quarta-feira, março 28, 2007

CONTO: ALUÍZIO E O FÁRMACO – PARTE IV


O antídoto

Neste momento, o deputado se deteve por algum instante e não esboçou nenhum gesto, ficou parado, nem um movimento com os olhos, apenas olhou fixamente Aluízio e logo após, de dentro de seu caminhão, tirou uma caixa vermelha e robusta que continha dentro um vazo de planta. Explicou que se tratava de um santo remédio, que curava-se de tudo com a tal planta, e que tinha um poder analgésico fora do comum, o qual Aluízio se interessou muito. Porém, preveniu o sujeito, que o uso em grande quantidade ou em doses desmedidas da droga traria efeitos colaterais perversos, o próprio parlamentar admitiu que certa vez negligenciara tal advertência feita a ele por um índio - quando ao receber um espírito da floresta, narrou em um transe xamânico, tudo o que aconteceria num efeito colateral -, e dentre as reações estavam: a mímica, alergia à luz e a síndrome dos bons pensamentos – esta, terrível!
Aluízio, cauteloso, lançou-se numa pesquisa completa sobre manipulação de drogas, e depois de algum tempo, já de posse de um arcabouço teórico, foi que se sentiu seguro para dar início às suas elucubrações científicas e compor aquilo que seria a droga redentora.
Os primeiros passos eram segundo um método e processo de fabricação que ele mesmo desenhou: fazer um chá, precisamente a quantidade de um litro, encorpado e consistente, logo em seguida adicionar um quilo de mel e duzentos gramas de cera de abelha, e a partir deste momento, em fogo brando, a composição assumiria uma densidade pastosa num tom magenta, a qual antes que endurecesse, Aluízio faria pequenas bolinhas, comprimidos, de no máximo cinco miligramas cada.
A prescrição, feita por ele mesmo, seria um comprimido toda manhã por no máximo duas semanas. Foi tiro e queda, antes mesmo de se iniciar a segunda semana, Aluízio já não sentia mais dor nenhuma, não mancava e tinha uma disposição de moleque, e o mais importante, lembrava de tudo: fatos corriqueiros, da infância - muitos sem importância, minúcias, lugares, datas, pessoas, frases, lembrava-se até de tempos imemoriais.
Tal feito tornou-se de conhecimento público. Residentes e não residentes de Pilão Arcado começaram a freqüentar a casa de Aluízio em busca de algo que mitigasse as agruras do corpo, tomava-se o fármaco para problemas de pedra nos rins, cólica menstrual, bicho de pé... Motivos não faltavam, dos mais variados inclusive os torpes. Porém, Aluízio sabia muito bem pelos seus estudos, que não poderia lançar uma droga para a população sem antes uma exaustiva campanha de testes e certificação.
E isto foi o que tirou o sono de Aluízio durante noites. Como começar tal campanha? Onde encontrar tal estrutura? Cobaias? Metodologias? Legitimidade científica?
Passou-se um bom tempo até que desse o primeiro passo. Começou primeiramente com construção de seu corpo de provas, para a campanha de certificação do fármaco. Aluízio necessitava obviamente de cobaias, um corpo de provas que ficasse a sua disposição a todo o momento, para acompanhamento rígido, em que pudesse ministrar a droga nas doses certas em períodos e freqüências estudados, com um método determinado.
Para tanto, foi que Aluízio, numa linda manhã de sábado ensolarado, levanta-se bem cedo e com uma idéia fixa na cabeça, obstinado; dirige-se até o fundo do quintal, em uma dispensa em que seu falecido pai guardava suas ferramentas, e de lá pegou um rolo de arame, um feixe de taquaras, juntou com papel, tinta, fita de chita, e com vários outros adereços montou um boi, ornou-lhe a fronte com lantejoulas, fitas coloridas, pintou-lhe de cores vistosas e lhe fez um boi forte, ao mesmo tempo em que recuperou um outro boi, já combalido, utilizado num reisado há muito tempo, empoeirado, rasgado, com a chita molhada pela goteira e com algumas lantejoulas caídas e outras com o brilho fosco, realmente, em petição de miséria.

Continua...

terça-feira, março 27, 2007

Anjo da guarda

De soslaio, um anjo
A todo instante te vigia
Parece temer te perder de vista.

Sabe o quanto de desejo
Você suscita
Nos olhares que rodeiam
A tua beleza explícita.

Que quando passa,
Há brilho
No brilho que passa nos lábios.

Que o tempo quase se petrifica
Para aqueles que contemplam
Um gesto tão ingênuo.

Causando insônia
Ou os sonhos mais lascivos
Aos que assistiram
Absortos, perplexos...
Tamanha luz escapulir,
De um despercebido passeio seu.

