quarta-feira, agosto 29, 2007

Histórias do Uruguai

"(...) Para mim teria sido difícil encontrar o túmulo sozinho; estava debaixo de uma árvore cuja copa era de um verde claro. A terra preta, recém removida, estava rodeada de estacas brancas de um curralzinho que parecia um berço. A cruz estava meio inclinada para frente, como se olhasse para baixo. O soldado estava a alguns metros de mim e não tinha apeado da mula. Comecei a me sentir mal; olhava para o chão, mas, como supunha que o soldado olhava para mim, não sabia o que fazer. Não me ocorria nenhum rito em homenagem à menina; de bom grado teria perfumado a terra, regando-a com o vinho. Mas não sabia o que o soldado pensaria. Também não tinha vontade de comer; mas devia tirar o pacote dali, pois os cães poderiam revolvê-lo profanando o túmulo. O melhor seria voltar outro dia e trazer o gatinho e a plantinha.
Em boa parte do caminho de volta, o soldado foi comendo o conteúdo do pacote e tomando o vinho. A princípio, quando ele havia começado a comer, veio-me um grande apetite; mas não me parecia bem pedir-lhe um pouco do que eu lhe dera. Depois me entreguei a meus pensamentos e consegui me lembrar de muitas coisas da menina; mas de repente acordei; foi quando o soldado espatifou a garrafa contra as pedras. Depois, com a boca ainda cheia, ele me disse:
-Nunca consegui saber se ela era minha filha ou minha sobrinha.
Fiquei cravado no caminho; e enquanto engolia o que acabara de ouvir, via a mula caminhar no meio das pedras e lembrava de uma mulher saindo de um cabaré que eu havia visto no meu século. Corri até o soldado e perguntei:
-E seu irmão, o que diz?
Ele olhou para mim enquanto seu nariz em gancho bicava ao compasso dos passos da mula e me respondeu:
-A mesma coisa.
(...)"

trecho do conto Lucrécia, em O Cavalo Perdido e outras histórias, de Felisberto Hernández.

Gostei muito dos contos desse escritor uruguaio. No princípio, tive a falsa impressão de se tratar do fantástico, daquela reordenação das leis naturais que torna possível o extrordinário. Mas a estranheza da narração, seu ritmo incomum, suas imagens perturbadoras me desinstalaram da poltrona confortável e me perguntei, como assim?
Julio Cortázar (prólogo, ed. Cosaicnaify, 2006) sobre Hernández: "Deve-se pedir mais a um narrador capaz de aliar o cotidiano ao excepcional a ponto de mostrar que eles podem ser a mesma coisa?"
Mas nem precisa pedir emprestado porque não é meu e não tenho esse vício de emprestar a terceiros o que não é meu e não fui autorizado a.

