quarta-feira, outubro 28, 2009

Cinema e Meio Ambiente: e eu com isso?


Quem tem acompanhado a mostra planet.move em São José dos Campos, tem percebido uma tônica central nos filmes exibidos: a possibilidade de se fazer deste meio uma poderosa ferramenta de mobilização em prol das causas ambientais.
Ter uma câmera direcionada para o registro de atividades ambientais ilegais e para com os relatos dos flagelados destas é possibilitar um maior eco dos abusos cometidos ao nosso habitat, ou seja, da ameaça a vida em nosso planeta.
As mensagens são claras: o que vem acontecendo e quem são os responsáveis pelas mudanças climáticas, pelas mudanças nas paisagens naturais, pela diminuição do poder do Estado, pelo descaso a comunidades que não podem mais manter seus costumes e modos de vida ancestrais, pelas mentiras de empresas que ganham milhões mantendo um falso marketing ambiental, pela globalização como fábula, pelos males dos transgênicos e pelo derrubar da floresta amazônica?
Quantas informações transmitidas!
Sabemos que cada registro releva o olhar de quem registra e como e o que quer transmitir. Tudo é intencional! Tudo tem posicionamento político! Tudo é afirmado com ênfase!
E, acredito: tem que ser assim! Não dá mais para ficarmos imparciais, ou como se diz na linguagem popular: “ficar em cima do muro”.
Os filmes denunciam. Citam nomes, fornecem dados e localizações geográficas.
Sim. E nos rasgam! Nos emocionam e nos fazem chorar pela dor de nossos pares.
Nesta sexta-feira, será exibido o filme “Nas Terras do Bem-Virá”, produção brasileira do diretor Alexandre Rampazzo. Acredito que seja o filme mais tocante da mostra. O filme relata a saga dos milhares de nordestinos que, sem opção de sobreviverem no sertão, buscam trabalho nas fazendas do sul do Pará, se tornando escravos de dívidas impagáveis.
Quando assisti este filme, repensei minha existência. Será que este problema, apesar se sua distância, em todos os sentidos, também não é um problema meu? O que eu, como joseense, funcionário público nesta rica cidade pertencente ao sul maravilha tem a ver com isso?
O que eu tenho a ver com a questão da escravidão ainda vigente, de modo camuflada, no meu país? O que eu tenho a ver com a questão da posse de terra na Amazônia? O que eu tenho a ver com a derrubada da floresta?
Difícil pergunta que deve ser respondida não só por mim. O driblar, o se esquivar destas espinhosas questões não só devem nos incomodar, como devem nos fazer tirar da nossa situação de acomodados.
Ao mudarmos tais paradigmas, podemos correr risco sim! Talvez o pior deles que é ser taxado de intrometidos. No filme “Nas Terras do Bem-Virá” há relatos de fazendeiros que se perguntam o que uma americana, a missionária Dorothy Stang, veio fazer na Amazônia. É chocante o relato de defesa, pelo advogado dos executores da morte de Dorothy: “Ela já esperava isso, aliás, ela já esperava isso desde que ela saiu de lá da terra dela, dos Estados Unidos. Se ela veio para cá promover invasão, ela está colocando em risco a sua própria integridade física. Ela colabora para o crime. É a colaboração da vítima para o crime”.
Quem sabe a verdadeira história, sabe que ela não promoveu invasão nenhuma. Aliás ela ajudou a ocupar terras que o INCRA já haviam sido demarcadas para reforma agrária.
Mas sua defesa não vem acaso agora, ela não precisa que ninguém a defenda, mesmo porque, na época em que ela precisava de proteção, a negaram. O que defendo aqui neste texto é a vida! E vida no coletivo! A vida da humanidade, do planeta Terra!
Pequenos passos são os meus: promover uma mostra de filmes e escrever este texto. Ainda estou muito longe de colocar minha vida em risco. Mas, sei que já incomodo. E incomodo a incomodados que preferem ficar em casa a assistir um filme que seja, de uma mostra de nove filmes ambientais.
Que ecoe as vozes deste filmes para a vida seja promovida. Este é a mensagem central de todos os filmes exibidos nesta mostra. É o cuidado dos idealizadores de cada filme para com o planeta.
Como diz Leonardo Boff: “Tudo o que existe e vive precisa ser cuidado para continuar a existir e a viver - uma planta, um animal, uma criança, um idoso, o planeta Terra.”

Luciano Rodolfo de Moura Machado
Educador Ambiental

As exibições da mostra planet.move estão ocorrendo no auditório do CEDEMP. Quinta (29/10) e sexta-feira (30/10) às 19h. Rua Tsunessaburo Makiguti, 157 - Floradas de São José. Maiores Informações: 3909-4516. Entrada Gratuita.

7 comentários:

Alê Marques disse...

BOa LÙ! Mandou bem!!!

Alê Marques disse...

BOa LÙ! Mandou bem!!!

S. Farias disse...

bem vindo...tens muito a acrescentar a isto aqui...também existe o documentário da discovery sobre o caso de Dorothy, fantástico e emocionante...abraços. S.Farias

Anônimo disse...

Luciano, estive aí na terça, assisti o documentário do M. Santos à convite do coronel.

Sem comentários.

Realmente a denúncia nos filmes impossibilita de sairmos passivos.

Na volta pra casa um cidadão em seu fast car escutava as alturas Nativa FM, que dizia:

"O Brasil é todo sertanejo" rsrrs

Se realmente fosse, o sertanejo de Euclides e Guimarães, não precisaria de filmes para denunciar o descaso , o descuido.

Vai saber!

Abraços

PrataPreta

Obs: como faço para ter uma cópia para passar aos alunos.

Luciano Machado disse...

Rapaz...
Eu tenho cópia... Vou tirar uma para o coronel...
Se quiser uma... passe um DVD a ele e eu copio para ti.
Absss,

Anônimo disse...

Luciano, muito grato.

Será de extrema importância.

abraços

Prata

André disse...

Samuel, ótima citação do documentário "Mataram irmã Dorothy" que é emocionante.

Luciano, seja bem vindo!