Nilson Ares / CONTROL C press

Foto: Alex Matter - Nova York, 27/03/2007

segunda-feira, março 26, 2007

CONTO: ALUÍZIO E O FÁRMACO – PARTE III


“O clown é a poesia em ação” (Henry Miller)

Esta situação começou a ter seu alento quando apareceu em Pilão Arcado um sujeito magro, alto, trajando uma indumentária toda escura: sapatos, calça, paletó, só a camisa amarela.Tinha a face lívida, branca como talco, os lábios vermelhos de batom, e sobrancelhas, negras, desenhadas a lápis; mas uma característica peculiar deste sujeito era que ele não falava e nem emitia som nenhum, não parecia um problema congênito, uma mudez de infância, comunicava-se apenas através de gestos, todos largos, expansivos, e generosos, seu semblante assumia formas também muito intensas e exageradas, que ia desde a alegria com um sorriso largo e igualmente sem som nenhum, até uma tristeza que parecia uma máscara de teatro congelada em sua face.
Bom, este sujeito era... Este sujeito era um deputado, se não me falha a memória, ou exercia algum outro cargo no legislativo. E foi logo tratando de colar os cartazes por toda vila de Pilão Arcado, chamando a todos para o grande comício de mais à noite que se realizaria na praça matriz. Que antes mesmo do anoitecer já começava haver uma aglomeração no local, e as pessoas não paravam de chegar, todos ansioso para o tal comício.
Na hora marcada, todos reunidos, o distinto deputado começa explanando, claro que obviamente só com gestos, a respeito de sua moral ilibada, da sua retidão de princípios, de quando era coroinha e ajudava o padre em sua paróquia, dos tempos em que passou no seminário, mas que, Deus quis que deixasse a vocação do sacerdócio para tornar-se um representante do povo, aquele que busca o bem comum e enxerga na república a organização máxima da vontade de uma maioria, sedimentada na constituição de um Estado de direito democrático. Tudo isso, só pela mímica!
A população de Pilão Arcado estava pasma e vidrada na eloqüência daqueles gestos. O distinto deputado sabia mesmo como atrair as massas e, não só pela eloqüência de seus gestos, e de toda a retórica de seu corpo, mas também por que tinha uma plataforma de campanha realmente consistente e objetiva.
O poder de convencimento de suas idéias tomou todos de súbito, quando tirou de dentro de seu pequeno caminhão réplicas de árvores feitas de celofane, bancos de praça e automóveis feitos de caixa de papelão e começou a deixar claro o seu ambicioso projeto urbanístico para a vila de Pilão Arcado.
Criou praças, ruas, asfaltou estradas, avenidas, construiu pontes sobre o rio Fartura, fábricas, fumaças saindo de suas chaminés, semáforos, com crianças vendendo "drops" enquanto descansavam seus surrados e exaustos malabares entre um sinal vermelho e outro; construiu chafarizes imponentes, bairros de alta classe, condomínios com total segurança, zelados por pessoas que não morariam neles, arquitetou um grande centro de convenções, conveniências, compras, consumo, entretenimento, onde poderíamos mandar flores por telefone para amada e receber comida pronta em casa. Enfim, mostrou a inexorável trajetória para o futuro que havia desenhado dentro de sua plataforma eleitoral, e acrescentou que o destino de Pilão Arcado, a partir daquele dia, estava fadado à prosperidade completa e inequívoca.
O deputado também não deixou de fora de sua plataforma, a preocupação que sempre teve com a cultura, e para provar suas verdadeiras intenções para com as artes e entretenimento, foi que de repente, abriu a porta traseira de seu pequeno caminhão e, de lá saíram trinta talentosíssimos bailarinos surdos e mudos, que executaram uma belíssima coreografia acompanhada de uma música imaginária, tocada por dois músicos, um num acordeom sem teclas, e outro, numa rabeca sem cordas. Foi lindo! Toda população estava extasiada com tanta informação e arte.
Mas o ponto alto deste silencioso comício, foi quando o deputado através de sua eloqüência gestual, tornou clara a intenção de se construir ali, um cinema, uma sala de exibição onde ocorreriam a avant-premier de toda cercania, e para mostrar as condições objetivas para tal empreendimento, projetou em uma parede da praça uma película em preto e branco, e igualmente sem som nenhum, de um homem franzino e de bigodes dentro de uma fábrica apertando parafusos freneticamente, e disse ser o prenúncio dos "Tempos Modernos".
As crianças estavam bestificadas, as mulheres e os homens ora riam, ora choravam copiosamente com a película, Pilão Arcado estava dando um salto para o progresso, e seus habitantes se enchiam de um patético otimismo e amor próprio, e de uma fé abjeta e devassa num futuro promissor, um futuro que segundo suas contas estava bem próximo, por volta do ano de dois mil de nossa fé cristã.
E Aluízio, como não haveria de ser, também estava embevecido com tanta realidade e futuro, e foi ter uma palavra com o tal deputado. Após um longo beija-mão que se estendeu por uma fila quilométrica, Aluízio finalmente chega até a presença do ilustríssimo parlamentar, e contou sobre seu problema de saúde; disse ainda sentir dores e que as pessoas falavam que ele andava desmemoriado.