segunda-feira, agosto 27, 2007

dito do 608


Mineiro radicado paulista, católico apostólico romano, seu Toninho como era chamado pela vizinhança sofria de perturbações auditivas fazendo dele um merecedor de atenção especial.
De família pequena, seu Toninho mora num sobrado no pé do morro em um beco sem saída com a esposa e filhas. Freqüentador esporádico dos bares da vida e assíduo da igreja, o alegre e descontraído homem defende de unhas e dentes que “todo homem nasce católico”, postura essa que quando toma seus pileques dá margem à família para destratá-lo com o mesmo sermão que ele pratica dentro da sua igreja.
Num certo dia, o telefone não pára de tocar no bonito sobrado onde a família vive. Na maioria das vezes a pessoa procurada é Quitéria, moça bonita, solteira, trinta e três anos, olhos castanhos, cabelos pretos, pele morena, elegante e sensual. Formada em engenharia agrônoma ela aplica seus conhecimentos na sua empresa de consultoria.
Quitéria tem o péssimo hábito de corrigir seu pai em tudo; implica com sua maneira de falar, se expressar e até mesmo por ser surdo. O jeito rústico às vezes ignorante dele faz se passar por bobo alegre e isso a incomoda profundamente.
Com sua simplicidade e características pessoais incluindo atitudes positivas e defeitos, seu Toninho fez da sua família pessoas de bem, distribuindo responsabilidade, carinho e afeto da forma que melhor lhe ensinaram.
Devido sua deficiência auditiva seu Toninho comete alguns enganos que chegariam a ser cômicos se não fossem trágicos. Imagine um surdo acompanhando pelo rádio ou pela tevê um campeonato de futebol acompanhado de ansiedade pelo resultado do seu time favorito; recebendo notícias trágicas ou penetrando em conversa alheia. Ele se atrapalha e muita vez deturpa as informações.
Seu Toninho é um católico roxo como dizem no popular e esses tipos de diversões é considerado como vícios e não são bem vistas pela comunidade cristã. Isso inconscientemente, maltrata ele, porque não pode nem comemorar as vitórias com os amigos num bar.
Mas mal sabe ele que pensar e fazer escolhas são um direito de todos. É preciso ter coragem para tomar a atitude de pensar, pois podemos nos deparar com respostas que podem nos levar a insegurança, tristeza, alegria e; todas essas emoções para alguns são melhores adormecidas ou apenas contidas dentro de si, desta forma fica mais fácil fazer alguém feliz sem se importar consigo mesmo.
A vida muitas vezes é levada com a barriga como dizem, será que é porque ela não pensa?
O beco faz parte da vida da família que nem o percebia devido à implicância com o modesto e atrapalhado pai.
Enquanto isso, a vida corre solta lá no pé do morro. Choro de criança não se sabe se de fome, dor ou manha, briga de casal – socos, gritos, cadeiras e copos que voam gente dançando com música arrebentando os decibéis suportáveis por todos os seres terrestres, cigarras no pé de ameixa anunciando o calor quente da estação, bêbadas vivendo suas mágoas, garotos drogados pelas calçadas, a repetição constante do papagaio do vizinho...
A chuva de verão cai forte e a energia elétrica é interrompida pela brusca escuridão daquele beco. É gente gritando, a criançada em polvorosa e os pais preocupados com seus filhos a mercê da situação.
Quanto mais o tempo passa, o vento e a chuva aumentam causando danos inestimáveis debaixo daquele céu negro da cidade exatamente no bairro São Judas na Rua Altamiro de Jesus onde depois de horas de angústia aparece o seu Toninho dentro de uma bermuda, camisa cavada, bota sete léguas, chapéu de palha, um cigarro meio molhado entre os dentes segurando um guarda-chuva quebrado. Ele está embriagado de impaciência no ponto de ônibus próximo do beco a espera de Quitéria que partiu a São Paulo de manhã e ainda não voltou.
Depois de horas e nada de Quitéria aparecer, o velho e bom pai volta para casa tensa e cabisbaixa. No escuro ele tateia pela casa até encontrar uma cadeira, se acomoda e espera pela boa notícia. Não há mais nada que ele possa fazer.
Trim-trim-trim (toca o telefone).
De um salto seu Toninho atende o chamado:
- Quem é você?
Do outro lado dos fios e cabos de fibra ótica responde o caminhoneiro que estava parado na Via
Dutra para pedir socorro:
- Alô Toninho? Alô Tonho? É o Dito do 608, tudo bem?
- O fio como é que ocê ta? Bem?
- Olha o caminhão quebrou e preciso da sua ajuda.
- O que? Não estou escutando nada.
Percebendo que o pai está tendo dificuldade de entendimento do telefonema do seu quarto a filha resolve pegar a linha na extensão e diz:
- Alô pai?
- Filha, minha filha onde ocê ta?
- Pai, tô aqui em cima.
- Em cima onde? Quem é esse homem, esse barulho?
- Alô Maria, ainda bem que você está aí! disse o caminhoneiro.
- Não, eu não sou a Maria, sou a Quitéria e isso é um engano, espere um momento.
Quitéria enfurecida desce as escadas da casa abraça o pai pelas costas dá-lhe um beijo e diz:
- Pai, estou aqui!
- Nossa filha! Como você chegou rápido!
- Espere um momento pai.
Ela pegou o telefone explicou ao Dito do 608 que seu pai também se chama Toninho mas que não era o Toninho da expedição que ele procurava.
O homem entendeu, desligou e Quitéria então foi explicar ao pai que havia chegado em casa há horas e estava descansando em seu quarto quando a chuva começou e a luz apagou. Ela aproveitou e reforçou ao pai o que é uma extensão telefônica e para que serve.
Dentro da sua ingenuidade e ternura paterna seu Toninho só soube abraçar a filha e agradecer a Deus por tê-la protegido da intempérie.

domingo, agosto 26, 2007

A fabricação da Cachaça


Amigos,

ante a tremenda preguiça de escrever , junto a falta de assunto, puz-me a procurar vídeos interessantes por aí. Eis no que deu: a fabricação da cachaça. Dêem uma olhada, quem sabe...

