quarta-feira, junho 18, 2008

O caso do cabelo

Começo com duas afirmações: todo mundo pode se transformar num psicopata, até você. Não existe livre arbítrio, existem reações hormonais.
Estou falando de amor, paixão, libido, sexo e afins.
Conheço pessoas extremamente normais, ou eram, acordavam e labutavam, conversavam, viviam num mundo socialmente aceito por todos. Até que...
D era uma menina linda, olhos vivos, cabelo que brilhavam a luz do sol e da lua, inteligente, fazia amigos com facilidade e tinha amigos que a adoravam. Até que um dia conversou até de madrugada com G, começou aí uma paixão louca. Eu não conseguia mais encontrar D, ela sempre estava trancada no quarto com G. Quando os dois estavam conosco, eram só deles, de mais ninguém, riam de suas próprias piadas e riam mais ainda das piadas um do outro, era exaustivo e um tanto quanto admirável. Eu queria ter aquilo, aquela ligação, invejava a troca de olhares e carícias, admirava o fato de ela, já bonita, ter ficado sem intervenções cirúrgicas maravilhosa!
Numa bela tarde de Domingo G entrou em casa e disse a todos, morávamos em 10: acabou! Simples e claro.
Bela tarde de Domingo era aquela.
Horas mais tarde, D me liga e diz que precisa conversar.
- Estou indo aí, respondi prontamente.
- Não precisa, estou aqui na frente.
Já saí com um pouco de medo, não sei bem de que, e lá estava ela, ou o que costumava ser ela. Agora ela estava sentada na sarjeta, sem figuras de linguagem, fumando um cigarro, com se fosse o último e descabelada.
Chorava copiosamente, não conseguia falar, assim que me viu, chorou mais, acho que meu olhar entregava que e já sabia da decisão de G.
Daquele momento em diante tudo passou muito rápido. Nesse dia mesmo ela entrou, eu abri a porta, o que fazer? (segundo G, eu deveria ter deixado a porta fechada). Foi até o quarto de G com uma faca e tentou se matar. Gritava do fundo da alma que iria tirar a própria vida ali mesmo. Eu não estava no quarto, estava na sala, escutando. Senti um alívio egoísta quando a gritaria cessou.
No outro dia o telefone não parava de tocar, ninguém atendeu a pedido de G, era ela na porta querendo entrar. Foi embora. Passados quinze minutos o telefone toca e um desconhecido chama por mim, me explica que tem uma moça na casa dele, acabará de bater o carro, foi reto numa curva, estava bem, mas pedia por mim. Fui até lá, em pânico, entrei na casa do desconhecido e lá estava ela, um trapo de gente, suja, sentada na cozinha de alguém que ela nunca virá, chorando, o rosto estava coberto pelos cabelos, numa pasta de lágrimas e catarro líquido, aquele que quem já chorou de amor conhece.
Noutro dia, voltando a pé pra casa, um carro, outro, não o mesmo, passa voando por uma ruazinha, mas a motorista era ela. Apertei o passo em direção a minha casa, sabia que ela iria pra lá e mais uma vez em pânico, corri, pensando em Roma.
Nesse dia ela conseguiu falar, ter uma dita linha de raciocínio, me explicou porque G tinha que voltar pra ela. Fiquei calada, escutando. Não tinha o que dizer, nada do que ela falava justificava tudo aquilo, mas eu entendi seu desespero, apenas lhe dei um rolo de papel higiênico e passava a mão nos cabelos dela, tão lindos um dia, hoje sujos e embaraçados.
D trancou a faculdade e mudou de cidade, foi embora não só da vida de G, mas de todos. Mas foi embora pra cidade natal de G, e alugou um apartamento no prédio do irmão de G. Muito tempo se passou e hoje G e D são amigos novamente, mas sempre me pergunto até quando ela conseguirá segurar a fera dentro dela.
Sempre que passei perto de ser uma psicopata, me lembro do cabelo de D, mas isso é outra história.

10 comentários:

Marcio disse...

acho que você exagerou pouco na sua primeira afirmação. psicopatia é uma coisa um pouco diferente, não sei precisar em quê, mas é.
Sem dúvida que ninguém é imune a um surto. mas isso sempre tem um precedente não é? genético, um impulso químico, precisa de um certo histórico pro trem descarrilhar de vez, senão é uma questão tempo mesmo. ainda mais quando é caso de apaixonite

Anônimo disse...

que gosma. Horrível.

Maria Angélica Davi Costa disse...

'Psicopata, personalidade psicópata ou personalidade psicopática, (do grego psyché, alma + path, r. de páscho, sofro) designa 'enfermo da psique' ou doente mental, sendo no entanto, esta, uma definição disputada por outros pontos de vista.' Fonte: Wikipédia


la vela va, gostei da raiz dessa palavra.
qto a predisposição genética não acredito muito não. na minha opinião, as reações hormonais comuns a nós podem sim fazer com que pensemos em cortar pulsos, bater carros,tirar vidas, etc, etc...
mas me disseram que era para eu escrever fantasia e não realidade e ser mais rodriguiana... recolhendo opiniões estou.

anônimo: espero de coração que vc nunca faça algo parecido com oq escrevo aqui. começar se escondendo já revela traços de loucura aculta, já que aqui somos todos personagens. Ou não.

Marcio disse...

Maria, primeiro, não acredite em nada que te disseram ao entrar aqui, veja com seus próprios olhos. Cada um se benze e põe o que quer na feijoada.
segundo, os limites entre ficção e realidade são muito esfumaçados não é? por isso me dou a liberdade de ler o seu texto literário com a imaginação de quem lê um relato. é só por graça. => origami do rei da vela, que vai por aí também.

pois eu acredito em genética, hormônios, e na revolução permanente.

Maria Angélica Davi Costa disse...

la vela va, lendo como um relato acho que vc vai gostar de algumas que virão!!
Viva a revolução e a evolução!! Viva a feijoada, viva a fumaça e viva mais ainda oq eu vejo com meus olhos! (adorei essa dica)

Alê Marques disse...

É espirituoso o nosso La Nave Va. Va com tudo na crença.
Quando vejo Marcinho Gurdura com a nove, jogando adiando, valendo de sua estatura de homem de área, eu também não consigo dissociar a Revolução Permante de Trotski das ervilhinhas do Mendel!

Anônimo disse...

Que babação do caralho .

Anônimo disse...

tem tempero nessa sopa de letrinhas, D e G e Roma e catarrrrro...vamos seguindo o barco...tá bonito...alça na área que o goleiro não sabe sair!!
Reverendo Farias

Unknown disse...

Ahhhhhh.....fico pensando em que você se inspirou para escrever este relato...
E cada um se benze e coloca o quer na feijoada?!mendel e ervilhas?!catarro??
Que fase hein galera!

Anônimo disse...

Vocês são dotados da arte de criticar os outros sem produzir nada que preste.