segunda-feira, agosto 31, 2009

NOSSO BELCHIOR



Depois que a Globo
Achou o Belchior
O meu domingo
Ficou bem melhor.

Já andava meio angustiado
Feito goleiro ao sofrer o gol
Mas o rapaz latino-americano
São e salvo a TV mostrou.

Tristeza foi embora
Já ficou para trás
Em busca de tranqüilidade e paz
Acharam o moço lá no Uruguai

Na certa ele não deve ter gostado
De ser mostrado na televisão
Embora seja muito amado
Não precisa dar satisfação.

Mesmo assim ele se prontificou
Em dizer que estava tudo bem
Dizendo apenas que viajou
Ao lado do seu amor, seu bem.

E o Brasil inteiro aliviado respirou
Está vivo nosso Belchior!
A música, a poesia e o mundo
Voltaram a ficar melhor.

E um abraço carinhoso eu mando
Embalando essa canção
Que bom que o susto já passou
Se cuida meu amigo, meu irmão!

(30/08/2009)

quarta-feira, agosto 26, 2009

sexta-feira, agosto 21, 2009

Com licença Caronte.



Com licença Caronte.




“O despertar da consciência traz consigo, algo deveras maravilhoso e deveras tenebroso; a clareza do ponto em que sua vida se encontra e a lucidez turva de que este ponto pode estar muito próximo do último”.
Por Alves de Souza


Muitas das questões acerca da existência partem da busca pelo entendimento, da razão pela qual aqui se está, e principalmente para onde se vai, e entre um momento e outro, nesse meio do caminho, há ainda indagações que colocam cada indivíduo num pilar próprio, com sua coluna, que dependendo do comprimento permite ou não uma visão menos reduzida da vida e sua “função”, “necessidade” ou coisa do gênero. Talvez esse seja o maior dilema existencial de todos os tempos, o que ocupa a maior página no diário da humanidade.
Na mitologia grega, o objetivo final a se chegar, depois da morte era na outra margem do rio Aqueronte, onde as almas pudessem encontrar relativa paz. O responsável pelo transporte das almas para o outro lado do rio era Caronte, filho do Erebo e da Noite, o encontro com Caronte era “inevitável”, ao menos para aqueles que não lhe pagassem o devido transporte. Em inúmeras guerras, conflitos, onde houvesse o risco de morrer, todo homem devia levar consigo a quantia devida ao barqueiro, para que não corresse o risco de se ficar preso ao mundo ou reino da terra, vagando. Por isso todo indivíduo que entrasse em óbito deixava uma missão para seus filhos, companheiros, ou quem quer que fosse; _ quando morrer deposite em cada olho meu uma moeda de ouro, para que esta me garanta o embarque definitivo.
O mito de Carontes serve, neste caso para uma reflexão importante acerca do valor em que se deseja pagar para seguir na viagem da existência, ou quanto se está pagando, que preço é cobrado para que se exista de maneira menos fragmentária. A famosa frase atribuída por alguns a Maquiavel, que diz; “que os fins justificam os meios”, revela um ponto importante na caminhada da vida, ou seja, o desapego completo de qualquer princípio asceta, o que observado com proximidade, distancia o indivíduo do Hiperbóreo, aproximando-o das prisões, amarras e engodos cotidianos.
A existência pensada nos extremos contribui menos para o homem, do que vislumbrada e sentida no meio, no entre, porque é neste em que os eventos acontecem, sendo determinada a quantia paga a Caronte, se serão moedas de ouro, prata ou bronze, bem-vindas, ou as rejeitadas de ferro em oxidação ou de chumbo, densa, inútil.

en passant

Não a havia tocado, mas se socorreu do seu cheiro quando passou! E de passagem surgiu a imagem advinda de muitas outras, como um fundo que se torna a imagem, e de novo, a inocular outras imagens em outros fundos na mesma face, que passou incólume por todas as passagens do tempo desde as imagens gravadas na pedra, das imagens de pedra e da cega adoração que se tem por elas. Como na incumbência de um taleban que se guia orientado pelos meridianos celestes, e que o leva sempre ao oriente da noite. Pra lá de Greenwich, para além de sua papôla e o haxixe. Para além da Anima de fumaça que a mão perpassa a imagem intocada numa ilusão pervasiva, que por caridade à realidade, às vezes a deixa passar. E ao passar... Por veias discursivas, emaranhadas e labirínticas se perdem dentro do corpo, dissolvendo a realidade na carne, levando sangue, sonho e outras imagens alusivas de seu exterior. De fora de sua casa, para fora de seu alpendre, de dentro do ventre, do místico espaço eclipsado pela lua, da Grã-fina e crispada pálida pele nua, no estuário do caudaloso rio de sobra e luxuria da noite. Quando a luz anoitece, o calor anoitece, a convulsão e o frêmito anoitecem, todos de olhos postos se darão ao trabalho de se vidrarem em seu rosário luminoso. De tudo isso, mais vale não lembrar. Mesmo sem ter havido.