Tito, O Frei

terça-feira, agosto 21, 2007

Condição Pós-moderna

Refletir sobre nossa contemporaneidade frente aos auspícios do que muitos vem chamando de pos-modernidade ou modernidade tardia nos remete a uma sensação de vertigem, e por que não de exclusão.
Concordo com o Sarsa na questão da dimensão da representação do homem na sua economia das trocas simbólicas, mas a questão material ainda continua premente, muito embora o materialismo histórico e dialético não nos traga padrões epistemológicos plenamente satisfatórios para determinadas análises dessa hiperealidade atual, mas ainda são usados para explicar a realidade e a natureza humana, assim como a física clássica de Newton não foi invalidade pela relatividade de Einstein.
Não que eu seja marxista, mas volta a tocar na relação do materialismo histórico frente a nossa modernidade tardia, ou a lógica cultural do nosso capitalismo tardio.E para tanto enxergo na técnica, sobretudo nas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) as bases para a formação dessa hiperralidade a qual vivemos. A hiperrealidade não é apenas uma cópia da realidade, mas sim uma reprodução em escala global e infinita de uma cópia da realidade, fazendo com que o tamanho dessa reprodução seja tão grande que passa-se a ser uma outra realidade, o que se estão convencionando chamar de realidade virtual. O que está sendo uma marca da nossa comtemporaneidade – a pos-modernidade
Por outro lado não se pode tomar a pos modernidade como um outro período histórico, em que uma linearidade histórica supõem que a modernidade acabou e que agora se inaugura um período pós moderno. Não é isso, a história não segue um linearidade positivista. A pos modernidade é uma constatação da crise dos arquétipos da modernidade, tais como o Estado Nacional e o Liberalismo.
A condição pos moderna é marcadamente orientada pela crise das grandes metanarrativas, tais como o sujeito, a razão cartesiana, o progresso, o legado da ilustração, espírito hegeliano, o equilíbrio keynisiano, o conceito de totalidade e verdade etc..
No campo econômico, a pos modernidade abriu espaço para uma versão do liberalismo (o mesmo liberalismo inglês e francês fundadores da modernidade, com a criação dos Estados Nacionais, da liberdade econômica, do cidadão), articulado para o capital global legitimado pelos organismos multilaterais e convenções internacionais, como o famoso consenso de Washinsgton, tais como desregulamentação dos mercados de capitais, ataque ao equilíbrio keynisiano, a idéia de um estado mínimo, o fim do welfaer state, privatizações, auto gestão dos mercados e suas leis naturais como o único fator regulatório da economia.
As cidades, regiões e localidades também têm sua reafirmação contrariamente a idéia de aldeia globao do Mcluhan.
Por exewmplo, existe uma capacidade de controle global da infra-estrutura de empregos e da relações de produção em SJK, que podemos realcionar a ordem social urbana de nossa cidade com eventos globais, como a crise das industrias bélica e aeronáutica nas décadas de 80 90 frente as efemérides da conjuntura geopolítica mundial.
O espaço da cidade de SJC passa a ser elaborado segundo os mesmos critérios de eficiência e racionalidade técnica que comanda o processo técnico-cientifico-informacional do modelo de desenvolvimento assumido pela sociedade e gestão pública. É um novo conteúdo político e social que vai se viabilizar e concretizar uma nova estrutura sócio-espacial e vice versa.
O avanço técnico redefine as relações sociedade espaço, criam-se novas formas espaciais e as anteriores se ajustam as novas determinações. O espaço segundo Milton Santos também é material e histórioco, ele poderá ser deformado pelo digital mas não desaparecerá.
"Antes mundo era pequeno, por que terra era grande
Hoje mundo é muito grande por que terra é pequena, no tamanho da antena parabólica Mará"

Procura

"Nada a poderia pertubar mais do que olhar para fora e aguardar de fora respostas a perguntas a que talvez somente seu sentimento mais íntimo possa responder na hora mais silenciosa"
Raine Maria Rilke - Cartas a um jovem poeta

segunda-feira, agosto 20, 2007

A equivalência de um bit?

