terça-feira, dezembro 21, 2010

"Sonhos de Uma Noite de Verão"


A barreira natural contra a regularidade da vida e sua banalidade é o sonho. Parece uma realidade aumentada que nos transporta de um lugar ao outro dentro da noite, até o momento em que não se sabe onde começa o tempo e termina o espaço, até que tudo ameaça a desabar num interior negro.
Alguns vêem o sonho como uma peça teatral, sendo a mente um teatro em que tentamos abrir a cortina da coxia do subconsciente inutilmente. Durante a noite somos dramaturgos de nossa alma, a psique atua com seu figurino de épocas passadas, quando não, ateia fogo às vestes como símbolo mágico de nossa dramaturgia, mas acaba consumida pela luz do dia e nos esquecemos fácil da dança da chama na pira da alma.
Há um saber no sonho que a razão não abarca, só mesmo a dramaturgia onírica revelada aos homens na treva é capaz de dar sentido, Borges dizia ser o sonho a atividade estética mais antiga. Na sombra, na noite os mistérios do espírito se revelam como figuras pálidas a nos dizer textos inauditos que só mesmo o espírito na treva do sonho parece saber, só ele parece compreender e imaginar delícias que sua fruição extrapola qualquer sentido possível.
Agora, deitado na cama, nesta noite quente de verão, espero sem sono o dia chegar e sua luz ofuscar a mise-en-scéne do espaço dormido e do tempo acordado, e inaugurar uma realidade litográfica, de árvores de calcário, rios magmáticos e uma paisagem petrificada no cotidiano - ter que ir trabalhar. Mesmo vivendo o sonho inútil de poder dormir, para fruir toda extensão do tempo e amplitude dos espaços. Que falta faz um ar condicionado!



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