quinta-feira, agosto 20, 2009

Os fins justificam os meios


Com a intenção cada vez mais clara de reeleger Dilma o PT ,na pessoa do Presidente da República e seus comparsas , usam de todos os artifícios para manter a maioria , tanto na Câmara dos deputados, bem como no Senado.
Lula usa de argumentos tão fracos e ridículos para defender Sarney que Mercadante ficou com vergonha de ler a carta em defesa do sujeito no senado. Aliás, dia histórico que marca a saída de Marina Silva do partido e a defesa nojenta a um dos maiores ícones da podridão do sistema político brasileiro.
Nessas circustâncias é díficil ainda manter a opinião que Dilma seja a melhor opção, na verdade não há opção , estamos literalmente na merda , esparramada para todos os lados.
O PT jogou de vez o código de ética do Partido, traindo grupo de pessoas que foram mandadas embora e nunca mais arrumaram emprego, sujeitos que morreram para ver Lula no poder, artistas que cantavam Lula lá, um hino para nós que participamos de atos políticos e ainda sobra para nós ouvirmos merda de alguns , pois defendemos com palavras essas pessoas que venderam literalmente a alma ao diabo, pois defender a familia Sarney, é abominável.
Acredito piamente na descrição do livro do Orwell, pois realmente provas concretas a mim foi dada , que quando um partido de oposição quando chega ao poder se lambuza com tudo aquilo que lhe era lama.

Hemerson

terça-feira, agosto 18, 2009

Filiação a Luz

Para aqueles que têm o terno e confortável sentimento de filiação as luzes, devo dizer que a Ilustração foi apesar de tudo, a proposta mais generosa de emancipação jamais oferecida ao gênero humano. Ela acenou ao homem com a possibilidade de construir racionalmente o seu destino, livre de tirania e da superstição. Propôs ideais de paz e tolerância que até hoje não se realizaram, muito pelo contrário.
A exacerbação da razão no mais das vezes nos trouxe problemas catastróficos, os regimes totalitários foram alguns deles e também a falta de distinção entre razão e ideologia.
Nietzsche, Heidergger e Derrida querem destruir a razão incorporada na metafísica, Foucault propõe destruir a razão incorporada à historiografia ocidental, com o seu conceito de anti-história.
Já Freud com a sua descoberta do inconsciente, revela que o homem não é mais o senhor em sua própria casa, premissa defendia pela razão que acha que o quociente abarcava toda a psique humana. A maior parte da psique humana é o subconsciente, parte esta que a razão não acessa diretamente, e no mais das vezes não tem controle algum.


Depois de Marx e Freud, não podemos mais aceitar a idéia de uma razão soberana, livre de condicionamentos materiais e psíquicos. Depois de Weber não há como ignorar a diferença entre uma razão substantiva, capaz de pensar fins e valores, e uma razão instrumental, cuja a competência se esgota no ajustamento de meios a fins. Depois de Adorno, não é possível escamotear o lado repressivo da razão, a serviço de uma astúcia imemorial, de um projeto imemorial de dominação sobre a natureza e sobre os homens. Depois de Foucault, não é licito fechar os olhos ao entrelaçamento do saber e do poder. Precisamos de um racionalismo novo, fundado em uma nova razão.
ROUANET, Sergio Paulo. in As razões do Iluminismo. Pág 12

O que engorda o Dono, é o olho do Gado.


Fiquei imensamente feliz com a discussão que aconteceu a partir de minha postagem chamada: Sr. Fractal e Sra. Simetria, em que relatava algumas observações (idiossincracia) da viagem que fiz à Bahia, especificamente sobre o povo Nordestino.

Porém alguns esclarecimentos se tornam necessários:


Somos feitos a partir da mesma matéria: Átomo.

Isso nos leva a concluir, que em hipótese alguma, somos ou seremos melhor que os outros.


Tenho profundo respeito por qualquer ser humano, sendo ele rico, bem sucedido, califa, haitiano, branco, alemão, judeu ortodoxo, jogadores de futebol, esgrimista, piloto de formula 1, potiguar, cego, sul-africano, maneta, puta, necrófilo, pastor, bandido, transsexual, preto, caboclo, caipira, piraquara, professor, doméstica, catador de lixo, designer gráfico, cafetão, esquizofrênico, músico, porteiro de prédio, frentista de posto de gasolina, matricida, hinduísta, ateu, beata... Em suma, todos os seres humanos.