Bom, comentando as duas colunas, percebi um atraso crítico na primeira e um avanço na posterior. A questão "já é" a seguinte: não se trata de relexões materiais.
Como Mc Luhan, Lyotard, Baudrillard, Flussel, entre outros, devemos observar a "imaterialidade reprodutiva" destes nossos tempos, onde o ciberespaço se faz representar como principal referência. Mas não caiamos na ilusão de que o imaterial, virtual, em tempo real, não exista.
A forma diluída e liquida da pós-modernidade constitui sua própria identidade, uma identidade reticular e não mais linear como estávamos - como bons fordistas que somos - acostumados a analisar.
Assistimos ao período de diluição material das coisas. Herdamos ainda a analogia que prevaleceu sobre a maioria da interfaces que usamos no passado: LP, Fita K7, VHS, etc.
A técnica nos guiará daqui em diante como nunca nos guiou, e o passeio será cada vez mais ubíquo, cosmopolita e vertiginoso.
Eis aqui algumas colocações de Mc Luhan: " A cidade já não existe mais, salvo como espectro cultural para turistas. Qualquer botequim à beira da estrada, com seu aparelho de televisão, jornal e revista, é tão cosmopolita quanto Nova York ou Paris.
Sobre a mudança do refencial material para o imaterial, ele nos diz: "A cobertura global instantânea do rádio e da televisão torna a forma citadina insignificante e despida de função. Outrora, as cidades estavam relacionadas com as realidades da produção e da intercomunicação. Agora não. As novas comunicações não são pontes entre o homem e a natureza: são a natureza.
Gutemberg tornou toda a historia simultânea: o livro transportável trouxe o mundo dos mortos para o espaço da biblioteca de um cavalheiro; o telégrafo trouxe o mundo inteiro dos vivos para a mesa do pequeno almoço do operário. A fotografia foi a mecanização da pintura em perspectiva e do olho parado; derrubou as barreiras do espaço nacionalista, vernáculo, criado pela impressão. A impressão alterou o equilíbrio da fala oral e escrita; a fotografia alterou o equilíbrio do ouvido e do olho. Telefone, gramofone e radio são as mecanizações do espaço acústico pós-letrado. O radio leva-nos de volta às trevas da mente, às invasões de Marte e Orson Welles; mecaniza o poço de solidão que é o espaço acústico: o palpitar do coração humano aplicado a um sistema PA fornece um poço de solidão em que qualquer um pode se afogar. O cinema e a televisão completam o ciclo de mecanização do sensório humano.
Com o ouvido onipresente e o olho móvel, abolimos a escrita, a metáfora audiovisual especializada que estabeleceu a mecânica da civilização ocidental. Ao ultrapassarmos a escrita, recuperamos a nossa totalidade, não num plano nacional ou cultural, mas cósmico. Evocamos um homem supercivilizado, subprimitivo. Ninguém conhece ainda a linguagem inerente à nova cultura tecnológica; somos todos cegos e surdos-mudos, em termos da nova situação. As nossas palavras e nossos pensamentos mais impressionantes atraiçoam-nos ao referirem-se ao previamente existente, não ao atual".
Grifei isto porque nos choca constatar que tudo o que julgamos saber se torna uma efeméride e se desatualiza num piscar de olhos - em tempo real.
A vida daqui pra frente poderá ser um imenso HD, mas nosso registro, nossa passagem terá de lutar para ter a equivalência de um bit.
Nilson Ares
Fonte: Cinco dedos soberanos dificultam a respiração / Marshall McLuhan
Explorations in Communication - 1966
Beacon Press, Boston

A Arte nos Tempos da Reprodutibilidade Técnica

Caríssimo Frei Tito, concordo contigo a principio em sua ultima postagem, mas existe algumas questões pertinentes à sua observação sobre a técnica que gostaria de comentar, mas acabou saindo uma coluna.
A banalização do objeto estético pela sua reprodutibilidade técnica é algo que vem chamando a atenção desde os Frankfurtianos, como Adorno e Benjamin, este ultimo, até elaborou um estudo chamado “A Arte nos Tempos da Reprodutibilidade Técnica”
Gostaria de chamar a atenção não somente para a técnica de execução de uma obra de arte mas também de sua difusão e reprodução. A escola de Frankfurt foi pioneira na análise material histórica, identificando a expansão do consumo no inicio do século passado propiciado por um rearranjo do sistema produtivo que aferiu ganhos de escala na produção e a criação de novos produtos, através do Taylorismo e do Fordismo, a partir desse momento a arte também passa a ser concebida como produto que pode ser reproduzido em escala industrial para consumo massivo, e os meios técnicos de difusão e reprodução que começaram a ter um salto de desenvolvimento nesse momento foram decisivos, a começar pelo o rádio.
Mas antes de considerar a técnica a premissa básica da cultura de massa, é preciso conceitua-la, e dizer que a técnica, assim como a ciência, nunca é neutra, e sim carregada de valores,ela sempre vem acompanhada de um programa de transformação social, que pressupõem um projeto ideológico definido, e que tensiona um significado na organização cultural. Por tanto, a técnica por si só já é portadora de significado mediante qualquer conteúdo veiculado por ela, é o que McLuhan diz quando “ o meio é a mensagem”, o próprio significado material da técnica(o meio) prescinde de qualquer significado (a mensagem) veiculado por ela.
Walter Benjamin tinha razão, ao dizer que o significado do valor estético do objeto artístico estava trasladando do objeto para o significado do aparato técnico que o reproduzia. Em outras palavras, é o que o Andy Warhol fazia na arte pop, um exemplo clássico são as serigrafias da Marylin Monrooe em que ele fez reproduzindo o rosto dela em várias cores, na verdade o objeto estético dele não era o rosto da Merylin e sim como ele reproduziu o seu rosto e qual técnica utilizada.
Hoje essa questão toma um contorno ainda mais complexo com as tecnologias digitais. Pois quando num momento histórico anterior a este que vivemos, em que os suportes sintáticos eram definidamente separados, como o da música não era o mesmo da fotografia assim como este também era incompatível com o do texto, hoje há uma convergência entre os suportes sintáticos fazendo com que todos os signos sejam exprimidos em bits, esse bit serve de suporte pra qualquer outro signo independente de sua natureza. Os signos encontram-se realcionados em uma nova dimensão socioespacial em que o materialismo histórico tradicional talvez não nos traga modelos de análises satisfatórios para compreende-los, dimensão essa que se convencionou chamar de ciberespaço.
Veja a música por exemplo, em que existe uma grande disponibilidae de registros fonográficos, que podem ser recortados e colados como samplers que podem muito bem ilustrar um jingle para as massas, ou servir de suporte para manifestações musicais de cunho multicultural como Lenine faz em “Pernambuca falando para o mundo” com samplers de Jackson do Pandeiro. Ou mesmo os vídeos que podemos fazer e postar nesse blog, juntamente com os textos, fotos, e quem sabe, quando a rádio digital estiver operando no Brasil, a nossa rádio Comuna Piraquara.
Assisto, confesso, com certa perplexidade a isso tudo, a modernidade tardia ou como muitos preferem, como Lyotard, a pós modernidade. Mas isso já é um outro debate.



