segunda-feira, outubro 09, 2006

Violência

Violência

Num sábado a noite no calor de uma discussão sobre a atual crise do governo brasileiro, cheguei a conclusão que sempre que vamos às urnas é para escolher nossos próximos agressores. Sinto como se os eleitos apontassem o dedo no meu nariz e dissessem: Toma sua lerda, seu dinheiro está tudo no meu bolso. Você tem dívidas? Bem feito, vai trabalhar mais sua besta!

Vocês me entendem? Confesso que após minhas conclusões chorei e percebi o quanto estão nos agredindo físico e emocionalmente. É tanto disparate que o consumo de medicamentos em farmácias de homeopatia aumentou significativamente – o rescue (um paleativo para "suportar" com mais suavidade todo e qualquer tipo de violência, tomar 4 x 10 gotas diluídas num copo cheio de fé) está no topo da lista segundo a estatística farmacêutica.

Somos violentados publicamente o tempo todo. É só olhar de olhos bem abertos para perceber que temos realidades e modelos de violência gratuitas entrando em nossas vidas através da mídia ou simplesmente vivendo-as no corre corre da vida.

O que é pior para você: A violência das guerras declaradas ou as subjetivas?
Tortura você, saber que, uma determinada violência se deu apenas pelo prazer de ser mau?

A violência acontece primeiramente dentro do coração das pessoas. Muitas vezes ela se mostra na crueldade de maltratar um filho ou algum familiar dentro de casa. Uma pessoa violenta é capaz de cometer crimes pelo instinto.

Dizem que a violência urbana é um determinante da sobrevivência, mas eu não concordo. Acho que se homens e mulheres, independentes da raça e credo usassem mais a dignidade como parâmetro para seguir em frente, talvez mobilizasse muito mais profundamente seus semelhantes.
Conheço famílias paupérrimas que jamais se deixaram contaminar pela violência para ter o que comer e vestir.

O ser humano tem fome de muitas coisas: educação, valorização, auto-estima, dignidade, trabalho, equilíbrio, informação, cultura, arte, filosofia, pensamento, reflexão, paz, inteligência, afeto, amizade, sabedoria, etc... e não é com violência que supre essa carência/deficiência. Pelo contrário, é necessário o desejo de ser uma pessoa melhor no mundo.

Os homens bomba agridem diretamente minha inteligência quando penso que poderiam estar vivendo para ajudar o planeta se livrar do ódio vazio que a humanidade está causando e produzindo a ela própria.

Acredito que nos perdemos (seres humanos).
A começar pela inversão de valores e a desvalorização da vida.
A violência contra a vida tem sido cada vez mais e gratuita.
Primeiro mata, depois vamos ver se ele tem algo pra gente roubar. Situação insustentável do ponto de vista O Sol nasceu pra todos.

Violência no trânsito também é em decorrência da insatisfação do homem. Queremos descarregar em alguém toda nossa insignificância naquele momento. E assim vai, xinga daqui, grita dali, mete bala na cabeça de um motorista nervoso, chuta um, bate no outro, etc...

Mas frente a tantas agressões e violência em geral eu acredito que a pior delas é violentar-se.

Só para terminar esse texto vou ilustrar aqui com algumas passagens do filme O Sétimo Selo de Ingmar Bergman no qual ele talvez tenha colocado todos os seus questionamentos e, alguns deles achei apropriados para esse tema partindo do ponto de vista de encontrar um motivo para tanta violência no mundo:
“O vazio é um espelho que reflete em meu rosto. Vejo minha própria imagem e sinto repugnância e medo”.
“Quero conhecimento, não fé ou presunção. A vida é um horror. Ninguém consegue conviver com a morte e na ignorância de tudo”.
“A fé é uma aflição dolorosa. É como amar alguém que está no escuro e não sai quando chama”.
“Somos pequenos e assustados em nossa ignorância”.
“As pessoas quando pensam ficam assustadas”.
“Se tudo é imperfeito neste mundo imperfeito então, o amor é perfeito... em sua imperfeição”.

Boa segunda à todos vocês!
Olhos Verdes.

4 comentários:

Anônimo disse...

Pô, bem ou mal mas comentem!

PIK disse...

c'est la vie! A gente não escolhe ônibus lotado, é ele que nos escolhe. Até a vista.
Samuel

PIK disse...

Salve, Olhos Verdes!!Belo texto!!!
A Vida é Bela,apesar de tudo!! você sabe disso!!Nao é apenas nome de filme, dependede como se observa as coisas.
Precisamos é desarmar nossos espiritos e espalhar amor e amor.Parece utopico, mas é vero.
Um abraço Jô

Anônimo disse...

Bonito texto, moça de olhos verdes. Percebo nele uma busca sua FRANCA em entender e "melhorar" este misterioso mundo... Tem um trecho de um aforisma de Nietzsche, em que ele diz que "...o processo histórico é um determinante do CARÁTER da humanidade...". Millôr, vez e outra, em sua matérias jornalísticas, sempre tenta fazer um balanço da atualidade nossa, apontando aspectos negativos e positivos. A humanada é movida por necessidade, necessidade esta determinada por uma insatisfação qualquer. É um estado de crise que, ou gera mudança, ou gera mobilização, ou, se não, é o fim. Não adianta, no meu ver, querer que o(s) outro(s) mude, se ele não tem NECESSIDADE de mudança. Quando os automóveis começaram a pipocar, lá por volta dos anos de trinta/quarenta, ninguém se preocupava com poluição. Pois não havia essa necessidade, era algo incipiente ainda. Quando alguém qualquer fala a um fumante que, se ele continuar fumando dois ou três maços de cigarros, ou nem tudo isso, por dia, ele vai ter sérios problemas num futuro breve, e, apesar disso, ele não o faz, é porque aquilo não o afetou. Ele só vai mesmo parar - e olhe lá! -, quando a coisa pegar mesmo, quando estiver com falta de ar ou ser acometido com algum câncer. O homem p'ra mim é um egoísta. E o egoísta homem só sente a necessidade de mudar algo a partir de uma ameaça. Se o homem - homem aqui no sentido de humanidade - não se sentir ameaçado por nada, ele vai é se acomodar e aproveitar mesmo. Mas só voltando à citação de Millôr: com relação à violência, me pergunto sempre como é que ela vai em comparação com outras épocas. Guerras sempre ocorreram, e acho difícil de acabarem, em se falando de caráter humano. Acho que tiveram épocas, no meu pouco conhecimento histórico, BEM MAIS CRUÉIS que a nossa época atual. As crueldades, porém, eram mais claras. Hoje, percebo uma crueldade mais sutil, em muitos dos casos, difícil de detectar. Talvez o mistério dê mais tesão, não? Há um diferencial, no entanto, em nossa época, que, apesar dos pesares, apesar das refeições estarem sendo feitas perante a imagens cruéis oferecidas por uma tela, e apesar de ninguém reparar nisso, as informações, o acesso, a todas essas crueldades da vida está mais viável a nós, mais claro, mais evidente. E vejo isso como bom, pois temos um conhecimento mais real da vida - e quem sabe saberá uma mudança... Mais o homem é um imbecil, a começar por mim, bom dizer. A beleza está no simples, ainda há beleza, apesar de quase ninguém reparar no simples e, logo, no belo. Adorei as citações de "O sétimo selo", essa obra-prima do genial Bergman.

Digressões minhas à parte, beijo -