Trabalho praticamente há doze anos bem de perto com a comunidade nordestina. Sempre respeitei. NUNCA permiti preconceito ou piadinhas do gênero dentro da sala.

Tenho amigos, conhecidos e parentes nordestinos, e algumas referências como: Capiba, Josué de Castro, João do Vale, Ferreira Gular, Glauber Rocha, Capinan, Elomar, José Bessa, João do Vale, Ariano Suassuna, Família Aquino, Família Carmo (que cuidou de mim, em momentos difíceis), além de ter características físicas bem fortes, a tal ponto de ser confundido na Bahia com nordestino.

Tenho profunda admiração pelos seres humanos sensatos, porem sei que leva tempo para atingirmos tal grau, isso se atingirmos. Porém, acredito, que o que falta ao mundo é silêncio, sensibilidade, coerência.

Não estou buscando a perfeição, até porque não existe, porém, sei que muito tenho a melhorar, e estou disposto a isso.

Algumas coisas eu não compactuo. Dentre elas:

Excesso de certeza;
Ignorância (ou seja, criticar o que o outro tem a dizer, sem ao menos escutá-lo)
Excesso de barulho; (falar alto, gritar, berrar, palavrões gratuitos,...)
Desrespeito no trânsito;
Adiamento de obrigações decisivas na vida, que irão trazer sofrimento para si e sua família, em relação ao trabalho, educação formal, álcool, Ipva, Iptu,...
Falta de ética e coerência.
Muvuca, barraco e afins.

Encontrei muito isso nessa viagem, em quase todas as cidadezinhas que passei, exceto Mucugê, na entrada da chapada.


Sei que tudo isso existe em todo lugar, mas lá é bem mais intenso e contínuo.

Na realidade, falo como quem tem (e tenho) por um lado fascínio, admiração e por outro ,estranhamento, receio, cuidado.

Mas preconceituoso, fascista ou xenófobo, nunca fui!

Basta quem me conhece saber do que estou falando.


Alguns não entenderam nada.


Também não são obrigados.


Paciência!



O importante é a consciência tranqüila.


Abraços


Prata

Obs: Nesse debate, diplomas, certificados, não representam nada!

segunda-feira, agosto 17, 2009

Política Espaço / Seminal Moderna

A problemática urbana ganhou contorno que se intersecciona com diferentes campos epistemológicos do conhecimento, trazendo-nos um exercíco de método dentre eles: o existencialismo, a fenomenologia e a semiologia (não é a toa que o livro seminal da geografia crítica chama-se Espaço e Método). Cenário típico de nossa posmodernidade, é exatamente essa contestação das narrativas que tentam abarcar a totalidade do espaço construído.
Porém, contrariamente ao que o Anselmo pôs em seu texto, não considero que haja um esvaziamento do signo urbano, existe uma série de pensadores que vêm constatando exatamente o contrario tais como Cosgrove e Paul Claval, dentre outros da Geografia do Imaginário, que partem do pressuposto que todo imaginário social é também imaginário geográfico, porque embora fruto de um atributo humano, a imaginação é alimentada pelos atributos espaciais, criando desta maneira os espaços míticos.
É por isso que contrastamos tanto com a política cultural do estacionamento, porque os homens se reportam nostalgicamente a espaços míticos, tais como antigos casarões, cinemas, praças e etc..elegendo algumas imagens à condição de metáforas e metonímias que ordenam sua dimensão socioespacial.
Assim, a paisagem considerada como entidade concreta foi objeto de uma ampla apreensão técnica, a mesma técnica que nos recorremos constantemente para nos libertar da aleatoriedade da natureza é o que media o espaço e o homem e cria suas metáforas espaciais para ordenar outros sentidos na paisagem. E o parcelamento, as políticas de uso e ocupação do solo urbano seguem da racionalidade técnica do capital.
Aí encontramos um outro viés do estudo do espaço urbano, que é a semiótica espacial, em nossa posmodernidade o que houve sim, foi um inflacionamento de sentidos dentro do signo. Para Bhaktin todo signo tem uma base material, e a materialidade do signo urbano é a própria técnica que constrói a cidade.
Se a técnica está na base da construção do signo e também do espaço, e sendo a técnica não neutra mas sim portadora de significado, o espaço e o sentido urbano não é uma aleatoriedade ou uma gratuidade da mesma, mas sim uma intrincada relação material e dialética, que necessariamente é desigual e combinada.
Sob esse aspecto, a posmodernidade critica justamente essa racionalidade que faz com que os espaços carregados de sentido sejam destituídos de seu uso simbólico para dar lugar ao uso meramente utilitário do espaço, que no caso dos estacionamentos só servem mesmo para guardar carros. Precisamos de uma reforma fundiária urbana para se criar uma outra relação de sentido e do imaginário.

