quarta-feira, agosto 18, 2010

Galáxia de Gutenberg


Hoje, pela manhã, depois de um pão na chapa e um prensado do Gutenberg na cabeça, passei o olho no jornal, e li nas “Rápidas”, que uma empresa que opera trens de alta velocidade na Europa, a Eurostar, contabilizou a soma de mais de 1000 exemplares do livro de Dan Brown, O Código Da Vinci, deixados na estação de Londres no período de um ano.
Muitos, como eu, poderiam atribuir o fato a qualidade literária da obra. Marcelo Nova e Raul Seixas que tinham razão: “ o best seller do momento é um livro agourento”. E pensar que entre o século V a. c. até o século XV o “livro” era algo de acesso restrito, produto de escribas e copistas, praticamente uma obra de arte.
Em a Galáxia de Gutenberg, McLuhan disseca o salto qualitativo que o mundo ocidental deu com os tipos móveis e sua representação para a era moderna. Foi aí que começou a primeira produção em série, a primeira linha de montagem, uma linha de montagem da representação material do som, do fonema, através da letra impressa, que tirou o mundo da oralidade e o tornou muito mais visual.
A própria formação do Estado Nacional está ligada a experiência da língua na forma impressa, a palavra impressa possibilitou a uniformização de conceitos da modernidade como o de cidadão, de política, da educação que se orientou aos homens de letras e estes puderam levar a cabo um projeto político-nacional para construção do Estado Moderno.
Por mais que tenha havido a democratização do conteúdo escrito e a difusão do conhecimento a leitura não se emancipou na mesma proporção, o ato de ler, no senso comum, parece se redundar numa ação canhestra ou massificada. A evidência da conquista do conteúdo se traduziu na ausência da conquista de emancipação e autônima estética.
Não haveria escritores de Best Sellers e nem seus leitores sem a tipografia, a linha de montagem é quem deu a dimensão de escala para que fossem os mais vendidos e depois abandonados nos metrôs, ou esquecidos propositadamente em algum balcão de padaria.
As editoras européias não estão aceitando mais a devolução dos encalhes, elas pedem as livrarias que rasguem a capa e os catálogos e os enviem de volta, o resto do livro podem mandar para reciclagem, como se deletasse uma biblioteca inteira de um e-book. E, segundo renomados pesquisadores do Instituto Raul Seixas, o e-book é a anti-matéria da Galáxia de Gutenberg!

2 comentários:

Anônimo disse...

my friend,
etâ assunto que gosto realmente este que vc tocou.E danada da prensa acabou com a vida dos escribas que escreviam com regras diferentes de muitos outros escribas ,profissão que morreria depois de Gutemberg e nasceria outra,aquela que ia padronizar a escrita e possilibitar a tipografia a adequar e massificar tudo.
Hemerson

Marcio disse...

É como essa Internet aqui ó, todo mundo tem acesso a todo tipo de informação, mas não sabe o que fazer com ela. Ficamos na frente de uma estante gigante, cheia de livros lindos, admirando as lombadas.

Quantidade não se traduz em qualidade, acesso a informação não gera conhecimento.

Esse Dan Brown é o Paulo Coelho da vez.