sexta-feira, julho 03, 2009

"A letra A em Meu Nome"

Ao grafar a letra “A” de meu nome no papel às vinte e três da noite de ontem, perdi subitamente o enunciado em questão e decidi rasgá-lo, eis que este me fitou e disse: Não. Assim não dá! Desde que fui feito me encontro por aqui, neste caderno, estou ligado as outras folhas do mesmo, presumo pela forma que me apresento, que eu seja um objeto de coleção, já pertenci a outras resmas e coletivos de minha espécie, e acho que deva ser por isso que as vezes me sinto meio dependente dos outros. Como assim? Só pro causa de uma letra A mal colocada? Eu sou o seu primeiro contexto, o seu suporte inicial, o pedestal. Sou assim como você um objeto, classificável, enumerável, colecionável, um papel pretensioso, que ambiciona um dia poder exercer o papel de objeto, até por que já vi sujeitos com sua fala inserida em outro papel ou mesmo, compreender o papel da alma de borracha que anima minha fala. Diferentemente de você e de outros leitores eu sei muito bem o que sou, por que suas letras e pensamentos se definem e constituem a partir de mim, tabula rasa. Eu que já me libertei de minha subjetividade, agora como objeto único, quero também conscientizá-lo de sua objetivação e colecioná-lo numa grande coleção de objetos interdependentes entre papel, garfo, geraldo, maria, cadeira, luiz gustavo, guarda-chva, joão carlos, alto falante...toma-se como exemplo o meu amigo objeto geraldo que assim como você é permutável e portanto podemos colocá-lo em alguma coleção seja ela cientifica, artística, histórica, individual, ou de entretenimento assim como de figurinhas da copa ou carrinhos de formula 1. Isso por que, todo colecionador também é um objeto de sua coleção, que a constrói aferindo valor, índices, símbolos por saber que não é o senhor em sua própria casa, necessita de coletivos que o formatem e que possa formatar já que o valor não é ser original, mas sim originário. Por isso ao grafar qualquer palavra em mim, não pense bem, apenas grafe. A esquizofrenia posta entre nós dois, objetos singulares, se dá por que existem significantes que não relacionam entre si, criando uma perturbação no sentido. O significante, a forma de nós objetos, anseia por se expressar surdamente. Por isso que se aliena, não se expressa corretamente e agora quer me rasgar. O coletivo de que fazes parte produz esquizofrênicos, assim como produz cadeira, auto-falantes e carro. Venha para minha coleção, papel artesanal, geraldo, de carta, maria, fundo branco ou não, não importa.

5 comentários:

Anônimo disse...

Gostei da indirefença da subjetividade.

Afinal, eu quem?

Quem eu chamo a ser EU. Que por hora sou religioso, sou fascista, sou a mãe, o Zebu, ou como disse o geraldo, a carne...

EU afinal não existe, o que existe é o que eu chamo a existir. É tudo vazio à espera de sentido.

Nossa existência são lembranças e saudades recheados de um futuro que imaginamos, que por sinal, também não existe.

O que existe é o presente, que alguns chamam a existir.

Felizes daqueles que recheam essa matéria com algo que eleva o espírito, como as artes em geral.

Pois acredito eu que é só o que sobra nesse mundo.

Adorei Trautman!

Boa semana

Prata

Alê Marques disse...

Eu que gostei do que escreveu! Essas nossas consternações ontológicas? É tudo vaizo a espera de sentido mesmo, o nada é nosso absurdo emergencial. E você coloca coloca a questão do tempo assim como Heidegger, em o Ser e o Tempo. Que serve tembém de base para o existencialismo. Não existe uma essencia a priori do sujeito, a "existencia prescede a essencia" como diria Sartre. É por isso que pergunto quem é este EU.
Uma outra questão do meu texto, que eu queria dividir contigo, é lacaniana.
Lacan coloca a base da esquizofrenia como uma pertubãção linguística,significantes vazios que pertubam o sentido,não só ele mas como também, Derrida, Giles Deluze e Felix Guatari. Que eu acho que vc iria gostar de ler.

S. Farias disse...

coronel, sem mais palavras sobre esse não papel aqui, você tá mandando ver ainda mais depois desse baseado...vamos dizer...um tônico da realidade. valeu e inté.

ps: acho que os dois serão ótimos colegas de classe.

Alê Marques disse...

Sim, tônico da realidade! Um amplificador dos sentidos!

Nilson Ares disse...

Que papo de maconheiro...