sexta-feira, março 06, 2009

Delicatessen...ou Para Além da Luz


Os objetos cortantes juntaram-se aos perfurantes, desde meu ultimo conto, assumiram a minha dicção, essa arte de ditar a ação; e se amotinaram. Renderam o cara do açougue quando o solicitava a carne moída, e gaguejei mesmo sabendo que era moída. Tais objetos, hoje, partiram para a pilhagem dos sujeitos, saqueiam os sujeitos e os levam sabe lá deus para onde. Sua justificativa é de que a definição e a constituição dos sujeitos se dá através deles, dos objetos, assim como o açougueiro que não o seria nada sem a carne, aí então este objeto, no caos a carne, solapou a definição de tal profissional, da sua qualidade de ser moída, e me deixou perplexo frente ao vidro daquela geladeira olhando as outras carnes penduradas, gotejando o sangue, que outrora fora cortada pela faca, depois tudo de novo, faca, sangue, geladeira, mesa, dinheiro, carne... escutando uma voz lá no fundo: senhor, posso ajudar? E quase no mesmo tempo a geladeira grita: não dê ouvidos a esse açougueiro inútil! Sujeito vil!

Não pude comandar palavra, os objetos assaltaram minha dicção e neutralizaram minha ação, me senti uma figura abjeta, e vi que seria mais sujeito quanto mais objeto fosse, tanto quanto a faca, a geladeira...quando voltei os olhos novamente para carne e todas as variadas secções promovidas nela pela faca reparei a infinita coleção de elementos organizados numa permutação infinita de classificação que ordenara a minha realidade objetivada até aquele momento de comprar a carne moída.

Dentre os objetos colecionados por mim, eu fui o primeiro, e que até hoje me coleciono nessa permutação infinita de classificação da minha subjetividade. E o que seria a subjetividade se não a substancia, essa singularíssima coisa? A geladeira, a faca e eu não somos objeto e sujeito a priori em si, somos sim, a priori, um fenômeno.

5 comentários:

Anônimo disse...

Este tema remete diretamente as questões que tanto colocaram Hume, Locke, Descarte , Kant, Hegel e tantos outros que antecederam e precederam tais filósofos que recaem sobre a dualidade entre inanitismo e empirismo. Fato é que ele está de uma maneira literária que recaí muitas probabilidades e confesso que muito me agradou.

Hemerson

Alê Marques disse...

Sim, pensei nisso também, claro.
Mas sobre tudo, pensei numa superação dessa dicotoma entre inatismo e empirismo através da fenomenologia.
Objetos que colecionam sujeitos, isso subverte a lógica e a cisão entre ambos, fundindo-os no fenômeno, em que o espirito conhecedor da razão também faz parte, mas não como único doador de sentido.
No fundo tudo isso são consternações ontológicas, que nos assaltam, e a gente precisa dar um tratamento literário para frui-las.

Anônimo disse...

Há de fato um Hibridismo geográfico, como caracteriza o Saudoso Milton Santos. Ação e objeto se interagem, de modo Uno, isto é, não-separado, "agindo" em concerto.



abraços

Anônimo disse...

Há de fato um Hibridismo geográfico, como caracteriza o Saudoso Milton Santos. Ação e objeto se interagem, de modo Uno, isto é, não-separado, "agindo" em concerto.



abraços

Anônimo disse...

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