Política Cultural Moderna

Surgiu ou emergiu nos tempos em que alguns teóricos por razões intelectuais, culturais e ideológicas, que não se pretende aqui discutir, a denominação da linha temporal de pós-moderna, ou seja, de pós-modernidade, que acopla em si, uma força capaz de subverter ou enfraquecer todo um enlace cultural, emanador de concepções, posicionamentos e que tem efeito, principalmente na ação de construção de uma realidade objetiva, cujo ressonar abala profundamente a subjetividade de um grupo. Dito isto em virtude d’uma prática cultural, intitulada desta maneira arbitrariamente, em razão do seu teor altamente nocivo para a confecção do Narciso Socioespacial. Observada essa elucidação prévia, cabe pensar alguns efeitos interessantes da Política Cultural do Estacionamento.
Alguns teóricos tem defendido a ideia de que vivemos um período, cujo maior dos seus símbolos está justamente em não ter signos, símbolos ou característica alguma, o que significa dizer que o elemento principal, capaz de fazer um grupo distinguível encontra-se suspenso no teor de fruição, territorializado na virtualidade. Tal posicionamento não causa a “ninguém” espanto, muito pelo contrário, provoca a mais interessante ideia de liberdade, o que conduz a uma indagação, talvez até pertinente, de que tipo de liberdade algumas pessoas estão fazendo uso? _Já que cabe lembrar, que se vive hoje, um sequestro constante da subjetividade alheia. Diante dessas considerações arroladas, encontra-se a ideia central, cuja ligação é direta com a analogia que se vai fazendo com a concepção de Política Cultural do Estacionamento.
Na história das civilizações, das cidades é evidenciado que absolutamente nada é indelével ou perene, o que torna a prática cultural, ou da cultura, devendo esta ser entendida como algo passível de culto, de ser cultuada e principalmente cultivada, alguma coisa próxima da realidade mística, para que dessa forma ao menos se tente manter uma subjetividade coletiva “íntegra”, funcionando ou agindo como argamassa nas relações estabelecidas entre indivíduos de um mesmo grupo, o que se revela altamente incompatível com a Política Cultural do Estacionamento. Para que fique claro, tal política se baseia na demolição de qualquer prédio, ato, ou ação histórica, considerando ideologicamente que não há patrimônio cultural maior do que estacionamentos para veículos diversos, centro de compras ou ação financeira. Frente a esse olhar arrasador dos elementos que se propõem a esfacelar os traços culturais de um grupo e o germe responsável pela manutenção da subjetividade, cabe indagar; _ que tipo de humanidade, civilização está em processo de confecção?
Os processos estão aí, acontecendo, e a respeito disso muito pouco se pode fazer, mas ainda assim, há uma postura que pode e se deve adotar, bastando cada um, cada indivíduo, lembrando que todos são seres políticos, grupo escolher a sua e lidar da melhor maneira possível, para que se mantenha se não de toda intocada, mas ao menos, o mínimo possível fragmentada a subjetividade de cada um.

Written by Anselmo

segunda-feira, agosto 10, 2009

Identidade – Identidades?

