segunda-feira, novembro 30, 2009

Dez conselhos para os militantes de esquerda

1. Mantenha viva a indignação.

Verifique periodicamente se você é mesmo de esquerda. Adote o critério de Norberto Bobbio: a direita considera a desigualdade social tão natural quanto a diferença entre o dia e a noite. A esquerda a encara como uma aberração a ser erradicada.

Cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus social-democrata, cujos principais sintomas são usar métodos de direita para obter conquistas de esquerda e, em caso de conflito, desagradar aos pequenos para não ficar mal com os grandes.

2. A cabeça pensa onde os pés pisam.

Não dá para ser de esquerda sem "sujar" os sapatos lá onde o povo vive, luta, sofre, alegra-se e celebra suas crenças e vitórias. Teoria sem prática é fazer o jogo da direita.

3. Não se envergonhe de acreditar no socialismo.

O escândalo da Inquisição não faz os cristãos abandonarem os valores e as propostas do Evangelho. Do mesmo modo, o fracasso do socialismo no Leste europeu não deve induzi-lo a descartar o socialismo do horizonte da história humana.

O capitalismo, vigente há 200 anos, fracassou para a maioria da população mundial. Hoje, somos 6 bilhões de habitantes. Segundo o Banco Mundial, 2,8 bilhões sobrevivem com menos de US$ 2 por dia. E 1,2 bilhão, com menos de US$ 1 por dia. A globalização da miséria só não é maior graças ao socialismo chinês que, malgrado seus erros, assegura alimentação, saúde e educação a 1,2 bilhão de pessoas.

4. Seja crítico sem perder a autocrítica.

Muitos militantes de esquerda mudam de lado quando começam a catar piolho em cabeça de alfinete. Preteridos do poder, tornam-se amargos e acusam os seus companheiros (as) de erros e vacilações. Como diz Jesus, vêem o cisco no olho do outro, mas não a trave no próprio olho. Nem se engajam para melhorar as coisas. Ficam como meros espectadores e juízes e, aos poucos, são cooptados pelo sistema.

Autocrítica não é só admitir os próprios erros. É admitir ser criticado pelos (as) companheiros (as).

5. Saiba a diferença entre militante e "militonto".

"Militonto" é aquele que se gaba de estar em tudo, participar de todos os eventos e movimentos, atuar em todas as frentes. Sua linguagem é repleta de chavões e os efeitos de sua ação são superficiais.

O militante aprofunda seus vínculos com o povo, estuda, reflete, medita; qualifica-se numa determinada forma e área de atuação ou atividade, valoriza os vínculos orgânicos e os projetos comunitários.

6. Seja rigoroso na ética da militância.

A esquerda age por princípios. A direita, por interesses. Um militante de esquerda pode perder tudo: a liberdade, o emprego, a vida. Menos a moral. Ao desmoralizar-se, desmoraliza a causa que defende e encarna. Presta um inestimável serviço à direita.

Há pelegos disfarçados de militante de esquerda. É o sujeito que se engaja visando, em primeiro lugar, sua ascensão ao poder. Em nome de uma causa coletiva, busca primeiro seu interesse pessoal.

O verdadeiro militante, como Jesus, Gandhi, Che Guevara, é um servidor, disposto a dar a própria vida para que outros tenham vida. Não se sente humilhado por não estar no poder, ou orgulhoso ao estar. Ele não se confunde com a função que ocupa.

7. Alimente-se na tradição da esquerda.

É preciso oração para cultivar a fé, carinho para nutrir o amor do casal, “voltar às fontes" para manter acesa a mística da militância. Conheça a história da esquerda, leia (auto)biografias, como o "Diário do Che na Bolívia", e romances como "A Mãe", de Gorki, ou "As Vinhas de Ira", de Steinbeck.

8. Prefira o risco de errar com os pobres a ter a pretensão de acertar sem eles.

Conviver com os pobres não é fácil. Primeiro, há a tendência de idealizá-los. Depois, descobre-se que entre eles há os mesmos vícios encontrados nas demais classes sociais. Eles não são melhores nem piores que os demais seres humanos. A diferença é que são pobres, ou seja, pessoas privadas injusta e involuntariamente dos bens essenciais à vida digna. Por isso, estamos ao lado deles. Por uma questão de justiça.

Um militante de esquerda jamais negocia os direitos dos pobres e sabe aprender com eles.

9. Defenda sempre o oprimido, ainda que, aparentemente, ele não tenha razão.

São tantos os sofrimentos dos pobres do mundo que não se pode esperar deles atitudes que nem sempre aparecem na vida daqueles que tiveram uma educação refinada.

Em todos os setores da sociedade há corruptos e bandidos. A diferença é que, na elite, a corrupção se faz com a proteção da lei e os bandidos são defendidos por mecanismos econômicos sofisticados, que permitem que um especulador leve uma nação inteira à penúria.

A vida é o dom maior de Deus. A existência da pobreza clama aos céus. Não espere jamais ser compreendido por quem favorece a opressão dos pobres.

10. Faça da oração um antídoto contra a alienação.

Orar é deixar-se questionar pelo Espírito de Deus. Muitas vezes, deixamos de rezar para não ouvir o apelo divino que exige a nossa conversão, isto é, a mudança de rumo na vida. Falamos como militantes e vivemos como burgueses, acomodados ou na cômoda posição de juízes de quem luta.

Orar é permitir que Deus subverta a nossa existência, ensinando-nos a amar, assim como Jesus amava, libertadoramente.


Frei Betto


Nota: ainda bem que ele não irá me processar por usar seu texto.


Piquitito

Caldeirão Antropofágico





O movimento batizado Tropicália sintetizou todas correntes sonoras, introduziu a guitarra na tradicional Música Popular Brasileira e, ainda, adequou o sentimento hippie de contestação reinante no mundo à situação da ditadura militar e luta armada do país. O movimento teve expressão maior nos intérpretes e compositores Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Tom Zé. Nos poetas Torquato Neto e José Carlos Capinam; no Maestro Rogério Duprat, no guitarrista Lanny Gordin e, de forma especial, no grupo Os Mutantes. Também destacaram grupos como The Beat Boys, que acompanharam Caetano Veloso na música Alegria Alegria.
Nascido por volta de 1.967, e filho da tradicional MPB com the Beatles da fase Sgt. Peppers, o Movimento Tropicalista emergiu pelas mãos de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Rogério Duprat e os Mutantes. De forma especial sua aparição pública mais evidente e transgressora ocorreu durante o festival da Record de 1967, no qual Gilberto Gil & Os Mutantes apresentaram Domingo no Parque, com arranjos de Rogério Duprat.
Por volta de 1.968, Caetano Veloso gravava seu segundo LP contendo o Manifesto Tropicália e Alegria Alegria, os Mutantes lançaram o primeiro álbum e Tom Ze´, ainda na Bahia, soltava o LP Tom Zé, pelo selo pernambucano Rozenblit, contendo Namorinho de Portão, Parque Industrial e São Paulo , clássicos da época.
Segundo Gilberto Gil,
“o Tropicalismo foi uma preposição. Um brinquedo que a gente inventou utilizando o material que a professora dá na escola prá gente em todos os campos, social, político, econômico, poético, religioso, da existência. Foi uma visão de momento em que a gente visualizava o Brasil de uma certa maneira , com umas certas cores. Então a gente comunicou tudo isso através do Tropicalismo”( Santana, 1980,pag. 240).


Gil continua caracterizando o movimento como um “descompromisso total com os estilos, modismos, coisas descobertas e exauridas” (Campos, 1978, pag.183).
O álbum coletivo Panis et Circensis, gravado em 1968, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, os Mutantes, Rogério Duprat, Tom Zé, Gal Costa, Torquato Neto, Capinam e Nara Leão registrou para a história a síntese sonora e poética do Movimento. Além desse disco, o Movimento Tropicalista produziu obras primas como os três primeiros e clássicos álbuns dos Mutantes – Os Mutantes, Mutantes e A divina Comédia... Ou ando meio desligado -, a banda tropicalista do Duprat (com os Mutantes), o segundo disco é de Gilberto Gil (com os Mutantes) e os dois seguintes (com Lanny Gordin na guitarra), mais os discos de Caetano Veloso (especialmente o terceiro, de 1969) e Gal Costa (os quatro primeiros, incluindo Fa-Tal, ao vivo) – novamente com o guitarrista Lanny Gordin. Ainda pouco reconhecido, o único disco gravado pelo grupo gaúcho Liverpool, com suas guitarras ultra-psicodélicas, também integra o rol dos clássicos do Tropicalismo.