Continua...

sexta-feira, março 23, 2007

O Panótico nosso de cada dia



Foi no que eu saí da padaria, estava ela lá. Sua namorada, do outro lado da rua alertando-o sobre domo da câmera postado acima da avenida por um poste ao lado do semáforo, possivelmente focando-o no instante em que urinava na calçada naquela noite quente de sábado, após ter tomado alguns goles na mesma padaria.
- Meu bem! Você não sabe que agora tem uma câmera Aqui??
Neste mesmo instante num gesto de aparente insurreição, deboche, revolta vazia o sujeito dá uma guinada de cento oitenta graus e na seqüência dá umas três( presumo, não cheguei a contar) balançadas homéricas com o seu pinto em direção a câmera, ostentando garbosamente o seu falo, loquaz, e dizendo em alto e bom som para àquele poste com o domo da câmera,( que de uns tempos para cá é quem faz a ronda ostensiva na Avenida Princesa Isabel): Tá aqui ó! Se você não viu o do Alemão (do Big Brother) pode vê o meu aqui agora!
E foi bem nesse exato momento em que eu saía da padaria e o Alemão mostrava o seu pinto, é que também passava pelo local um grupo de evangélicos, que imagino, estivessem voltando de um culto, que pelo visto, pensou que ali naquela avenida fosse o Armagedon. Pois começou a travar o que parecia ser a ultima batalha entre deus e o “cuza ruim” na terra. Começaram a querer a tirar o “dêmo” do sujeito que pensava estar na “Casa” junto com oustros “brothers”. . O que no fundo não tiro a razão dele. Um monte de câmeras te vigiando a gente se sente mesmo disposto a aparecer.
Então começaram o chamar de “devasso”, “depravado”, “delinqüente”, “bandido”, “maconheiro”, “safado”, “e se eu tivesse passando com a minha filha agora”, “esse mundo não tem mais jeito”, “Meu pai eterno”, “chama o pastor pelo amor de deus”. E então pensei que naquela hora fosse mesmo o ARREBATAMENTO e eu seria abduzido junto com três pães de sal e uma caixinha de leite B.
A moça ruborizou-se, e eu, com o meu saco de pão e as caixinhas de leite B continuei a minha caminhada para casa, mas fui com aquilo na cabeça, obviamente não com o pinto do cara, mas a situação.
No outro dia, fui trabalhar, peguei o carro e ao sair de casa tive que parar no semáforo com o mesmo domo da câmera postado filmando meu carro, assim como todos outros carros atrás de mim, mas com a diferença de que fitei a câmera diretamente até o ponto de o sinal abrir e os outros carros buzinarem. E foi então que me dei conta que por toda a avenida equidistantemente tinha uma câmera instalada, até chegar à escola em que trabalho.
E o pior, nessa mesma escola, ela é toda tomada por câmeras de circuito fehado nos corredores, nas salas, pátio, até no banheiro dos alunos. De modo, que poderia-se fazer um filme todos os dias, desde o momento em que saio de casa, passando pelo meu dia de trabalho até o momento em que volto para casa. Agora, dá ou não dá vontade de mostra o pinto?
Sobre esses termos lembrei de um cablôco, pós estruturalista, chamado Michel Foucault. Ele tem um estudo que culminou com um livro chamado “Vigiar e Punir”.
Nele, o autor faz um estudo do sistema prisional após século XVIII e IX, que ele reproduz nos sistemas de clínicas psiquiátricas e escolas. Grosso modo, o que Foucault tenta nos explicar ele o faz através do chama de panótico. O panótico é um sistema de vigilância em prisões, em que consiste de uma torre no meio de uma construção exagonal, tal qual na foto acima, onde o diretor da prisão tem uma visada “pan” sem ser visto. Este é o conceito de panótico a visão do todo sem o todo ver quem o vê.
A partir desse momento, os detentos sem saberem se o diretor está ou não na torre os vigiando, eles por via das duvidas, reprimem seu comportamento se auto vigiando. Aí surge um outro conceito de Foucault que é o biopoder, a microfísica do poder, para ele a cidade é o lócus do biopoder e sua microfísica de vido suas classes perigosas.
Neste conceito ele nos explica que não existe mais o poder personalizado, ancorado em uma entidade, numa pessoa, num estado, numa organização pública. O poder e o controle social está difuso em nossa sociedade, através deste panótico eletrônico pósmoderno, é que nos reprimimos e nos auto vigiamos, o controle sou eu e você.
Isto é típico de sociedades totalitárias, o individuo se auto vigiar e punir, com o medo de já estar sendo vigiado por um panótico que o vê mas que ele não sabe quem está na torre. Vemos isso em filmes de regimes totalitários ( de diretita ou esquerda) como o nazismo e o Stalinismo, onde a perseguição não se dava só pelo Estado mas também pela sociedade que se auto perseguia.
Hoje parece que existe alguns loucos, que saem com uma web cam, que faz transmissão em tempo real, e invadem espaços que são contralados eletronicamente transmitindo ao vivo pela a internet fazendo assim uma contra vigilância.Talvez seja assim, com essa contra vigilância ou com o Alemão do Big Brother de Santana que poderemos nos sublevar contra isso tudo aí.
E sobre condições normais de temperatura e pressão é tudo isso aí memso




