sábado, dezembro 16, 2006

Quando o roteirista Alan Moore e o desenhista David Lloyd criaram a HQ "V de Vingança", em 1981, o futuro parecia sombrio. Na história, que se passa em 1997, a Inglaterra se encontra sob domínio de um governo totalitário. Há censura, câmeras por toda a parte e violenta repressão. E na onipresença da dominação surge um misterioso mascarado conhecido como "V". Foi a política da "Dama de Ferro" Margaret Thatcher que deu a Alan Moore (roteirista inglês) a linha para a criação de V de Vingança. Vinte e tantos anos depois, “V” surge nas telas do cinema, e desta vez é George W. Bush o alvo preferido dos adaptadores. Curiosamente, o mesmo texto de Moore, adaptado e modernizado pelos irmãos Wachowski (Trilogia Matrix), continua servindo como fio condutor de críticas atuais, no filme que em março deste ano estreou no cinema.
A adaptação de "V de Vingança", é dirigida por James McTeigue e estrelada por Hugo Weaving e Natalie Portman. David Lloyd assistiu ao filme e gostou. Já o renomado roteirista Alan Moore (o pai da criança), não ficou satisfeito com o roteiro e sequer deixou que mencionassem seu nome na película.
O filme exalta um subversivo, o “terrorista” conhecido como V (Hugo Heaving). Com o rosto sob uma máscara, V pertence a um passado em que o governo perseguiu e realizou experiências com etnias classificadas como inferiores entre homossexuais e deficientes físicos (alguma referência sobre o Holocausto).
A história de 2006 é jogada alguns anos no futuro, em 2020. O cenário, porém, segue o mesmo, a Inglaterra. Um ditador fascista, Adam Sutler (John Hurt, hitleresco), rege o país utilizando táticas de repressão e intervenções midiáticas. Ele comanda a mídia e orgãos de segurança, liderados por um sujeito chamado Creedy (Tim Pigott-Smith), têm como rotina seqüestros, torturas e assassinatos daqueles que se opõem ao regime. A censura impera e se estende por todas as formas de manifestação cultural - das artes à religião.
Mas chega o dia 5 de novembro e, com ele, o aniversário da conspiração de 1605 na qual Guy Fawkes (mártir) tentou explodir o parlamento inglês e destituir o rei James I do trono. A data, um feriado burlesco, espécie de "Malhação do Judas" aos bretões, é comemorada de forma explosiva pelo terrorista V, ao som de bombas e da "Abertura 1812" de Tchaikovsky, quando ele inicia seus ataques ao governo de Sutler, retomando a idéia original pela qual de Fawkes morreu no passado.
Na mesma noite, V salva uma jovem chamada Evey (Natalie Portman) momentos antes de um estupro por homens de Creedy. A ligação da moça com a carismática figura é imediata e seus caminhos se cruzam novamente na estação de TV na qual ela trabalha. Lá, V pede aos londrinos que se levantem contra o regime, prometendo que ele terminará no próximo 5 de novembro - um ano depois - o trabalho iniciado por Fawkes séculos antes. O ditador Adam Sutler inicia uma caçada ao terrorista, mas já é tarde. Um rasgo de mudança já se tornou possível para os cidadãos oprimidos (nova revolução?).
Alguns fãs de quadrinhos já manifestaram seu desapreço ao filme. Dizem que há mudanças demais em relação à obra original, com razão.
O próprio Alan Moore achou o roteiro fraco, e o que espantou foi o fato de ele não ter se envolvido na confecção da história para a telona.
"A hora é certa para uma revolução", canta Mick Jagger nos créditos finais, na clássica porretada "Street Fighting Man". Será mesmo a hora? O que vale mesmo a pena é conferir, com uma certa paciência, este filme que nos traz um pouco de 1984, de George Orwell e todo o seu ambiente repleto de circuitos de câmeras integradas. Já em relação à Revolução, empresto aqui as palavras de um amigo: "Dá uma ligadinha lá em casa quando chegar a hora!".

Nilson Ares - Control C press

V de Vingança / V for VendettaEUA, 2006Ficção - 132 minDireção: James McTeigueRoteiro: Andy Wachowski & Larry Wachowski, baseados em HQ de Alan Moore e David Lloyd

Um comentário:

Anônimo disse...

Nilson, gostei muito desse filme, pois o heroí e um ser humano comum que guarda uma mágoa do passado.

agora a música é divina, não é?

abraços

REI DA VELA