A questão identidade, ou seja, o que esta venha a ser é alvo constante de inúmeras flechadas, lançadas por uma infinidade de cientistas sociais, que lançam mão de seus recursos metodológicos, para assim equacionar uma questão que está sempre presente nos debates acerca das sociedades, o que faz desse tema motivo constante de polêmicas e embates acalorados.
Nos últimos anos vetou-se a possibilidade de se considerar a ideia de falta desta, sendo adotada como posicionamento a concepção de que a questão não deve se prender a discussão da falta de identidade, mas sim, de que identidade se pretende falar. Desse olhar nasce uma discussão importante sobre a concepção “vigente”, que se baseia na ideia de identidade fluida, líquida, ou qualquer coisa nesse sentido.
Essas caracterizações observam o teor identitário, envolto no processo de velocidade, dinâmico, considerando-a em razão da rapidez dos fenômenos, flexível, acoplável a qualquer componente pré-existente, não importando muito ou nem um pouco, formatos, moldes, gabaritos ou coisas do gênero. Pensando essas correntes de pensamento e seu posicionamento adotado, se faz necessário observar o que há realmente de verdade nisso tudo? Analisando os grupos, os Estados Nações, os sem Nações, pode-se dizer que, de verdade absoluta tem-se muito pouco. Nessas concepções o que fala mais alto e defini caminhos é ou está intrinsecamente ligado ao processo econômico, como se a humanidade fosse pura e simplesmente títere da análise e realidade econômico-financeira, não importando elementos que dão força e vida ao espaço, que compõem o corpo da sociedade. E o mais interessante nisso tudo está na consideração, talvez inconsciente, de que os elementos espaciais em seu relacionamento atuem uns de maneira passiva, que simplesmente acatam de maneira indiscriminada as ações do outro no espaço e os outros que agem como se tudo fosse permitido e tudo fosse se sedimentando no tecido social, sem importância, efeito ou reação alguma, o que acaba por tornar todas essas considerações acerca da identidade algo bizarro.
Essa pequena explanação não tem como objetivo discutir, o que venha a ser identidade, se esta é baseada na fixidez, na relação para si dos elementos, nem muito menos se esta é fluida, líquida ou gasosa, mas sim tentar colocar em questão a dúvida, e potencializar os benefícios desta no debate, no campo das ciências humanas - sociais, acerca da concepção de identidade.


amar,desamar,desaguar?
manter,esfacelar?
pensar, não pensar?
existir, não existir?
ter ou não ter? querer e não querer?
que tipo de existência.

Written by Anselmo

domingo, agosto 09, 2009

Sr Fractal e Sra Simetria



Nunca havia pensado nisso, e também nunca tinha feito esse trajeto, ou seja, ido ao nordeste cruzando MG.
Recentemente fomos à Bahia pela BR 116 (saudações a Toni Tornado), e quanto mais adentrando o estado de MG fui observando as diferenças culturais. Quando adentrei o Vale do Jequitinhonha observei uma fala arrastada, um povo “feio”, ou melhor, andrajoso, crianças-senhora, muitas cores juntas - amarelo, vermelho, marrom, cor-de-rosa, lilás, - , as mulheres com meias kendall na cabeça (para não estragar a Chapinha), as casas todas com teto baixo, e a fachada sempre caiada geralmente de cor-de-rosa ou amarelo.
Silêncio não existe, o tom de voz é impressionante, as pessoas falam praticamente gritando, valorizam o barulho, seja ele das vozes, das panelas, dos carros, das bicicletas, da música, enfim é um alvoroço totalmente dodecafônico.

O álcool é constante no quotidiano das pessoas, e sexo com criança é fácil, qualquer dez reais pagam, não há fiscalização e nem preocupação, é um Deus Dará.

Em Padre Paraíso, fui a uma feira popular (divina!) em que tudo isso existia e após o almoço, imaginei rapidamente um belo doce, ao perguntar ao moleque de uma barraca onde poderia encontrar, ele disse:
- Olha eu não tenho, mas Ãnli tem.

Intrigado, perguntei:

- Onde?

- Ãnli tem, ao lado da barraca de cauvão.

Minha nossa, nós sempre preocupados com a maneira de falar, tentando ficar a par das mudanças ortográficas, desejando ser o mais correto possível, e me deparo com essa cena.

Hoje entendo (mas não concordo) um pouco o pensamento do Saudoso Paulo Francis, em relação aos nordestinos, em que tinha uma total repulsa e ojeriza, porém o que posso dizer é que para aquele povo o presente é o mais importante, o amanhã literalmente pertence ao amanhã, é um povo que vive adiando as coisas, é praticamente o corpo e suas necessidades, não pensa, não projeta nada, não conversa mais, e a vida se resume em uma praça à noite cheia de trailers ou barracas, e cada uma com sua TV ligada no Caminho das Índias, e ao centro um enorme telão passando thriller do Michael Jackson.

Âfe Maria!

Mas afinal comi um saborosíssimo e belo bolo de caçarola com queijo.

Vai entender?

Nem quero.

Abraços

Prata


Obs: Mas nos campos ainda se encontra o sertanejo, homem simples que tira o chapéu, que olha no olho e observa os pássaros. Isso até quando o Programa Luz pra todos do governo não chegar.

sexta-feira, agosto 07, 2009

OFICINA CULTURAL REGIONAL ALTINO BONDESAN

Inscrições abertas para Oficinas Culturais - PROGRAMAÇÃO 2º SEMESTRE / 2009

OFICINA CULTURAL REGIONAL ALTINO BONDESAN
Avenida Olivo Gomes, 100 - Santana
São José dos Campos-SP
Tel.: (12) 3923-4860

Atividades Gratuitas.
Seja Bem-vindo!

