quinta-feira, novembro 16, 2006

Second Life

By Coronel.

Semana passada, vi uma reportagem a respeito de um jogo que, não é bem um jogo mas, sim uma plataforma de relacionamento chamado Second Life utilizando tecnologia de animação gráfica 3D muito parecida com esses da Sony e tantos outros que se vê por aí.
Bom, como já disse não trata-se tão somente de um jogo para se divertir, muito embora exista um componente lúdico em sua manipulação, o fato é que esse softwaer em rede possibilita que o usuário crie uma personalidade virtual o chamados "avatar´s, até aí tudo bem, avatars são criados a todo momento na web, mas esse softwaer possibilita o relacionamento entre eles em rede.
O Second Life é um programa de relacionamento assim como o Orkut mas numa versão melhorada, ou piorada dependendo angulo que se vê, pois com o Orkut a interface que se tem é apenas através do teclado e da tela, no Second Life você pode manipular o seu boneco em 3D com um joystic aumentando ainda mais a interatividade, e o melhor, não existe regras nesse jogo, ninguém ganha e nem perde e também é de graça!
A única coisa que se paga no Second Life é se você quiser adquirir um território, ou melhor, divulgar sua marca. Uma vez que todos estão se relacionando virtualmente nesse ciberespaço, o Cine Mark pode oraganizar uma sessão de cinema francês hoje a meia noite, somente no Second Life, e eu encontrar com meus amigos diletos lá no território do Cine Mark ou poder fazer outros da mesma forma. Para termos uma idéia, a banda irlandesa U 2, segundo dados da reportagem, estaria organizando uma turnê global somente no Second Life.
Com perdão da digressão nesse texto, gostaria de citar para ilustrar melhor minha idéia, um autor que gosto muito, Jorge Luís Borges, existe um conto muito curioso desse autor que abarca a totalidade da representação ciberespacial. Pois assim como o Realismo Fantástico a principal característica do ciberespaço é não ter nenhum referencial temporal e espacial. O conto o qual me refiro é Biblioteca de Babel.
Biblioteca de Babel trata-se de uma biblioteca sem fim, onde existiriam lá todos os livros já escritos no mundo e também todos os livros que ainda seriam escritos, todas as línguas existentes, as já mortas e as que ainda haveriam de surgir, a biblioteca era em um formato exagonal e havia um fosso no meio, de maneira que se alguém descuidasse no beiral e caísse no fosso demoraria-se tanto para chegar ao fim que a carne do corpo se decomporia com o vento da queda.
A biblioteca era de maneira tão infinita, que as pessoas se lançavam dentro dela numa exploração sem fim atrás de livros e conhecimentos inauditos. Alguns chegavam a passar anos explorando-a, de modo que começou a haver a oportunidade de relacionamentos interpessoais dentro da biblioteca, amigos que não se viam há anos se encontravam dentro dela, poderia-se casar ou até ter filhos dentro dela, bem como cometer algum crime.
Borges escreveu esse conto se não me engano na década de quarenta. Quando se alguém ousasse a dizer que por volta de nosso novo século existiria uma rede virtual e infinita assim como a biblioteca de Borges, onde muitos poderiam se encontrar, compra vinhos, fazer sexo e cometer crimes, seria no mínimo, taxa do de louco. E o que é a Internet se não a Biblioteca de Babel, obviamente que não foi intenção de Borges fazer um relato premonitório, mas seu realismo fantástico migrou para a realidade objetiva dos nossos dias.
Porém, o que precisamos compreender em nossos dias, é que o virtual não se opõem ao real mas sim ao atual. O virtual é o real, porém não é o real presente, o virtual é o real latente, a virtualidade é a latência da realidade. Segundo um cablôco chamado Pierre Lévy, " É virtual toda entidade desterritorializada, capaz de gerar diversas manifestações concretas em diferentes locais determinados, sem contudo estar ela mesma presa a um lugar ou tempo em particular".
O virtual é uma fonte indefinida de atualizações de uma realidade, atualizações essas que não se encontram referenciadas num eixo espaço temporal, o virtual e o dito real, são dois tipos de realidades distintas porém convergentes.
O virtual é uma realidade não atualizada, é como se a semente guardasse a forma final de uma grande arvore em potência, é como se fosse uma metafísica da realidade, o virtual está em potência assim como o real está em ato, mas vamos deixar a metafísica de lado, pois como Fernando Pessoa mesmo disse, já existe metafísica demais nas arvores, na pedra e no vento...
O que quero dizer é que todo o conteúdo no ciberespaço necessita de uma interface para que se atualize. Pois quando virtual se atualiza num contexto conveniente e particular de uso e que possa ser manipulado pelo o individuo, a realidade deixa a sua latência, as informações trasladam de uma realidae a outra, do virtual ao real. Porém só seria real nesse momento, pois as fontes dessa informação sempre serão virtual por nunca estar presa a um lugar ou tempo determinado, sendo uma fonte inesgotável de novas atualizações.
A oposição do virtual ao atual, ocorre por que, para que algo seja atual presumi-se que necessariamente haja uma coordenada espaço-temporal que o qualifique de atual, o atual é o que acontece aqui ou em outro lugar mas, agora.
Para confirmar, a característica do virtual é a desterritorialidade e atemporalidade, parece que vivemos em Macondo assim como em Cem Anos de Solidão, do Gabriel Garcia Marquez, um lugar sem onde e nem quando. O realismo fantástico e o ciberespaço guardam semelhanças interessantes.
Mas a inferência no ciberespaço só é possível, e cada vez mais o será, com o desenvolvimento de formas mais amistosas da interface homem-maquina. As interfaces visam a inferência do corpo e do sistema cognitivo humano no ciberespaço. Como sensação de lisura, rugosidade, luz, calor e outros parâmetros físicos da realidade, o humano passa-se a relacionar de maneira sensório motora com modelos digitais, ou seja atualizando a latência de uma realidade passando para o outro lado da tela. É com o desenvolvimento das interfaces que veremos a inferência dos sentidos e da cognicibilidade humana no ciberespaço.
Certos processos físicos, industriais, e econômicos que há tempo eram estanques passarão através desses modelos digitais a se ligarem a um ciclo de retroalimentação, e quando boa parte da congnicibilidade humana estiver aparelhada nesses modelos, teremos que reavaliar suas implicações culturais, políticas e sociais em algum desses mundos que vivemos.
Sob condições normais de temperatura e pressão, e desprezando a resistência do ar, é tudo isso aí mesmo.
Falou!