ALUÍZIO E O FÁRMACO – PARTE II


Aluízio se perde em significações

Para o sinistro, parentes e amigos desenvolveram maneiras de remediá-lo, arrumando um crachá e dependurando no pescoço de Aluízio com seu nome e endereço, também fizeram marcações precisas para o dia-a-dia, fixaram um cartaz dentro de sua casa com a hora do banho e das refeições, e colaram etiquetas nomeando os objetos de uso corrente na esperança de fazê-lo lembrar dos nomes e utilidade. Não havia perdido o juízo, somente a memória, então colocaram as etiquetas. Em sua estimada caneca de café colaram a etiqueta - CANECA- em sua colher de almoço e jantar, colaram a etiqueta - COLHER-, e assim foram marcando precisamente os objetos, forma e uso de cada um, tomando cuidado especialmente com esses dois: forma e uso.
E neste aspecto estavam muito bem detalhados os objetos cortantes e perfurantes. Na mesma linha colocaram de forma visível a etiqueta - AMOR - para os objetos de amor, a etiqueta - DESEJO - para os objetos de desejo, e assim sucederam as etiquetas- INEBRIANTE - CONVULSIVO - CRÔNICO - AGUDO - PASSIONAL - VAZIO - GRAVE – COLÉRICO...
Mas com o passar do tempo, Aluízio, num gesto sem motivo, tresloucado, típico de um estado de demência crônica, começa a trocar as etiquetas que nomeavam cada objeto, para com outros entre si. A da caneca colocou na colher, a da colher passou para os objetos escapístas, e destes para os passionais; inverteu os coléricos com os inebriantes, para depois trocar a etiqueta dos que fibrilam ventrículo e exortam sangue desenganado para com os objetos autodeterminantes, que a essa altura já não conseguiam mais se autodeterminarem, já que Aluízio renomeara todas as coisas, e ingressara neste momento, em uma realidade imaginária, uma realidade que foi capturada da factível por deliberada manipulação da palavra, só da palavra. E que tirou os objetos da véspera de um dia serem apenas objetos, pois a consciência de saber sê-los agora, era de Aluízio, que deu a eles outros sentidos, significados, usos e formas, reinventando uma realidade que até aquele momento, só fazia existir, porque cada objeto é uma metáfora de si mesmo quando não faz só existir. Era exatamente isso, Aluízio havia quebrado os valores absolutos, e revogado os veredictos sem apelação de todas as coisas.
Até o juízo onisciente e voluntarioso do sujeito que como ele, quando se vê a frente do espelho (que também é objeto), com a propriedade de refletir, logo pela manhã, ainda em sua toalete, antes do café, a imagem que outros sujeitos fazem dele, não se vê tal como é, e sim como um retrato falado que a opinião e o juízo alheio desenham em sua mente sobre si próprio, mas que não necessariamente corresponda a realidade. Isto é, se ela existir para ele, a esta hora da manhã, assim como existe embaçado pela fumaça do chuveiro o reflexo translúcido do espelho. Pois para Aluízio, nessas manhãs, o planeta inteiro parece ter sido criado há poucos minutos, provido de uma humanidade que recorda um passado ilusório, uma história universal fantasiosa, que nos legou a verdade, e da verdade o simulacro dos nossos dias.

Continua...

terça-feira, março 20, 2007

Atrevidamente pra ficar...

