quinta-feira, setembro 16, 2010

Toy Store

Dizia o anfitrião, que era cara do bebê de Rosemary, temer pelas gafes em público. Mas ninguém, como eu, percebeu, já que divagavam na forma esguia e não se reparou no raro valor da ourivesaria
Só tinham mesmo olhos para ela, a manequim da franquia, Fissurada por olhares dos passantes em frente a vitrine, por balas, consumos compulsivos, pedras, álcool, caratê boliviano e cocaína.Tinha a face de talco, lívida, estática como uma plumagem congelada no seu coração de alvenaria.
Até que um dia saiu da butique e atravessou a avenida. Levou as crianças da seção de brinquedos para praia, abriu o guarda sol, o Cem Anos de Solidão e, pensou em fundear na baía para negociar com os armadores sonhos, eternidades e as crianças que trazia; as suas crianças da areia e a minha, as da água, do além mar, do vento, as crianças ultramarinas, as do amor, as do além dor, as crianças anestesiadas da tabacaria.
Que tomam alcalóides, sorvem barbitúricos e solfejam a alegria. Brincam ao abrigo do sol, com seus castelos, e refratam nos olhos de areia o calor e a luz da pira, refletida nas baixelas seu lume, o polido, opaco lustre da prataria, da loja de departamentos que jaz sem os seus dois manequins que romperam a paralisia.
Na hora do acontecimento, eu mesmo nem percebi, só me dei pelo ocorrido quando os vi, com seus corpos nus e estáticos na praia, em estágio avançado de decomposição pela maresia!
Dizem que o crime foi por motivo torpe. Por um consumidor que havia comido demais na praça de alimentação e ao chegar na loja, percebeu que o manequim, jamais serviria.


Um comentário:

Anônimo disse...

hermético, hein Xande?

já viu Medo e Delírio? Nesse naipe aí.

Link: http://www.youtube.com/watch?v=Zm7r491n-8o

Abraço.

Bruno