quinta-feira, outubro 08, 2009

Peixe podre


E hoje, depois de ter tomado muita chuva na cacunda na grande capital desvairada, atrás do prejuízo e de outras coisas, meu pensamento saracoteava uma imensidão de ideias para complementar coluna contumaz do comuna mais assíduo. Não que esta necessite complemento, mas me senti livre depois de tanto tempo sem escrever nada. Ainda, ter passado dos trinta e ainda continuar “vermelhinho” (sic). Este rótulo tem me custado muito também e busco a cada dia tirar a carapuça que já não me serve. É importante ouvirmos os ruidosos e contrários de plantão para analisarmos questões que nos passam despercebidos, ou não. O problema é assumir a “responsabilidade do festival” enquanto outros se esquivam e preferem não assinar.

Convenhamos que a questão de investimentos de vultuoso porte no Brasil está na ordem no planejamento estratégico. Esses fundos citados terão que garantir e sustentar a fluidez dos recursos investidos e a responsabilidade fiscal em todas as grandes obras, principalmente as do PAC. Dia desses ouvi que o espetáculo do crescimento está lastreado em endividamento público e este legado será a herança para outros governos. Hoje, com as PPPs não acredito que isso aconteça, sendo que o interesse não é somente o de reeleição e sim de continuidade do desenvolvimento em bases sustentáveis no Brasil, que além de tudo isso ainda recebeu a tarja de capitão da América Latina, com o desinteresse estadunidense na região.

Para não me estender, lembremo-nos ainda que este ano é o ano em que o compromisso global com as questões dos gases do efeito estufa está na cabeça das agendas de praticamente todas as partes economicamente desenvolvidas e em dezembro na mesma Copenhagen haverá a reunião envolvendo questões ambientais – basicamente compromissos e acordos globais para mitigação e adaptação em relação às emissões - lastreadas por outras questões sociais e econômicas : precedente histórico similar somente na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano no Rio em 1992.

As partes como China UE e EUA vêm no decorrer deste ano se comprometendo no combate às emissões de gases estufa com metas em longo prazo, tais como: redução da quantidade de enxofre no diesel e gasolina; veículos híbridos e com movidos a energia limpa e com materiais leves e menos impactantes no ciclo de vida; câmbios de tecnologias na base da indústria, principalmente a China, dependente do carvão mineral como nenhum outro; subsídios de tecnologias limpas em países em desenvolvimento, entre outras metas, que a meu ver não passam de obrigação e de uma tendência de mercado, adotando tais posturas para atender demanda dos consumidores mais exigentes, porque não conscientes nesses países. O Brasil se comprometeu em outros tempos em parar com o desmatamento em larga escala e por esses dias foi dito que desmatamento zero é utopia. Vá lá que a meta exigida do Brasil em dezembro será de floresta tropical de pé, e isso já é e será uma “commodity” ainda mais estratégica após a conferência.

No meu entendimento, as questões cruciais relatadas em “post” anterior estão nesta vanguarda, qual será o caminho da sustentabilidade com todo esse trabalho “sujo” a se fazer? TAV, pré-sal, copa, olimpíada, usinas hidrelétricas e termoelétricas, forças armadas, rodovias, aeroportos...bláhhh. São muito os motivos para se ter em mente que não daremos fôlegos de tudo, nem com o apoio global...oxalá eu esteja errado.

Para concluir, as duas usinas hidrelétricas do Rio Madeira, parte do PAC em relação a geração de energia, com PPPs no circuito, estão de vento em popa e gastando mais do que era estimado. Os projetos das usinas hidrelétricas são fruto de extensa complexidade calculista e foge ao meu parco conhecimento, só sei que os estudos de índices pluviométricos das regiões afetadas levam em consideração muitos anos de geração, ciência e engenharia pura mermão, com modelos que fazem a previsão sem contar com as mudanças climáticas.

Somente no primeiro desvio do curso do Rio Madeira para obras da tomada d`água foram 10 toneladas de peixe pro saco...e que saco! Quantas espécies podem ter se extinguido? Para a outra grande usina esperada, Belo Monte no Xingú, estima-se um investimento necessário de US$ 30 bilhões e o impacto causado será de ordem estratosférica. Como exemplo, estima-se que será necessária a movimentação de solos equivalente a primeira fase do canal do Panamá, maior obra civil que se tem notícia. Vejamos, movimentar tanta terra e tanto impacto para gerar energia é menos danoso que fuçar em áreas mais que profundas e sacar petróleo e gás? Ainda teremos a matriz energética mais limpa do mundo? Ou seja, o “plano B” citado por notório comuna é a gente pensar outro patamar de consumo que seja sustentado pelo que está aí...ou qualquer outra ideia que nos venha na próxima reunião do escritório, que ultimamente anda bem várzea.

Samuel Farias

5 comentários:

Alê Marques disse...

OS EUA não estava no mercador compelsório de carno mas já estava no voluntário.
Agora com REDD (redução por emissão de desmatamento) as coisas mudarão de contorno.
O que vai acontecer em Copenhague de mais revolucionário, é que pela primaira vez o Governo Brasileiro vai aceitar metas de redução de carbono por desmatamento.
Aí as tensões da bancada ruralista e outros mais no país vais se acirrar, o unico ponto de convergencia está no serviço ambiental, o PSA e o MDL serão a saída.

Marcio disse...

que tal então rolar uma preparação pra copenhagen aqui no comuna? tipo uma pré-rodada.
s[o pra entender melhor o que tá acontecendo, pra gente não ficar com cara de paisagem quando chegar lá?

Anônimo disse...

eu acho que o coronel já começou...o interessante e seguindo sua idéia seria cada um colocar seu ponto de vista e conhecimento sobre essa questão. abraços e inté. s.farias

Anônimo disse...

Sou a favor de colocar toda a vermelhada num território - seguindo o preceito de Marx (aquele que vivia como burguês bancado pelos amigos, mas queria a humanidade na pobreza): só existe comunismo onde todos o querem - fechar com uma redoma para a preservação dos gases e fazer dessa reserva uma fonte inesgotável de energia. Assim, além de não se extinguir nenhuma espécie, surgiriam várias outras derivadas da atmosfera peculiar.
Deste modo a maior reviração de terra - nunca antes neste país! - seria a da compostagem estratégica para uso da agricultura de subisistência.

Marcio disse...

Samuca,
a questão é que não dá pra concordar ou discordar sem saber muito bem o quê. Todo mundo é contra o aquecimento climático. A questão é saber quanto cada um é contra. isso é daqueles assuntos que a gente precisa de muita informação técnica pra realmente opinar, (ou apenas entender o básico) e o meu comentário foi nesse sentido, pra gente entender realmente quanto cada país ou governante tá se comprometendo realmente.