Não é o poder da imagem ou o poder arrebatador da voz que decide a grandeza da criação mas a eficiência das maquinas reprodutoras e copiadoras - fatores muitas vezes fora do controle. Andy Warhol tomou essa situação como parte integral de sua obra, inventando técnicas deram cabo da própria idéia de original, importando muito mais as copias vendidads do que o que estava sendo copiado.
(Zygmunt Bauman in Modernidade Liquida)
Este livro do Bauman está com o Marcinho, quem quiser pode pegar!





domingo, agosto 19, 2007

O artista e o reprodutor

Há uma diferença que me parece essencial entre o artista e o reprodutor de arte. Por isso, os reprodutores podem ser um artista, aquele que atráves da técnica aprendida nas escolas são capazes de executar Baden, Jobim, Van Gogh e outros nos mais vastos campos da arte, mas não serão " o artista". Esse se diferencia pelo poder da criação que faz a arte renascer de modo que não conhecíamos até então , ele também detém a técnica , mas como um antropófago ele engole as artes e traz a novidade que faz arte renascer . Por isso os gênios são reduzidos e trazem consigo novas escolas até então impensadas.
Vejamos por exemplo o escritor José Saramago. Ele criou uma maneira nova de pontuar, usando somente ponto e vírgula, o que quebra as regras até então aprendidas nos bancos escolares. Assim precisamos além de mais atenção, usar também a imaginação,pois temos que imaginar volume e intensidade e outras características que eram dadas pela interrogação, exclamação e outros pontos que o autor nega a colocar.
Outra característica é que o novo incomoda e gera pânico aos conservadores, talvez um dos casos mais exemplares está na negação de reconhecimento das obras de Anita Malfatti por Monteiro Lobato que na época tinha uma influência muito grande no período. Tal fato deixou Anita em má situação.
Há um campo vasto para discutir tais questões, mas deixo para os comentáristas de plantão.

Tito, O Frei.


20 anos da morte de Drummond


" Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e
farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo
e de todos, nos estádios. Mas, como é também um deus cruel, tirou do
estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino.
Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas
tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha
disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho"

Mané e o Sonho(1983).

By

Frei Galvão


sábado, agosto 18, 2007

Meu sangue, meu samba!


Ah,
Meu sangue
Ah,
Meu samba!

Ambos correm nas veias
Embalando versos,
Desenhando canções
Que o violão faz falar...

Ah,
Meu sangue
Ah,
Meu samba!

Quanta alegria
Vem à tona,
Quanto saudosismo
Na mesa deste bar.

Sei que os tempos
São outros...
Quanta saudade de Cartola
De Noel, de Pixinguinha.

Ah...
Chama mais uma
Uma cachaça
Uma canção
Não pára não...

Deixar chegar cavaco, pandeiro
Quem sabe o "sete cordas",
Que hoje eu vou chorar
Meu sangue, meu samba.

Vou ficar de bamba,
Celebrar a tradição.

Nilson Ares, 18/08/2007.

quinta-feira, agosto 16, 2007

O Infante

Empunhava um surrado violão
Fazendo os dedos cantarem uma simples e bela melodia
Oriunda do lugar mais fundo de seu peito
Onde guardava um coração nunca antes partido

Pregava de maneira singela suas esperanças
De uma vida inteira com pés descalços e fubecas
Balas de goma e pipas dançarinas no céu azul
De primeiros amores todo dia, a partir de hoje

Não conhece ainda a arte da boemia
Nem as musas que inspirarão suas canções
Mas ele já sabe desde pequenino
que enquanto tiver um violão será sempre um infante.

