segunda-feira, janeiro 31, 2011

Carta sobre a felicidade - Carta a Meneceu

PSI: meus caros é um pouco longo , mais uma preciosidade de grande valia da filosofia hedonista.

Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz. Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando esta presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la.

Pratica e cultiva então aqueles ensinamentos que sempre te transmiti, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma vida feliz.

Em primeiro lugar, considerando a divindade como um ente imortal e bem-aventurado, como sugere a percepção comum de divindade, não atribuas a ela nada que seja incompatível com a sua imortalidade, nem inadequado com a sua imortalidade, nem inadequado à sua bem-aventurança; pensa a respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe felicidade e imortalidade.

Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles; já a imagem que deles faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas não costumam preservar a noção que têm dos deuses. Ímpio não é quem rejeita os deuses em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos dessa maioria. Com efeito, os juízos do povo a respeito dos deuses não se baseiam em noções inatas, mas em opiniões falsas. Daí a crença de que eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons. Irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só aceitam a convivência com os seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja diferente deles.

Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade.

Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo portanto quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera: aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado.

Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada pra nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida.

O sábio, porém, nem desdenha viver, nem teme deixar de viver; para ele, viver não é um fardo e não-viver não é um mal.

Assim como opta pela comida mais saborosa e não pela mais abundante, do mesmo modo ele colhe os doces frutos de um tempo bem vivido, ainda que breve.

Quem aconselha o jovem a viver bem e o velho a morrer bem não passa de um tolo, não só pelo que a vida tem de agradável para ambos, mas também porque se deve ter exatamente o mesmo cuidado em honestamente viver e em honestamente morrer. Mas pior ainda é aquele que diz: bom seria não ter nascido, mas, uma vez nascido, transpor o mais depressa possível as portas do Hades.

Se ele diz isso com plena convicção, por que não se vai desta vida? Pois é livre para fazê-lo, se for esse realmente seu desejo; mas se o disse por brincadeira, foi um frívolo em falar de coisas que brincadeira não admitem.

Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais.

Consideremos também que, dentre os desejos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e outros, apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros, para o bem-estar corporal, outros, ainda, para a própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo.

Uma vez que tenhamos atingido esse estado, toda a tempestade da alma se aplaca, e o ser vivo não tendo que ir em busca de algo que lhe falta, nem procurar outra coisa a não ser o bem da alma e do corpo, estará satisfeito. De fato, só sentimos necessidade do prazer quando sofremos pela sua ausência; ao contrário, quando não sofremos, essa necessidade não se faz sentir.

É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda escolha e toda recusa, e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor.

Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advém efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo. Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser sempre evitadas. Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem.

Consideramos ainda a autossuficiência um grande bem; não que devamos nos satisfazer com pouco, mas para nos contentarmos com esse pouco caso não tenhamos o muito, honestamente convencidos de que desfrutam melhor a abundância os que menos dependem dela; tudo o que é fácil de conseguir; difícil é tudo o que é inútil.

Os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela falta: pão e água produzem o prazer mais profundo quando ingeridos por quem deles necessita.

Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não luxuoso, portanto, não só é conveniente para a saúde, como ainda proporciona ao homem os meios para enfrentar corajosamente as adversidades da vida: nos períodos em que conseguimos levar uma existência rica, predispõe o nosso ânimo para melhor aproveita-la, e nos prepara para enfrentar sem temos as vicissitudes da sorte.

Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como acreditam certas pessoas que ignoram o nosso pensamento, ou não concordam com ele, ou o interpretam erroneamente, mas ao prazer que é ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma. Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes, nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de uma mesa farta que tornam doce uma vida, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos. De todas essas coisas, a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela qual ela é mais preciosa do que a própria filosofia; é dela que originaram todas as demais virtudes; é ela que nos ensina que não existe vida feliz sem prudência, beleza e justiça, e que não existe prudência, beleza e justiça sem felicidade. Porque as virtudes estão intimamente ligadas à felicidade, e a felicidade é inseparável delas.

Na tua opinião, será que pode existir alguém mais feliz do que o sábio, que tem um juízo reverente acerca dos deuses, que se comporta de modo absolutamente indiferente perante a morte, que bem compreende a finalidade da natureza, que discerne que o bem supremo está nas coisas simples e fáceis de obter, e que o mal supremo ou dura pouco, ou só nos causa sofrimentos leves? Que nega o destino, apresentado por alguns como o senhor de tudo, já que as coisas acontecem ou por necessidade, ou por acaso, ou por vontade nossa; e que a necessidade é incoercível, o acaso, instável, enquanto nossa vontade é livre, razão pela qual nos acompanham a censura e o louvor?

Mais vale aceitar o mito dos deuses, do que ser escravo do destino dos naturalistas: o mito pelo menos nos oferece a esperança do perdão dos deuses através das homenagens que lhes prestamos, ao passo que o destino é uma necessidade inexorável.

Entendendo que a sorte não é uma divindade, como a maioria das pessoas acredita (pois um deus não faz nada ao acaso), nem algo incerto, o sábio não crê que ela proporcione aos homens nenhum bem ou nenhum mal que sejam fundamentais para uma vida feliz, mas, sim, que dela pode surgir o início de grandes bens e de grandes males. A seu ver, é preferível ser desafortunado e sábio, a ser afortunado e tolo; na prática, é melhor que um bom projeto não chegue a bom termo, do que chegue a ter êxito um projeto mau.

