quarta-feira, agosto 18, 2010

A morte lhe pedirá passagem


Tenho vivido como se um câncer tivesse atingido minha alma. Não que o tenha, mas para que a partir disso pare de preocupar com coisas vãs. Recentemente um amigo disse-me que em plena manhã de uma segunda-feira que ficará por demais chateado, pois tinha lavado seu carro e uma chuva torrencial tirou-lhe o trabalho do dia. Passado alguns dias esta mesma pessoa saindo em urgência para atender a irmã da namorada entrou debaixo de um caminhão e ficou inválido. Recente ele esteve próximo a mim e me cumprimentou, neste meio tempo foi à mesa de outras pessoas e cumprimentou-me novamente ao retornar como se não o tivesse feito há poucos segundos. O menino está como criança sendo cuidado pelos pais e a chuva do final de semana não faz diferença alguma agora.
Uma das máximas da filosofia existencial de Heidegger, termo que ele não gostava muito, era que o homem é um ser para a morte. De todos os projetos que miramos para o nosso futuro a morte é aquela que pode anular todos desejos futuros. Este filósofo era ateu, entretanto na teologia cristã tal idéia é trazida também quando Cristo diz que o homem não deveria preocupar com o dia de amanhã porque dele não temos certeza alguma e desta forma acabamos por demais gastando uma energia desnecessária.
Ora, então não devemos ter projetos para o futuro? É certo que sim, mais com passos no presente e sem pretensões tão malucas como nos é cobrado por nós e pelo que os outros esperam de nós.
Recordo-me quando éramos crianças e parecia que os dias nos eram mais longos, pois aproveitávamos ao máximo esse tempo. Não preocupávamos com paredes riscadas, com mesas sujas, com o que íamos comer, vestir entre outras coisas. Bastava-nos o básico e alegria de viver o momento presente. Talvez daí nos vem o saudosismo infantil na vida adulta que gastamos o tempo presente preocupado com algo que ainda não nos pertence: o futuro.
Desta forma, tanto a idéia de Heidegger, bem como a idéia cristã de não podermos controlar o futuro só nos faz sentido realmente a valorização do presente que neste momento que vos falo e depois é também um passado que não retorna mais.
O que é a vida humana se não um constante devir, um movimento sem pressa, que nos leva ao nada, sem sentido, que somente nós podemos dar sentido a ele.

Hemerson

7 comentários:

Anônimo disse...

Um dia, lendo o blog do Olavo de Carvalho, vi um comentário de um leitor que perguntava como iniciar os estudos da filosofia por conta própria.

Olavo respondeu que diante de um problema filosófico o interessado deveria buscar por esse tema dentro da filosofia, através de suas obras, em ordem cronológica, e descartar aqueles que não usem como ponto de partida os nós desatados por seus antecessores.

O que mais me intrigou na resposta do filósofo Olavo de Carvalho foi a ignição, a fagulha, ou como ele mesmo diz, o problema filosófico.

Neste texto me deparo com um que, provavelmente, seja o mais popular deles.

Acredito que se equação existe para tal problema, a idéia é não projetar no amanhã algo que não esteja relacionado com seus passos hoje.

Resposta simplista - e portanto, incorreta - é a de não pensar no futuro e viver apenas o agora.

É difícil falar sobre isso sem parecer autoajuda. Mas minha concepção não é a de futuro pesado, penoso. É de gozo, de descoberta e objetivo. Apenas considero que seja minha responsabilidade, e não do meio, andar até minha autoimagem projetada no inexistente.

Agora, se a "indesejada das gentes", como dizia Bandeira, me pegar no meio do caminho, me pegará onde eu mesmo quis e não o acaso.

Abraço.

SM

Anônimo disse...

SM,

o Olavo é mais direitoso e fascista dos homens que conheci, apesar de me divertir com seus discursos. De verdade mesmo.
Mas peço-lhe licença ressuscitar o Fernando Pessoa para quem a melhor maneira de filosofor é não ter filosofia nenhuma.

Hemerson

Alê Marques disse...

Auto imagem projetada no inexistente. Isso é existencialista!!Sartriano!
Bom!

Anônimo disse...

A citação do Olavo de Carvalho não tem viés ideológico - apenas registrando.

SM

Nilson Ares disse...

Amigos, no fim de semana passado lá estava eu de mudança, carregando TV, geladeira, armário, etc.
E num momento de pausa, tomando um lanche para descansar, quando já estávamos voltando ao batente, eis que a filha mais nova da Josi, a Aninha, manda essa: "Vamos em frente que a vida não anda sem a gente..."

É isso!

Marcio disse...

Amigo Nilson, essa foi boa demais hein? É pra escrever na camiseta!

S. Farias disse...

grande sarsa e comunas!
O piquis bate profundo e este baque o perturba há tempos, desde sempre que eu saiba.
O conhecimento que tenho disso é através de meu pensar que todo dia a morte é inexorável de deve ser encarada como companheira, partícipe da vida, como diz o frei Boff. Não há nada de mais divino na vida do que se fazer as coisas é não fazê-las mais amanhã ou qualquer dia desses. Penso muito nisso irmãos! Como disse o V. de Morais no leito de morte a um amigo que perguntou:
-Chorando Vinícius, porquê? medo da morte?
Vinícius respondeu: Não meu irmão é saudade da vida...
abraços a todos!!