quinta-feira, dezembro 18, 2008

Sociedade de Risco

As ultimas efemérides meteorológicas me fizeram lembrar de Ulrich Beck, Sociólogo alemão que desenvolveu o conceito de Sociedade de Risco. Que está relacionada contraditoriamente a modernidade, isso porque segundo Beck, os riscos estão relacionados à arquétipos modernos que foram criados justamente para emancipar o homem, que são: o racionalismo, a técnica e a ciência. Estes estão a serviço do homem justamente para libertá-lo das limitações e adversidades do mundo natural.

Mas é bom que se diga que a técnica e ciência não são neutras, ambas têm uma destinação humana, mas estão inseridas num contexto político e histórico. Segundo Milton Santos a técnica é uma maneira de tornar o espaço empírico, a inferência do homem em seu maio natural se dá através da técnica, e esta, empresta uma dimensão temporal ao espaço propiciando a história, que assim como o espaço e a técnica, se organiza de maneira desigual e combinada. Aí o problema do risco dos eventos meteorológicos.

Os eventos meteorológicos castigaram regiões do país, começando por Santa Catarina e agora o estado de Minas Gerais. Bom pelo menos essa é a notícia que se veicula pela mídia, que também tenta relacionar esse tipo de evento com a questão da mudança climática global. Porém enquanto os meios de comunicação tentam culpar a chuva pelo grande problema instalado e os ricos relacionados á ele, não se falou em nenhum momento do que realmente está por traz disso tudo na análise de riscos. Que é a questão do parcelamento, uso e ocupação do solo. Esse riscos podem ser analisados com anos de antecedência, já prováveis riscos relativos a questão meteorológica, com alguns dias.

A especulação imobiliária, a negligência do poder público empurrou ou deixo instalar grandes assentamentos humanos em área de risco, ocupando várzeas, encostas e impermeabilizando o solo. Não precisa ser engenheiro ou especialista em hidrologia urbana pra ver que com esse tipo de política voltada a habitação e zoneamento urbano, a nossa sociedade atual estaria assumindo riscos cada vez mais desproporcionais a capacidade de gestão dos mesmos.

Crescimento da mancha urbana, impermeabilização e declividade acentuada (típico Vale do Itajaí, Congonhas do Campo, e Cataguases), fazem com que aumente consideravelmente a energia cinética da água da chuva, ou no jargão especialista, escoamento superficial pluvial. O problema que o que determina a energia cinética é a gravidade, e essa têm uma função exponencial, a sua aceleração é representada ao quadrado: 9,8m/s2 , de maneira que o risco que se apresenta tem um comportamento de progressão geométrica, em outras palavras, chegará cada vez mais água em menos tempo à uma macro drenagem ou calha principal. E o assentamento humano local verá um alagamento cada vez maior em sua extensão e em menos tempo.

Não adiantará nada todo investimento no programa espacial brasileiro (que já é pouco), desenvolvimento de satélites, super computadores para previsão de tempo e clima, todos para contornar a aleatoriedade e a diminuição da exposição ao risco de nossa sociedade, enquanto parte deste risco encontrar-se no progresso de cidades baseado na racionalidade técnica do capital e no desenvolvimento desigual e combinado do espaço urbano no Brasil.

2 comentários:

el Samu disse...

Engraçado que quando estava lendo o post não me lembrei de Ulrich Beck (muito bem referenciado a propósito), mas sim de Vidal de LaBlache, francesinho sem vergonha, mentor do chamado possibilismo geográfico, onde a técnica é utilizada a favor do homem e de suas vontades. O que não se esperava é que a detenção de certas técnicas permanecesse nas mãos de um seleto grupo que é aquele que não é empurrado loteamentos ilegais em áreas com declive maior que 30% ou coisa parecida. Esses detentores hegemônicos (pra ser pouco redundante e bastante contundente) são aqueles que extraem os direitos de acesso ao espaço e território de forma equânime. Esses não foram aos ginásios/albergues retirar mantimentos ou passar a noite. Estavam sim em suas confortáveis casas (na maioria das vezes construídas em áreas ilegais de luxo, infringindo APAs e ZEIs a tordo e direito, aliás, quantos direitos essa turma detém) construídas a partir do lucro da mais valia da mão de obra moradora das áreas de risco!

É acho que a discussão não deve justificar-se em gastos astronômicos no desenvolvimento de tecnologias e afins para prevenção de intemperes meteorológicas, mas sim numa reorganização do espaço urbano, o que do ponto de vista financeiro sairia bem mais barato, mas do ponto de vista político pode custar bem caro.

Anônimo disse...

coronel, antes tarde do que nunca...gostei mesmo desse artigo, discussão esta que deveria ser extendida a maiores parcelas de nossa sociedade. inté. S. Farias