Nilson Ares / Produtor Cultural

quarta-feira, agosto 05, 2009

III CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA E HUMANIDADES / SÃO FRANCISCO XAVIER

Depois da literatura, agora é a vez da filosofia dar as graças em SFX. Não percam.

Pepa

De quando Pepa quis aceitar Jesus, já tinha deixado o cordão, passado o êxtase e dependurado a fantasia arlequinal.
O seu rosto era uma aquarela em preto e branco desenhada pelas lágrimas falsas no rimel negro, jazia a peruca no chão, o corpo cansado e a alma invisível, de tão pequena. Foram-se também seus postiços: cílios, peitos, unhas, dentes e seu amor, tão postiço quanto, Ditinho do Gás.
Depois da orgia e da festa e com a boca inchada pela bofetada de sua parceira de ala, conseguiu balbuciar baixinho: O que eu estou fazendo aqui? O amor venal nunca tinha sido seu forte, passava as tardes no parque da zona norte sonhando roubar os meninos e outros amores vespertinos.
Depois, mais a noitinha, tomava, mas tomava muita cachaça, e das mais baratas. Melhor. Tomava não, bebia! Já que tomar para Pepa era só no cú.
Também gostava de algumas pedras, para ela deixava mais amistosas as profundas cicatrizes da mal sucedida cirurgia de mudança de sexo. Ajudava-a, fumar de maneira tão graciosa sua pedra, fazia esquecer a incompletude de sua transexualidade, que ela passou a negociar no cais do porto.
Resolveu aceitar Jesus. Não porque acreditasse em deus. Não, não era isso. Mas o aceitou só para poder continuar pecando. Pecar, depois da perda de seu sexo e de Ditinho, era única coisa que lhe dava sentido na vida. Aceitou Cristo para receber a graça do pecado.
Receba a benção irmã, e aceita a glória do Senhor!

22 de Junho de 1633

Eu, Galileu Galilei, filho do falecido Vincenzo Galilei, de Florença, com 70 anos de idade, tendo sido trazido pessoalmente ao julgamento e ajoelhando-me diante de vós. eminentíssimos e reverendíssimos Cardeais Inquisidores-gerais da Comunidade Cristã Universal contra a depravação herética, tendo frente a meus olhos os Santos Evangelhos, que toco com as minhas próprias mãos, juro que sempre acreditei e, com o auxílio de Deus, acreditarei de futuro, em cada artigo que a sagrada Igreja Católica de Roma sustenta, ensina e prega. Mas porque este Sagrado Ofício me ordenou que abandonasse completamente a falsa opinião, a qual sustenta que o Sol é o centro do mundo e imóvel, e proíbe abraçar, defender ou ensinar de qualquer modo a dita falsa doutrina. […] Eu desejo remover da mente de Vossas Eminências e da de cada cristão católico esta suspeita correctamente concebida contra mim; portanto, com sinceridade de coração e verdadeira fé, abjuro, maldigo e detesto os ditos erros e heresias, e em geral todos os outros erros e seitas contrários à dita Santa Igreja; e eu juro que nunca mais no futuro direi, ou afirmarei nada, verbalmente ou por escrito, que possa levantar semelhante suspeita contra mim, mas se eu vier a conhecer qualquer herege ou qualquer suspeito de heresia, eu o denunciarei a este Santo Ofício ou ao inquiridor Ordinário do lugar onde eu estiver. Juro, além disso, e prometo que cumprirei e observarei todas as penitências que me foram ou sejam impostas por este Santo Ofício. Mas se por acaso eu vier a violar qualquer uma de minhas ditas promessas, juramentos e protestos (o que Deus não permita), sujeitar-me-ei a todas as penas e punições que forem decretadas e promulgadas pelos sagrados cânones e outras constituições gerais e particulares contra delinquentes assim descritos. Portanto, com a ajuda de Deus e de seus Santos Evangelhos, que eu toco com as minhas mãos, eu, abaixo assinado, Galileu Galilei, abjurei, jurei, prometi e me obriguei moralmente ao que está acima escrito, e, em fé de que, com minha própria mão, assinei este manuscrito de minha abjuração, o qual eu recitei palavra por palavra.

Dito na mesma cadeira em que Boff foi sentenciado ao silêncio obsequioso por Ratsinger, nosso Santo Padre.

