Bom, comentando as duas colunas, percebi um atraso crítico na primeira e um avanço na posterior. A questão "já é" a seguinte: não se trata de relexões materiais.
Como Mc Luhan, Lyotard, Baudrillard, Flussel, entre outros, devemos observar a "imaterialidade reprodutiva" destes nossos tempos, onde o ciberespaço se faz representar como principal referência. Mas não caiamos na ilusão de que o imaterial, virtual, em tempo real, não exista.
A forma diluída e liquida da pós-modernidade constitui sua própria identidade, uma identidade reticular e não mais linear como estávamos - como bons fordistas que somos - acostumados a analisar.
Assistimos ao período de diluição material das coisas. Herdamos ainda a analogia que prevaleceu sobre a maioria da interfaces que usamos no passado: LP, Fita K7, VHS, etc.
A técnica nos guiará daqui em diante como nunca nos guiou, e o passeio será cada vez mais ubíquo, cosmopolita e vertiginoso.
Eis aqui algumas colocações de Mc Luhan: " A cidade já não existe mais, salvo como espectro cultural para turistas. Qualquer botequim à beira da estrada, com seu aparelho de televisão, jornal e revista, é tão cosmopolita quanto Nova York ou Paris.
Sobre a mudança do refencial material para o imaterial, ele nos diz: "A cobertura global instantânea do rádio e da televisão torna a forma citadina insignificante e despida de função. Outrora, as cidades estavam relacionadas com as realidades da produção e da intercomunicação. Agora não. As novas comunicações não são pontes entre o homem e a natureza: são a natureza.
Gutemberg tornou toda a historia simultânea: o livro transportável trouxe o mundo dos mortos para o espaço da biblioteca de um cavalheiro; o telégrafo trouxe o mundo inteiro dos vivos para a mesa do pequeno almoço do operário. A fotografia foi a mecanização da pintura em perspectiva e do olho parado; derrubou as barreiras do espaço nacionalista, vernáculo, criado pela impressão. A impressão alterou o equilíbrio da fala oral e escrita; a fotografia alterou o equilíbrio do ouvido e do olho. Telefone, gramofone e radio são as mecanizações do espaço acústico pós-letrado. O radio leva-nos de volta às trevas da mente, às invasões de Marte e Orson Welles; mecaniza o poço de solidão que é o espaço acústico: o palpitar do coração humano aplicado a um sistema PA fornece um poço de solidão em que qualquer um pode se afogar. O cinema e a televisão completam o ciclo de mecanização do sensório humano.
Com o ouvido onipresente e o olho móvel, abolimos a escrita, a metáfora audiovisual especializada que estabeleceu a mecânica da civilização ocidental. Ao ultrapassarmos a escrita, recuperamos a nossa totalidade, não num plano nacional ou cultural, mas cósmico. Evocamos um homem supercivilizado, subprimitivo. Ninguém conhece ainda a linguagem inerente à nova cultura tecnológica; somos todos cegos e surdos-mudos, em termos da nova situação. As nossas palavras e nossos pensamentos mais impressionantes atraiçoam-nos ao referirem-se ao previamente existente, não ao atual".
Grifei isto porque nos choca constatar que tudo o que julgamos saber se torna uma efeméride e se desatualiza num piscar de olhos - em tempo real.
A vida daqui pra frente poderá ser um imenso HD, mas nosso registro, nossa passagem terá de lutar para ter a equivalência de um bit.
Nilson Ares
Fonte: Cinco dedos soberanos dificultam a respiração / Marshall McLuhan
Explorations in Communication - 1966
Beacon Press, Boston
Beacon Press, Boston
3 comentários:
A era industrial e taylorista foi marcada por imagens de máquinas, a era pós-industrial e posmoderna é marcada por maquinas de imagens.
"A vida daqui pra frente poderá ser um imenso HD, mas nosso registro, nossa passagem terá de lutar para ter a equivalência de um bit."
Bela sacada!! Uns dos arranjos sintáticos mais simples - 011001010 - o código binário poderá reduzir nossa passagem em bits
"A vida daqui pra frente poderá ser um imenso HD, mas nosso registro, nossa passagem terá de lutar para ter a equivalência de um bit."
Bela sacada!! Uns dos arranjos sintáticos mais simples - 011001010 - o código binário poderá reduzir nossa passagem em bits
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