4 comentários:

Anônimo disse...

Meu camarada,

como falar desta aula gratuita, com profundidade filosofica.
Um novo analfabetismo está latente neste Brasil de analfabetos, o virtual .
Piqui.

Anônimo disse...

- E os recursos naturais para o desenvolvimento desse ciber-espaço, até quando haverá?

- O seu texto propõe uma discussão bem atual.

- Poderemos, may-be, man, nos tornar, em future, ciborgs, não?

- Muitas das fantasias dos ficcionistas do passado, tornaram-se fato.

- As máquinas são filhotes nossos, nossos babies ( Óóó!!!!, que lindo! )...

- Dicas de dois filmes: "2001 - uma odisséia no espaço" e "PI" - ambos excelentes.

- Talvez, para os humanos explorar o espaço, só com a ajuda da máquina.

- Vai cá um texto:

As amizades ou Futuras guerras -

Relaxem, quando se consolidar a exploração - claro, quando conseguirmos recursos para isso -, de outros sistemas, com seus respectivos planetas, suas vistas estrelas, peculiares luas, cores e formas, e com seus seres extraterrenos, nós, então ciborgs terráquios, nos uniremos a favor de um bem comum, contra as invasões de alguns desafetos nossos ETs. O bem comum é a sobrevivência. É por essas e outras que se fazem as amizades.

Abrassu -

Anônimo disse...

Leiam o livro o universo em desencanto...

Coronel,
Não sei como mais vou falar disso para a galera lá na escola..
Valeu mesmo.
Farias

Anônimo disse...

Fala Coronel,

Também li a matéria e criei um avatar em SL, mas o computador do menino aqui não suporta a complexidade estrutural do ciberespaço de SL.
O "jogo" requer uma placa de video mais poderosa, tipo g-force.
Estarei entrando em breve em SL via lan house, para contar minhas desventuras literário-virtuais.

Valeu.
Nilson Ares