Medita, pois, todas estas coisas e muitas outras a elas congêneres, dia e noite, contigo mesmo e com teus semelhantes, e nunca mais te sentirás perturbado, quer acordado, quer dormindo, mas viverás como um deus entre os homens. Porque não se assemelha absolutamente a um mortal o homem que vive entre bens imortais.

Epicuro-filosofia helenística

quarta-feira, janeiro 26, 2011


A morte da solidão

Diante do ciberespaço a velhice não será tão solitária quanto foi até então. Muitos idosos hoje não mantêm um forte contato com a Internet por lhe parecer complexa. Entretanto, os jovens de hoje estarão mais dentro deste novo mundo quanto mais tempo passará dentro de suas casas.
Vemos muitos idosos que perdem seus pares e sentem uma profunda solidão por falta de contato com seus familiares, coisa que a tecnologia vêm suprindo através de suas redes sociais como orkut , facebook e outros.
Muitos dirão: mais isto não é para todos . Falso, pesquisa revela que a Internet está cada vez mais próxima das camadas de rendas mais baixas e num futuro próximo a teremos como televisão em que está em qualquer espaço.
Muito se tem falado dos efeitos na Internet nas crianças e adolescentes, entretanto, para um país que em 2050 terá um número maior de idosos do que de jovens, tal análise me parece fundamental para entendermos as mudanças que o ciberespaço causará na chamada terceira idade.

PIK.

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Vitor Henrique Paro

Essa entrevista mostra a face maldita da pseudo educação deste país




Fonte : youtube

http://www.youtube.com/watch?v=GZgYygq0WnQ

segunda-feira, janeiro 03, 2011

In the Flesh


Os corpos se entendem, as almas não. Diz Drummond em um poema que já não me lembro mais qual. O fato é que há na atualidade uma relação direta entre corpo e poder, e o elemento de interação entre ambos é a imagem.
Hoje a imagem representa o ideário virtual que vê na materialidade do corpo uma viscosidade incômoda (Pelbart, 2003), há uma aspiração por uma imaterialidade do corpo em nossa modernidade tardia, a representação do corpo assume uma autonomia frente a sua materialidade, não que a representação não seja material, e nem que o virtual não seja real.
Susan Sontang em seu livro Diante da Dor dos Outros descreve bem a atuação de fotógrafos como Robert Capa e Henri Cartier Bresson que estiveram em fronts de guerra e captaram imagens “traumáticas”, termo que Barthes se refere em seu livro Câmara Clara . Porém, hoje, existe dois tipo dessas imagens traumáticas, as que são capturadas por um fotógrafo e as que são capturadas por câmeras de vigilância de circuitos fechados.
A diferença é que na primeira é necessário que o fotógrafo ou cinegrafista esteja presente ao fato, e portanto, mesmo que tencione uma objetividade, a imagem é fruto do enquadramento dado, de uma determinada luz, de sua subjetividade, de sua intencionalidade, existe uma leitura do fotógrafo na captura da cena. Já na segunda é necessário apenas a presença da câmera, a leitura previa do fotógrafo ou cinegrafista é banida.
Certo dia vi um ensaio fotográfico erótico feito através de câmeras de circuito fechado. Neste caso, o corpo tem seu poder, ou seu potencial erótico fundado em uma imagem as vezes poética ou mesmo banal, mas o que chama a atenção é que não é o olhar do fotógrafo que buscou ou tencionou o poder de erotização do corpo, foi um artefato técnico disposto em um ambiente que captava cenas aleatórias desde um bêbado dormindo, um cachorro cagando, as mesas de uma repartição pública depois do expediente etc...
Outro uso corrente, é quando essas imagens vão parar nos noticiários como prova material de agressões, rebelião de presídios, desastres aéreos e assaltos. Todos fundados na objetividade do aparato técnico que captou as imagens, esse é o Panótico de Foucault em nossa modernidade tardia.
A construção da imagem em circuitos fechados transporta o olhar da pessoa que vê para o locus do evento, colocando-o na mesma altura de quem é olhado, mesmo que a imagem seja de baixa resolução passa uma conotação de fidedignidade e verossimilhança, a que a representação do fotógrafo não tem a pretensão. Se assim fosse nenhum fotógrafo teria “estilo”, a verossimilhança ou mesmo a objetividade, no fim das contas, não é a principal causa do fotógrafo, mas sim a recriação do dado comum através de sua interpretação.
Em ambos os casos, a relação poder e corpo é mediada pela imagem, só que no caso dos circuitos fechados, o corpo moderno é constituído através de um olhar tecnológico, em que a metáfora da bioinformática tomou de assalto o velho e obsoleto corpo cuja sua imagem era recriada e não diretamente relacionada à verossimilhança, para um corpo tecnicizado, objetivo, o poder sobre o corpo está numa imagem técnica que o constrói e o reproduz numa escala infinita e num tempo fluido.


PS: Não percam hoje, Documento Cultura: Robert Capa