terça-feira, setembro 30, 2008

Plug-in Espacial

O meu lugar é onde não estou, já dizia Pessoa, que assim como muitos outros romancistas, contistas , poetas, críticos e estudiosos se debruçaram sobre a questão do espaço e sua relação com a construção simbólica e o significado humano.

Na semana passada em um bar, um amigo (que também escreve neste blog, ou que pelo menos acho que escrevia) disse me algo sobre uma história de mapas, estudos geopoliticos ou coisa assim, referente a um escrito do Borges. Não me lembro muito bem como foi, gostaria até que esse meu amigo elucidasse a história. Mas me lembro muito bem do conto do Borges.

A história é mais ou menos a seguinte: tratava-se de sujeito que era cartógrafo e estava sempre a desenvolver novas técnicas cartográficas onde se esmerava na precisão de sua representação. Um dos seus feitos foi ter conseguido fazer um mapa numa escala 1:1, natural, em que cada ponto de seu mapa encontrava-se exatamente igual ao do espaço real. O problema é que se tratava do mapa de um país!

O mapa por definição, trata-se de uma semiotização do espaço, os seus símbolos e signos estão todos organizados dentro de uma sintaxe que pressupõe a representação dos objetos geográficos, como também seu posicionamento no espaço, alguns valores de grandeza e substância. Porém, o mapa corresponde a realidade, mas não deixa de ser apenas uma representação da mesma, ele não é a atual realidade vivida dos objetos geográficos, ele é um instantâneo de uma informação geográfica que pode até não corresponder a atualidade.

O afã do cartógrafo de Borges era a criação do mapa que fosse a própria realidade, que pudesse nos fluxos e fixos geográficos, ser uma realidade latente do espaço geográfico, não só pelo o tamanho que pressupõe ser uma cópia da realidade, pois o mapa não é uma foto e nem um modelo físico tridimensional do território (que está relacionado aos conceitos de fixo geográficos) . Mas sim modelos abstratos de situação, universo de relações, complexos de significações, conhecimentos, fluxos de mercadorias e informações (conceitos dos fluxos), ranhuras que a técnica provocou, jogos de hipóteses, ou até mesmos a combinação de todas variáveis promovendo uma paisagem hibrida em que o leitor do mapa se visse imerso nela. Criando uma realidade virtual.

O mapa de Borges é a inferência da cognicibilidade humana numa realidade ainda latente, quando a imaginamos estar em potencia e não em ato, mas hoje sabemos que mesmo com a impossibilidade de se abrir um mapa no tamanho de um país, podemos inferir na virtualidade espacial rompendo a sua latência. Basta um plug-in, ou ler Jorge Luis Borges em História Universal da Infâmia & Outras Histórias, onde, para o realismo fantástico, potência é ato.

2 comentários:

Marcio disse...

tá aí! agora já sei por onde começar com o Borges. valeu coronel!

Anônimo disse...

é coronel, perdoe-me não ter lido isso aqui antes...creio que suas consideracões sejam em si mais completas e referendadas que o comentário sobre o texto que lia, onde a referência do cartógrafo de Borges era citada. Obrigado pelas considerações, em breve publicarei algo...sf