Mario Crema

terça-feira, agosto 14, 2007

O Menino Que Queria Morar No Micro Ondas

Domingo, dia dos pais, durante um encontro furtivo com um aluno (o Zapata) no bar em que eu tomava um rabo de galo, foi que ele me fez três perguntas: a primeira era como funcionava o micro ondas, a segunda era por que eu o chamava de Zapata se o nome dele era Emiliano, e a terceira era se realmente eu tinha esse costume de tomar cachaça nos domingos, ou se, só tomara naquele por ser dia dos pais e estava feliz. Capciosas as perguntas, pois se tratava de uma criança de doze anos que foi comprar massa de tomate pra mãe pro macarrão de domingo justamente naquele bar em que eu estava.
Bom, comecei pela pergunta mais fácil, o micro ondas. Isso por que, ele queria que o bicho funcionasse de porta aberta para que a radiação eletromagnética do aparelho esquentasse a casa dele no inverno, ou se seria possível morar dentro dele, porque ele viu que no Japão as pessoas alugam algumas estruturas em forma de caixote retangular toda climatizada com som e televisão para pelo menos dormir uma noite, caso esteja de passagem.Depois de toda minha tentativa de explicar o que é radiação, energia, espectro eletromagnético acabei concordando com o Zapata sobre a possibilidade de morar num micro ondas. Sim, é perfeitamente possível, o problema deve ser no verão!
A segunda foi sobre o Zapata. Expliquei desde o Porfírio Díaz passando pelo EZLN(Exercito Zapatista de Libertação Nacional) até chegar ao comandante Marcos, explanei com toda a retórica e didática que só uma mesa de bar pode propiciar.
No que eu passava pra terceira, entrou um sergipano que não só na fisionomia, mas sobre tudo, no gestual lembrava muito o Quentin Tarantino, não sei bem direito o nome do caboclo, mas a cena foi uma tomada clássica desse ator, roterista, diretor sei lá mais o que..
A parada era seguinte, esse sergipano tinha comprado uma casa inteira nas Casas Bahia, tudo, jogo de sofá, cozinha, guarda roupa, cama, geladeira, televisão LCD 34”, som de 40watts, 75PMPO, DVD, até computador. Vendeu tudo pela metade do preço pro pessoal da rua, deu um calote nas Casas Bahia e voltou de avião pra Sergipe ( agora imagine a quantas anda o caos aéreo). Não é que a mulher dele, que ficou o esperando aqui mais de dois anos, (pois ele disse que só ia visitar o pai doente e logo voltava), entregou o endereço dele lá de Sergipe pro Juiz!
Nesse dia dos pais, Tarantino voltou, mas não foi pra visitar o seus filhos, entrou rasgando no bar, foi direto na Maria das Graças sua mulher ou ex-mulher sei lá, e chamou-a de vagabunda, vadia, rampeira, puta. Disse que ela não poderia ter feito aquilo com ele. Pra piorar a situação ela joga o copo de cerveja na cara dele, e ele emenda um direto de esquerda cheio na boca dela e na seqüência um de direita no olho.
O pessoal do bar, apaziguadores de plantão, seguraram o Tarantino, enquanto Arlete, que foi amante do truculento gritava: bota pra fudê!!
Era o coméstico caótico da desgraça, de um lado o pessoal que aparecia no bar somente aos domingos, trabalhadores, pais de família tentando conter o entrevero, de outro os bêbados, barriga d`água, maconheiros, cheiradores, pipadores de crack todos amigos do Tarantino que não estavam nem aí pro acontecimento, o bar era dividido entre a ala dos bacanas e dos fodidos.
Optei ir embora, e de saída o meu aluno me cobrou da terceira pergunta que não havia respondido, disse à ele que o diretor do meu Instituto de Pesos e Medidas, o Nego, cachaceiro contumaz daquele bar, poderia responder por mim. No dia seguinte, segunda feira, encontro meu aluno na escola com uma camiseta preta escrito com letras grandes – ZAPATA VIVE!

Viver

“Ser artista não significa calcular e contar, mas sim amadurecer como a árvore que não apressa a sua seiva e enfrenta tranqüilas as tempestades da primavera, sem medo de que depois dela não venha nenhum verão. O verão há de vir. Mas virá só para os pacientes, que aguardam num grande silêncio intrépido, como se diante deles estivesse a eternidade.

Aprende-o diariamente, no meio de dores a que sou agradecido: a paciência é tudo”

Raine Maria Rilke – Cartas a um jovem poeta


Abraços

Rei da Vela

domingo, agosto 12, 2007

Domingo, quase dez da noite


Domingo, quase dez da noite.

Penso no amanhã

Em bater meu cartão amanhã

Ouço "Doors", vejo Elvis.

