quinta-feira, setembro 02, 2010

Pós Leitura II

Com a evolução técnica dos suportes materiais do signo, o homem pode suscitar outros imaginários, mas não necessariamente em detrimento de outros!
Com a evolução técnica dos mídias eletrônicos, muitos se apressaram em vaticinar o fim de vários outros suportes que os prescendiam. Assim como, quando surgiu o cinema vaticinaram o fim do rádio, quando surgiu a televisão vaticinaram o fim do cinema e etc.. O rádio está mais vivo do nunca! Talvez por ele (o rádio) ser um meio de comunicação que McLuhan conceituou de quente, enquanto a TV de meio frio.
O livro digital, seguindo a lógica de McLuhan, é frio e o livro convencional é quente. Concordo com SM, não creio no fim do velho livro, a sua materialidade será o ponto chave nessa relação entre este dois suportes.
O livro digital, ou e-book, é bom por uma questão utilitária. É bom por exemplo para quem precisa ler uns 3, 4 ou5 livros de uma vez, pra quem está defendendo uma tese, uma pesquisa etc.. Não dá pra você andar pra cima e pra baixo com uma caralhada de livro debaixo do braço.
Tirando o utilitarismo da leitura, será a materialidade do livro convencional que contará! A técnica é portadora de significado, a própria técnica que estrutura o suporte sintático já é portadora de sentido, um sentido que prescede e é independente do conteúdo que este suporte pode veicular.
No caso do livro convencional a sua materialidade veicula um sentido que independe de seu conteúdo. É aí que, o que o Gurdura disse em seu comentário me fez total sentido! A história do Bruno Munari, que criava livros para crianças que ainda nem eram alfabetizadas, confeccionando só o objeto livro, em suas mais variadas formas, sem nenhum conteúdo escrito! Isso é a prova cabal que a própria materialidade do livro já é portadora de significado, independente do que nele esteja escrito! O material e a técnica com que Bruno Munari confeccionava seus livros já tenciona um sentido, que hora pode ser lúdico ou estético, mas sobretudo, um sentido específico, do imaginário que a técnica que constitui tal materialidade pode suscitar.
Mas que sacada desse Bruno Munari! Vejo também pelo meu filho, que se relaciona com esse objeto sem mesmo saber ler.
É, acho que McLuhan tinha mesmo razão, “O meio é a mensagem”.

5 comentários:

Marcio disse...

"A técnica é portadora de significado"
Bora fazer Xilogravura!

Marcio disse...

Tem toda razão, quando o registro de áudio virou um arquivo digital, quando podemos carregar milhares de músicas, com qualidade, em um aparelho menor e mais leve que uma caixa de fósforo, o que aconteceu? algumas pessoas se lembraram do vinil, daquele trambolho que só cabe uma dúzia de músicas. Pode falar que o som do vinil é outra coisa, mas o que faz a diferença mesmo é o objeto.

Em arte, o discurso poético começa na escolha da linguagem, da técnica. Isso já faz parte da mensagem.

Anônimo disse...

É, como dizia Saramago: "É ainda possível chorar sobre as páginas de um livro, mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido"

Nilson Ares disse...

A discussão é então sobre a materialidade dos suportes, o que implicará na materialidade das sensações futuras...

Marcio disse...

Acho que o problema será mesmo que agora, e que era no tempo dos escribas, perpetuar o que é fugidio, fugaz, volátil como uma sensação. A materialidade dos suportes é nossa esperança de fixar, gravar, transportar de um indivíduo a outro nosso pandemônio particular.