sábado, junho 27, 2009

Façamos Fagulhas


- Olhe o dia, o amarelo matutino que faz das folhas um verde – amarelo rico, e que por um momento parece que o mundo para. Para sim, para observar o mais pleno e sensível da pureza do mundo, como se o ar estivesse limpo das poluições e as mentes ainda sonham com a cama quente. Tudo é lento, se esforçar para que? O dia está ainda começando.

Assim inicio mais um dia de trabalho.E friso:

- É claro que para observar precisamos de silêncio.

Num mundo com excesso de ruídos, berros, polifonia, distorções musicais, sussurros, lamentos, buzinas, grunhidos, surto de psicose, etc, é cada vez mais difícil ouvir o canto do passaro, o barulho da folhas das árvores a chacoalhar, até o ruído das portas (poético) já não se escuta mais. O que se escuta é a porta batendo, agora até seu propósito é fútil (se é que existe), não há uma raiva contida, é simplesmente o fato de batê-la, para fazer barulho.


É transito, é comunicação através de sinais, olhares. Nunca se “falou” com tão “poucos” argumentos. Há uma assimetria, uma irregularidade, no sorriso, no barulho, num mundo em que o incerto, o inesperado, o de repente é a regra.

Mas afinal respeitar o silêncio? A ubiqüidade do silêncio que faz dele sua importância?

O silêncio na música, na respiração, no ponto final. Na próxima linha, no próximo sinal fechado, entre a 1ª e a 2ª marcha, entre a mudança de uma nota na outra, no tempo que a mão percorre o braço do violão pra montar outra nota, em que a mãe sai em busca de alimento para sua cria, o mesmo que as vezes escuta o coração batendo forte na boca pela espera quase impossível da chegada do ente querido.

O silêncio já foi forçado, usado como tortura, alimentando a alienação, a opulência, a liberdade de expressão.

Hoje, cadê o silencio? Falar, falar, expressar o quê? Quando não se tem o que falar, o silêncio é a melhor coisa, dizia minha avó.
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Já falei demais nessa minha curta existência, quem fala muito se perde na fala, também já me perdi. Como meu amigo Jorge lembrou, já nos perdemos bastante nessa vida, e nem sabemos se ainda nos achamos. Mas o fato é que estamos aprendendo a observar, não somente ver, escutar e auscultar, que é mais difícil.

O que se ouve aí, tá difícil de aturar, por favor, me traga um discurso com propósito, não importa qual propósito, sendo idealista, determinista, enfim algo palpável, que fuja do ato fisiológico de emitir sons.

Sempre comento em sala, que o criador (seja lá ele quem foi) foi perfeito, duas orelhas, dois olhos, uma boca, mas ainda suspeito que essa idade (adolescente) seja a da fala e que após os 30 trinta quem sabe comece os ouvidos e os olhos de fato exercer seu principal e único papel.


Dá licença, vou aumentar o som!

Abraços

PrataPreta

2 comentários:

Anônimo disse...

Só deveríamos realmente abrir a boca quando o que temos para falar é melhor do que ficarmos calado. Não me lembro quem disse tal frase, mas realmente tal simplicidade de frase traz algo realmente profundo. Podemos aqui analisar de uma maneira mais profunda a questão do silêncio que é tema profundo na religiosidade tanto cristã como budista , por exemplo, como no aspecto dos intervalos musicais, ou ainda quando o pai olha para o filho que chega tarde em casa e seu simples olhar de silêncio fala mais do que qualquer palavra....e lá vai histórias...

Abraços

Anônimo disse...

O que hoje é uma lastima, é que na maioria das vezes, não existe mais esse olhar do Pai, pois não existe mais famílias. Convivo com isso todos os dias. E quando existe, como diz o Lenine: "Mãe lavando roupa do pai de agora", ou seja há uma rotativiadade de parceiros(as) , e a cabeça do filho vira um mosaico, e valores familiares, pelo menos na minha opinião, não se transmite através de fragmentos.

abraços

Prata