domingo, agosto 09, 2009

Sr Fractal e Sra Simetria



Nunca havia pensado nisso, e também nunca tinha feito esse trajeto, ou seja, ido ao nordeste cruzando MG.
Recentemente fomos à Bahia pela BR 116 (saudações a Toni Tornado), e quanto mais adentrando o estado de MG fui observando as diferenças culturais. Quando adentrei o Vale do Jequitinhonha observei uma fala arrastada, um povo “feio”, ou melhor, andrajoso, crianças-senhora, muitas cores juntas - amarelo, vermelho, marrom, cor-de-rosa, lilás, - , as mulheres com meias kendall na cabeça (para não estragar a Chapinha), as casas todas com teto baixo, e a fachada sempre caiada geralmente de cor-de-rosa ou amarelo.
Silêncio não existe, o tom de voz é impressionante, as pessoas falam praticamente gritando, valorizam o barulho, seja ele das vozes, das panelas, dos carros, das bicicletas, da música, enfim é um alvoroço totalmente dodecafônico.

O álcool é constante no quotidiano das pessoas, e sexo com criança é fácil, qualquer dez reais pagam, não há fiscalização e nem preocupação, é um Deus Dará.

Em Padre Paraíso, fui a uma feira popular (divina!) em que tudo isso existia e após o almoço, imaginei rapidamente um belo doce, ao perguntar ao moleque de uma barraca onde poderia encontrar, ele disse:
- Olha eu não tenho, mas Ãnli tem.

Intrigado, perguntei:

- Onde?

- Ãnli tem, ao lado da barraca de cauvão.

Minha nossa, nós sempre preocupados com a maneira de falar, tentando ficar a par das mudanças ortográficas, desejando ser o mais correto possível, e me deparo com essa cena.

Hoje entendo (mas não concordo) um pouco o pensamento do Saudoso Paulo Francis, em relação aos nordestinos, em que tinha uma total repulsa e ojeriza, porém o que posso dizer é que para aquele povo o presente é o mais importante, o amanhã literalmente pertence ao amanhã, é um povo que vive adiando as coisas, é praticamente o corpo e suas necessidades, não pensa, não projeta nada, não conversa mais, e a vida se resume em uma praça à noite cheia de trailers ou barracas, e cada uma com sua TV ligada no Caminho das Índias, e ao centro um enorme telão passando thriller do Michael Jackson.

Âfe Maria!

Mas afinal comi um saborosíssimo e belo bolo de caçarola com queijo.

Vai entender?

Nem quero.

Abraços

Prata


Obs: Mas nos campos ainda se encontra o sertanejo, homem simples que tira o chapéu, que olha no olho e observa os pássaros. Isso até quando o Programa Luz pra todos do governo não chegar.

14 comentários:

Anônimo disse...

PrataPreta, quanta bobagem, quanta ignorância, no sentido mais pejorativo possível. Aprendi lendo bastide que a realidade alheia mesmo que a que causa mais espécie na gente tem uma dimensão cultural que não se encontra acessível no primeiro contado, no primeiro bom dia ou boa tarde. A relação com o corpo, com o agora, o presente, faz parte de todo indivíduo, a falta de projetos atinge o mais empreendedor dos homens. Aquele que lida com tudo nas planilhas e gráficos, nem por essa razão este tem mais ou menos valor do que aquele, lá no vale do jequitinhonha, no norte de minas, ou no interior nordestino. O olhar do homem quando preparado capta na sutileza das relações, seja no momento em que o sujeito está se relacionando com a novela, com o "resumir" da existência num emaranhado de trailers, ou no clipe do michael, que a razão da existência não está no externo, mas sim na relação deste com o interno, na fala errada e na fala correta, se é que existe isso. Por tal razão lhe digo, não mencione o Paulo Francis mesmo que descordando com algum ponto de vista dele, digo isso em razão da imensa ignorância, disfarçada de intelectualidade, que este durante uma vida toda fez questão de vender. Seja no mínimo razoável, considerando que a relação com o corpo, com o presente, com a falta de projeto está mais em você do que naquele que, quando acorda se preocupa simplesmente, em existir da maneira mais pueril, mas singela, esbarrando no dizer, que Guimarães Rosa foi capaz de entender e revelar a beleza das frases construidas com a conjuagação verbal do homem autêntico, do homem que existe integramente, sem capas, vestimentas que no fundo no fundo não lhe cabem. Querido, repense e refina seu olhar e pensamento, para que possa gozar da plenitude do nós vai, do nós fumo, da necessidade objetiva de cada um. Abraços.

Anônimo disse...

Belo texto.

Algumas observações se faz necessárias:

- Não falo isso com sendo de um simples contato, já vi isso antes e bem de perto.

- Nunca disse que o homem sertanejo é ignorante, ou que eu seja melhor do que ele, ou esse mereça ser tratado como estúpido, disse que é praticamente o corpo, isso sim. Não coloquei juizo de valor, certo ou errado, bom ou mal...

- Ler é fundamental, mas dialogar com o povo, sentir, ver e cheirar, são outros sentidos. Precisa conhecer melhor

- O quanto conheceu de Paulo Francis, de sua obra para tratá-lo de ignorante disfarçado de intelectual? Ou só leu a crítica da crítica de algum jornal por aí, ou a orelha de livros.

- Mas, quantas vezes foi ao Nordeste?

- O mundo amigo, não é só Bilbao!
Abraços

Prata

Obs: Anônimo?

Anônimo disse...