La Chat

O anjo Samuel…era santo? Acho que não. Acho que era um garotinho que recebeu três mensagens e na terceira resolveu responder direito. Por isso não falamos de santos, mas de pessoas normais, que se perturbam e se afligem. Foi nessa manha de sei lá que estação, que tempo, mais era um certo sol, de manha, mais cedo que oito, mais ou menos, mais que sete, pois eu já havia saído e pudera ver o animal ali estacionado de forma inerte e definitiva. Como a morte não é nada para mim, pulei o gato, e que se foda. Mas o mundo não e só feito disso.

Samuel ouviu de seu quarto um som. Era uma musica nostálgica e talvez uma coisa belamente ridícula. Que se gostasse, mas com desprezo. Era com certeza o rei.

Não precisamos mais saber de nada, ou não? O gato estava na escada e morto. A música do rei tocava. Era uma letra essencialmente vinculada a morte do gato, pois dizia “eu queria ser civilizado como os animais” ou coisa parecida, desculpem a falta de memória, mesmo porque a memória não era minha. A música tocava...

Não precisamos mais saber de nada. Só precisamos entender a dimensão e a importância dos fatos relatados, pois que as palavras não podem nos mostrar as iluminações ocorridas em certos dias de manhã amenas como sempre são, naquela escada que nunca bate o menor fio de sol, contornado de plantas úmidas e de fatos. O fato, como nos diz a filosofia moderna, é a prova de que a proposição tem objetividade, isto é, o gato está morto na escada, nada mais. Nada pode mudar esse fato e nenhuma emoção pode ser retirada desse fato a não ser por aqueles seres que as sentem, mais do que vivem numa cultura escrita. É por isso que chamo atenção às relevantes situações que envolvem uma simples morte.

Como dissemos o gato estava na escada, a qual era adjacente a janela deste que relata a iluminação, isto é, um sentimento que não pode ser escrito e, sim, incitado a ser entendido. Samuel, nosso caro contador de estórias, estava na cama. A cama fica ao lado da janela, e só existe uma janela para se entender esse fato, que dá na casa da escada, minha casa, onde este gato, ou melhor, gata, que se chamava “La chat”, um fresco nome francês, que significa ironicamente “a gata”.

Era um dia normal na vida urbana dos habitantes daquela fresta habitacional, gatos morrem todos os dias, não vão ao hospital, são até mesmos assassinados, sem uma preocupação maior, mas isso é outra questão. O dia nasce e o gato já estava lá. Eu não estava lá. Ao acordar me dei com o gato na escada, em forma já enrijecida, fúnebre e sem a menor condição de resgate. Frio como uma pedra, pois essa é minha real relação com a morte, nada, pulei o gato, e fui para o trabalho, chegando ao portão pensando nas possíveis ações que eu poderia ter tomado; sempre julgando o “foda-se” a melhor saída, me esqueci do fato, pois só é feliz aquele que tem o dom de esquecer, eu me esqueço com facilidade. Mas, uma questão importante em nossas vidas é a nossa mãe, e ela era dona do gato, e tinha dado esse nome ao gato, e alimentava esse gato, enfim, tinha algum sentimento pelo animal que, para mim só cagava e miava. A questão é o que minha mão iria fazer, sabendo que eu pulei o gato e não fiz nada, nem ao menos avisei, nem ao menos dei um fim no corpo, como fiz com o próximo gato morto que apareceu, o qual ela julga até hoje ter sido um seqüestro, oh sim, talvez, por um anjo de animais atropelados. Bom, ao chegar ao portão já me havia desencanado do fato, era apenas um animal.

Mas atrás da janela havia Samuel, que não havia acordado, ou melhor, não havia retirado da cama a carcaça obesa e desejante. Ficara escutando, como escritor maldoso, para criar fatos que pudessem ser colocados em algum vídeo minuto ou coisa parecida, os passos, a escada os diferentes caminhos que poderiam ser percorridos, e, por fim os badalos do rei soaram, algo que sempre percorre estranhamente a espinha como uma lembrança fúnebre, lembrança daqueles que se foram, daquele tempo que passou e mudou, pois agora, nós é que estamos fumando no portão, nós é que nos preocupamos, e nós podemos enfim presenciar, com a aguda inteligência de um adulto aquilo que jamais vai ser esquecido, embora queiramos que isso aconteça. O rei cantava “eu queria ser civilizado como os animais”, irônica canção para um insólito dia em que vizinhos envenenaram um gato.

