segunda-feira, agosto 20, 2007

A equivalência de um bit?

Bom, comentando as duas colunas, percebi um atraso crítico na primeira e um avanço na posterior. A questão "já é" a seguinte: não se trata de relexões materiais.
Como Mc Luhan, Lyotard, Baudrillard, Flussel, entre outros, devemos observar a "imaterialidade reprodutiva" destes nossos tempos, onde o ciberespaço se faz representar como principal referência. Mas não caiamos na ilusão de que o imaterial, virtual, em tempo real, não exista.
A forma diluída e liquida da pós-modernidade constitui sua própria identidade, uma identidade reticular e não mais linear como estávamos - como bons fordistas que somos - acostumados a analisar.
Assistimos ao período de diluição material das coisas. Herdamos ainda a analogia que prevaleceu sobre a maioria da interfaces que usamos no passado: LP, Fita K7, VHS, etc.
A técnica nos guiará daqui em diante como nunca nos guiou, e o passeio será cada vez mais ubíquo, cosmopolita e vertiginoso.
Eis aqui algumas colocações de Mc Luhan: " A cidade já não existe mais, salvo como espectro cultural para turistas. Qualquer botequim à beira da estrada, com seu aparelho de televisão, jornal e revista, é tão cosmopolita quanto Nova York ou Paris.
Sobre a mudança do refencial material para o imaterial, ele nos diz: "A cobertura global instantânea do rádio e da televisão torna a forma citadina insignificante e despida de função. Outrora, as cidades estavam relacionadas com as realidades da produção e da intercomunicação. Agora não. As novas comunicações não são pontes entre o homem e a natureza: são a natureza.
Gutemberg tornou toda a historia simultânea: o livro transportável trouxe o mundo dos mortos para o espaço da biblioteca de um cavalheiro; o telégrafo trouxe o mundo inteiro dos vivos para a mesa do pequeno almoço do operário. A fotografia foi a mecanização da pintura em perspectiva e do olho parado; derrubou as barreiras do espaço nacionalista, vernáculo, criado pela impressão. A impressão alterou o equilíbrio da fala oral e escrita; a fotografia alterou o equilíbrio do ouvido e do olho. Telefone, gramofone e radio são as mecanizações do espaço acústico pós-letrado. O radio leva-nos de volta às trevas da mente, às invasões de Marte e Orson Welles; mecaniza o poço de solidão que é o espaço acústico: o palpitar do coração humano aplicado a um sistema PA fornece um poço de solidão em que qualquer um pode se afogar. O cinema e a televisão completam o ciclo de mecanização do sensório humano.
Com o ouvido onipresente e o olho móvel, abolimos a escrita, a metáfora audiovisual especializada que estabeleceu a mecânica da civilização ocidental. Ao ultrapassarmos a escrita, recuperamos a nossa totalidade, não num plano nacional ou cultural, mas cósmico. Evocamos um homem supercivilizado, subprimitivo. Ninguém conhece ainda a linguagem inerente à nova cultura tecnológica; somos todos cegos e surdos-mudos, em termos da nova situação. As nossas palavras e nossos pensamentos mais impressionantes atraiçoam-nos ao referirem-se ao previamente existente, não ao atual".
Grifei isto porque nos choca constatar que tudo o que julgamos saber se torna uma efeméride e se desatualiza num piscar de olhos - em tempo real.
A vida daqui pra frente poderá ser um imenso HD, mas nosso registro, nossa passagem terá de lutar para ter a equivalência de um bit.
Nilson Ares
Fonte: Cinco dedos soberanos dificultam a respiração / Marshall McLuhan
Explorations in Communication - 1966
Beacon Press, Boston

3 comentários:

Alê Marques disse...

A era industrial e taylorista foi marcada por imagens de máquinas, a era pós-industrial e posmoderna é marcada por maquinas de imagens.

Alê Marques disse...

"A vida daqui pra frente poderá ser um imenso HD, mas nosso registro, nossa passagem terá de lutar para ter a equivalência de um bit."
Bela sacada!! Uns dos arranjos sintáticos mais simples - 011001010 - o código binário poderá reduzir nossa passagem em bits

Alê Marques disse...

"A vida daqui pra frente poderá ser um imenso HD, mas nosso registro, nossa passagem terá de lutar para ter a equivalência de um bit."
Bela sacada!! Uns dos arranjos sintáticos mais simples - 011001010 - o código binário poderá reduzir nossa passagem em bits