Fica difícil tecer algo sobre o trabalho de um grande amigo, mas vamos lá. Sentei para escrever esta resenha pegando carona no mais novo CD de Sandro Zamá: “Sou atrevido”. E confesso que a viagem foi muito agradável. Zamá passeia pela sonoridade de seu álbum como se conversasse com a gente. Sua voz cada vez mais afinada, afiada e direta nos chama para um bate-papo sobre o amor, sobre a vida e seus mistérios. Sua destreza musical torna as letras de seu parceiro Silvio Ferleite, verdadeiras mensagens que nos tocam pra valer. Zamá pegou na veia, e o melhor, de surpresa! Nos oferecendo um presente especial, como um carinho para os ouvidos – fruto de uma sofisticação que o artista busca incansavelmente faz tempo, e que agora parece se consolidar neste seu mais novo trabalho. Faixas como “Sonhos”, “Sou atrevido”, “Insanidade”, “Feitiço de amar”, entre outras, vieram para ficar em nosso repertório daqui em diante; são aquelas do tipo fáceis de memorizar, ao ouvir no carro indo pro trabalho ou em casa, bem ao estilo pop de qualidade. Zamá quer atingir a “massa”, quer que mais pessoas ouçam e reconheçam que dá para usar e abusar do pop, e que o seu “atrevimento” vem recheado de boas letras e excelentes canções, que servem para se ouvir sozinho, com a galera ou mesmo junto daquela pessoa especial, com um bom vinho...
Falei que era difícil. Só ouvindo mesmo para crer que o amigo e talentoso artista Sandro Zamá veio pra ficar.


Atrevidamente pra ficar...


CD: Sou atrevido / Zamá
Contato: (12) 9112 - 0687
sandrozama@yahoo.com.br

Nilson Ares / todalettra.blogspot.com

segunda-feira, março 19, 2007

Vá lá e veja!

Bom, vou destoar do viés literário ou filosófico, porque me considero café com leite na brincadeira aqui, e apenas deixar um convite a todos os estimados que freqüentam esse sítio. Trata-se da exposição do artista indiano, radicado em Londres, Anish Kapoor. Tá rolando no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, pertinho do prédio da Bovespa ( estação Sâo Bento do Metrô). O cara é muito badalado, fez bastante trabalhos em locais públicos pelo mundo afora, já participou de 2 bienais de São Paulo (a última inclusive). Mas é com razão. O trabalho do cara é impressionante. Bom, com certeza é uma oportunidade única, pois é a primeira vez que ele faz uma exposição individual na américa Latina. Aqui gente, em São Paulo! Uma hora de Pássaro Marron! de Graça! e ainda tem uma instalação dele embaixo do viaduto do Anhangabaú, que é ali perto. Atenção, é só até o dia 30 de março. É isso aí, deixei o recado. fui também!

marcio
links:
kapoor no ccbb
anish kapoor no Millenium Park

CONTO: ALUÍZIO E O FÁRMACO – PARTE I


O incidente de Pilão Arcado

Aluízio aproveita naquele mês, a vazante do Fartura e traslada para outra margem o papagaio, a bola, a peteca, o filho, a mulher e o boi. Enterra neste mesmo local, próximo a uma capoeira densa, o último exemplar, produto de sua longa pesquisa, pois já na semana seguinte, o rio sobe, e afoga consigo seu experimento e sua lancinante história.
Pilão Arcado, ribeirinha, a oeste do Fartura, arruamento precário, de terra, capela em taipa de pilão, algumas centenas de palafitas, e em uma delas, uma benzedeira que também era parteira, cinco casas de tolerância com adolescentes desesperançadas e velhas, muitos jovens sem dentes, alguns deles com próteses de ouro, e um número elevado de mortes por objetos cortantes e perfurantes, também por objetos agudos, objetos graves, crônicos, frios, inertes e reluzentes como uma faca desembainhada; vazios de sentido e de recurso, coléricos, passionais, objetos de amor, objetos inebriantes, convulsivos, que fibrilam o ventrículo esquerdo e exortam da aorta sangue desenganado, inescapáveis objetos auto-determinados, objetos escapístas, que vivem sempre às vésperas de um dia serem realmente só objetos, sem a consciência de saber sê-los, enfim, objetos triviais, que nos estão sempre à mão para qualquer eventualidade, reduziram a expectativa de vida deste lugar para a casa dos quarenta e cinco anos.
Todos eles, desde o nascimento, marcados pelo o mercúrio no sangue, ou nas costas, pelo o saco de terra e barro que carregavam na crença pia (a qual justificava a certeza de viverem ali), estarem carregando alguns gramas de ouro retirados do garimpo, já falido e ainda não sabido, um quilômetro a montante da Vila de Pilão Arcado.
Plantavam muito pouco para a subsistência, obviamente bem menos do que o necessário, e não por que a terra não era fértil, mas sim, por que se nutriam vigorosamente da expectativa do garimpo, num porvir que parecia pedaço de vento parado no ar, de uma brisa que chegou e não venta, numa esperança vã de sorrisos com brilho de ouro, sempre na espera longínqua, estática, objetiva, táctil, como uma pedra alheia de si, e reticente como um mineral a ser lavrado, no todo eram um aldeamento, nas partes um mineral, dúctil em seus significados e tenazes na falta de recurso para os mesmos.
E foi em uma das palafitas, precisamente a da benzedeira, que Aluízio nasceu e se criou dono de uma perspicácia que só dele. Era desde criança muito inventivo, fazia seus próprios brinquedos: carrinhos, barcos, vacas, patos, onças, cresceu assim. Mais velho, acompanhava a mãe pelo mato colhendo plantas e folhas para pajelança da velha. Depois, casado e com um filho, Aluízio arriscava-se também, para o sustento da família, no garimpo.
Num desses dias, de sol forte, muito mercúrio e pesados sacos de terra sobre as costas, foi que Aluízio, por um descuido toma um tombo feio, carregando um desses de quarenta quilos, lesionando gravemente a coluna vertebral e crânio. Não chega a ficar paraplégico, porém fica entrevado na cama com dores muito fortes durante quatro dias. Após algumas semanas, recupera-se da dor e já pode caminhar, mas os lapsos de memória continuam cada vez maiores e profundos, a ponto de se esquecer totalmente do nome da mulher, do filho, do próprio nome, das coisas do dia-a-dia, nomes de objetos, higiene pessoal etc.