A preocupação dos Tropicalistas era discutir o novo, procurando entender mais profundamente a história da década de 60 e suas variadas formas de percepção, como as dos jovens, que reivindicavam uma mudança estética na arte, uma maior liberdade de expressão (Góes, 1982, p.25).
Além da música, o Movimento Tropicalista foi marcado pela presença de grandes poetas, a exemplo do próprio Caetano Veloso, Capinam, e especialmente do piauiense Torquato Neto, falecido prematuramente em 1972, depois de uma brilhante carreira.
Autor de Geléia Geral, Mamãe Coragem, A Coisa mais Linda que Existe e Let’s Play That, Torquato Neto foi o grande tradutor poético de sua geração, levando para a música as angústias de um período ditatorial, marcado pela repressão. Parte de sua obra, resgatada por Wally Sailormoon (também Salomão), está no livro Os Últimos Dias de Paupéria (1973), lançado juntamente com um compacto simples com Gilberto Gil e Gal Costa- esgotado e nunca relançado -, ou no álbum O Poeta Desfolha a Bandeira e a Amanhã Tropical se Anuncia, com gravações de suas letras/ canções.
Segundo Gilberto Gil,

o Tropicalismo reivindicava uma nova postura frente à MPB. Na sua visão, esse movimento “desencadearia as verdadeiras forças revolucionarias da música brasileira, para além de slogans ideológicos das canções de protesto, dos encadeamentos elegantes de acordes alterados, e do nacionalismo estreito” (Caetano, 1997, p.131).

Enfrentando a resistência organizada do conservadorismo da época, os Tropicalistas observaram que havia uma necessidade de lutar contra os “tabus” impostos pela sociedade tradicional. Segundo Gilberto Vasconcellos, a Tropicália

“critica a musicalidade do passado e ao miúdo engajamento da canção de protesto. Do ponto de vista cultural, ela significa a primeira formulação ao nível da MPB, da deglutição estética estrangeira e a conseqüente superação do tradicional nacionalismo musical” (Vasconcellos, 1977, pag.23).


A Tropicália terminou vencendo a guerra, por vezes campal, como em alguns festivais, afirmando-se como uma das primeiras manifestações da World Music cunhada anos depois, influenciando a geração nordestina dos anos setenta, especialmente Lula Cortês, Zé Ramalho e Alceu Valença. O Tropicalismo chegou a grupos estrangeiros como David Byrne, via Mutantes, Caetano Veloso, Gilberto Gil e após vários anos no ostracismo, ressurge recentemente, Tom Zé.
Aos poucos, o Tropicalismo ganhou espaços internacionais, antes homogeneizados pela bossa nova, enquanto a sua retomada acabou interrompida em sua forma mais radical, com a morte do músico pernambucano Chico Science (1997), idealizador de um estilo, a qual traz uma fusão entre o Maracatu, o Hip Hop e o Rock’n Roll no início dos aos 90. Este movimento ficou conhecido como Mangue-Beat.
Em suma, o Tropicalismo procurou e conseguiu alterar o campo das artes no Brasil e no mundo, utilizando de todo material “esquecido” ou “ não entendido” no campo musical, para dele transformar em um produto complexo e sistemático.




sexta-feira, novembro 27, 2009

Tela branca

De frente a uma tela branca, o que escrever?
Como dar vazão a voz interior quando não se sente inspirado?
Não é todo o dia que me sinto com vontade de dizer alguma coisa que valha a diferença. Sinto que algo deve mexer comigo primeiro. Uma vontade de “vencer” algum acontecimento pessoal que me frustra, nem que seja apenas na retórica.
Hoje tento ir na contramão ... Suplantar a apatia que me diz: pare!
Não existe nada novo. Nada me incomoda a ponto de querer gritar...
O tempo indica chuva no fim da tarde... mas não convence. Hoje é sexta-feira e no final do dia irei ao supermercado fazer a compra do mês. Que coisa comum, banal!
Mas aqui estou em frente desta tela menos branca.
Já se irritou com esta lorota? Eu ainda não ...
Se já chegou até aqui, é porque em algum momento já se encontrou em situação semelhante.
A poucos dias li nesta comuna uma reflexão sobre símbolos... representações do real, grafia rupestre.
As letras não são mais que desenhos, que juntas representam algo, que possa existir fisicamente ou não. Qual o poder da palavra, afinal ? Mesmo quando não se tem nada para dizer, ainda sim a palavra fala.
Ok. Vamos postar este texto e ficar olhando de vez em quando para ver as reações ... Quem sabe encontra eco em alguém.
A tela já não esta branca... produção sobre o que não se tem a dizer.

"Ou escreves algo que valha a pena ler, ou fazes algo acerca do qual valha a pena escrever."

Benjamim Franklin

Estival

PrOGraMaçÃo ESTIVAL


25 / Novembro – Pré-Estival18h - Espaço Mário Covas[Exibição de curtas-metragens da região, seguido de bate-papo com cineastas Erik Garcia e Fábio Monteiro, marcando a pré –estréia do curta-metragem – Estrangeiros; mediação de Carolina Winter].21h – Encontrão no Território Bar (Bar do Gel)
27 de Novembro11h – ABERTURA OFICIAL DO ESTIVAL - Centro, calçadão em frente ao Espaço Cultural Helena Calil[Intervenções com cenas, música, pintura instantânea e espaço aberto a manifestações várias, com participação do “Poesia no Prato” e Grupo de Tambores Djamberê.]13h – [Cortejo músico-teatral, com a intervenção artística “Ponto de Olho – Obras num espaço Urbano”]13h30 - Espaço Mário Covas[Apresentações musicais com os pianistas Rodrigo Lopes e Celso de Mello e exibição de curtas-metragens]16h – ASSAOCMesa de Literatura - com Fernando Selmer e Ridson du Guetto18h – Praça Mário Cesare Porto – Jd. Satélite[Abertura improvisação com músicos – Jam Session]- Apresentação musical - Alessandro Zamá com canções do seu recente CD "Caçador de Cachoeiras"- Peça Curta – “Entre-Atos” – Grupo Atuadores de Teatro – (dir) Arley Campos- Intervenção poético-musical - Rodrigo Roman e Wallace Puosso- Apresentação da Banda Auscut+ Intervenções com artistas plásticos19h – Literacia[Abertura da exposição fotográfica e Sarau, com atores, poetas e músicos.]- Rádio Novela "A Flôr Enlutada” – Teatro do Rinoceronte;- Leitura dramática “Delírio de Machado de Assis aos fungos ingeridos por Timothy Leary” – Sérgio Ponti e Marucs W.28 de Novembro - ASSAOC14h – Mesa de Teatro com Fabiana Monsalú e Reginaldo Nascimento19h - Mostra de Peças Curtas- Apresentação musical com o guitarrista Rafael Mattar- Peça Curta - “Memória Póstumas de Brás Cubas” – Cia Pitada de Rapé - Rômulo- Cena - “Palavrão” – Sérgio Ponti- Performance - "Adejo Moderato" – Ágrafos e Prolixos Cia. Solo – Marucs W.- Intervenção poético-musical -“Poetas e Guitarras” – Léo Mandi e Célio Esmério- Cena - "Só riZu grotescu" – (dir) Sérgio Ponti- Apresentação musical com o pianista Celso Mello- Cena - “O amor não tem sexo” – Teatro do Rinoceronte- Cena – “Clube dos Cafajestes” – Zé Wigw e Felipe Rafael- Cena – “Operário em Construção" – César Cruz- Cena - “Masturbatiãon Scena” – (dir.) Sérgio Ponti; Lukas Albuquerque e Christopher Maciente- Cena - “Matador de Passarinho” - Jean Carlos e Renato Júnior- Intervenção musical de encerramento+ Pinturas instantâneas e exposição de obras ao longo da noite.29 de novembro 10h – FEIRA DO CARIRI (Colonial)Espetáculo convidado Sacra Folia – Cia Balaio das Artes14h – BOLA DE MEIA - Mesa de Cinema, com Tati Baruel e Renata Martins.16h – SESC - Peça curta "A Quase Morte de Zé Malandro" – GTI17h30 – [Cortejo com intervenções músico- teatrais do SESC rumo ao Bola de Meia.]18h - BOLA DE MEIA – Mostra de Peças Curtas- Apresentação musical com Glauco Rossi, mais exibição de trecho da peça “A Classe Morta de Tadeuz Kantor- Apresentação Musical - com Lukas Albuquerque- Peça Curta – “O Caso do Cara” – (dir) Thiago Calango- Cena - “Produtor Cultural” – Jean Carlos e Renato- Cena – “História para casar” – Cia Cubo Mágico – Lukas Lima e Thais Lopes (dir. Wallace Puosso)- Cena – “Mas dane-se a morbidez” – Cia Delírios Cênicos – Jéssica Lane e Amanda Brito- Cena – “Estar em forma” - Lukas Lima e Mateus Rosa- Cena – “Mary Mouri” – Márzia Gatto- Leitura Dramática - "Dama da Noite” – Marucs W, Sergio Ponti e Natalie S.- Performance culinária – “Comida Canibal” – Viviani Leite (dir. Marucs W.)21h30- Confraternização de encerramento - Bar do Turco Gordo
*programação gratuita, mas sujeita a alterações

Maiores informações: http://mostraestival.blogspot.com/
ou entre em contato: estival.imprensa@gmail.com