Não preciso falar do choro, não é? Pois que mãe não choraria diante de seu querido animal jacente no delicado equilíbrio dos degraus da escada. Chorou, chorou, como sempre chora, mas a iluminação veio através da janela fechada e silenciosa que escutava a música, o choro, os passos, a sacola plástica, a lastima, e o fim de um gato.

João Vinícius Farias Rodrigues com participação de S. Farias

segunda-feira, agosto 03, 2009

Manhã de Carnaval

Como tenho estado muito tempo em casa nos últimos dias, tenho revisto umas coisas, principalmente audiovisual de outras épocas. Me deparei com nosso primeiro curta...se é que podemos chamá-lo assim: O Gravador. Preciso digitalizá-lo.
Nesses idos tempos (12/11 anos atrás) eu e alguns amigos e companheiros tentamos uma escalada magistral que tinha um pouco de dogma 95, cinema novo, técnicas recém-aprendidas de cinema, vontade de fazer algo mais...e muito, muito amadorismo e precariedade.
Numa das noites exaustivas de captação, discussões em cima do roteiro, piadas, delírios, café e cigarros (muitos) caminhávamos onde outrora tinha sido galpão de máquinas de nossa tão querida tecelagem e que por mérito a cidade acolheu como patrimônio histórico e cultural de nossa tão recente história. Voltando-se a uma das noites...nos deparamos com um canto, vindo do escuro, provavelmente alguém saindo das aulas no núcleo de artes cênicas ou de dança. Era tão suave e tão subjetivo aquele momento que nosso querido instrutor que nos acompanhava com entusiasmo e desconfiança em nossa labuta cinematográfica logo soltou: o que estão esperando? liguem a câmera e captem-na cantando... conseguimos o suave som como de um uirapuru ou algum outro pássaro qualquer que nos vislumbre com seu canto.
Era música famigerada e estava sendo executada com extrema técnica e beleza. Arte!
Utilizamos a partir daí só adaptação, a história-roteiro alterou-se totalmente e o enredo do "curtíssimo" vídeo voltou-se para a tão bela canção. Eu não conhecia a música até então e passei a admirá-la sempre que a ouço, em meu parco conhecimento da música somente poucas músicas me fazem sentir assim.
Ouvi a versão abaixo no encerramento do documentário sobre o tucano-mor Montoro, maestrado por sua fiilha.
E ela é o máximo para mim em várias línguas e agora encontrei esta versão a qual divido com vocês. A grande companheira de Dylan...

http://www.youtube.com/watch?v=lAlrI3Nhqng

Abraços.
SF






domingo, agosto 02, 2009

Tobias que amava Amélia


Tobias bebia como ninguém, amava Amélia, mulher de verdade. Aqui não Amélia da música, mas a cachaça feita no interior de Minas, Paraisópolis.

Tobias era um musiquim e ganhava a vidinha assim, uma musiqueta aqui, outra ali, dizem que até Chico Buarque teria gravado uma composição sua.

Um dia estava a caminhar por Paraíso, isto já era duas horas da manhã, bêbado como de costume, quando chutou uma garrafa, tristemente percebeu que estava vazia e alegremente , se é possível caro leitor ter essas sensações de alegria e tristeza tão repentinamente , percebeu que havia algo diferente dentro da garrafa, ela estava tampada com rolha e lá dentro uma folha de papel, similar as garrafas que aparecem no mar , daquelas que os náufragos passam mensagem, ele ficou curioso e a abriu.

Percebeu que não havia um gênio saindo, mas uma folha dizendo, “você pode fazer três pedidos que serão atendido assim que você acordar”. Tobias parou, pensou e começou os pedidos: uma adega, um amor e uma casinha onde pudesse parar com sua vida de musiquim, um andante errante pelas ruas de Minas.

Tobias sentiu-se muito ansioso não conseguindo dormir. Resolveu tomar mais uns goles para que facilitasse cair em sono profundo.

Ao acordar, percebeu que estava em uma casa cheia de garrafas. Sentiu-se muito alegre com o ambiente, cheirando a cana-doce, beijo de moça. Após um tempo caiu em si e percebeu que faltava algo, um dos seus pedidos não teria sido atendido, um amor para chamar de seu, aquela fêmea para aconchegá-lo nos momentos difíceis.

Percebeu a presença da mesma garrafa que chutara na rua, agora no canto da casa, dentro um pergaminho. Curiosamente a abriu e leu, “assim como prometido seus pedidos foram atendidos: casa, cachaça, e muita Amélia que te acompanhara até o fim da vida”.

Tobias triste, cabisbaixo, olha nitidamente a garrafa que brinca de espelho com seu rosto e sorri para ele, como uma mulher, Amélia.


Hemerson