Aqui na ponte SP/Hellcife, sempre escapando de uma fria pela frente, uma breve e afetiva homenagem a um dos discos mais importantes da história do Brasil.
“Ô Josué eu nunca vi tamanha desgraça/Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça”.
O estrondo dos tambores, a munganga dramática da dança no palco e a denúncia do novo hino saudavam o cientista da fome, o pernambucano Josué de Castro (1908-1973), autor do clássico “Homens e caranguejos”.
E do mangue de um Recife estagnado irrompia Chico Science e Nação Zumbi com um dos discos mais importantes da história. Estamos no ano da graça de 1994. “Da Lama ao Caos” sacode a água paralisada do rock nacional como na explosão de um bueiro.
Com o mantra “Pernambuco debaixo dos pés e a mente na imensidão”, o susto da novidade correu mundo. O Brasil retomava sua pegada antropofágica que havia dado Oswald de Andrade, o Tropicalismo, os Mutantes, a poesia marginal dos 70.
Destampava-se de vez a panela da redemocratização, depois das passeatas dos caras pintadas e a aposta em novos rumos.
“Da Lama ao Caos”, para além da surpresa estética, ainda discutia ecologia –assunto ainda raro- e profetizava sobre o que veríamos depois do entrelaçamento da música moderna com as novíssimas gambiarras tecnológicas.
“Computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro”. O verso de Fred 04, parceiro de Science na zoada chamada mangue bit -depois conhecido como mangue beat pela mídia- era a síntese dessa profecia que subiu aos satélites na voz, na vontade e na representação do homem Chico.
É de uma modernidade lindamente assombrosa esse disco safra 94. Uma obra política, sem a obrigação do panfleto, que faz com a estética o que o economista Celso Furtado fundou com o ideário por um Nordeste que romperia com a cerca agrária e sua velha imagem.
Com a mente na imensidão, sem medo do sampler, da tecnologia e do banquete antropofágico, Chico Science e Nação Zumbi fizeram mais pela cultura brasileira do que a maioria dos radicais que tentaram livrá-la das “misturas”.
“Da Lama ao Caos” refundou a ideia de música made in Brazil no mundo e introduziu, cirurgicamente, na cabeça da juventude do país, o chip da nova brasilidade. Tudo isso na base dos bons tratos afetivos, sem carecer das armas baixas do autoritarismo sonoro.
É, amigo, “tudo bem envenenado, bom pra eu e bom pra tu”, como dizia Science na sua poderosa loa rapeada. Ouviram do Ipiranga, ouviram do Belenzinho, ouviram do Cariri, ouviram em Oropa, França e Bahia.
E assim se passaram 20 anos, amigos, do início da segunda revolução praieira, mais conhecida, cá entre nós, como mangue bit.
E assim se passaram 17 anos, camaradas da Manguetown, do disco do "Da Lama ao Caos."
Até parece que foi ontem um cacete!
Como dizia um velho anúncio do centenário "Diário de Pernambuco", "faz uma data, cidadão!"
2 comentários:
foi um bonde que passou e a gente perdeu.
SM
Era disso que eu falava, porra:
Aqui na ponte SP/Hellcife, sempre escapando de uma fria pela frente, uma breve e afetiva homenagem a um dos discos mais importantes da história do Brasil.
“Ô Josué eu nunca vi tamanha desgraça/Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça”.
O estrondo dos tambores, a munganga dramática da dança no palco e a denúncia do novo hino saudavam o cientista da fome, o pernambucano Josué de Castro (1908-1973), autor do clássico “Homens e caranguejos”.
E do mangue de um Recife estagnado irrompia Chico Science e Nação Zumbi com um dos discos mais importantes da história. Estamos no ano da graça de 1994. “Da Lama ao Caos” sacode a água paralisada do rock nacional como na explosão de um bueiro.
Com o mantra “Pernambuco debaixo dos pés e a mente na imensidão”, o susto da novidade correu mundo. O Brasil retomava sua pegada antropofágica que havia dado Oswald de Andrade, o Tropicalismo, os Mutantes, a poesia marginal dos 70.
Destampava-se de vez a panela da redemocratização, depois das passeatas dos caras pintadas e a aposta em novos rumos.
“Da Lama ao Caos”, para além da surpresa estética, ainda discutia ecologia –assunto ainda raro- e profetizava sobre o que veríamos depois do entrelaçamento da música moderna com as novíssimas gambiarras tecnológicas.
“Computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro”. O verso de Fred 04, parceiro de Science na zoada chamada mangue bit -depois conhecido como mangue beat pela mídia- era a síntese dessa profecia que subiu aos satélites na voz, na vontade e na representação do homem Chico.
É de uma modernidade lindamente assombrosa esse disco safra 94. Uma obra política, sem a obrigação do panfleto, que faz com a estética o que o economista Celso Furtado fundou com o ideário por um Nordeste que romperia com a cerca agrária e sua velha imagem.
Com a mente na imensidão, sem medo do sampler, da tecnologia e do banquete antropofágico, Chico Science e Nação Zumbi fizeram mais pela cultura brasileira do que a maioria dos radicais que tentaram livrá-la das “misturas”.
“Da Lama ao Caos” refundou a ideia de música made in Brazil no mundo e introduziu, cirurgicamente, na cabeça da juventude do país, o chip da nova brasilidade. Tudo isso na base dos bons tratos afetivos, sem carecer das armas baixas do autoritarismo sonoro.
É, amigo, “tudo bem envenenado, bom pra eu e bom pra tu”, como dizia Science na sua poderosa loa rapeada. Ouviram do Ipiranga, ouviram do Belenzinho, ouviram do Cariri, ouviram em Oropa, França e Bahia.
E assim se passaram 20 anos, amigos, do início da segunda revolução praieira, mais conhecida, cá entre nós, como mangue bit.
E assim se passaram 17 anos, camaradas da Manguetown, do disco do "Da Lama ao Caos."
Até parece que foi ontem um cacete!
Como dizia um velho anúncio do centenário "Diário de Pernambuco", "faz uma data, cidadão!"
retirado do blog do xico sá na folha.
SM
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