O UNIVERSO ENCANTADO DE RAIMUNDO

Recentemente reencontrei um personagem ilustre e inspirador, Raimundo da Hora.
O engenhoso baiano de setenta e oito anos costuma raramente visitar nossa cidade para rever o seu filho que aqui reside.
Conterrâneo de Castro Alves, nascido na cidade de Muritiba, Raimundo traz a tradição baiana "da Hora" em seu sobrenome. Caboclo lúcido, militar aposentado, caridoso, revelador, politizado e de prosa suculenta. A tentativa de adjetiva-lo não seria suficiente a sublime pessoalidade.
Em 1951 Raimundo se dirigiu para o Rio de Janeiro, e envolvido pela efervescência cultural da época ali ficou até 1990 onde depois voltou para sua cidade natal.
Portador da ancestralidade Baiana, sua tendência espiritual se desvelou no Rio de Janeiro onde conheceu e aderiu a chamada seita umbanda. Fundada na mesma cidade em 1935 pelo médium Manoel Jacinto Coelho que mais tarde se tornará amigo de Raimundo onde passa a frequentar a casa do mesmo.
Manoel doutrinou e nutriu o espirito de Raimundo na literatura umbandista, onde se tornou um dos primeiros prosélitos da designada religião Brasileira por excelência.
Apesar de ter nascida no Brasil, a umbanda empresta elementos de outras crenças para produzir o seu mercado de bens simbólicos se fundindo com culturas e tradições religiosas africanas no uso litúrgico dos grupos de língua como o iorubá, o jeje e o banto; no espiritismo Kardecista trazido pelos europeus com fragmentos hindu-cristão, inclusive os adereços e a formas populares de catolicismo.
Nas primeiras décadas da sua origem a umbanda sofreu intensa perseguição por ser intitulada seita mediúnica. Saiu da clandestinidade e passou a ter maior expressividade só na década de 70.
A moderna umbanda foi reinterpretada. Manoel antes de morrer decretou que a prática nos terreiros de umbanda fosse banida devido a nova revelação que lhe foi dada no terceiro millenium através do "racional superior" que representa a supremacia divina.
Desde então, os terreiros ditos de umbanda não estão mais sob a égide de linhas ou falanges de espíritos. Hoje a umbanda propõe-se religar o homem ao racional superior (Deus) através do estudo da vasta literatura denominada "Universo em Desencanto" composta por mais de mil livros.
Vale lembrar que o pai da soul music brasileira Sebastião Rodrigues Maia o imortal Tim Maia bebeu das literaturas do universo em desencanto onde lhe renderam dois discos, o Tim Maia racional volume um e dois.
Detentor do patrimônio simbólico umbandista, o experimentado Raimundo da Hora vive atualmente na pacata cidade de Muritiba localizada no recôncavo Baiano, onde é ativo e engajado em programas sociais.
Fiel ao legado intelectual deixado por Manoel, Raimundo é estudioso assíduo da encantadora filosofia do racional superior, o universo em desencanto.

Fabiano Baldi

quinta-feira, novembro 26, 2009

Pare, pense, respire

Já que aqui virou meu querido diário, gostaria de relatar algumas experiências. Há muitos anos, dois alunos meus brigaram dentro de sala de aula, carreguei os dois pelo puxador da mochila até a diretoria, arrastando os pés deles no chão. Hoje dois alunos meus brigaram e precisou da diretora impedir que eu batesse nos dois. Foram preciso umas cinco pessoas para me acalmar, não ia bater nos meninos de soco, mas ia pegar me chinelo e descer nos dois. Ia mesmo, mas me deram água com açucar. Os alunos, que estavam errados, vieram pedir desculpas e me abraçar quando eu estava mais calma. Acho que ficaram com medo de mim. Mas daí fiquei a viagem de volta me perguntando, eramos tão violentos na idade deles? Será que eu já sou aquelas que no meu tempo? Por que meus alunos insistem que tudo resolve-se nos socos? E depois de serem levados até a diretoria resolvem na conversa? Qual a importância da violência na formação de quem somos? Eu cresci com anuncios horrendos da Guerra Fria no Jornal Nacional e no Fantástico e não tinha controle remoto para trocar de canal e nem voz. O botão era de girar e fazia tec-tec-tec. Escutava sempre 'os eua tem o poder de destruir o mundo vinte milhôes de vezes', quer violência pscicologica pior? A violência estava ali, pra qualquer um ver, imaginar e apalpar. Fui no cinema do centro, ao lado das casas bahia assistir Robcop, um dos maiores filmes de violência da história. Não tinha doze anos. Assisti Batman no cinema e vi o Coringa voar lá de cima. Pulp Fiction assisti com uns catorze quinze anos e depois assisti Transpotting! Hoje ficamos numa censura falsa, assustados com torcidas organizadas, com pessoas de universidades gritando com moças de minisaias usadas por apresentadoras de televisão em programa de domingo, fingimos espanto quando vemos pessoas gritando umas com as outras bebadas, nos sentimos mal, mas por que? Acho até que já escrevi sobre isso aqui, mas quero pão e circo, panis et circenses, devolta! O tempo todo tento provar para mim que não é preciso violência, vamos conversar, vendo esse peixe para os meus pobres alunos que me escutam e me sinto super bem de fazer algo bom, mas tem hora que HAAAAAAA!! No trânsito principalmente. Sempre me lembro do desenho do pateta. Não sei porque, queria estudar um pouco mais sobre isso, mas as cobras são mais amáveis que o ser humano, fiquei com elas e deixo a porrada correr.
Bibliografia: Pedagogia do Amor. Chalita, Gabriel

quarta-feira, novembro 25, 2009

Flanêur : O Diálogo



“Ai de mim!”, disse o rato, “o mundo vai ficando dia a dia mais estreito”.
“Outrora, tão grande era que ganhei medo e corri, corri até que finalmente fiquei contente por ver aparecerem muros de ambos os lados do horizonte, mas estes altos muros correm tão rapidamente um ao encontro do outro que eis-me já no fim do percurso, vendo ao fundo a ratoeira em que irei cair.
“Mas o que tens a fazer é mudar de direção”, disse o gato, devorando-o.

Frank Kafka – Fábula Rasa

Um dia desses atrás, observando a conversa de dois amigos, quando ambos reclamavam das novas lentes com grau (óculos) e do esforço para se adaptar a taís, percebi a profundidade do assunto.
Não era por se tratar dos novos óculos, mas como utilizá-los, uma vez que eram multifocais, e que necessitavam de uma nova maneira de enxergar o mundo.
Um deles relatou que quando olhava para o chão, perdia a noção do mesmo, pois na parte inferior da sua lente era para ler de perto, e o chão estava longe. O outro disse que quando está lendo, as próximas palavras na seqüência, ficam ilegíveis, pois as lentes possuem camadas de graus para enxergar de perto, de longe, para ler,... ou seja, como já dito, eram multifocais.
Com uma vontade danada de perguntar como era viver assim, um espontaneamente me disse que agora não basta olhar o chão somente com os olhos, mas inclinar a cabeça para baixo, pois assim estava olhando no local certo da lente que permitia uma visão clara do chão, o outro disse que não bastava correr os olhos nas palavras e sim acompanhar com a cabeça.
Perante tais fatos, fazendo uma observação ao Oswald de Andrade, que dizia que só a “antropofagia nos une”, fico mais com a idéia do Milton Santos, “que diz” que só a técnica nos une, pois atualmente é mais fácil a técnica nos unir, seja pelo o uso de umas lentes, que leva todos aos mesmos movimentos e ações, seja pelo fato de todos procurarem uma vela, no mesmo momento (uníssono) no caso da falta de energia , como no apagão passado.

A nossa sociedade (infelizmente) é ainda mais emética, do que canibal. Já a técnica (ao meu ver) foge do controle emocional, das vaidades, orgulhos e adjacências.


