terça-feira, abril 29, 2008

As Passagens

Primeiramente gostaria de comentar um fato, que tomei conhecimento neste ultimo sábado ao tomar uma cerveja com um professor de história amigo meu de longa data.
Segundo ele, dando uma aula de revolução cubana, fora interpelado por um aluno, que com muita propriedade disse que Che Guevara além de ser um grande revolucionário foi também um grande bosta. O que se há de fazer?
Mas tomando por base o texto do CEO deste blog e a foto postada por ele, me veio à mente uma obra capital para o estudo do consumo da iconografia e da urbanidade moderna. As Passagens.
Esta obra foi escrita por Walter Benjamin, quando morou em Paris no início do século passado, Benjamin reabilita um personagem de Charles Baudelaire, que é o Flâneur, uma espécie de observador urbano, que mesmo imerso na urbe tem uma visão distanciada e crítica da mesma.
Ele toma como lócus de sua análise as passagens de Paris, que seria um calçadão cheio de lojas, daquelas pequenas com fachada de vidro. E o Flâneur passa seus dias a analisar como o consumo organiza a espacialidade da cidade, o relacionamento interpessoal e todo cotidiano das pessoas.
Nessa mesma época surgiam os primeiros automóveis, e a técnica trouxe consigo a sensação da velocidade que inevitavelmente suscitou outros imaginários. Conseqüência disso foi aumento do tamanho dos cartazes de propaganda das lojas, que foram dimensionados para quem andava a pé.
Daí pra frente o Times Square é fichinha, qualquer dia o Che vai estar nos letreiros de cotação da Dow Jones ou da Nasdaq.
Imã de geladeira, foi isso que o Che virou um ícone vazio de significado. Vazio de significado histórico, Pois em uma outra obra de Benjamin, ele cola que com a reprodutibilidade técnica a “aura”, o valor estético do objeto artístico migrou do objeto para o aparato técnico que o reproduz.
Foi o que aconteceu com Che, seu significado migrou da sua história para o significado histórico da técnica que o reproduz, suscitando um outro imaginário. Sempre ligado ao consumo, o mesmo consumo das passagens de Paris, mas agora reproduzido em escala global, sua imagem só faz sentido agora se for assim, assim como a Venus de Milos mais dois hambúrgueres alface...
E como dizia um mote da Quarta Internacional, dos idos tempos pueris de minha juventude trotsksta: “Somos realistas companheiros, queremos o impossível!”

6 comentários:

S. Farias disse...

assunto profundamente interessante para ser saboreado com uma boa cerveja...o cara é ícone com uma foto tirada em funeral...não dá para fingir que tudo está atrelado a consumo e poder aquisitivo...eu quero minha mulher usando um biquini desses aí...ou de monroe, sinatra, zé carioca, curupira, cuca, sei lá...

Anônimo disse...

Ótima consideração caro Coronel. Só lembrando que a torcida bambi do São Paulo faz uso da imagem do Che em suas camisas, enquanto a do Mengo traz a imagem do Zico. Não gostaria de citar o futebol aqui, mas é lamentável a postura desta torcida independente .

Hemerson

Anônimo disse...

Boa Coronel!

Um belo passeio por Benjamim via Sérgio Paulo Rouanet, e pela utopia revolucionária já desgastada e transfigurada pelo consumismo.
"Texto digno de se pregar na geladeira".

N. Ares

Marcio disse...

é isso que tá faltando na minha geladeira nova, um ícone! alguma sugestão? tem umas banquinhas que vendem praticamente qualquer imagem em forma de ímã de geladeira.
cena de filme é legal, mas já tá meio fora de moda né? clichezão. músico de jazz também... humm, difícel isso... e aí, o que me sugerem?

Anônimo disse...

Pregue o símbolo do Corinthians, algo digno de sempre ser lembrado.

Hemerson

Anônimo disse...

ARGHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

digno de corrupção, esperteza brasileira e torcedores nord...favelados.