quinta-feira, abril 19, 2007

Minas (muito mais do que) Gerais


Era 2003, domingo, fim de tarde. Eu voltava da casa de um amigo em Santana, e ao atravessar o sinal da avenida Rui Barbosa com a rua Carlos Belmiro, me deparei com um grupo de torcedores alegres, festivos, bêbados, empinhados nos carros que formavam uma fila imensa por toda a avenida, buzinando sem parar, atraindo a atenção dos que passavam nas calçadas.

Esses torcedores vestiam uniformes nas cores azul e branco, e empunhavam bandeiras que exibiam cinco estrelas em forma de cruz, ilustrando um céu azul de fundo, cantando em coro: É campeão, É campeão! O Cruzeiro Esporte Clube, de Belo Horizonte – MG, havia se sagrado campeão brasileiro daquele ano. Toda esta cena que revivi agora me marcou muito desde então. Como pode tanta gente comemorar a vitória de um time de futebol, cujo endereço se encontra lá pela casa dos setecentos quilômetros de distância, em BH?

O bairro de Santana fica numa região muito próxima da SP-50, estrada que dá acesso ao Sul de Minas, e que de onde migraram a maioria dos mineiros com objetivo de conseguir trabalho em São José, aliás, muitos dos pais dos meus amigos. E por isso, devido à concentração de um povo e de seus costumes, a influência deixou de ser apenas geográfica, passando a ser cultural e conquistando também os limites do coração; gerando poetas, barbeiros, carroceiros e metalúrgicos, sem jamais perder a feição da terra de Drummond, Tiradentes e tantos outros brasileiros ilustres, assim como os torcedores do cruzeiro, festivos por aquele dia (merecidamente, porque o time do então técnico Wanderley Luxemburgo voara durante todo o campeonato).

Faço aqui também menção ao “Galo” (Atlético Mineiro) de ídolos como Reinaldo e Éder -quem não se lembra da bomba de Éder, da Copa de 1982 -, mas a tarde era cruzeirense.

Por toda essa impressão histórica, há pouco tempo, passou a fazer parte do calendário festivo da cidade, a Festa do Mineiro, (recebendo em 2004, o grupo 14 Bis) evento que exalta a importância deste povo, do qual todos nós somos um pouco, mas que ainda precisa de ajustes para se tornar um evento muito mais bacana do que oportunista.

Vez por outra, a cidade recebe alguns artistas de Minas, e no último dia 2 foi a vez de Lô Borges - um dos ícones do lendário Clube da Esquina - dar a graça por nossa bandas, se apresentando em Monteiro Lobato, no "Espaço Cultural Beira do Riacho".
Fomos para lá com a missão de conversar com o autor de canções que fizeram história em nossa música como Trem Azul, Paisagem da Janela, Equatorial, entre muitas. Apesar de estar com a voz um pouco cansada, devido à temporada de apresentações, como todo bom mineiro, Lô foi muito receptivo, nos concedendo sua atenção após o show.


Revista: O que você achou do público da região?


Lô Borges: Puxa! O público foi muito legal, todo mundo conhece as músicas, fiquei muito feliz. O pessoal participou pra caramba, e apesar de eu estar com a voz rouca devido a uma seqüência de shows muito longa, foi solidário e cantou para mim, fazendo com que eu pudesse cantar também. Foi um show do público em que eu também cantei...


Revista: Culturalmente como você vê a região do Vale do Paraíba?


Lô Borges: Uma região muito rica culturalmente e que tem um público muito bem informado, que conhece a produção musical do país como um todo, e eu me considero parte disso. O pessoal tem conhecimento da obra de muita gente do Brasil, inclusive este lugar em que toquei, costuma receber vários artistas de estilos diferentes, de outras tendências, o que significa que o publico local gosta da música brasileira, diversificada, da coisa ao vivo. É bem bacana...


Revista: Incluída aí a sua musicalidade, já que nós fazemos fronteira com o Sul de Minas e somos de alguma forma influenciados por esta sonoridade... Deixando-nos bem próximos do som dos mineiros do Clube da Esquina, como Milton Nascimento, Toninho Horta, Vagner Tiso, etc.


Lô Borges: Esse som mineiro se diversifica também, se multiplica em várias tendências. Eu sou um cara que faz música mineira, universal, com informações misturadas do Brasil e do mundo, e eu gosto dessa mistura, de manter “o trem sempre em movimento”, antenado com a novidade, em transição, jamais parado.



"Então eu digo amigo Lô/Como você eu também sou/Sou dessa gente que é demais/Do povo sou Minas Gerais". Nilson Ares


(Entrevista concedida após o show no Espaço Cultural Beira do Riacho em 02/07/2005, e publicada na extinta Revista Fragmentos.)

2 comentários:

Anônimo disse...

Viagem de ventania
de tudo se faze canção
e o coração a sombra
de um rio
rio
rio
rio.

Andarilho e sua sombra.

Marcio disse...

mas que Minas é essa que agente carrega onde vai, sem ser mineiro?