sábado, novembro 27, 2010

Sem Contexto


Parei. Parei não, tô descansando. Parar nunca. Só na vala. Daqui da minha cama, depois da janela, um monte de fio, rabiola, tênis velho. Lá fora o mundo gira à milhão. Aqui dentro tudo tranqüilo. Fumar. Cigarro bom, de marca. Ele e a macaca do meu lado.

Quando era criança nem imaginava isso tudo. Lembro da minha mãe, domeu pai, dos meus tios. Lembro de casa. Que é bem pertinho daqui.Vontade do churrasco do tio Isaias. Das piadas do padrinho. Os horários eram diferentes lá em casa. Minha mãe trabalhava no asfalto, no comercio. Meu pai motorista de ônibus. Lembro dele de óculos escuros, sapatos brilhantes, corrente de ouro no peito, camisa aberta. Lembro da guia. A mulecada da rua tava sempre em casa. Gostavam da pipoca da minha vó, das historias do Bene, segundo marido da minha vó. Um deles correu comigo até esses dias. Foi meu amigo, meu fiel, meu chefe... agora me proteje. Nunca pensei no que ia de ser. Minha mãe diz que eu queria ser marinheiro. Falava de barco. De ficar no mar o dia inteiro. Eu não me lembro. Esse sonho eu não tive. Vivi a vida e desemboquei aqui. E só.


Foto: Silvia Izquierdo/AP – Complexo do Alemão


Sebastião Maia

Um comentário:

Anônimo disse...

Bacana,
mesmo.Agora esse parece com o Richarlison as avessas.rs
Hemerson