Continua...

Texto: Alexandre Marques, o Coronel
Edição: Nilson Ares /
todalettra.blogspot.com

sexta-feira, março 16, 2007

CD "Sou atrevido" / Sandro Zamá

Sandro Zamá é cantor e compositor de São José dos Campos e integra a safra de novos talentos da música brasileira de qualidade.
Iniciou sua carreira nos anos noventa sob forte influência de grandes compositores da MPB, formatando com o tempo, um estilo próprio em suas criações que se estabeleceu com a mistura de tudo que ouviu e pesquisou.
Melodias marcantes e um jeito suave de cantar caracterizam a sensibilidade de um artista autêntico que se revela intensamente em sua música e letra, selando parcerias com amigos letristas que tornaram suas canções mensagens sobre a vida, o homem e o amor.
Suas composições estão em constante movimento, circulando por entre variados ritmos: do Regional ao World Music.
Na última quinta-feira Zamá lançou o seu mais novo trabalho, o cd "Sou atrevido", no qual traz parcerias com o jornalista e escritor Silvio Ferreira Leite.
O lançamento do disco ocorreu na unidade do SESC de São José, como parte do evento "O TEMPO PRESENTE - PERMANÊNCIA DA CRÔNICA LITERÁRIA NO BRASIL", em que seu parceiro lançou um livro de crônicas publicadas no Jornal Valeparaibano, por dois anos.

Para adquirir o CD ou fazer contato para show ligue:
(12) 9112 - 0687
E-mail: sandrozama@yahoo.com.br

Nilson Ares / Control C press

quarta-feira, março 14, 2007

Tales e o início da filosofia


Parque da cidade, observe a intencionalidade desse espelho d'gua.

Tales é considerado o pai da filosofia por ter dado a primeira explicação racional não apoiada no mito como fizeram a comunidade grega até então. Ele não procurou tão explicação fora da realidade natural , mas dentro dela e colocando que o arqué, princípio de todas as coisas, estava na água.
Tales percebeu que todos elementos que são constituídos de vida são úmidos, e logo, o seu contrário.
Mas por que foi tão importante esse salto de pensamento , apesar de nos parecer tão simples, pelo fato de buscar na natureza tal explicação e não fora da realidade da phisis.
Parece-me importante pensar em Tales nesse momento quando nos faz presente a questão ambiental e como esse elemento que foi o arqué da filosofia é trazido hoje como algo primordial em nossa vida. É preciso que saiamos do mundo das idéias para que saibamos pensar no real , e parece que aqui a filosofia naturalista dos pré- socráticos merecem ser lembrados, pois esses pensaram no arqué dentro da própria "phisis", onde está o "kosmos" do mundo.

