sexta-feira, outubro 23, 2009

Clima e Uso da Terra


O Brasil ocupa o terceiro lugar em projetos de MDL(Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) com 8% do total, atrás da China e Índia, respectivamente cada uma com 37% e 27%, o que é muito pouco. Boa parte do percentual das iniciativas brasileiras encontra-se na área de energia.
China e Índia também têm boa parte de suas iniciativas na área de energia, e por motivos óbvios, ambas têm matriz energética suja, ou em outras palavras, fóssil. O que não é o caso do Brasil que sua matriz energética é 45% limpa, duas vezes mais do que é recomendado pelo IPCC.
Mas isso não quer dizer que o Brasil não detenha uma parcela significativa na emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), pelo contrário, nosso país colabora intensamente com emissões de GEE, mas no inventário que está sendo elaborado sobre a participação do Brasil, e que o MCT ainda não finalizou, já se sabe que a principal fonte não são as indústrias e nem nossa matriz energética, mas sim o desmatamento. Que além de emitir CO2 principal Gás de Efeito Estufa, acaba com o que se chama de Sinks, ou sumidouros de carbono, já que a floresta durante seu desenvolvimento fixa carbono na biomassa através da fotossíntese.
E por que se desmata? Simplesmente devido a pressão das commodities que empurram a fronteira agrícola para áreas de vegetação nativa, como o cerrado e a Amazônia. O principal problema dos GEE´s no Brasil está relacionado ao uso da terra. Já existe dentro do MDL (Mecanisno de Desenvolvimento Limpo) um modelo de atuação para controlar e promover adicionalidade1 na questão de uso da terra que é o LULUCF(Land use, Land Use Change and Florestry), que é Uso da Terra, Mudança de Uso da Terra e Florestamento. Porém existem poucos desses no Brasil, devido ao tempo que se leva para sua implementação, comprovação de adcionalidade e transferência de tecnologia.
O que o governo brasileiro vai levar a Copenhague é o REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), também se trata de um projeto de mudança de uso da terra, porém gerando créditos para as florestas já em pé, evitando seu desmatamento e degradação. O que por um lado é muito importante, pois impulsiona uma economia florestal, sobre tudo no tocante a serviços ambientais da floresta, como contenção de perda de solo, percolação da água, ciclagem de nutrientes, fibras, medicamentos etc..
Mas por outro lado, projetos que envolvem uso e mudança de uso da terra trazem com eles sérios riscos de vazamento de carbono (Leakage). Vazamento de carbono corresponde ao aumento de emissões de gases de efeito estufa que ocorra fora do limite da atividade de projeto do MDL e que, ao mesmo tempo, seja mensurável e atribuível à atividade de projeto. Projetos de MDL que limitam acesso a terras, alimentos, fibras, combustíveis e recursos madeireiros sem oferecerer alternativas, podem resultar em vazamento ou fuga de carbono, enquanto as pessoas procuram pelo suprimento de suas necessidades em outros lugares emitindo carbono nessas localidades.
Outro problema com o REDD, é que pelo fato de Brasil ter uma extensa área de florestas pode gerar uma sobre-oferta do crédito de carbono, fazendo com que o seu preço caia no mercado inviabilizando o processo de redução dos GEE. É preciso que se crie dentro do REDD políticas de garantia de preço, uma vez que a commodity agrícola tem o seu preço atrativo ao investidor, e a commodity de carbono precisa ser competitiva neste mercado. A solução para o passivo ambiental climático no Brasil está ligada ao uso e a mudança uso da terra em nosso país.

1. Adicionalidade: é a demonstração de como as atividades de projeto reduzem emissões de gases de feito estufa, além do que ocorreria na ausência da atividade de projeto do MDL registrado.


3 comentários:

Anônimo disse...

que ótimo que está divulgando aqui todo o seu conhecimento no assunto, que sabes que me ajudou muito em minha última monografia, por diversas conversas e tal.
Também compartilho deste ponto de vista no mesmo tom e pelo que está rolando nos diversos documentos para serem levados a Copenhagen é na questão do lulucf que podemos levar certa vantagem de redução de gee, se todo o potencial de mdl que temos ser de fato levado em consideração e se ele vingar mesmo após 2012...abraços e inté. S.Farias

Hemerson disse...

My friend,

diga aí , não está muito dentro do escopo de meu conhecimento, mas fala-se muito do gaz metano que é liberado no processo digestivo do gado que representa uma proporção considerável . Entonce my friend , quando comemos aquele carninha no churrasquinho alegremente discutindo o assunto estamos de certa forma contribuindo bastante para esta questão.
O que pensa a respeito disto .

S. Farias disse...

eu sou a favor do boi orgânico, pastando junto a agrofloresta (sei lá se é possível mesmo) e que continue as cunversa...mesmo assim, já existem pesquisas em relação a alimentação bovina que diminua a fermentação entérica e consequente ch4 emitido...inté