quarta-feira, agosto 05, 2009

Pepa

De quando Pepa quis aceitar Jesus, já tinha deixado o cordão, passado o êxtase e dependurado a fantasia arlequinal.
O seu rosto era uma aquarela em preto e branco desenhada pelas lágrimas falsas no rimel negro, jazia a peruca no chão, o corpo cansado e a alma invisível, de tão pequena. Foram-se também seus postiços: cílios, peitos, unhas, dentes e seu amor, tão postiço quanto, Ditinho do Gás.
Depois da orgia e da festa e com a boca inchada pela bofetada de sua parceira de ala, conseguiu balbuciar baixinho: O que eu estou fazendo aqui? O amor venal nunca tinha sido seu forte, passava as tardes no parque da zona norte sonhando roubar os meninos e outros amores vespertinos.
Depois, mais a noitinha, tomava, mas tomava muita cachaça, e das mais baratas. Melhor. Tomava não, bebia! Já que tomar para Pepa era só no cú.
Também gostava de algumas pedras, para ela deixava mais amistosas as profundas cicatrizes da mal sucedida cirurgia de mudança de sexo. Ajudava-a, fumar de maneira tão graciosa sua pedra, fazia esquecer a incompletude de sua transexualidade, que ela passou a negociar no cais do porto.
Resolveu aceitar Jesus. Não porque acreditasse em deus. Não, não era isso. Mas o aceitou só para poder continuar pecando. Pecar, depois da perda de seu sexo e de Ditinho, era única coisa que lhe dava sentido na vida. Aceitou Cristo para receber a graça do pecado.
Receba a benção irmã, e aceita a glória do Senhor!

3 comentários:

Anônimo disse...

aceita! ótimo!! SF

Marcio disse...

pra se ver, às vezes fumar pedra é o de menos.

Anônimo disse...

O que se há de fazer?

Tito