domingo, junho 01, 2008

Alma Corsária

Não. Confesso que não foi muito difícil. Tive com os armadores, e quanto pude ver já havia ganhado o convés, o velame diáfano inflado, como véu fino tramado de cânhamo acelerava a luz, a nau ganhava os espaços, a luz, e sua aceleração inaudita parava na trama do cânhamo e caia sobre meu corpo deitado no convés fazendo a alma naval e corsária. Sentia uma sensação cálida, confortável de quem navega em baixas latitudes.

Em alguns momentos a luz rompia a trama do cânhamo e abria uns buracos no velame, cujas formas pareciam mapas que representavam territórios já vistos, mas os mapas são só uma representação, uma semiotização do espaço, por isso então a deliciosa sensação de desterro ainda continuava.

Essa sensação desapareceu quando desses mesmos buracos que a luz provocou no velame, vinham imagens e vozes de pessoas conhecidas; o meu quintal, o meu quarto a goiabeira. E de repente a sensação outrora cálida e confortável das baixas latitudes se transformou em gélida e desesperadora, típico dos que navegam nas altas latitudes.

Foi nesse momento que o buraco aberto no velame aumentou de súbito e assustadoramente, e pude ver por ele a janela do meu quarto aberta e batendo, deixando aquele ventinho dessa tarde de domingo pegar em meu peito, acordei e fechei a janela corrrendo!

Preciso dizer que não consigo ver os meus sonos dominicais sem sonhos, seria muita indiferença da minha parte. Sobretudo após um virado de vagem com miúdo de frango, três cervejas, quatro Jurubeba Leão do Norte respectivamente acrescentada com uma rasinha de Amélia, a bico azul.

Não, um sono sem sonhos é muita indiferença para mim!

7 comentários:

Marcio disse...

Essa goiabeira sempre me intrigou, cúmplice? testemunha de décadas de quintal? ela te viu crescer e agora vai ver teu filho. Senhora de respeito.

Anônimo disse...

Nossa ler issu logo na segunda de manhã é tiro e queda...
Cagar Mole e ir trabalhar mal-humorado...vou por uma coluna por cima para calorar o debate.

Anônimo disse...

Concordo Coronel,

O efeito do álcool e de sua culinária vertem seu mundinho bucólico num hipertexto infinito, interessante, criativo e sobretudo onírico - o que torna seu sono impossível sem o sonho, porém mais impossível ainda do que isso é quando temos de viver a realidade nua e crua sem sonhos, mas isso é por enquanto.

Sarsa

Anônimo disse...

Concordo Coronel,

O efeito do álcool e de sua culinária vertem seu mundinho bucólico num hipertexto infinito, interessante, criativo e sobretudo onírico - o que torna seu sono impossível sem o sonho, porém mais impossível ainda do que isso é quando temos de viver a realidade nua e crua sem sonhos, mas isso é por enquanto.

Sarsa

Anônimo disse...

Muito bom sua crónica, entretanto, penso que há um exagero no vocabulário que o torna cansativo e enfadonho às vezes, o que não tira a qualidade textual.

André Luiz Rozaboni disse...

então hémerson,

somos obrigados a gostar??

ok, vc q manda ;;

Muito bom Dentinho, BRAVO!

Anônimo disse...

com certeza a digestão de certos miúdos ingeridos às 2:00 da manhã causa esse efeito....S.Farias