Fui

Hemerson.

terça-feira, março 13, 2007

Cavernas Eletrônicas

A filosofia nasce da questão humana de “perguntar e perguntar” sobre as coisas que o mito não deixava qualquer sombra de dúvida. Suas fases de desenvolvimento passam pela admiração, razão e poética; o despertar da atenção sobre um fenômeno, a busca pela explicação racional e por fim a produção substancial ou teoria explicativa sobre o mesmo, respectivamente.
E dentro deste ambiente de exercício filosófico, Platão se preocupou em perceber a relação entre o mundo das idéias e o dos sentidos. Para o filósofo o que era eterno e imutável pertencia ao mundo das idéias, já ao que flui, o que era efêmero, relativo aos acontecimentos, era composto de material sujeito à corrosão do tempo, estava vinculado ao mundo dos sentidos.
Mesmo assim, Platão não prescinde deste universo de percepções e ainda afirma que para se ter acesso ao mundo racional, é preciso ter contato com os sentidos de modo que se formule teorias para explicá-los.
A filosofia de Platão procurou responder às questões sociais de sua época, refletindo sobre política e educação. Sua mais conhecida “alegoria da caverna” mostra que o filósofo deve exercer o papel de educador, ao contar que no meio de um grupo de pessoas que viviam no interior de uma caverna, sem contato com o mundo lá fora, um dos prisioneiros consegue fugir e, ao contemplar o mundo exterior fica perplexo com a beleza, a cor e o movimento de uma realidade muito mais interessante e perfeita.
Então o prisioneiro volta e compartilha a visão com os demais. No entanto, todos acham a história ridícula. Preferem crer que as coisas são assim mesmo, do modo como vêem dentro da caverna.
A educação concebida por Platão é muito bem demonstrada neste texto. A caverna, lugar de sombras e ignorância é iluminada pelo saber do filósofo, pois é o único capaz de fugir da caverna e olhá-la de fora, por intermédio da razão. O saber e a ciência estão lá fora. Dentro da caverna é só atraso, e o pior é que muitas vezes não é percebido.
Para Platão, os educadores devem “forçar a saída” da caverna sempre, por intermédio da educação com seus procedimentos que conduzem à verdade, pela razão que transmitirá uma imagem especular do mundo.
Estão registrados neste período os primórdios da ciência - sêmen da tecnologia, que com o aprimoramento da linguagem foi saltando no tempo até nos deparamos com uma realidade tecnológica perplexa que não podemos sequer tocá-la, por talvez estarmos enclausurados numa “caverna eletrônica” repleta de estímulos visuais que confundem nossas idéias; algo como a Biblioteca de Babel de Borges, ou a Matrix dos irmãos Wachowski, resta saber quem serão os sábios para nos livrarem desta.

Nilson Ares / Control C press

domingo, março 11, 2007

Charles "Organização Zero"

Era uma vez um grupo de sedentários todos "gente de bem", trabalhadores; alguns até com família constituida, que resolveram bater uma bolinha no Parque da Cidade, motivados pela idéia de um sujeito gente boa que fazia parte da turma, um tal de Charlinho.
O sujeito enviou e-mails para todos com duas semanas de antecedência, marcando o evento para sábado, dez de março, às 16 horas em ponto - horário de Brasilia.
Neste meio tempo, todo foram se comunicando. Um sugeriu que se alugasse uma quadra de "futebol society", outro pediu para mudar o dia do evento para que participasse, enfim e por fim todos confirmaram presença, fazendo com que o evento ganhasse uma projeção além do esperado.
Eu, como sou amigo de todos, também fui convidado e me preparei psicológicamente para este dia.
Separei de minha coleção, a lendária camisa 7 do meu timão, limpei meu velho tênis e esperei ansioso pelas dezesseis horas do relógio mais demoradas de se passar dos meus últimos tempos.
O dia estava bom, ensolarado, ventava bem, estava fresco, o campo do Parque vazio. Imaginei: é hoje!
Lógico, devo ressaltar que não domino nem um por cento desta arte maravilhosa que é jogar futebol, mas estaria entre os amigos mais chegados que tenho, correndo atrás da bola, com a 7 do meu Corinthians e ainda por cima "cascando o bico".
Mas...daí ví o Zeco, e me disse que o Charlinho não viria mais - mulher passando mal no hospital- , e que um tal de Diogo traria a bola. Depois chegaram o Magano e o André.
Papo vai, papo vem e nada da galera. Teria o Charles desmarcado com todos, menos com a gente?
A hora passou e já estávamos perto das dezessete horas. O zeco emputeceu e foi embora.
E agora? O André ficava procurando com os olhos, incansável e em vão. Ninguém apareceu, nem o cara da bola...
Até que do nada...surgiu a figura do Coronel Dentes, e, quando se aproximou nos soltou essa: Charlinho Organização Zero! e caiu na gargalhada...
Rimos também, ficamos putos também...
Era só derrota, e a minha 7 voltou para o guarda - roupas sem ter que precisar lavá- la.
Não caio mais nessa! Não contem comigo! Fica a lição.
Não dá para combinar coisa com neguinho que é só derrota, Zero de Organização.
Ah...! E depois os caras foram atrás do "Gil" e voltaram ao parque para bater outra bolinha, mas dessa eu não pude participar.
Até.