Penso em minha filha...


Domingo, quase dez.

Minha mulher fala com o pai distante

Trocam carícias de uma saudade ofegante

Recíproca da terra em que o velho descansa.

E o telefone encurta a distância.


Domingo,

Ainda trago o gosto do que houve

Churrasco, cerveja, refrigerante,

Um bolo doce "anti-depressivo"

E ainda o sabor do calor de estar junto.


Domingo, mais de dez da noite.

Há um vazio,

Preciso descansar

Desligar desta vida

De telefone, computador, e-mail...


Domingo,

Tem que ser dia de campo,

Assim como o sábado e a sexta

Dias de merecido descanso,

Como os do pai de minha mulher

Que pela vida inteira trabalhou tanto...


Já passei dos trinta,

Já se foram tantos domingos

Mas ainda não vislumbro qualquer resquício

De descanso.


Acho que estou só começando...


Nilson Ares



Comuna em crise....Rapsodia.......Sobre os Videos

Uma crise abateu sobre o comunapiraquara, uma expulsão e um pedido de retirada. Assim funciona . Uns virão e outros irão, mas eu como administrador dessa ferramenta construtiva e destrutiva estarei aqui, manda no peito que seguro.
Os textos e os comentário não são de responsabilidade do administrador ,mas quando há uma reclamação geral dos menbros do comuna, precisamos tomar as ações e foram tomadas.
Este lugar aqui não é brincadeira , os textos poderão ser denotados pelos comentáristas, que tem momentos que nem comentam o texto, mas comentam o comentário anterior , neste momento vem de tudo. Essa anônimo , que também pode ser uma anônima, está com medo de mostrar a cara, então chamarás anônimo(a) o cagão ou a cagona. Mostre a sua cara.
Quando foi criado este blog o intuito era este mesmo e todos sabem ou deveriam saber disso.

Chega....

Nessa sexta feira estive no rapsodia e estava muito bacana. O bar é muito bom, mas tem surpresas como certo dia que lá estive e engoli um mané tocando Raul sem parar , tenha dó. Entretanto, nesta sexta feira um bom som do Alê Freitas e um cara acompanhando no bandolim, som de primeiro nível. São José ainda vale a pena e estar em Santana é sempre bom.
Teve também um dado momento que um cara declamou uma poesia de Drummond do livro o Corpo, que para quem não sabia ele lançou somente após a sua morte , pois não teve coragem de colocá-la em vida pelo erotismo presente e foi essa :

Carlos Drummond de Andrade é

A puta

Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
A fornecedora.
Na rua de Baixo
Onde é proibido passar.
Onde o ar é vidro ardendo
E labaredas torram a língua
De quem disser: Eu quero
A puta
Quero a puta quero a puta.

Ela arreganha dentes largos
De longe. Na mata do cabelo
Se abre toda, chupante
Boca de mina amanteigada
Quente. A puta quente.

É preciso crescer esta noite inteira sem parar
De crescer e querer
A puta que não sabe
O gosto do desejo do menino
O gosto menino
Que nem o menino
Sabe, e quer saber, querendo a puta.

http://cseabra.utopia.com.br/poesia/poesias/0028.html

Os videos desta semana fala sobre a maravilhosa música Clube da esquina que deu nome para um disco que está entre os melhores do Brasil. Há um vídeo com slides muito bem escolhidos que não há nada de cafona, e outras versões cantadas : Milton cantado clube do esquina menos conhecido, outro vídeo com Lô Borges e por último Flávio Venturini.

Boa semana a todos.


Tito , O Frei.

Nota: foto em São José dos Campos, Tempestade.








quarta-feira, agosto 08, 2007

Ética

Umas das coisas mais difíceis é tecer algumas palavras sobre ética ainda mais para mim que sou um agnóstico, segundo o Padre Fernando, um ateu disfarçado.
Se Deus não existe em que basear-me para lidar com as coisas, Deus morreu e com ele todos os valores, o que faremos agora , eis o que falou o filosofo Nit.....Nós matamos Deus.
Bem, penso que algumas coisas são valores humanos e desamasidamente humanos, pelo qual acredito que se foi nós que críamos , deveríamos lutar para que permaneça.
Não darei aqui o nome, mas falarei de palavras:

amor, generosidade, afetividade, empatia, tolerância, respeito ao outro( essas são éticas)

se críamos essas palavras, e elas refletem uma imagem de ser, acho que vale a pena pensá-las quando tomamos as ações perante ao outro.

Hobbes disse que o homem é o lobo do homem, Caetando parafraseou e disse : Sejamos o lobo do lobo do homem.

Melhor ainda a ápice frase de Voltaire " Não concordo com uma frase do que fosse diz, mas defenderei até a morte a possilidade de pensar".

