quarta-feira, abril 04, 2007

Contigencias

É...
Pelo que parece Ana Maria parou mesmo com tudo. Consta que foi logo após que ela teve aquela visão de Santa Barbara. Aquela, em que a santa apareceu a ela dizendo: Ana Maria, sua cadela, quando você vai parar de dar pra todo mundo minha filha?
Ana Maria começou com essa mania após ter pego Belelém, seu ex-namorado, com um travesti.
Belelém, negro, cabelo estilo black, carioca, que em meados da década de 70, deixou a Barra, a Barra do Piraí para trabalhar em uma montadora na região, e passou os últimos dias de vida como contraventor vendendo jogo do bicho. Fumava com tanta graça, classe e donaire que tinha seus de dedos de proctologista amarelados pela nicotina.
Quem deram a noticia de sua morte, sobre a cidade, foram as estatísticas que a quantificara sob o numero de crimes torpes ocorridos naquele período. As estatísticas cuidam para que não haja nomes, de sorte, não distinguiremos alguns entes entre vida e morte. Mas a noticia, sob a cidade, era a de que ele fora morto atrás de um posto de gasolina por golpes de cano de ferro, tijolo, vergalhões, e outros materiais de construção.
Ainda o lembro como contraventor, vendendo borboletas, cobras ou camelos no centro da cidade. Me lembrou um texto ( se não me engano o nome era alguma coisa parecida como The Fauna of Mirror) em que autor classificava os animais como os que se dividem em: a) pertencentes ao imperador, b) embalsamados, c) domesticados, d) leitões, e) sereias, f) fabulosos, g) cães em liberdade, h) incluídos na presente classificação, i) que se agitam como loucos, j) inumeráveis, k) desenhados com um pincel muito fino de pêlo de camelo, l) etcetera, m) que de longe parecem moscas" todos presos dentro do espelho de sua casa.
Essa parece ser a verdadeira taxionomia dos sujeitos desse lugar. Assim como o principal suspeito da morte de Belelém, o irmão de Salete, aquela que fez um churrasco de vigília para o milésimo gol do Romário. O seu irmão era o... Joaquim Preto. Tido com sujeito muito culto pois orava em línguas, sobre tudo nos dialetos bantus e ioruba.
O Joaquim Preto era muito amigo do filho do sacristão chamado Zé da Vó, é este mesmo sacristão que namora firme com Ana Maria. Sim, Zé da Vó, que nunca matou ninguém, não é adultero, contraventor, ou prevaricador, hoje ainda tem, por enquanto, em suas mãos, as ultimas poltronas do ônibus para excursão à visita do Papa em Aparecida. E promete que não cobrará ágio se houver aumento da demanda.
Isso se a dualidade emergente entre o real e o semântico desse lugar e dos que vivem nele, não se alterar.

3 comentários:

Anônimo disse...

E um fascínio o profano e o sagrado. É como se um não existisse, de fato, sem o outro.

Saudamos o Zaratustra, pela idéia do bem e do mal.


Por enquanto estou na linha da ação/reação, é mais comfortável.


abraço

Charles


Obs: Zé da Vó, guardando resquícios da poltrona da viagem que fez à apareciada em 80, na ocasião, visita do Papa, foi alucinógeno.

Marcio disse...

N Itália um agrônomo aposentado, ateu, está processando o pároco local , bem como toda a Igreja Catolica, de iludir a credulidade das pessoas com essa história de Cristo. juntou o jornalzinho de domingo e omílias como prova. Alega que o padre não tem provas da exist~encia de Jesus. Acho que ele não consegue se encaixar nessa "dualidade entre o real e o semãntico". Se ele morasse na Bahia, por exemplo, transitaria com a cosnciêcia trânquila entre Kant, Marx, Antonio conselheiro, Mãe Menininha e a União do Vegetal.

Nilson Ares disse...

Bem,

Nada melhor do que, em sexta-feira santa, para quem odeia peixe, saborear este realismo fantástico "a la Santana" - a nossa "Macondo" de personagems como os citados Belelém, J. Preto, Nêgo do Bar, Bráz, Fuquinha, Xandão Mula, Islander, entre outros "in memoriam" que pertencem ao meu universo infanto-juvenil.
A semântica do texto e a que a gente projeta estão ótimas, já a sintaxe precisa de reparos - para isso temos o Humbertão: outro personagem importantíssmo para a mossa "Macondo".

Abraços e bom bacalhau!