Dedico ao Zecão e ao Silvio Ferreira, por me darem num momento de descontração, essa observação.

segunda-feira, novembro 23, 2009

Orwell tinha razão


Temos acompanhado a governabilidade de Lula com certa paixão a ponto de nos deixar cegos diante de fatos que se tivéssemos na oposição, seríamos contra. Vejamos o caso dos aposentados. Uma das bandeiras do governo Lula era o olhar para essa camada que depois de ter cumprido seus anos de trabalho previstos em lei ganha uma ninharia comparada à contribuição que deram durante suas vidas.
Lula em seu discurso falava em tom de trabalhador “essa mixaria que ganha esses aposentados”; agora, “não podemos ser irresponsáveis e dar o mesmo aumento aos aposentados que estamos aplicando ao salário mínimo se não teremos um rombo nas contas do estado”.
É provável que realmente possa haver um rombo se for aplicado na mesmo proporção o aumento da aposentadoria que os aposentados desejam e merecem. Com certeza quando o PT era oposição sabia desses números, mas era necessário este discurso para ganhar a eleição e usar o poder como poleiro e deitar na mesma cama que a situação.
Não é o desejo com este discurso alimentar o fato que o governo anterior era melhor. A oposição forte é melhor. Acredito que a direita na oposição hoje faz o mesmo papel que o PT quando berra para dar aumento aos aposentados, mesmo que seja vislumbrando voltar ao poder, pois oposição, ao menos neste país, não governa para o povo e sim para ela mesma.
O caso dos aposentados é um exemplo, entretanto, poderíamos somar o caso do sucateamento do estado, do empréstimo financeiro ao FMI, do financiamento do BNDS à rede Globo de televisão, a maracutaia no congresso para salvar José Sarney.
Desta forma, talvez o Marinello tenha razão quando diz que o governo do PSDB tenha mais coerência entre discurso e aplicação, ao contrário do PT, que alimentou o sonho de milhares de pessoas que depositaram confiança neste partido como símbolo de justiça social.
Como o poder é doce. Para renegá-lo é preciso de dignidade que é para poucos e precisa de princípios éticos enraizados, caso contrário, a tendência é mamar na teta ou por amor ou sem vergonhice mesmo.
Vivemos na verdade numa plutocracia, onde quem entra acaba se submetendo a atender a manutenção do status quo sem aos menos se dar conta. O poder vai mudando a forma, as cores, mais continua favorecendo uma parcela irrisória da sociedade.
O desejo da população em geral sempre foi à mesma desde que o mundo é mundo: trabalho, lar, saúde, lazer, educação; coisas essas que todo ser alimenta para si e quando algum tem não percebem como coisa importante.
A pseudo-intelectualidade esquerda brasileira gosta de pobre para ser foco de discussão em suas conversas,no entanto,em sua maioria querem a teta estatal para engordar sua própria barriga com bom leite que dele jorra.


Piquitito

quinta-feira, novembro 19, 2009

Rápido. Duro. Forte

Fetiche. Seu fetiche era olhar, apenas olhar....Pensava nas coisas obscenas que não tinham acontecido e o por vir o excitava mais que qualquer coisa que ela pudesse fazer a seguir. Sua imaginação sempre era mais criativa que qualquer mulher que ele tivesse levado para a cama.
Mas o que era para acontecer só entre quatro paredes saiu pela porta e a sua imaginação não conteve-se na sala.
Saia na rua e pensava naquela senhora nua, andava mais um pouco e parava ao ver uma loira e na sua imaginação a selvageria ia... No principio só havia delícia... Porém, com o decorrer dos dias, das situações e de todas as consequências que não serão escritas, pois o exercício maior aqui é a imaginação, ele começou a perder a cabeça. Tudo o excitava e nada mais era apenas normal. Começou a sentir-se constrangido ao entrar na casa da sogra, por exemplo. Na conversa com a colega de trabalho que via como uma irmã devido a antiga amizade, o frio na espinha e o calor por aí, o fez corar. Riu sem jeito e saiu. Tudo que sempre escondeu dele mesmo estava agora exposto demais. Pensou em ligar para Freud, lembrou-se da impossibilidade. Sentou e resolveu se concentrar. Tudo aquilo era impossível, uma vez que ninguém tem o subconsciente tão consciente, então era ele mesmo que estava fazendo isso. Portanto poderia parar quando quisesse. Não parou. Não conseguia. Todas as fantasias, todos os dedos, todos os toques, todas roupas íntimas, toda depravassão estavam ali na rua com ele e com aquela desconhecida nem tão apresentável. Começou a ter ereções por objetos. Nesse momento tudo perdeu senso. A máquina de lavar em exposição nas casas bahia, que delícia. O frango na televisão de cachorro virando tão devagar... as helices do ventilador girando em sintonia perfeita. O vento forte balançando a placa. O farol com três cores tocando com responsabilidade o trânsito. A tomada tão bem enfiada ... Daí parou de pensar e curtiu cada coisa que poderia. Pensou que ruim mesmo seria comer um pão com manteiga de paú duro na padaria!

terça-feira, novembro 17, 2009

Vamos tentar chegar em algum lugar ou a algum lugar?

Tarantino's mind. A mente do Tarantino.

Sempre que eu penso em algumas coisas do dia a dia, como tomar um refrigerante, penso em Tarantino.
Outro exemplo, não consigo ir ao McDonalt's sem pensar no Quarteirão com Queijo. Penso na loucura das traduções brasileiras, o que era medida de peso transformou-se em medida de distância e sem padrão. E na França e suas maioneses e cervejas.

Bom, mas isso é outro texto. Mas o que me cativa, o que eu amo nos filmes de Tarantino são os diálogos.
Não sou crítica de cinema, não entendo tudo, não sou viciada e pouco vejo críticas e making-offs. Gosto de ler, gosto de filmes e gosto de abraçar roupas que saiem da máquina de secar. Nada escrito aqui é uma crítica, é simplesmente uma visão minha e eu gostaria muito de morar num filme do Tarantino, mesmo com a violência, me parece mais interessante do que viver aqui agora. Não conheço ninguém que seja capaz de manter um diálogo tão vivo como nos filmes de Tarantino. Não conheço ninguém que diga tanto a respeito de si mesmo em tão pouco tempo e não falando de si como os personagens de Tarantino, com tantos palavrões e tudo mais.
Vicent Vega. O cara morre, eu sei disso e fico maluca nas cenas deles. Mesmo ele morrendo, ele é o principal. Quebra de tudo que eu assiti! Nenhum mocinho morre...
Mr. Blonde. Como eu queria ter a calma que ele tem. E ele dança. E ele é irmão do Vicent Vega que .... é interpretado pelo John Travolta, ícone de dança dos anos 70! Porém a dança dos dois irmãos em filmes diferentes é totalmente oposta a tudo, pelo cenário, situação...
Durante toda minha adolescência entrava em lugares, com meus amigos, sentindo-me a Mrs. Blonde!! Escutava até a música no fundo da minha mente.
Toda vez que eu tenho um pensamento revelador, Ezequiel 25:17.
Quando eu quero acordar, penso na abertura de Pulp Fiction, a surf music tão ridicularizada que voltou com tudo.
Confesso que até a inconstância dentro da inconstância do Tarantino me comove. Amo Drinque no Inferno. O Cheech ou o Chong vendia pussies na frente do bar! Poxa!!

Eles Matam e nós Limpamos faz tempo que não assisto, mas na época assisti repetidas vezes e a sucessão de perguntas na cabeça daquela moça, que é a mesma que leva embora o Butch da luta ganhada embora, é incrível...E o Tarantino só produziu.
Alias, desculpem-me os cultos desse blog, mas qualque filme com on Bruce Willis eu amo.

E no Sin City, que dá para ver o corte de pensamento e pegar no ar a linha que corta a cena que o Tarantino dirige?
Planeta Terror nem vou comentar para não ser tão achovalhada.

E a trilha sonora de Quentim Tarantino? Ele já disse que há cenas que começaram com a música, exemplo da luta contra os A Noiva e Os 88. Perfeito. E a mamba? Não há palavras no meu vocabulário para descrever, alguém ajuda? Coronel?

Mas, tudo isso era para mostrar aos meus amigos comunas que o diálogo, mesmo da forma mais maluca e despretenciosa, é a melhor forma de cativar alguém. O essencial de Tarantino é que quem conversa presta atenção, quer debater e tem espaço para colocar suas opiniões, mesmo que tolas e bobas. Escutar e falar, aceitar não ganhar e aprender a somar conhecimento.

Mas se forem brigar, por favor, comprem um Jukebox, escolham uma música nunca pensada antes e façam para valer, com sangue.

Para saber mais, assistam ao curta nacional com Selton Melo e Seu Jorge.

33 minutos e 27 segundos



Quem teve oportunidade de assistir 33 minutos e 27 segundos poderá acompanhar uma entrevista do Kfouri que ele confessa que apesar de toda sua glória como comentarista e escritor, ele a trocaria por ser Basílio em 1977.
Basílio até hoje é lembrando como uma lenda pela torcida corinthiana por ter quebrado um tabu difícil para uma torcida tão apaixonada. Todos jogaram e tiveram a devida importância, entretanto, a maneira como a bola entrou e ouvir a narração de Osmar Santos é de arrepiar.
Há uma fala do Basílio que ele confessa que Brandão lhe falou: amanhã negão vamos ganhar de 1 a 0 e gol será seu, como acabou ocorrendo.
Uma das partes do filme mostra a semifinal de 1976 quando o Corinthians jogou contra o Fluminense no Maracanã. Este espetáculo é narrado também na voz do grande Osmar Santos, falando do Maracanã que se partiu em dois territórios de duas maravilhosas torcidas. Noutra parte mostra a Presidente Dutra lotada de peruas com bandeiras Corinthianas . Sem dúvida o maior êxodo de uma torcida para outro estado.
A esposa de Vicente Matheus conta que ele ficou três dias trancado no quarto porque dizia estar morrendo de vergonha depois do primeiro jogo que o Corinthians acabou perdendo e sabendo que precisaria ganhar a segunda partida. Passava em sua cabeça a possibilidade de mais uma vez chegar e tornar-se um vice campeão.
O que sempre me deixou intrigado e é um fato para uma análise sociológica é: como a torcida Corinthiana mesmo tanto tempo sem ganhar títulos pode continuar crescendo e continuar mais apaixonada pelo time. Sócrates afirma que não há no Brasil torcida mais apaixonada que a Corinthiana e qualquer comentárista futebolístico sério não negará tal fato. A torcida Corinthiana quando vai ao estádio ela curte a si própria.


