segunda-feira, dezembro 14, 2009

Por Uma Epistemologia da Natureza

Segundo Claude Lévi-Strauss para os ameríndios e para boa parte dos povos que permaneceram sem escrita, não havia uma distinção muito clara entre o homem e os outros animais da natureza. Primeiro por que não havia essa cisão homem e natureza, homem era própria natureza e vice-versa, e segundo, pela organização mítica das sociedades tribais, que pressupunha dentro da interação entre o ser humano e outros animais, a possibilidade de se comunicarem.
Do rompimento dessa unidade homem/natureza, nos restou a possibilidade através de nossas infindáveis formas de representação, a criação de simulacros desses animais e também da possibilidade de nos comunicarmos com eles. Desde criança cercamos nossos filhos com as mais variadas formas de representações e simulacros de animais sejam eles de borracha, pelúcia, plásticos, animados, que pulam, que miam, latem, correm etc. Tomando exemplo de meu filho, ele é capaz de reconhecer qualquer representação de sapo, em qualquer formato, cor, tamanho, mesmo sem nunca ter visto um de fato. O que ele conhece é apenas o simulacro do animal, é apenas a representação e não a coisa representada em si, o sapo é mediado para ele sempre por um suporte, sem o qual, não sei se faria sentido se ele o visse.
O que media o homem e a natureza é a técnica, essa é a história do homem para o materialismo histórico, a evolução técnica que possibilita novas formas de inferência do homem na natureza. Esta idéia também encontra guarida em outro lingüista signatário do materialismo, Mikhail Bakhtin, para quem a base do signo também é material e técnica. No caso o suporte técnico que serve de base para representação do sapo, segue as mesmas relações dialéticas, materiais e históricas que faz o homem interferir no espaço modificando o meio(Milton Santos), e também, iterpretar a natureza através da representação da mesma.
Dessa maneira o que se apresenta é uma questão de linguagem e discurso na natureza, existe uma mediatização do mundo natural, uma ecologia sintática ou do signo. O que o pensamento moderno sempre tratou de fazer foi separar cultura e natureza, o que hoje sabemos, ser mais um erro crasso da modernidade para justificar, que com a racionalidade técnica, o homem se sobrepõe a natureza, cabendo ao primeiro o dever e o direito de explorá-la em benefício próprio.
Diferentemente das sociedades tribais, ao qual se refere Lévi-Strauss, as sociedades complexas de nossa pos modernidade apresentam problemas ambientais preocupantes que exigem um paradigma de pensamento complexo como diria Morin. Paradigmas que fundam definitivamente as ciências da natureza às ciências humanas, abarcando questões amplas e aparentemente desconexas entre si, tais como: história e realidade física; simbolismo e economia; ciência e religião, estética natureza e cultura, tecnologia e política, dentre outras. Precisamos dar um salto para fora do pensamento positivista, que nos faz redundar no determinismo e no reducionismo, criando formas de manipulação social pela ciência, através do darwinismo social e etc.. a realidade do homem e sua natureza é muito mais complexa.
A visão de natureza para os gregos a Physis, não encontra em nossa modernidade um lugar, justamente por não haver mais uma interpretação do mundo pré socrático sobre a natureza, em que a explicação para realidade humana estava intimamente relacionada a primeira, somando a isso, o desencantamento do mundo pelo racionalismo que atribui a natureza um valor meramente utilitário, como bem teoriza os frankfurtianos, nos faz a remeter uma outra base epistemológica da mesma.
Hoje falamos mais de geociências, ciências ambientais do que propriamente em ramos específicos da ciência voltados para o meio ambiente (como biologia, geografia etc..). Quem sabe, quando decodificarmos a relação sintática do nosso mundo poderemos alterar muito mais do que sua interpretação e discurso, mas a sua inferência.

A história do homem sobre a Terra é a história de uma ruptura progressiva entre o homem e o entorno. Esse processo se acelera quando, praticamente ao mesmo tempo, o homem se descobre como indivíduo e inicia a mecanização do planeta, armando-se de novos instrumentos para tentar dominá-lo. A natureza artificializada marca uma grande mudança na história humana da natureza. Agora, com uma tecnociência, alcançamos o estágio supremo dessa evolução (SANTOS, 1994, p. 16).



5 comentários:

Anônimo disse...

Alê,

Deixando de lado a separação filosófica entre homem e natureza - que, imagino, seja observada por poucos (não quero dizer sem impotância) – acredito que o homem moderno se distanciou da natureza por não enxergar uma escassez preocupante, iminente.

Não vejo perspectiva para a aproximação do homem em relação à natureza no grau hierárquico horizontal – como você bem citou no texto.

O homem trará a natureza de volta de maneira tecnológica, prática e controlada. Será uma natureza artificial, por mais antagônica que essa afirmação possa parecer.

S. Maia

Anônimo disse...

Alexandre,

penso que o maior distanciamento iniciou-se com o renascimento no que tange a tecnologia e na filosofia por Descarte.
Podemos dizer que perdeu-se o encamento do mundo na racionalidade exarcebada. A crença na ciência nos tornou extremante frios.
Alexandre vou mais longe, nao sei se você já assistiu o longa Home, em português " A casa é nossa terra ", vi somente um trecho, mais é chocante ver a racionalização da criação de gados confinado que lembra os judeus pelos alemães, "bendito churrasquinho".
A racionalidade instrumental, uma racionalidade negativa, diferente daquela que nos tiraria do obscuro da idade média nos trouxe uma crença exacerbada na ciência a ponto de nos deixar cegos, tristes,depressivos, desumanos, calculistas.
Em todos os pontos que pegamos a racionalidade cartesiana e o caminho ampliado daqueles que foram em sua onda mais problemas nos trouxe do que coisas a comemorar.
Quando nosso amigo fala Maia fala que a tecnológia nos trará a natureza de volta, como natureza artificial, não é o que presenciamos quando temos gados confinados, plantações em linhas racionalizadas, cadeias de homens feito gado, escolas que mais parecem prisões, universidades que não caminham para versatilidade de disciplinas , mas que giram em torno da volúpia do lucro.
Pare o mundo que eu quero descer!!!
Viva o Indio do Xingu.
PIK

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Caro Pik, nem eu nem você estaremos aqui para ver o processo da natureza em reconstrução. Mas o que você diz no trecho "...não é o que presenciamos quando temos gados confinados, plantações em linhas racionalizadas, cadeias de homens feito gado, escolas que mais parecem prisões, universidades que não caminham para versatilidade de disciplinas , mas que giram em torno da volúpia do lucro." só corrobora com minha aposta. A indignação é cada dia maior e já existem (e como!) os que usam essa bandeira na política para movimentar a massa, tornar-se líder dela e pressionar os governantes nesse sentido. Só uma coisa não mudará, Pik... A busca pelo lucro! Os que trarão a natureza de volta vão cobrar por isso. Veja o buxixo que rola em torno da amazonia e a ideia de que o mundo deveria pagar pela preservação dela.

Abraço.

S. Maia

S.Farias disse...

na verdade nesse caso não é o lucro que deveria regir e sim a justiça sócio-econômica-ambiental, o triple bottom line...não é isso que aproxima o homem da natureza, creio que isso delimita um patamar onde se pode chegar sem a vara quebrar, somente envergando.....somente as compensações e subsídios não complementam uma real interação e cumplicidade, até porque também somos natureza...inté.