segunda-feira, setembro 03, 2007

O Desenho

Estava cravado no muro, pela textura parecia até uma xilogravura, mas saltava aos olhos como uma imagem holográfica, tinha até uns movimentos leves e lentos, lânguidos e agonizantes.
Havia também um transe cromático, tecnicolor, um matiz que se decompunha em um arco-íris cor de sangue que por gravidade chegava até a calçada.
Alguns do mesmo lado da calçada eram meros passantes dessa holografia, assim como o vento, o frio, um resto de luz difusa daquela tarde, assim como todo gás, e todo líquido do arco-íris cor de sangue que já se derramava pelo meio fio, sujando a guia pintada de verde e amarelo escrito que já é “Penta”.
Outros se dispunham a comentar de maneira seca e concisa, pareciam críticos e especialistas inteligentes a fazer suas orações curtas num telegrafo surdo. Isso, de uma certa maneira já era esperado, haja vista que a crueza do Estado da Arte já era suficiente para dar “conta dos sentimentos em jogo”.
O Desenho nunca foi de fácil compreensão, os mais sensíveis diziam que o problema, desde o início, é que ele sempre foi mal compreendido, o fato era que ele realmente era muito confuso.
O autor não havia imprimido nenhuma sensação de certo ou errado naquela cena, apenas a impressão de ver o Desenho recostado naquela parede ser uma verdade, já que muitos preferiam não acreditar.
Desde criança lembro-me muito bem do Desenho, joguei bola com ele, e por mais que eu esperasse que isso um dia iria acontecer, não gostaria de vê-lo logo após o Penta. Foram um, dois, três, quatro, cinco tiros que o alvejaram contra aquele muro.
O Desenho começou como vapor do Zoínho, assumindo seu lugar em pouco tempo, depois puxou quatro de cana, e logo que pegou a condicional já voltou na função, e parece que agora estava devendo uma puta grana pro Piranhão.
O Desenho deixou um filho, que na sua ingenuidade de criança brinca na rua como se nada tivesse acontecido, e quando volto do trabalho e o encontro, vejo em seu rosto o esboço de uma esperança patética de que o meu filho um dia também possa jogar bola com ele. Antes de tudo.

12 comentários:

Nilson Ares disse...

O "Desenho" saiu no jornal manchado de sangue, coberto de jornal, da imagem de um gol...

Valeu!

Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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Marcio disse...
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Marcio disse...

em tempo: numa exposição x, fiquei fascinado por uma holografia que nem criança fica olhando pra uma máquina de algodão doce. é incrível, a imagem fica mudando de cor, e passa por TODAS as cores do espectro visível, do vermelho ao violeta, cada milímetro que você se mexe aparece um tom diferente

Anônimo disse...
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Marcio disse...
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Marcio disse...
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Anônimo disse...
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Nilson Ares disse...
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Anônimo disse...
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Marcio disse...

que porra é essa? quem exclui os comentários??