PSI, caso queiram tenho comigo, é cópia mano.

Hemerson

segunda-feira, novembro 16, 2009

100


Comecei a gostar de futebol aos 6 anos. Fazia prézinho no colégio tic-tac, na Mauro Galvão e jogava bola com os coleguinhas.
Antigamente não se dizia qual time torcia, mas sim nos batizavamos com os nome dos jogadores preferidos. Eu era o Silas, pois o Muller e o Careca ja tinham dono e estranhamente, para mim, o menino do outro time era o Biro-Biro. Sei la quem era mas o que valia era fazer gol e gritar...
-Golllllllllllllllll, do Silas para o São Paulo!!!
E o coleguinha do outro time esbravejava não menos fervoroso quando fazia gol..
-Gollllllll, do Biro Biro, é do Curintiasssss!!!!
Ainda não tinha noção total dos times e dos rivais. Me identificava mais pelo meu time por cores, escudo e jogadores. Nem meu pai se meteu nisso. Com o tempo passando, ja com 7 anos vi o São Paulo Campeão Brasileiro contra o Guarani. Lembro me bem de meu irmão pedir para meu pai deixar eu ficar acordado até acabar o jogo.
Em 1987, São Paulo e Corinthians decidiram o paulistão e o São Paulo venceu. O time era realmente melhor naquele ano e o Corinthians chegou a ser lanterna no torneio.
Terminar como vice não era de todo ruim. Também lembro bem de esse ter sido o ultimo jogo que o Dulcidío apitou. Ele passou mau e saiu de campo carregado. Igual a ele apitando jamais vi.
Não via no Corinthians um rival, não tinha colegas na escola que mexiam comigo, na minha familía não tinham torcedores do time. O meu medo era o tal do Guarani de Campinas que tinha um ótimo time e que quase havia derrotado o São Paulo naquela final passada.
Chegou 1988 e o São Paulo mudou muito o time. Tinha o Rojas, chileno, no gol e muitos, muitos meninos no time, uma tentativa de se fazer como em 1985, uma reformulação no elenco.
Mas ai teve um jogo contra o Corinthians, onde perdemos por 2 a 1 e um tal de Ronaldo, jovem goleiro do Corinthians, havia substituido Carlos( goleiro titular do time e da seleção na última copa)e defendido ja na estréia um penalti batido pelo já monstro consagrado Dario Pereyra, zagueiro uruguaio e capitão do São Paulo. Havia uma certa euforia no dia seguinte e eu pensei...
-Quem é esse Corinthians???
Passada a primeira fase do campeonato, chegou a final do Corinthians contra o Guarani(que inclusive havia eliminado o ótimo São José treinado na época por Leão).
Decidi torcer para o Guarani, afinal ele não havia vencido o São Paulo e no primeiro jogo da decisão, Neto(futuro idolo alvinegro) tinha feito um lindo gol de bicicleta.

Pensei: é Justo torcer para esse time..ele é melhor.
E o jogo começou, O Guarani pressionava, pressionava, mas parava no jovem goleiro Ronaldo.

Já o Corinthians chutava pouco ao gol e ficava mais com a bola. Coisa de time grande , se protejer, manter a posse de bola e não se abrir para contra-golpes de um time adversário empurrado por um estádio lotado.

Fim do tempo normal. Começa a prorrogação...
E um tal de Viola desvia um chute torto do Wilson Mano e pega o goleiro do Guarani, Sérgio Néri no contrapé. Corinthians 1 a 0.

Começou um foguetório que eu não entendia nada!
O São Paulo não ganhou, Porque os foguetes?

Acabou o jogo e o foguetório não aumentou, dobrou!!! Estranho que eu não estava feliz. Não achava justo o Guarani ter perdido aquela final. Achava que tinha que ter outro jogo ou mais tempo nesse, sei lá, não aceitava o resultado final.
Mas o Corinthians ganhou e foi o campeão paulista de 1988.
Ali para mim nasceu um rival, o time a se odiar, a torcer contra, a bater em quem torcia pra ele, a dar apelidos e piadas sem graça.
Imagino que para os colegas de minha idade, inclusive daqui do blog,o campeonato de 1988 foi o verdadeiro 1977.
PS: texto em homenagem aos colegas colaboradores desse blog, torcedores desse time centenário já hoje até setembro de 2010. Futuramente postarei um texto bem especial sobre o campeonato de 1990.

Aqui Tem Coisa


Da palavra, a matéria prima da literatura, surge o mundo. A leitura literária é a base da formação humanística do homem, desde os primórdios da nossa civilização ocidental, do berço de nosso pensamento na Grécia ela sempre exerceu tal papel. É pela literatura que se pode abstrair de um estado de coisas e concretizar o abstrato, justamente por ser representação, linguagem.
A literatura revitaliza a linguagem, pois é a maestria da representação, isso por que as idéias seguem a linguagem e necessitam de sua representação da maneira mais eficiente possível para materializar-se na palavra escrita. Esta é a substância a qual estamos mergulhados, a linguagem, e desde criança aprendemos a nadar nela, e continuamos aprendendo constantemente. Ou podemos fazer o que Roland Barthes chegou a nos recomendar, que trapaceássemos com essa substância fazendo literatura.
E quando se rompe os limites do uso trivial da linguagem é que se tem a profusão de possibilidades para a interpretação do dado presente e da vida em geral, e isso, no mais das vezes instiga, suscita o imaginário, excita e demanda mais vida. Em suma poderia dizer que, para mim, a literatura é vida!
Tomando essa premissa, talvez devo dizê-la de maneira mais técnica para deixá-la menos romântica ( já que ser romântico não é intenção deste texto). Digo isso por que a literatura nos traz uma cota de humanidade, a medida que com ela mergulhamos na realidade humana e compreendemos melhor a natureza. Isso por que (neste quesito os Comunas versados na ciência literária podem me corrigir), a literatura também é técnica, e até onde entendo pela técnica esta é constituída para uma destinação humana, e no caso da literatura, é através dela que o homem tem a possibilidade de humanizar a natureza e de se naturalizar.
Às vezes sinto que ela tem a função de religar o homem ao seu estado digamos “pré-socrático”, em que a cisão homem/natureza ainda não havia ocorrido pela razão, sinto-me imerso na natureza humana e no meio que me circunda quando escrevo algo. E ao religar homem e natureza a literatura nos remete a etimologia desta função derivada do latim – religare – que é a raiz da palavra religião. Para mim a literatura é isso, a minha religião.

domingo, novembro 15, 2009

Festa Punk com Amor


Daí a vida mostra pra você com toda força porque ainda é engraçado ser.
Menina com cara de anjo, fala mansa e modos doces, namora menino com cara de anjo, voz mansa e que é baixista/vocalista de um banda punk. Menino esse que mora na região nobre da cidade e canta com ódio revolucinário no coração. Ódio ao que, foi minha pergunta durante todo o show, com a bonequinha com cara feliz pulando do meu lado.
Mas a noite continua.
O cenário era todo sujo, escuro, com homens mal encarados e poucas mulheres. Mas na frente do palco havia dois rapazes de regata, com duas meninas lindas peruas, totalmente deslocados, os marombados no punk. Durante o show do Filu, (eu só chamei de Flu) menino de rosto angelical e voz diabólica, as meninas tampavam os ouvidos, mas mantinham um sorriso nos lábios, os dois rapazes agitaram a cabeça em descompasso. No fim a bonequinha me contou que um era irmão do Flu e evangélico.

Fui respirar um ar. Minha amiga, mais nova que eu em idade e mais velha em vida, desabou no banco do lado. Daí veio um fulano. Pediu para sentar, perguntou se nossos namorados não se incomorariam e explicou que odiou o bar, preferia ter ido na festa universitária aché. Poxa, por favor, não se segura na cadeira, vai!

