sexta-feira, outubro 10, 2008

Consternações Ontológicas Pueris

Hoje me lembrei de um poema do Drummond, “A Suposta Existência”. Há muito já havia lido esse poema, acho que eu deveria ter uns dezesseis e me intrigou demais. Foi mais ou menos por essa época que minhas consternações ontológicas tomaram uma agudeza que carrego até hoje!

Desde muito antes dos meus dezesseis, ainda bem criança, aguçava em mim umas elucubrações metafísicas que só começaram a fazer algo sentido quando li esse poema do Drummond. Não sei se com vocês era assim, mas eu sempre ficava pensando como ficavam as coisas no interior do quarto depois que se fechava as portas e apagasse a luz. Como elas se comportavam sozinhas ali sem ninguém ter por elas, ou lhe emprestar algum sentido de existência. A duvida era: será que quando não estamos olhando ou em sua presença, as coisas existem mesmo? Uma chave esquecida há anos numa gaveta, a mobília da casa quando estamos fora, o defunto horas depois do enterro, ou nós mesmos, como diria Drummond, num quarto vazio sem espelhos, existiríamos nele? Existem coisas sem ser vistas? Ou elas assumem uma outra forma a qual não temos acesso ?

Esse tipo de indagação me surpreendia na escola, no meio da aula da 1ª série, será que meus irmãos, meus pais e colegas da rua estão todos lá, em suas atividades de praxe, enquanto estou aqui estudando? Ou eles e transformam em alguma outra coisa, ou será mesmo que nem existem? Eu até tinha vontade de falar sobre isso com alguém, mas na época, eu tinha medo que caçoassem de mim, motivo de pilhéria, chacota ou sei lá! Mas o fato é que as coisas sempre arrumavam um jeito de me enganar; a tesoura, o balde, a mesa, todos eles estavam sempre a me pregar peças, e eu precisava estar atento a sua substância e os possíveis acidentes.

Obviamente que naquela época eu não tinha noção dos estudos da metafísica, é claro! Mas depois do Drummond vi que era tudo isso mesmo, as coisas podiam enganar a todos, mas à mim não, eu sei que era tudo cenário. Haja vista que hoje sou uma “ficção rebelada”!

4 comentários:

el Samu disse...

De alguma forma me lembrou Zaratrusta quando desce da montanha e o velho que encontra cita que os misticismos morreram com Deus; a civilização racional afastou as interpretações místicas do mundo, prevalecendo na Terra, o senso comum, e nele não há lugar para Deus e seu misticismo.
Assim essa racionalidade impede qualquer pensamento relacionado aos afazeres das coisa materiais quando não estão providas de significado humano, quando deixam de ser sensoriadas e portanto significadas.

Maria Angélica Davi Costa disse...

Quando eu era criança ficava tentando pegar em flagrante meus brinquedos brincando, ou deixando de estar lá, o que acontecia qdo eu fechava os olhos? Nada? Achava impossível. Achava ainda que se eu dormisse deixava de ser e tentei por anos lembrar o que eu pensava no segundo antes de dormir pq nesse segundo eu achava que eu revelava a mim mesma o secredo do sono.....faz tempo.....

Anônimo disse...

Que da hora gostei desssa!!
Coronel

Marcio disse...

vocês são todos loucos!