Tudo aqui acima é passível de contradições e isso é ótimo, mas não me mate, pelo menos essa noite não .

Tito, O Frei

segunda-feira, agosto 06, 2007

Ele e Ela

É preciso mudar o rumo dos lamentos.
Nos olhos inchados refletem o coração dela que virou uma panela de pressão.
Seus lábios esboçam um sorriso triste que mais parece a lua minguante em noite chuvosa.
Seu corpo magro sinala emoções a flor da pele e seu comportamento traduz o labirinto dos sentimentos que a está levando para o precipício donde o meu medo é que ela escolha saltar a cair.
É preciso mudar o rumo dos lamentos.
Antes o caos. A partir dele é possível a ressurreição da paixão pela vida aprumada e livre de medo.
O mal não dá medo mas o medo faz mal, adoece.

Agora ele, é a própria roupagem do amor magro, desnutrido e analfabeto. Suas queixas descambam na filosofia dos livros e na parede gelada de uma garrafa de bebida.
A calçada estreita e curta recebe seus pés desalojados de esperança. O gosto amargo do amor desletrado que ele confina através do espelho sobe a garganta e desaba na boca do bar.
É preciso mudar o rumo dos lamentos.
A paixão é a religião do coração e necessariamente necessária.

domingo, agosto 05, 2007

Frei Calvão : deletado por tempo indeterminado

A todos leitores:

O senhor Frei Calvão, morador na Vila Maria, na cidade de São José dos Campos, São Paulo, São Paulino de carteirinha e amante do Rogério Ceni, trabalhador na área comercial no ramo ortodóntico, está sendo destituído do comunapiraquara conforme o bota fora de sexta feira, que aliás que nos chama sofá sextafeirense, não compareceu a convocação a sua apologia.
Para não sermos injustos com os leitores desse blog, tentaremos explicar e fazer alguns comentários dos motivos da saída:
- xenofobia excessiva aos pobres e miseráveis deste país.
- xenofobia aos torcedores de futebol que não são capazes de pagar cadeira cativa. Mesmo que esse seja São Paulino
- etnocentrismo futebolístico: só enxerga pelo próprio umbígo, e tem como parâmetro o jogador artístico, o Cénico, para não dizer o cômico. Ama o futebol , desde que o parâmetro de análise seja o São Paulo.
- Antinordestino, antisemterra, anticorinthiano, antagônico a tudo que seja pobre .
Não nos chame de antidemocrático, pois ele foi chamado ao encontro religioso que teve na casa do Chassi de Grilo e não compareceu e a tomada de posição foi unâmine: o bota fora Frei Calvão foi aprovado.
Assim, ele tem a chance de retorno, mas precisará da aprovação do comunapiraquara, que se dará de maneira festiva , como ocorreu o bota fora.
Lembramos ainda que tentamos ligar várias para o celular do bonitão só dava "indisponivable".
Assim aceitaremos seus comentários Calvão , divulgaremos seu blog, entretanto, no comuna só comentário por enquanto.

Nota: reunião ocorrida no dia 03 de agosto do ano de 2007, comparecendo o senhor Chassi de Grilo, o senhor Fárias, o senhor Coronel Dentes, o senhor Piquitito, o senhor Sarsa. Temos como testemunha a atual companheira do Senhor Chassi de Grilo e do Senhor Sarsa , vulgo Vá pros Ares como bem gosta de chamar o acusado.
Lembrando que esperamos até às 3 da batina e nada.
Por favor, estamos aberto a comentários.

Boa noite a todos .

A administração.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Comunicado

Aos caros colaboradores e leitores,anuncio minha retirada momentanea desse espaço,por descompartilhar do ideal de seus administradores e demais.Minha participação aqui fundia-se com o ideal de expandir o Blog a pessoas interessadas em participar nesses espaços democráticos,colaborando com sua leitura e direito de comentar o que bem entender sobre o que ler,fato que acredito que aconteceu,contudo porém,vejo comentários maldosos e sujos,para não dizer ,sem excrúpulo,sobre todo e qualquer posicionamento de minha parte em interação com o espaço.A tudo isso,me retiro para evitar fazer média com tal,para tomar cerveja na facha ,ou sei lá,esquematizar um esquema ai.Ler demagogias de esquerda e pornografia escancarada de chatices,é fácil numa rede,numa banca ou até em ambientes de trabalho hoje em dia.Porem expressar sentimentos e posições de uma massa ativa ,incomoda e é chato.Assim,quando o mesmo espaço tiver a interatividade e fascinio que me fez colaborar com ele,me comprometo a um retorno saúdavel e prospero aos olhos de quem vê, Mas no momento,ausente da escrita de comodoros queridos por mim,entrego-o aos fazedores de média pop.