segunda-feira, outubro 30, 2006

Na Sala de Espera

A tarde cheira a alecrim.
O difícil é aguardar nesse salão médico para ser atendida depois de cinco mulheres considerando que cada uma aproveita para contar sua “novela” como diz a doutora, em uma média de quarenta e cinco minutos cada uma.

Mais uma vez surge no meu dia a oportunidade de exercitar a paciência.
Já não é agradável saber que entrando naquela sala provavelmente irei escancarar as pernas abertas e deixar um bico de pato penetrar minha vagina; em seguida suportar o toque do dedo da doutora e depois ouvir sabe-se lá o que dela.

O exercício de ser mulher se dá também nestes exames doloridos que nos submetemos no mínimo duas vezes por ano – a mamografia por exemplo é uma agressão fudida aos seios: Homem, imagine suas bolas sendo achatadas até virar uma massa lisa de pastel, imaginou? Nem pensar né. Mas é isso mesmo, nós mulheres sofremos para manter nossos órgãos em bom andamento e, como se todos esses desconfortos não bastassem, nos submetemos com prazer aos banhos de cremes nos cabelos, permanentes, unhas e uma infinidade de subterfúgios para continuarmos belas por fora.
Pensando bem, até que merecemos tanto sofrimento não é?
Se fomos condenadas a sofrer para manter o colo do útero, as mamas,
os hormônios e todos afins fisiológicos belos, porque não sofrer para manter a aparência?

Semana passada a manicure quase aleijou meu dedão do pé. Nunca tinha passado por isso, fiquei indignada com o buraco e a quantidade de sangue que ela arrancou do meu dedo apenas para cumprir o padrão de estética dela. Absurdo. Estou até hoje sem usar calçado fechado. Tomei muita chuva e frio no pé. Isso é vida? O quê que há?

Uns maridos mal encarados esperam suas damas serem atendidas; enquanto isso eles olham sem nenhum constrangimento para as que também aguardam na sala.
E eu aqui me consumindo até chegar a minha vez.
A Malhação corre solta na tv, quem não está folheando revistas velhas está com o olhar fixo na telinha – achei uma revista Cláudia de mil novecentos e noventa e cinco que traz uma reportagem sobre gravidez após a menopausa – me chamou a atenção.
Opa, mais uma mulher foi chamada pela gentil e suave enfermeira de setenta e poucas primaveras, um doce de mulher; aliás eu só estou suportando esta longa espera porque eu adoro conversar com a doutora Terezinha de setenta e três anos que me acolhe antes de tudo em seu coração, sinto uma enorme segurança emocional quando a vejo; bem, é
só aguardar mais quarenta e cinco minutos...

A galera já está ficando bicuda, é boca que torce, estômago que ronca, unha que vai na boca, pés que balançam, esmaltes que são arrancados das unhas, chicletes que rolam pra lá e pra cá, e os maridos mal encarados emplacando seus olhares por debaixo das páginas não lidas das Vejas, Isto É, Automóvel, Caras, Exame...
Puta que pariu!

Meus exames estão aqui do meu lado. O que será que eles apontam nos meus seios, no colo do meu útero? Eles estão prontos há trinta dias, até então eu não me preocupei com estas respostas mas esse tempo de espera é cruel, pois me faz pensar o que vim fazer aqui, portanto haja paciência.
É o segundo propagandista que implora ser atendido. Porra que merda!
Sei que é o trabalho dele, mas ninguém que espera por tantos motivos merece um profissional desses a essa hora.

Eu quero saber também porque a minha chiquinha arde tanto e porque o meu clitóris é tão sensível quanto um bicho da seda. Sinto um fogo queimando minha vagina quando ela recebe o chicão do meu namorado, mas esse fogo nem extintor de incêndio apaga, acredito que vou precisar de umas pomadas mesmo e, se não der bons resultados vou apelar para mais sexo.
Você é que sabe chiquinha, o que você prefere? Pomadinha ou porradinha? Uma de cada vez né, eu sabia...
Eu juro que saindo daqui, vou beijar muito para compensar o ardor na bunda de tanto esperar. Deus me ajude a não dormir aqui.
Cheguei as dezesseis horas e quarenta minutos e fui atendida as .....

-Olhos Verdes-

3 comentários:

Anônimo disse...

É útero, seio, anticoncepcional, uretra, clitóris, pomadinha, vulva, cutícula, cera quente, sobrancelha, esteja perfeita, seja perfeita, seu namorado pode nem notar, mas as outras olham com olhar clínico...

Você escolheu? Eu não...

Anônimo disse...

Posso ter a empatia que a sensibilidade humana permite, mas dizer "posso imaginar o que é isso" seria hipocrisia. podemos compartilhar sempre lendo-te, Olhos Verdes.
marcio

Anônimo disse...

kkkkkkkkk
Valeu meu genro! Homem que é Homem pensa assim...assim...heheh