesley, mas serei fiel a forma como ele era chamado) resolveu tentar a sorte, já que era um pouco esperto, nada estereótipadamente bonito e na verdade bem medroso, num insight de bravura incitada por pitadas de feromônios buscou na exibição uma forma atrair algumas garotas a sua volta.
Indagou ao Dromedário se ele sabia jogar iô-iô. Claro que não sabia, exigia muita coordenação motora. Então o moleque resolveu fazer uma demonstração. Várias manobras depois, como o cordão já todo enrolado, devido as elipses consecutivamente executadas, o garoto resolveu tirar uma manobra da manga. Pediu pro Dromedário ficar parado onde estava, sem se mexer, e começou a agitar o iô-iô pra executar a tão famosa “volta ao mundo” (pra quem não é amante dos iô-iôs essa manobra consiste em ao fazer o instrumento percorrer toda a extensão de seu cordão, lançá-lo num movimento anti-gravitacional para frente, a fim de que o mesmo percorra no ar uma volta completa antes de se enrolar novamente no cordão). Mal sabia o Uésly, tampouco o Dromedário que o capeta do Gabriel ia passar correndo naquele lugar, naquela hora, daquela manhã agora um pouco mais cinza, onde justamente nessa cena o imbecil do Antônio resolveu sutilmente interceptar o trajeto do capetinha, colocando de leve a ponta do pé a frente do encapetado que ao se desequilibrar buscou apoio nas costas do Dromedário, que apesar de todo peso não suportou o solavanco e deu um passo a frente, sendo acertado no beiço pelo iô-iô e sua força centrípeta. A multidão do intervalo ficou perplexa com tanto sangue jorrando da beiçola do Dromedário. É o tempo cinza fechou de vez.
Ainda sangrando Romildo apanhou o iô-iô do moleque com a mão esquerda e despedaçou-o com um movimento brusco. Aí sim, com as mãos ainda sujas de sangue e iô-iô, porém de alma lavada o Dromedário levou o Uésly pela aba da mochila pra ver a dona Gertrudes, pedagoga com a mesma qualidade de sinapses cerebrais do Dromedário, porém sem nenhuma força física, ou melhor, com acúmulo de tecido adiposo. Seus dotes mais notáveis eram a incrível potência das cordas vocais, máscara craniana e o pertencimento a uma classe social de pseudo semi-burgueses, adquirida ao se casar com Astolfo, metalúrgico bem sucedido, e patrocinador da faculdade de pedagogia a distância, dessas que se tem por aí aos montes, como as clínicas odontológicas populares, mas que sobretudo a legitima o direito de ocupar aquele cargo educacional.
Até hoje Uésly é aclamado por todos como o “Davi da escola”, que numa iô-iôzada sangrou um Dromedário e ganhou 1000 pontos no jogo da popularidade.