PrataPreta,que bom sua preocupação com a mudança ortográfica quando se há em nosso país pessoas sendo alfabetizadas por professores não habilitados. Ah, perdoe-me o mais importante é a maneira como se fala, não é?
Concordo com o colega anônimo quando tratou seu texto como sendo preconceituoso! A propósito em que meio de transporte foi ao nordeste?
Não sei se costuma passar pela avenida Nelson D´Avila após as 24horas,é meu caro, lá também há garotinhas paulistas, nordestinas, mineiras, faveladas prostituindo-se.
Sou nordestina e não creio que em pleno séc.XXI com toda diversidade cultural que há em nosso país você tenha se expantado e se incomodado apenas com a fala desse meu povo.Vai te catá com seu preconceitozinho de pequeno burguês viajando em seu carro esporte!!!!!!
Não sei o que desejou defender em seu texto já que não o vê como preconceituoso, mas como bom conhecedor da língua como se define, saiba que não consegui ler nada nas entrelinhas,ok!!!!

Anônimo disse...

querido, parabéns!! o senhor falou, falou e não disse nada. que preocupação a sua, me indagar se conheço ou não Paulo Francis. Amigo, lhe digo o seguinte: Infelizmente perdi tempo demais lendo o tal calhorda. quanto arrependimento. ainda bem que não mata.
obs: dentre a obra do refirido Paulo Francis, li muita coisa, a começar por trinta anos esta noite: 1964 o que vi e vivi. que arrependimento. ah! pra sua informação nem todo mundo que le este blog é obtuso a ponto de considerar que tudo o que se escreve por aí tem qualidade. abraços. querido não faça mais perguntas desse tipo, isso cheira a pedantismo, e dos mais exacráveis.

Frei disse...

Meus Deus, que qualidade de debate!!Espero que não se afroxem as raquetes!!!

Prata, acho que ainda esta saudavél, porem no limite o debate aqui no post,sugeria uma resposta mais sólida e por que não mais vigorosa contra o anonimo(não sei pq tem nega(o)que não mete o nome nos comentários até hoje, ainda mais se tratando de um tão bom e articulado contra o texto publicado,

Anonima, Agora falando sobre qualidade ? Não esta comprando pisos e azulejos na C&C não jovem...aqui tem tudo, é um maravilhoso brejo da cruz...

e que não pare por aqui...

Frei

André Luiz Rozaboni disse...

Aproveitando,

Se sou eu que posto uma coluna assim logo seria taxado de separatista, xenofobista, senhor da raça ariana e mais alguns nomes que não lembro..fora as eleições dos membros para expulsão ou punições a mim por aqui mesmo.

Anônimo disse...

Cara nordestina estou

expantado!!! rsrsrs


Já ouviu falar em EJA?

Alê Marques disse...

Fractal são esses comentários, que mesmo divididos ainda mantém o padrão da crítica. Lindo!!
Cheguei atrasado eu sei, na próxima vou com o pé no peito. Não parem nordestinos, nortistas e sulistas, vamos nos sublevar! Gostaria de ver comentários assim em outros escritos também, não sei se o meu é digno de causar tal espécie, mas em todo caso...vou me esforçar!
PS. André que essa efeméride não sirva de inspiração para suas postagens nazi!!

Anônimo disse...

O incisivo comentário se faz pertinente e esclarecedor, livre de falácia intensional.Que por sua vez, é o risco que o codificador corre de ser decodificado ao escrever o texto na primeira pessoa;emitindo linguagem conotativa não referencial, imbuida de juizo moral.Isso não quer dizer que, a experiência (peculiar) que o autor vivenciou e expressou através de seu ato mental, esteja em concordância com o intérprete.Adoro esses debates acalorados.Viva a democracia racial!
Fabiano Baldi

Marcio disse...

às vezes o confronto cultural é muito difícil, sairmos da nossa área de conforto onde conhecemos e entendemos todos os códigos. e irmos até o outro, outra língua, outros valores... é uma dificuldade comum entre eu e o meu vizinho! é um baita exercício de empatia, e leva tempo... acho que o Prata ilustrou bem isso, como é difícil entrar no mundo do outro. E não por ser na região norte, por ser uma região mais pobre, se fosse na França também haveria a mesma dificuldade. O som, o cheiro, o gosto, o afeto (ou falta de) essas diferenças nos atingem onde quer que formos, são as primeiras mensagens que o ambiente cultural nos manda. não é um exercício fácil lidar com isso.

Cardápio Delicadeza disse...

Preconceito total heim amigo, que pena, assim como carro moderno, a vida também tem retrovisor... refaça seu juízo de valor, pois o nordeste está muito evoluído (digo isso pois acabo de chegar de Patos - PB), uma cidade enraizada dentro do Sertão, um lugar lindo, de gente bela e que falam decentemente, não generalize, todo lugar tem pessoas que não querem evoluir, dê uma olhada com carinho, pois, talvez na calçada da tua rua tenha alguém assim.. e afinal de contas: o que é evoluir?

Anônimo disse...

bravo! carro esporte foi foda...mesmo assim digo que conheço Bilbao e creio que relatos como este sobre sua viagem solidificam ainda mais nossa necessidade de continuar a comuna em direção a nada, a projetos que iniciam e terminam no escritório. inté. s.farias

Nilson Ares disse...

Gente, só li tudo isso agora (17/8 - 21h15) deixando meus afazeres de "produtor de merda" de lado.
Que debate!!!
Charles, nesta você capotou!
Praticamente jogou seu diploma fora!
Não não foi pior porque o tal, ou a tal não se identificou. Ficamos sem saber para quem você perdeu, meio que Charles 0 X 5... só no primeiro tempo.
Isso aí é pior que rebaixamento, é para se pensar...

el Samu disse...

rincões de pobreza e ignorância a vista! Isto espanta. Só a beleza beócia dos shoppings é digna de louvor!? Viva a padronização do comodismo atrelado a ignorância, onde quer que esteja. A região é apenas uma divisão do mesmo. o humano em território.