domingo, agosto 19, 2007

O artista e o reprodutor

Há uma diferença que me parece essencial entre o artista e o reprodutor de arte. Por isso, os reprodutores podem ser um artista, aquele que atráves da técnica aprendida nas escolas são capazes de executar Baden, Jobim, Van Gogh e outros nos mais vastos campos da arte, mas não serão " o artista". Esse se diferencia pelo poder da criação que faz a arte renascer de modo que não conhecíamos até então , ele também detém a técnica , mas como um antropófago ele engole as artes e traz a novidade que faz arte renascer . Por isso os gênios são reduzidos e trazem consigo novas escolas até então impensadas.
Vejamos por exemplo o escritor José Saramago. Ele criou uma maneira nova de pontuar, usando somente ponto e vírgula, o que quebra as regras até então aprendidas nos bancos escolares. Assim precisamos além de mais atenção, usar também a imaginação,pois temos que imaginar volume e intensidade e outras características que eram dadas pela interrogação, exclamação e outros pontos que o autor nega a colocar.
Outra característica é que o novo incomoda e gera pânico aos conservadores, talvez um dos casos mais exemplares está na negação de reconhecimento das obras de Anita Malfatti por Monteiro Lobato que na época tinha uma influência muito grande no período. Tal fato deixou Anita em má situação.
Há um campo vasto para discutir tais questões, mas deixo para os comentáristas de plantão.

Tito, O Frei.


4 comentários:

André Luiz Rozaboni disse...

Gosto muito da técnica de não acentuar que Monteiro Lobato iniciou...A compreensão total do vocabulário pra mim torna-os desnescessários na nossa Lingua.

Marcio disse...

pois é, acho que mesmo se o bigodão baixar no vão do masp e pedir desculpas de joelhos, ainda vai ter que pagar o pato de ter malhado a Anita por mais umas cem gerações.
Algumas sacadas geniais não constróem uma trajetória consistente. O Saramago, além de ter inventado essa pontuação maluca, que para ler o livro parece que precisamos reaprender a ler, descobriu o pequeno cosmo de personagens demasiado humanos que focou suas fantásticas histórias, né mesmo?

sem dúvida, reproduzir técnicas consagradas não é uma coisa muito empolgante, por que não envolve riscos. mas acho que hoje (nos últimos 30 nanos) o caminho da arte (bom, falo do que ando vendo nas artes visuais) está sendo balizada mais por Atitudes do que por avanços técnicos.

Anônimo disse...

eu falo isso por que condenar a reprodução em arte pode ser ambíguo. até o século 19 e 20 a gravura era condenada ao status de arte menor, justamente pelo seu caráter múltiplo (mercadologicamente, uma tela única vale muito mais que uma cópia entre centenas iguais), e ainda existem ranços disso, sem se levar em conta o potencial poe´tico e expressivo desse médium.
outro exemplo: existe um artista britânico-indiano, Anish Kapoor, reconhecido mundialmente, expôs esse ano no rio e em Sp, tá na crstada onda. Mas o trabalho dele é muito legal mesmo, impressionante. as peças são cosntruídas em escala arquitetônica, enormes, e usam técnicas sofisticadas, industriais mesmo. obviamente, não dá pra imaginar o próprio Anish manuseando todos esses aparatos, ferramentas, técnicas, impossível. o seu trabalho artístico é ter idéias, a equipe dele que se vire pra por as geringonças de pé.
ele não é o único, e isso nem é novo. pintores renascentistas tinham aprendizes que executavam suas telas, fiéis ao seu modo. é só pra ilustrar que não bem a caligrafia, a pincelada (em muitos casos é, em Van gogh é, mas nem sempre) o toque do gênio que cria uma obra artisticamente relevante. um ou dois trabalhos de alguém são informações pontuais, mas dentro de uma trajetória de anos de pesquisa fazem total sentido, se conectam entre si e a outros fatos, e acho que na verdade são essas relações que tornam o trabalho do cara relevante, ao invés de umas sacadas geniais.

Anônimo disse...

é meu caro Márcio, isso também me lembra os pedreiros do Niemeyer, que por tantas vezes tiveram que reproduzir o projeto, deixando as obras cada vez mais vivas. Acredito piamente que as mãos de uma pessoa podem reproduzir os sonhos de outros, porém, no cinema S. Kubrick não acreditava nisso. Em todos os seus filmes consagrados ele servia até os cafés e cigarros para o "casting". Embora a direção de arte de algum de seus filmes estão como marcos do cinema e para mim é que confirma sua genialidade artística. Isso é o perfeccionismos junto à arte. Eu penso ser tudo isso aí e mais a influência do pensamento aristocrático do que é arte. As classes dominantes sempre "admiraram" a arte e impulsionaram-na, levando às rodas da elite. O que eles não sabiam e se refestelavam é quando viam que a plebe, mesmo que na miséria humana também emanava arte.
Saudações. Sandwich Farias