Não foi, ficou contando a vida dele e me explicou porque as ruas de São José são tão largas.
Mais então o verdadeiro punk começou e eu, meio sem jeito, fui para a festa punk e confesso que me acabei, Sandina (Todo mundo vai embora, todo mundo tem sua hora), Surfista Calhorda (Vai pra NY estudar advocacia), Nicotina(?), Astronalta (Coração de Bebel) e pra fechar Festa Punk! Ah, me senti a Sininho. Como o Wander Wilde foi embora, todo mundo vai, a banda na comemoração de 25 anos de punk colocou uma volcalista loira e com 25 anos!! Parecia o filme Exorcista, aquela cara linda, loira, franzina, olhos azuis e voz de vomito!
Punk é isso aí, por isso que é bom, sem pretenção.
Certo momento o Peter Pan chegou e me disse que era tudo igual ao que sempre foi. Sim, era. Nós eramos diferentes também, mais velhos, mas procuravamos voltar? Ou apenas lembrar? Ou eramos isso?
Por fim, teve volcalista da Banda Eva (eu achava que era a Ivete Sangalo, mas ...), amigos sem educação e sujos achando que suor se divide e não se limpa, estoque de água tônica finalizado, água sem gás, banheiros com papel higiênico no fim da festa (isso sim sem explicação).
Ainda bem que acabou com quatro pessoas deitadas na calçada comendo sorvete pensando que amanhã vai dar piscina.


Foto Roberto Massao

sábado, novembro 14, 2009

Final de Primavera



Acordou e não abriu os olhos. Mesmo sem saber porque, esperou a dor. E ela veio. Sua mão ardia, sua cabeça latejava, as palpebras pesavam de tanto chorar. Abriu os olhos e o teto branco não amenizou a dor, só a aumentou, lembrando-a que tudo era real demais. Ele estava dormindo ao seu lado, mas não era ele, tinha uma expressão ruim, um rancor em sombras. Devia estar sonhando, pois as mãos e pés movimentavam-se em espasmos.

Ela levantou sem fazer barulho, foi até a cozinha, acendeu um cigarro no fogo que a água fervia. Ficou olhando pela janela sem conseguir respirar, não conseguia olhar para os próprias mãos com ferida aberta.

Sentou com uma xícara de café sem açucar e acendeu outro cigarro. Não havia o que pensar, qualquer pensamento resumiria-se a dor, tristeza e arrependimento.

Sem fazer barulho, pegou tudo que era seu, pouco ali era realmente seu, talvez nem ela fosse dela.

Despediu-se dos cachorros, entrou no carro e foi embora.

Dirigiu pela cidade amanhecida. O calor era já insuportável e a claridade incomodava os olhos inchados.

No primeiro sinal vermelho parou e pensou que não tinha realmente para onde ir. Encostou a testa no volante e voltou a chorar, talvez não tivesse parado. O carro atrás buzinou. Por um segundo pensou em voltar, mas não queria voltar para aquela casa, queria voltar para algo que nunca existiu, algo que era só sonho. Engatou primeira, abriu as janelas, respirou fundo. Pensou que há tempos não respirava, sozinha. Seguiu sem rumo, mas foi em frente.

Sabia que a dor só estava começando, mas iria usá-la para acordar e não fugir.

sexta-feira, novembro 13, 2009

A Língua, a Pena e a Tinta


O aço é aquecido até tornar-se rubro. Então, violentamente é esfriado na água, e se possuir carbono o suficiente, adquire têmpera. Passa a possuir mais resitência mecânica, mantém com mais vontade as suas partículas agregadas. É um processo quase mítico, antigo com enfiar uma espada afiada no bucho do rival (na guerra, no jogo ou no amor).

Têmpera também é a pintura na qual a tinta é produzida no momento de ser usada. Normalmente é preparada com gema de ovo, apenas o líquido, que por sua constituição química é um aglutinante excelente para fixar os pigmentos coloridos na tela, de madeira ou de pano. Pois possui estabilizantes naturais, como a lecitina, e não amarela com o tempo, podendo durar séculos se bem conservada. Diferenciou-se da encáustica, a técnica de pintura dos gregos e romanos, que era feita com cera e precisava manter-se aquecida durante a pintura, pela praticidade de dispensar o uso do fogo. Tornou-se a técnica universal de pintura de retábulos, retratos e cenas religiosas, o verdadeiro "Windows" da Idade Média (com o perdão da grosseria), até ser substituída pelo óleo de linhaça. Para pintar o artista-artesão seguia uma "receita culinária" de ingredientes e procedimentos para garantir a qualidade do médium. Temperar e preparar tem a mesma origem latina, e por analogia, o pintor estaria a temperar a sua tinta, assim como o cozinheiro prepara uma refeição.

Penso em qual dessas imagem estaria lastreado o significado de Temperamento, essa nota média do conjunto de características do comportamento, meu ou do meu cachorro. Seria na firmeza constante do aço temperado, na sua resitência a se moldar, a se dobrar, a manter-se sempre o mesmo? Salvo engano, conheço a expressão "têmpera de caráter", o que sugere sem dúvidas a imagem da personalidade inflexível. Ou uma sugestão exatamente oposta, a da preparação cuidadosa da própria personalidade, através do tempo, através da experiência, de si ou de outrem. O que me intriga não é de modo nenhum saber certamente a etmologia da palavra, mas as retorquidas voltas que ela dá ao longo do tempo e do espaço até chegar a nós.

Imagem trecho do livro "Il libro dell'arte: Trattato della pittura" do italiano Cennino Cennini, século XV

quinta-feira, novembro 12, 2009

Do Letramento dos Meninos (ou A Maior Caverna do Mundo)


Foto: Henri Cartier Bresson
O mundo para aqueles meninos era realmente vasto, ainda mais pela maneira que eles encontraram para se comunicar, transmitir e guardar informações sobre suas brincadeiras, seus sonhos, medos, receios, ou tudo aquilo que imaginavam ser real. Para tanto, é claro, faziam uso de sua titubeante oralidade, da capacidade de se comunicarem pelos movimentos, pelo corpo, da dança, dos grunhidos, mas isso limitava em muito a quantidade de sonhos e brincadeiras que precisavam ser transmitidos e guardados, para que não fossem perdidos ou esquecidos pelas outras crianças.
Foi quando um dentre eles teve a idéia de se construir uma caverna, que fosse providencial para que se abrigassem em dias de chuva ou em outras intempéries, mas também pudesse ser muito bem utilizada em toda sua extensão para o desenho. Resolveram pela construção da caverna para que pudessem desenhar em suas paredes e representar a totalidade do mundo que os cercavam. Os desenhos eram feitos apenas para se representa diretamente aquilo mesmo que se queria expressar, de maneira bem tosca assim como pinturas rupestres, dentro de uma caverna. Desenhavam cavalos, bois, sol, a bicicleta, a bola, a montanha, o gol e etc...Os desenhos atendiam apenas à sua significação, à coisa representada.
Porém com o passar do tempo, perceberam que mesmo a caverna servindo perfeitamente como abrigo, as suas paredes não abarcavam mais tanta significação, tanto gol, tanta bicicleta, tantas partidas de vídeo game, tanta brincadeira e até mesmo o próprio sonho que alimentava de possibilidade o interior da caverna já não cabia mais.
Mesmo sendo o absurdo a maior virtude da caverna, as suas paredes não eram permeáveis aos sonhos e fatalmente tiveram que lançar mão de outro plano. Tiveram a idéia de racionalizar o espaço na caverna fazendo desenhos menores, mas uma das crianças logo percebeu que não era uma boa saída, pois teriam que diminuir cada vez mais os desenhos a ponto de não o enxergarem mais.
Resolveram então, ao invés de desenhar algo que representasse somente a sua significação; como o desenho de um boi representa um boi, de um gol é um gol, o desenho da árvore representa tão somente a ela mesma! Pensaram em fazer desenhos que pudessem representar várias coisas ao mesmo tempo, dessa maneira poderiam contar várias histórias e brincadeiras dentro de um mesmo desenho. Criaram então estranhos ideogramas, representações gráficas jamais vistas, desenhos absurdos, até mesmo um ponto trazia consigo uma profusão de significados.
A idéia deu tão certo que conseguiram representar a totalidade do mundo, de diversas formas, várias vezes a ponto de criar outro mundo, com outro sol, outro mar e outras cavernas e começaram a viver nele. Hoje os espeleólogos, vez por outra encontram alguns desenhos que datam dos primórdios da infância, sem muito sentido para olhares menos treinados, já que os desenhos são extremamente preguiçosos pois necessitam de quem os vêem também faça uma parte do trabalho, a exaustiva decodificação. Mas todos, todos os desenhos sem exceção eram unânimes em indicar que a Terra era realmente diferente do que é hoje.
Só não foi encontrado o fóssil dos meninos, talvez porque estejam apenas perdidos, ou ainda continuam a desenhar. Porém, se for verdade que ainda desenham não se sabe em qual parte da caverna e nem com que tipo de grafia ou ilusório alfabeto.

quarta-feira, novembro 11, 2009

Expectativa Paterna

Estou ultrapassando um novo limite... uma fronteira...
Sei que a ficha não caiu por completo. Sei que ainda vou chorar... muito... ainda.
Sim! Mágica? Prefiro Milagre. Porque se for parar para pensar... só pode ser.
Lembro da minha infância. A puberdade estava ainda latente. Agora chegou a hora passar o bastão... de dar a oportunidade da natureza de se manifestar e fazer acontecer vida...
Fazer semente germinar...
Loucura? Pode ser. E este mundo? Não me assusta? E o futuro? E este céu de negras nuvens?
Isto é a mais clara resposta! É verdadeira manifestação da Esperança. Ainda há jeito. Ainda podemos ser felizes! O mundo tem jeito sim.
Obrigado Deus!
E que eu consiga corresponder a dádiva do milagre! Desafio de fazer alguém ser alguém de fato. Com caráter!
Estou ultrapassando um novo limite... uma fronteira...

Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final...

PS.: Os dias seguintes confirmarão este sentimento.

terça-feira, novembro 10, 2009

Só para acalmar

Já é noite e a cidade sangra.Ando doído pela rua após baforadas de crack.Entro dentro de um salão de cabeleireiro que tem uma moça sozinha.Queria cortar meu cabelo.Ela me olha.Tudo bem.Sentei-me e comecei a observar-me no espelho como nunca fizera antes.Cabelos.Olhos.Rugas.Pelos no nariz.Dentes amarelos e partes escuras e apodrecidas.Esta bom deste jeito.Não.Por favor.Raspe.Ela raspou com maquininha zero e agora me senti mais novo.Paguei-lhe.Dei-lhe uma gorjeta e caí fora.
Acendi um baseado e senti uma calma de espírito e uma vontade de matar alguém.Entrei por uma rua vazia dessas que as familias não se conhecem um ao outro e esperei aparecer uma vítima.Nunca fui fã de arma.Gosto de matar com corda.Apesar de ser na rua não permite o grito do sujeito.Lá vem uma senhora . Fico com pena. Ela com certeza é empregada doméstica e deve estar indo para casa agora. Chegará.Fará comida para uns pirralhos esfomeados e o marido que veio do boteco após tomar umas cachaças. Não me interessa.Agora vem uma moça bonita.Cabelos pretos.Olhos acentuadamente esverdeados.Pernas bem torneadas.Vestido vermelho.Parece puta de classe alta.Vai saber. Venho por trás sorrateiramente . Ela percebe meus passos e assustada põe-se a correr.Não adianta.Sou muito agil.Por favor.Não me faça mal.Se é dinheiro eu tenho.Não me interessa.Puxo-lhe pelos cabelos.Ponho uma corda de anzol no pescoço até matar.Caminho um pouco e opto agora por um cigarro amassado que está no bolso de traz.Sinto uma paz.Serenidade que vem de dentro.Olho para o céu e vejo a lua.Paço na praça e crianças brincam na água.A cidade sangra.Quem se importa.

Hemerson

segunda-feira, novembro 09, 2009

20 anos de alguma coisa


Começo com uma confissão: escrevi sobre os duzentos anos de Darwin e acabei perdendo..na falta de Darwin, falarei sobre os vinte anos de Simpsons. Ainda sobre a polêmica que anda assombrando esse blog, o episódio que estava assistindo hoje teve o seguinte diálogo entre Homer e Bart:
- Mas pai, isso não está correto, você não viu na Wikipédia?
-Claro, filho, mas chegando em casa daremos um jeito na Wikipédia...
Entendo que tal desenho é escrito por dezenas de pessoas e que a genialidade fica assim mais fácil, porém cada episódio que assisto percebo como detalhes ocultos, os easter eggs, iluminam a mente de quem assite. Pesquisas apontam que palavras cruzadas, xadrez e ler ao contrário exercita o cérebro, esse miojão que fica em cima dos seus olhos pelo lado de dentro. Me pergunto se Simpsons também tem tal efeito.
Um desenhista com vinte poucos anos estava na porta de Mel Brooks, famoso comediante americano, com uma tirinha nas mãos de namorados. Pensou como aquilo era absurdo e desenhou rapidamente uma tirinha sobre uma família com problemas! Na minha opinião a melhor família, americana ou não, que representa toda ignorância acumulada em egoísmo e é ainda é um tapa na cara para quem ve além disso.
No episódio que se passa no Brasil tem sim macacos na rua, mas também tem um garoto pobre chamado Ronaldo que a Lisa ajuda a comprar sapatos. Tem também uma apresentadora de programa infantil loira que usa um top e é um pouco burra. Totalmente diferente da realidade brasileira!

A chata do desenho é a filha Lisa, vegetariana e ativista ecológica. Resolve não comer mais carnes e o pai comemora fazendo um churrasco. Quando cheguei na casa da minha amiga que não via há tempos, comuniquei que não bebia mais. No primeiro porre dela, ela me ofereceu bebida de cinco em cinco minutos. É socialmente inaceltável beber ou não comer carne!

O diretor da escola primarária de Springfield, Skinner, mora com a mãe, tem um caso com a professora e é perseguido obsessivamente pelo garoto diabólico Bart.

Cada episódio começa de um jeito e termina de outro completamente diferente!

A mãe é super protetora, o pai é o desenho da ignorancia amável, exemplo em uma tourada onde ele usa o vestido vermelho da filha para atrair o touro, com a filha detro do vestido...enfim, poderia ficar horas descrevendo cada episódio e personagem, já que amo a série e assisto sempre que é possível ou não.

Mas a conclusão é: ficar procurando a fórmula do sucesso não existe. Ser original e verdadeiro, seja a verdade dolorida ou não é o caminho para chegar em algum lugar, sendo ele com dinheiro ou sem, mas onde a paz de espírito existe. Não quero dinheiro, quero chegar em algum lugar.


PS: a Wikipédia não foi ultilizada para escrever esse post.


domingo, novembro 08, 2009

Cara, cara, cara: Coroa!




O traço.
O lápis.
O grafite.
A mão.

O franzido das sobrancelhas
A mordida nos lábios.
A dor no coração
A versatilidade das palavras.
O nó da garganta
O choro.
O sufoco
E o alívio quem trará?
O copo com Álcool?
O buraco quente e úmido?
O macarrão suculento?
O XV de Jaú ou o Paissandu?
A calcinha da sobrinha?
A próxima página?
A lixeira?
A borracha?

Os problemas lhe perseguem?

Ou você que não os encara?

sábado, novembro 07, 2009

Senna, a globo e eu


Participo de muitas conversas de boteco onde o assunto é o vicío que a população de massa tem em consumir programas de TV aberta.

Normalmente reprovamos tais comportamentos, oras por uns terem TV a cabo, oras pela péssima programação exibida.

Na TV aberta tem o CQC da Band e o Pânico da Rede TV, onde o produto humor para dar risadas ou gargalhadas é baseados em gozações de artistas, politícos ou de deformações fisícas e problemas mentais.(saudade do tempo dos trapalhões...pararápararára). Modelo de humor que a adolescência e seus pais adora.

Mesas redonda de futebol em todos os canais onde é mais facíl comprar parafernalhas eletrônicas do que ver o gol do seu time. Modelo que pais e filhos adoram.

Mas nada ainda se compra ao efeito rede globo.

O efeito big-brother onde pessoas desesperadamente fazem ligações telefônicas, altamente tarifadas, com intuito de eliminar um participante do reality-Show a beneficio de outro que ganhara 1 milhão de reais e com certeza jamais apertara a mão de um cidadão desses que votaram nele é um fenomêno. Bem ou Mal, é um fenômeno.

A época do maior crescimento brasileiro na F1 com certeza foi de Émerson Fittipaldi nos anos 70 e de Nélson Piquet no começo dos anos 80. Porém o grande produto de massa com altissimo consumo, inclusive de minha parte, foi o Ayrton Senna da Silva.

Um rótulo atraente(jovem, de boa familía paulistana, solteiro, religioso, corinthiano mas politicamente correto), uma agressividade de pilotagem extrema, fascinante para nós brasileiros de sangue latino, onde em vias de vitória um piloto renúncia a um para ele "humilhante" segundo lugar por um acidente ou um problema mecânico.

Pra fechar um simpatico narrador, falastrão, com facilidade muito grande de identificação com o público, gritando e berrando em favor dele como o mais fanático dos torcedores em um arquibancada de um campo de futebol.

Senna foi o produto perfeito. Anunciantes usavam horários até então incovenientes como madrugadas e manhãs de domingo para vender conta-corrente, conta poupança, iogurte, chocolate, sapato, shampoo..etc..tudo que se possa imaginar.

Diga se de passagem que inclusive no dia de sua morte tudo isso foi vendido também e em quantidade muito maior mediante tragédia televisionada ao vivo e sem cortes.

Senna foi um idolo brasileiro e isso não se questiona. Se não fosse a globo outro meio teria feito a mesma coisa. Mas teria o mesmo exito?

Será que a TV fechada, com conteúdo muito mais apropriado a pais e filhos, deveria ser gratuita assim como a internet a alunos do ensino público que obtivessem boas notas nas escolas?

Isso não fariam os pais serem mais presentes com as tarefas de seus filhos da escola e consequentemente lhes daria via de entretenimento mais rica e de melhor conteúdo?

