terça-feira, maio 22, 2007

Cheirando à Bangue

Neste domingo durante a apresentação do esplêndido Antônio Nóbrega, lembrei que alguns anos atrás li sobre a História Social do Frevo, e por curiosidade, gostaria de tecer um comentário a respeito desta dança, que é pura expressão de um povo, e que sua origem remonta a história da escravidão negra.
Segundo o Pesquisador Rui Martins[1], o frevo vem da palavra ferver, como é sabido de todos.
Portanto em 1848, enquanto França e Itália passavam por processos políticos cautelosos, na qual movimentavam trabalhadores das indústrias e a burguesia liberal, como a conhecida Comuna de Paris, em Pernambuco ocorria a Insurreição Praiera.
Esta insurreição teve como principal causa o desconforto dos ambulantes, mascates brasileiros em relação ao portugueses que além de possuírem o monopólio descarado, vendiam seus produtos a preços abusivos, criando uma segregação de parte da sociedade.
Nesta sociedade açucarocrata que ainda sob o jugo da escravidão, embora com a produção açucareira em declínio, o que em parte favoreciam ainda mais as desavenças entre negros libertos, escravos, “os capoeiras”, os mascates, comerciantes portugueses,...
Dentro deste clima, a “milícia” portuguesa ira proibir os capoeiras de se manifestarem nas ruas, acusando-os de badernas, e total violências contra os lusitanos, e que em vários momentos abriam suas navalhas, e com seus pontapés rasgavam pescoços inimigos.
Como fora proibido “os capoeiras”, houve então uma incorporação do gingado desse bando que através da dança, (pois dançar não era proibido,) criaram sua arma contra a opressão dos lusitanos.
A dança consistia (e consiste) em uma total movimentação de braços e pernas freneticamente, de um lado para outro, em uma total flexibilidade do corpo em harmonia com a cabeça girando de um lado para o outro, observando assim os possíveis inimigos.
Foi incorporado ainda a sombrinha, que como a navalha era uma arma fatal e visível, a ponta da sombrinha, não causava espanto, sendo uma espécie de baioneta.Vários são os relatos de portugueses alfinetados no pescoço ou no peito seguindo de morte por hemorragias, infecções, etc.
A “milícia” portuguesa, observando os acontecimentos, também tentar barrar a dança,
porém ela resistiu o tempo e no final do século XIX, ganhou mais atrativoscomo Os Vassourinhas, lendária Banda de sopro de metais de Recife, que transformou ainda mais energética a dança, e que na realidade após a escravidão, houve até um certa apreciação por parte da sociedade lusitana.

Parabéns aos “Os Vassourinhas”, Claudionor Germano, Capiba e Antônio Nóbrega.




[1] Martins, Rui. História Social do Frevo. Ed ?. 1966 Rio de Janeiro
Rei da Vela

8 comentários:

Anônimo disse...

Bem postado professor!
O Nóbrega realmente deu (O SHOW)
e Saudades de Pernambuco!

André Luiz Rozaboni disse...

Mas que é esse Antonio Nóbrega hein...que performance,que espiritualidade,incrivel,,,de negativo apenas uma imagem do macumba,na vanguarda,de braços cruzados,enquanto todos dançavam e se entretiam com ele!Um musico ,talvez aquem em sua popularidade nacional,mas alem ,em todas suas performances!Soube mexer com essa população gelada joseense em dia gelado!

André Luiz Rozaboni disse...

mete uma foto dele no show ai charlinho...vc foi o unico a comentar a virada!

S. Farias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
S. Farias disse...

é meu caro Charles, ainda tem que ler isso do Jack, que ficou assitindo na vanguarda. Meu tio, conhecido como João Canadá também estava lá de mão no bolso...nem por isso não estava curtindo.
Ao revisitarmos a história do período da escravidão velada e não a que acontece ainda hoje conseguimos entender o que se passa. Sem a influência dos negros do passado, seríamos hoje muito parecidos com os argentinos e chilenos, que tem forte influência indígena, praticamente sem miscigenação cultural dos negros que lá aportaram...
No mesmo domingo pela manhã tivemos a oportunidade de participar de uma congada de sta Efigênia, puxada por mulheres e que as mulheres também tocam...muito bom também.
Até mais.
S. Farias

André Luiz Rozaboni disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nilson Ares disse...

Caro Pelote,

Muito bom o texto!
Pena que eu não pude ir lá...
Levei a D. maria ao médico no domingo.

Marcio disse...

uma vez eu vi ele ( o Nóbrega) aqui no teatro do Convivência, jogando capoeira ao som de Bach, foi impressionante.