segunda-feira, novembro 17, 2008

Conversa pra boi dormir

A bienal de São Paulo é conhecida como um dos maiores e mais importantes eventos de arte comtemporânea do mundo. Sua primeira edição foi em 1951, numa tentativa de empresários da indústria emergente de modernizar a cidade e desenvolver a sua atividade cultural. Desde então, a bienal trouxe artistas e trabalhos de artes que apresentavam novos problemas e propostas para a arte, em âmbito internacional. E a despeito de algumas curadorias duvidosas, as exposições sempre aconteceram e sempre promoveram debates interessantes sobre as questões artísticas.
Quem sempre visita a Bienal de São Paulo, sabe que é impossível ver todos os trabalhos exibidos em uma edição. Algumas exposições anteriores eram realmente impressionantes, por seu tamanho e ousadia: geralmente há tantos artistas que participam, e tantas coisas interessantes a considerar igualmente, que para a maioria das pessoas é inevitável uma maior ou menor expectativa a cada nova edição.
Visitar a atual edição da Bienal de São Paulo, de número 28, entretanto, é uma experiência muito desapontadora. Parece que, pela primeira vez, a bienal não aconteceu.
O debate sobre “o que fazer” com esta 28ª edição iniciou no ano passado, momento em que ninguém sequer possuía interesse em assumir a sua curadoria. Com a Instituição da Bienal passando por uma grave crise, ninguém queria ter seu nome ligado com a presidência da fundação, acusada de corrupção. A última edição da Bienal teve problemas com pagamentos e financiamento do material gráfico, além da suspeita de que o nome de artistas renomados estava sendo usados para facilitar desvios de dinheiro.
No início deste ano, Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen decidiram assumir a curadoria da atual edição. A despeito de todo debate entorno da crise da instituição, eles decidiram manter a sua primeira proposta de apresentar um andar inteiro do prédio da bienal totalmente vazio, como uma metáfora do “momento vazio” que a instituição estava passando.
Exatamente como eles projetaram, quando se entra no prédio, o que se vê é o vácuo. O primeiro piso contém nada mais que alguns vídeos documentando performances realizadas em edições passadas. O segundo pisso é o “andar vazio”. Quando se está nele, pensa-se com pesar em todos os trabalhos e obras que poderiam estar ali, afinal não é a arte e o trabalho artístico, bem como a sua importância, que está em crise. Estes continuma acontecendo por todo lado. E no último piso, alguns trabalhos aqui e acolá- e a maioria deles são igualmente referentes a edições passadas, nada de novo. O trabalho mais visitado é um escorregador em forma de tobogã de Carsten Höller, que tem um postura um tanto crítica ao que as exposições de arte se tornaram; porém parece um brinquedo no meio de um vácuo deprimente. Em vez de denunciar a situação real da instituição, o " andar vazio” da curadoria parece escondê-la. O discurso sobre o vazio metafórico e o anúncio que esta edição seria um intenso e novo momento para a bienal não passou de conversa fiada. Está claro que não houve tempo para preparar uma bineal de verdade, e não haver bienal seria um grande problema para a instituição. Os trabalhos exibidos têm suas importâncias, mas não constróem nem sugerem nada que se pareça com uma retrospectiva de exibições anteriores, como indicado pela curadoria. Mais parecem escolhidos ao acaso, ou ao sabor da conveniência. Não há um pensamento sobre a importância histórica do evento para o país e para o mundo, não há questionamentos e propostas para a crise. Há apenas a aparência de uma denúncia que não existe. E para a maioria das pessoas, fica o sentimento que tem alguma coisa errada ali, mas enquanto escorregamos no belo tobogã metálico em direção ao chão, vamos deixando isso pra lá.


Luciana Bertarelli
Marcio Elias

12 comentários:

Anônimo disse...

Literalmente,

O VAZIO como espaço

sem matéria.

Abraços

Charles

Marcio disse...

acho que isso até poderia ser uma proposta, usar o espaço vazio como sensibilização, pra discutir várias coisas, etc, mas a gente sabe que o que rolou foi precariedade geral mesmo.

mais um artigo que fala disso tudo, pra quem tiver interesse:
http://www.canalcontemporaneo.art.br/brasa/archives/001936.html

Alê Marques disse...

Até onde chegou a arte, ou melhor, a onde os administradores e o mecenato de plantão não deixou ela não chegar!
Pois como vcs disseram a produção artistica está aí.
Parece-me, pelo pouco de informação que me chegou, que a crise tá geral! O MASP também vai bem mal das pernas e é uns dos maioress museus da américa latina.
O que está bem é a Pinacoteca, mas tem uma ajuda boa do Estado. Mas se o poder publico desse uma força a Bienal ela não aprumaria??