Ou seriam os baixos investimentos em esporte e cultura para as crianças e jovens desde cedo que as tem tornado ociosas nas noites de semana e nos dias do fim de semana a ponto de não por o pé na rua ou onde quer que seja para ficar em casa absorvendo esses produtos de consumo em massa?

quinta-feira, novembro 05, 2009

Atenção aos comunas

Senhores(as),
quando foi fundamentada a criação deste blog ele teve e ainda creio que tenha o intuito do desenvolvimento crítico e também de ser um meio de entretenimento.Umas das premissas foi que fosse escrito um texto por dia e desta forma fosse respeitado para que desse tempo para digerir as informações. Desta forma as reflexões e críticas fossem feitas nos comentários.
Entretanto, houve um atropelamento de vários textos diários, principalmente por um sujeito anônimo, sei lá se a pessoa é homem ou mulher, não conheço, mais caso queira criar um blog para publicar diariamente seu texto, colocarei o link aqui para todos lerem.Tem outra opção, enviar-me uma email com cópia a todos do blog falando sua identidade, afinal, conhecemos todos que aqui escrevem, e quando postar, tente manter uma semana de distância de um texto para outro, perceba que isto aqui é quase uma regra, salvo raras exceções.
Fique claro que a divergência aqui sempre terá espaço, afinal a antítese que é geradora da força motriz deste mundo, mas não venha com cópia que aí dói .Logicamente que nossas idéias são sínteses de coisas que gostamos e logo quem está lendo sabe que linha de pensamento temos, mas não precisa colar, que tal no máximo uma citação.Sei que você tem capacidade para isso .

Agradeço a compreensão de todos

Comunapiraquara@gmail.com

quarta-feira, novembro 04, 2009

Para Claude Lévi-Strauss



"O mundo acabará do mesmo jeito que começou, sem o homem" vazio, sem um neurônio, sem a maldita certeza pragmática, sem muitos terem conhecido os Tristes Trópicos de Lévi-Strauss.
É verdade que acabará, mas somente do lado de fora desta biblioteca, no jornal das oito ou no olhar de outras, pessoas atônitas, estateladas no meio do filme, no meio fio pintado de verde-amarelo da última copa.
Acabo de ver lá fora a cena dantesca do mundo num trote acelerado que só pude detê-lo no instantâneo retrato do tropeço de quem perdeu o ônibus.
E aqui num ato falho Freud roe as unhas e no outro lado da prateleira a Rosa do Povo desabrocha nesse pântano de livros risos com alguns neurônios num pânico vazio.

Em algum dia numa biblioteca nosso Ale Marques mandou essa, que guardei nas páginas de um Neruda e arrumando livros, encontrei esses escritos que melhor do que nunca serve como homenagem à grande perda.
Samuel Farias

terça-feira, novembro 03, 2009

De livros mais lidos até a Revolução

O fenômeno Crepúsculo me pegou, confesso. Tanto ouvi falar, tanto critiquei, até briguei com uma amiga que queria ver o filme, porém um dia passeava pela minha livraria predileta e vi a edição em inglês do primeiro livro. Peguei, li o primeiro paragrafo, entendi e pensei: em português jamais iria ler, mas em inglês seria mais um desafio que uma leitura simples.
Li. Li os quatro volumes, todos na língua do Tio Sam, apesar das edições serem inglesas. Praticamente me senti num café inglês comendo muffins.
Então, já que aqui escreve o que quer, QUEM quer, digo que: não leiam.
Para homens adultos cultos esse livro deve ser o último para ser lido. Mesmo que o mundo acabe, como no livro Blecaute, e o passatempo resuma-se a leitura, não leiam. A mente de vocês, amigos comunas, não está para esse tipo de dida literatura. Quem leu Noite Brancas numa tacada só, jamais, repito, jamais irá gostar de Crepúsculo.
Em Português então, não leiam mesmo . Depois da minha leitura em inglês, peguei a edição em Português e o o pequeno encanto acabou-se. Só não é pior que Paulo Coelho e Chalita.
Mulheres abandonadas, amando sem ser amadas, amando e sendo amadas, não amando e não querendo, mulheres: leiam...leiam com amor de mãe se for o caso, mas leiam. Melhor que ler fofocas na internet.
O personagem central do romance é sim apaixonante, mesmo que para sua filha. Que mulher aqui (eu e o Sebastião Maia) não quer ser protegida e amada incondicionalmente, mesmo sendo infantil? Que mulher aqui não quer ter uma crise de tpm terrível e ser amparada e não reprimida?

Mas depois leiam também V. Woolf, Verissimo (autor, não atriz), Douglas Adams, Tolkien, Nelson Rodrigues, Saramago, Garcia Marquez, Clarissa Estés, Campbell....

Ler, caros, é o que resta para todos nós, já que a revolução morreu faz tempo. Vamos combinar: foi-se o tempo que a maioria aqui era de esquerda. Agora nossas bundas de veludo dizem que somos centro, onde não há revolução, só reuniões.


Pântano da Desordem

Assisti esses dias ao filme “Distrito 9”. Para mim não tem os atrativos de um grande filme, mas o argumento é pra lá de interessante: alienígenas perdidos na terra, na sui generis situação de refugiados, abrigados precariamente em plena Joanesburgo, África do Sul. Seria o caso de um tratamento desumano, ou sub-humano? Como tratamos os diferentes, como o diferente é parecido comigo.
À parte essas divagações éticas, uma coisa que fica em segundo plano no enredo me fez pensar sobre Arte e Ciência (essas coisas que todo mundo acha que sabe o que é). Num momento inesperado aquele objeto imenso e desconhecido, surgido do nada, paira sobre a cidade e passa a fazer parte da sua paisagem. Santo apocalipse, Batman, o que será isso? Um observador que o vê de um ponto situado bem abaixo dele, em solo, cria um juízo sobre aquilo baseado no que vê: um imenso objeto circular que lhe tapa o céu. Outro observador, à distância de alguns quilômetros, olha na direção do horizonte e vê uma forma completamente diferente: algo parecido com um pião ou pêndulo, suspenso sobre a cidade; lhe parece que está muito mais próximo do topo dos prédios que o primeiro poderia julgar. Já um terceiro, observando-o de perto a bordo de um helicóptero, sequer teria idéia da forma que o objeto possui. No entanto, poderia descrever estruturas, mecanismos externos e se julgaria capaz até de identificar de que material é construído (esse deve ser militar, muito provavelmente).
Em um artigo sobre as relações entre Arte e Ciência, tratadas como diferentes formas de conhecimento, Julio Plaza diz que “a pesquisa [científica] tem um compromisso com a verdade (relação signo-objeto)”. No caso dos nossos observadores de Joanesburgo, a atitude científica para se descobrir do que se trata tal objeto desconhecido seria cruzar os pontos de vista dos três, e de quantos mais fosse possível, para se chegar a um juízo mais próximo da verdade. Quanto maior o número de fontes de informação diferentes, menor o grau de subjetividade, maior o rigor da conclusão.
Já a atitude artística faz o caminho inverso. Aí não se trata da quantidade de informação mas do modo (“As Artes não têm método, têm modo.” P. Valéry) como ela é apresentada. Tudo que escapa ao método científico, por que subjetivo demais, pode ser o assunto da procura artística. O Medo, o Apaixonante, as Angústias, o Incerto... e o seu compromisso não é aproximar-se da verdade (no máximo pode passar pela verossimilhança, algo também facultativo) mas em como faz o que faz, em que grau nos sensibiliza, em qual grau nos convence. (Convencer de que é relevante, não de que é verdadeiro).
O método científico nos levou aos confins do átomo e suas ínfimas estruturas corpusculares. Aquelas que quando ouvimos a descrição de seus estranhos comportamentos nos perguntamos se isso é “Jornada nas Estrelas” ou o quê? No entanto, ao se debruçar sobre uma questão cotidiana, universal e antiga como o Amor, por exemplo, o rigor científico não consegue ir muito além de apontar uma região no cérebro com aumento de atividade, e benefícios metabólicos. A subjetividade, o sensível, o particular, o individual, a imprecisão fértil da memória, são assuntos que as artes têm uma relação mais amistosa e produtiva, digamos. Por permitir um modo de abordar os assuntos particular e maleável, elas são capazes de extrair desse pântano da desordem algo de enriquecedor ao conhecimento humano.
O curioso disso tudo é que mesmo com essas diferenças de método e de modo Arte e Ciência não trilham caminhos paralelos, mas chegam a possuir aqui e ali, sob um olhar mais atento, muitos pontos de intersecção e de interesses comuns. Seria preciso uma enciclopédia inteira para citar os exemplos de comunhão entre elas apenas do Renascimento para cá. Mas retomando o exemplo inicial do filme, o quanto a ficção científica, de Julio Verne até “Matrix”, trançou em uma mesma corda linhas científicas e artísticas.
Uma obra artística, simples como um desenho, ou uma pesquisa científica, complexa como as novas teorias que tentam explicar o universo, são maneiras de nos aproximarmos mais da complexidade do Ser Humano, do Mundo e das relações de um com o outro. Tanto uma coisa como outra é uma forma do conhecimento.