(Dedico este texto ao Doutor Sócrates, Casagrande, Biro-Biro e Wladimir.)

terça-feira, março 06, 2007

Heráclito e Parmênides

Parece-me que volta à tona a questão do movimento como essência do mundo. Essa idéia do pré-socrático Heraclito encantou-me quando nas aulas de filosofia o movimento constante era arqué ( princípio de tudo), pois pela força dos contrários temos a vida e a morte, a semente e a arvoré, o quente e o frio o por aí vai.
Acontece que este movimento que ocorre na tecnologia assusta demais quando a antítese é tão rápida perante a tese que o movimento é quase imperceptível.
Vejamos a evolução pela qual passamos nos últimos 30 anos . Peguemos um objeto físico e sua aplicação na realidade: a tv.
A tv nos anos 70 nos foi apresentada de forma surpreendente aos podermos assistir a gloriosa seleção brasileira em cores.Hoje temos uma televisão que dá menos do que 10 cm de largura de forma gigantesca que é capaz de ser conectada a um computador e fazer conference call com o mundo, aos mesmo tempo em que somos o Ronaldinho gaúcho no gramado virtual do play 03, aqui tenho meu amigo André, que apesar de pouco correr no gramado, dissem que é um craque, mas deixemos as divagações para outro momento.
O que quero pensar e trazer para colocar pulgas para coçar nossas orelhas é que o movimento é tão rápido que nosso olho parece não captar, assim como nossa mente e voltemos a concepção Parmenediana ,que o movimento é ilusório, que é uma cópia do real. "O ser é . O não ser não é.O ser não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Ou ele é , ou não".
A velocidade atual lembra-me quando criança quando olhava para o avião no céu e parecia quase imóvel, quando a velocidade na verdade era altíssima.O movimento excessivo para nos levar ao seu contrário, pelo menos no que tange ao pensamento .Sei lá.

Fui.

Hemerson.

segunda-feira, março 05, 2007

A movimentação do Jazz entre culturas


Objeto de crítica de um dos principais pensadores da Escola de Frankfurt, Theodor W. Adorno, o jazz era caracterizado como a “regressão da audição” termo expresso em um dos artigos do sociólogo escrito da década de 40.
De acordo com definições sobre cultura popular que é produzida pelas manifestações populares, oriundas empiricamente do seio tradicional e de cultura erudita que deriva da produção cultural dos letrados, com normas científicas buscando relação de causa e efeito; sob a ótica de Adorno este estilo musical ganha o rótulo de cultura de massa, que a literatura especializada localiza entre os dois tipos já citados, pois se tratar de uma nova designação para atender a demanda por um novo tipo de consumo transformado pela industrialização sobre o modo de produção daquela época, com o objetivo de formar consumidores sem distinção de classes, ou seja, massificando-os como um todo.
Mas para que a cultura de massa possa se firmar, ela vai precisar dos meios de comunicação (Rádio, TV, Jornais, Indústria fonográfica, etc.) de modo que a torne onipresente, participante do cotidiano das pessoas, de várias formas estimulando e padronizando os gostos para atender então a necessidade deste consumo desenfreado e quase mecânico.
Sendo assim, o jazz enquanto estilo musical nascido também no seio popular (nas plantações de algodão às margens do rio Mississipi, nos EUA), ganha notoriedade pela sua qualidade estética e artística e se firma nas manchetes dos jornais, nas ondas do rádio e posteriormente ganha as lentes da então iniciante Televisão estadunidense, pelas mãos brancas.
Hoje sabemos que este quadro já não existe. O jazz circula por um mercado elitista em que apenas uma faixa da sociedade com alto poder aquisitivo consome os produtos que são lançados, como CD’s, shows, DVD’s, etc.
É interessante descobrir como foi este processo de desmassificação que colocou o jazz no hall dos estilos que apenas uma elite dominante significativamente o consome. Um tipo de música banido do alcance dos excluídos da sociedade contemporânea, ilustrando um paradoxo, pois o vigor negro dos solistas e crooners de New Orleans nasceu justamente desta condição suburbana e marginal embutida nos lamentos das canções de Billy Holliday ou nos solos de Charlie Parker.
Entender como um estilo se movimentou por entre três tipos de cultura (popular, de massa e erudita) será importante para descobrir como ocorreu esta “desapropriação” das camadas populares pela elite, tendo como mediadores os veículos de comunicação de massa.


Nilson ares / CONTROL C press