Maria Angélica Davi Costa disse...

Realmente na Bienal 2006 havia muito mais arte que na de 2008. Mas o vazio do segundo andar me proporcionou fotos lindas.
No mesmo dia em que visitamos a Bienal 2008, também visitamos a exposição 60 anos de MAM, gratuita na Oca e um coro masculino na São Bento de algum país da antiga URSS.

A questão é: há pouca arte na Bienal mas há arte, e muito mais por toda São Paulo.
E aqui em São José? Qual evento cultural iremos prestigiar esse fim de semana? Ouvi dizer que alguns comunas aqui se reúnem eventualmente com fins culturais, porém aparentemente nenhum deles possui telefone para contato. :)

Anônimo disse...

Para um país que não investe merda nenhuma em educação, o que poderíamos esperar? Isso aqui é tudo uma palhaçada só. Estamos no fim, vamos alugar está merda de país. Tá tudo fudido mesmo , sempre esteve e ficará pior. A arte é um ramo da árvore podre. Vamos vender lixo. Eu quero cagar no ventilador e nas cabeças dos idiotas e quando olharem para mim darei gargalhadas de todos eles e falarei seus bostas , juntem-se a minha merda com a merda que vocês vem fazendo.
Quero juntar a juventude do belenzinho para acabar com tudo. Que voe cadeiras e cadeiradas ao léu. Eu mereço rir um pouco misturado ao choro.

Hemerson

Luciana Bertarelli disse...

É, Maria, mas as fotos lindas da Bienal você deve ao Niemayer, e não aos curadores da bienal....

Marcio disse...

Alexandre, a crise tá geral onde ainda funciona esse esquema fundacional muito dos obscuros, que se iniciou com grandes doadores patrocnado, mas agora que isso não dá muito ibope e o diheiro tá minguando, as ingerências afloram. há propostas pro Masp por exemplo, de se tranformar em algo do tipo autarquia, com investimento e fiscalização oficial, pois são patrimônios muito grandes, de grande interesse para todos, e precisam de uma maior transparência.
Maria, essa exposição do mam eu também quero ver! com certeza tem muito mais coisa pra ver que na bienal. mas em 2006 tinha mais arte por que tinha trabalho, esse ano não tem nada mesmo. e eu também acho que a descentralização dos plos culturais é muito importante. mas precisa investimento, em espaços, em formação, pra que coisas de qualidade aconteçam. já imaginou aquele prédio do Vicentino Aranha virar uma Faculdade de Artes, Música, dança, teatro, e o escambal? que salto seria pra sj?

Maria Angélica Davi Costa disse...

Sashimi, concordo, viva Niemayer!! Curadores da bienal sem força de vontade.
E visitem os 60 anos de MAM, tem vulvas metálicas, Picasso, cartas de artistas, árvores queimadas do artista Krajcberg. E um palhaço vivo e estático, desse eu fiquei com muito medo.
O Nelinho, Coronel, Frei, SF rasgam e cospem na Veja, mas existe uma tal de Veja São Paulo que é muito legal. Lá há um guia completo com todas as exposições da cidade, um guia bem completo. Inclusive descobri que há um movimento ‘contra’ Bienal. Varias galerias de São Paulo estão com exposições de artistas que não foram para a Bienal também com entrada gratuita. Só não me lembro quando esse circuito paralelo terminava.
La nave va: faculdade de artes no Vicentino! Até eu que nem sei desenhar um traço faria. Escreve um projeto e manda para Prefeitura. Pede umas dicas pro Nelinho e Coronel, Projeto da Prefeitura é com eles!!!

Nilson Ares disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nilson Ares disse...

Que bom termos dois reporteres em SP para nos fornecer informações de mais qualificado nível.
Assim ficamos aqui mesmo neste vazio infinitesimal, a saborear a pequenêz cotidiana longe dos grandes centros que trazem novidades que não dão em nada.
Nada por nada...
Fiquemos por aqui mesmo.

Marcio disse...

Ó o dia que eu e a Lu demos um passeio lá, isso não saía da minha cabeça!

Luciana Bertarelli disse...

Já que a onda é divulgar as atrações da grande metrópole, vou indicar algumas:
Eliseu Visconti na Pinacoteca, até dia 06/12, vale pelo artista e pelo museu (e de quebra, vejam a Maria Bonomi!)
e Michelangelo no Mube, tem dois desenhos originais (quando é que nós teremos uma oportunidade dessa de novo, não?)